Nos últimos anos, foi possível perceber o interesse contínuo da Bethesda em investir em jogos voltados para todo tipo de plataforma: sejam consoles, celulares e até mesmo assistentes virtuais como a Alexa. Com a realidade virtual não foi diferente e a empresa obteve uma excelente recepção por parte da crítica de títulos como Skyrim VR e Doom VFR, despertando um profundo interesse sobre qual próximo título chegaria às lentes do VR. Infelizmente, é quase impossível de se acreditar que a combinação de uma franquia clássica como Wolfenstein ao VR pudesse resultar em um produto tão decepcionante quanto Wolfenstein: Cyberpilot.
A história de Wolfenstein: Cyberpilot é ambientada no universo já estabelecido pelos games anteriores da série (The New Order e The New Colossus) e, apesar de ter sido lançado quase que simultaneamente a Youngblood, não possui nenhuma ligação com este último, sendo uma narrativa que acontece de forma isolada. Aqui, assumimos o papel de um piloto sem nome, convidado a participar da resistência francesa após ter sido resgatado de uma prisão nazista. Unido à uma especialista em hacking chamada Maria e sua I.A. Jemma, o nosso dever é simples: reprogramar máquinas de combate e espionagem nazistas e usá-las contra seus criadores.
Dizer que Cyberpilot possui um enredo seria um exagero, uma vez que não é apresentado quase nenhum contexto sobre o que está acontecendo ao nosso redor ou o quão importante é o nosso papel para a resistência francesa. Tudo é muito vago e conforme fazemos progresso mais perguntas sem respostas surgem ao longo da campanha. A duração desta última é outro aspecto decepcionante, pois toda a experiência pode ser finalizada em menos de duas horas. Apesar disso, o game está completamente dublado e legendado em português do Brasil.
A carência de personagens secundários é um problema sério dentro do jogo. Os únicos personagens secundários presentes na história são as nossas aliadas, Maria e Jemma, que além de serem desprovidas de qualquer carisma, possuem a única função de direcionar o jogador ao próximo objetivo e fazer pequenos comentários irrelevantes durante as missões. A ausência de um antagonista é um fator chave que empobrece a narrativa como um todo, uma vez que os jogos da série principal se esforçam para construir vilões memoráveis como Frau Engel ou o doutor Deathshead. Sem esses elementos importantes temos apenas uma experiência vazia e sem sentido, em que apenas eliminamos soldados nazistas pois somos ordenados a isso.
Toda a campanha de Wolfenstein: Cyberpilot é dividida em quatro curtas missões e dentro de cada uma operaramos um tipo diferente de máquina roubada do exército nazista. Os controles funcionam muito bem e o uso de um par de PS Moves é obrigatório para que se possa aproveitar a experiência. Enquanto o controle direito é responsável pelas ações ofensivas das máquinas, o esquerdo é utilizado para nos movimentar ativamente através dos cenários.
Dentro do cockpit ainda temos acesso a duas funcionalidades indispensáveis: o botão de pânico e o terminal de reparos. Ao apertar o primeiro, ativamos uma habilidade específica da máquina que estamos controlando, como invisibilidade no caso do drone, por exemplo. Já o terminal de reparos invoca pequenas máquinas que regeneram rapidamente a sua barra de vida. Este último recurso é problemático, uma vez que pode ser utilizado infinitamente pelo jogador, dentro ou fora das batalhas, eliminando a possibilidade de ser abatido pelos inimigos.
O game design é péssimo e a maior parte do tempo transitamos pelas longas e vazias ruas de Paris que formam um corredor linear em direção ao final da missão. É claro, eventualmente enfrentaremos pequenos grupos de inimigos, mas nada que seja verdadeiramente memorável. Isso é algo que se torna muito repetitivo e cansativo já nos primeiros minutos de jogo. Não há nenhum tipo de exploração de cenário, coletável ou segredo a ser descoberto ao longo das fases, que somado ao fato de não haver nenhum modo extra no game, elimina por completo o fator replay.
Os tipos de inimigos presentes no game são os mesmos vistos nos jogos anteriores da franquia, porém não conseguem oferecer o mínimo do desafio que impõem ao jogador na série principal. Isso se deve ao fato de sua inteligência artificial ser extremamente limitada, o que faz com que a maioria permaneça parado sem tomar nenhuma ação defensiva, enquanto espera para ser abatido. Outro problema grave diz respeito à baixíssima resistência dos adversários que podem ser eliminados facilmente pelo jogador, mesmo em dificuldades mais elevadas.
A qualidade gráfica de Wolfenstein: Cyberpilot é excelente e talvez seja o melhor aspecto que o jogo tem a oferecer. As texturas são muito bem detalhadas e em conjunto com os ótimos efeitos de iluminação conseguem criar cenários belíssimos. Os modelos dos inimigos, no entanto, deixam a desejar e sua falta de qualidade acaba ficando evidente quando nos aproximamos demais. A trilha sonora é inexistente e os efeitos de som mantêm o padrão de qualidade uma vez que foram reutilizados dos jogos anteriores.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Bethesda Softworks.