A Remedy Entertainment é conhecida por jogos focados em narrativas como Alan Wake e Quantum Break. Infelizmente, porém, esses jogos nunca apareceram em plataformas PlayStation. Com Control, finalmente temos um jogo da desenvolvedora no PS4. Além disso, é um dos mais ambiciosos, prometendo uma ação associada a uma narrativa complexa.
Talvez essa ambição seja justamente a maior falha de Control, mas também é algo positivo, como veremos nesta análise.
Quando me perguntam se estou gostando de Control, respondo que sim. É um metroidvania simplificado, com um ótimo gameplay de tiro em terceira pessoa e mecânicas divertidas, porém com uma história escrita sob efeito de LSD.
É difícil explicar o enredo de Control. A dificuldade existe porque a história é completamente sem noção de nossa realidade. Ao jogar Control, você experimentará uma história em que precisa ser experimentada de cabeça aberta para um mundo que não faz o menor sentido se o colocarmos em nosso universo. Ficou confuso? Se ficou, vai se confundir ainda mais com o jogo.
Como é um jogo com foco na narrativa, não posso entregar o que ocorre e explicar o meu comentário de LSD. Mas acredite: Control parte de um pressuposto de que você entenda coisas sobrenaturais, sem explicá-las em detalhes, mas que vão se desenvolvendo conforme a história acontece. Mesmo ao terminar o game, muita coisa ficará em aberto.
Mas vamos partir do básico: em Control, os jogadores controlam Jesse Faden em um lugar conhecido como “Antiga Casa”, um local que desafia as leis de espaço e tempo. Jesse chega a esse lugar que é controlado pela Federal Bureau of Control (FBC) e está em busca de seu irmão mais jovem, Dylan, que foi sequestrado pelo FBC quando eles eram crianças. Na época, um evento sobrenatural ocorreu na cidade de Ordinary e Dylan foi capturado, enquanto que Jesse conseguiu escapar.
Ao chegar na Antiga Casa, Jesse descobre que o local está em quarentena e foi tomado por uma força hostil chamada “Ruído”, que possui os funcionários e agentes da FBC (e se tornam os seus inimigos comuns no game). Jesse procura pelo diretor, Zachariah Trench, que acaba morrendo de forma misteriosa e, sem explicações, Jesse se torna a nova diretora. Por ser a diretora, ela tem acesso a uma arma sobrenatural que é classificada como um “Objeto de Poder” e que, neste caso, prova que é a nova chefe. O objetivo básico, portanto, é impedir que o Ruído se espalhe ainda mais, a ponto de deixar a Antiga Casa.
Durante a sua jornada, Jesse encontrará diversos personagens que a auxiliarão. Em conceitos básicos de videogame, esses NPCs fornecem as quests para Jesse, enquanto ela tenta encontrar seu irmão. Também há diversos – inúmeros, na verdade – arquivos que podem ser pegos pelo jogo e que enriquecem o “lore“.
Explicando dessa forma, parece que a história é simples. Mas acredite, está longe disso. Não me entenda mal: a história não é ruim – eu mesmo fiquei curioso até o fim. Porém, é inegável que seja confusa, extremamente abstrata (muitas coisas que são ditas cabe ao jogador imaginar) e, acima de tudo, inacabada. Obviamente, não vou falar do fim do jogo, mas a “batalha final” foi um pouco desanimadora e a conclusão do enredo não agradou muito. Porém, preciso ressaltar que, no momento em que escrevo esta análise, não terminei todas as sidequests (o jogo possibilita, após o seu término, que você se foque nisso). Então não sei dizer se um segundo final existe ao completá-las. Mas tendo ou não essa segunda conclusão, o primeiro por si só é decepcionante.
Mas chega de falar de história – vamos direto ao gameplay, que é a característica em que o jogo mais se destaca. Antes de soltarmos elogios para todos os lados, é preciso ser dito que Control roda na engine Northlight da Remedy e testamos o game no PS4 Pro. Dito isso, mesmo no PS4 Pro há problemas técnicos. Toda vez que um capítulo é concluído, parece que o jogo trava – fica tudo imóvel por cerca de 5 segundos. É bizarro, mas ao menos tudo volta ao normal em instantes. Além disso, há quedas no framerate quando há muitos objetos na tela – mas ao menos são raros, pois o jogo de uma maneira geral roda bem. E sou péssimo em dizer a framerate de um jogo ou sua resolução (aguarde por análises técnicas), mas acredito que rode próximo a 60 quadros por segundo ou ao menos em uma configuração de 30 destravados. Porém, é o que disse apenas: o jogo roda bem, porém quedas ocorrem em ambientes com muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Quando o jogo carrega pela primeira vez, também há problemas de texturas que demoram para carregar, mas isso não acontece em sessões longas de gameplay.
Esclarecida essa parte técnica, podemos falar do gameplay em si. Control permite você ser um Jedi (de Star Wars) “overpower“, mas com uma pistola ao invés de sabre de luz. É uma comparação estranha, mas que fará sentido conforme explico os poderes de Jesse.
No início de Control, Jesse não possui nenhuma habilidade. Conforme avança, logo obtém sua pistola, que será a sua única arma em todo o jogo. Não se assuste, a pistola possui diferentes formatos que, no fim, funcionam como outras armas comuns. Por exemplo, a versão “Giro” dela funciona como uma Machine Gun, enquanto que a “Estilhaço” é basicamente uma Shotgun. Você pode equipar duas versões diferentes da pistola e trocar entre elas com o botão quadrado. Em todos os casos a munição é infinita – porém você precisa esperar a recarga automática para poder continuar disparando.
Além da pistola, temos os diversos poderes psíquicos que Jesse adquire durante a sua jornada. Com R1, temos a possibilidade de pegar praticamente qualquer objeto do cenário e arremessá-lo onde quisermos (pense na “Força” dos Jedi – o princípio é o mesmo). Com L1, podemos gerar um escudo usando pedras e destroços do cenário. Com bola, realizamos uma esquiva rápida. Com triângulo, é um simples ataque físico. Com quadrado, ao segurá-lo e em inimigos que estejam fracos, é possível fazer com que eles ataquem os seus colegas. E assim por diante – e sim, até mesmo levitar está entre os movimentos que podem ser obtidos. Todos esses movimentos descritos, exceto a levitação, gastam uma barra de energia que, da mesma forma que a pistola, também recarrega automaticamente.
O interessante de Control é que, como foi mencionado anteriormente, trata-se de um metroidvania. Em outras palavras, Control é um jogo linear, mas nem tanto assim. Você pode simplesmente fazer apenas as quests principais que o mapa aponta, mas há muita coisa a ser explorada e você será recompensado por isso.
Por exemplo, algumas das habilidades de Jesse são completamente opcionais e você as encontra nas sidequests. Por conta disso, o jogo não “trava” o jogador pelas habilidades, mas sim com cartões de acesso. Ou seja, as áreas se tornam exploráveis dependendo do nível de seu cartão de acesso (que evolui conforme a história avança – ou seja, as missões principais). Um Metroid, normalmente, impossibilita que o jogador acesse tal local porque a habilidade que permite o acesso ainda não foi obtida – em Control isso não existe, dependendo apenas do seu cartão de acesso. É claro que, em sua jornada principal, determinadas habilidades serão adquiridas automaticamente, mas há várias opcionais e é isso que quero destacar.
Ainda sobre habilidades e armas, Control permite que você evolua tanto as armas quanto a própria Jesse através de skill tree e modificadores. A skill tree é simples: gaste pontos de habilidade adquiridos e tenha mais barra de vida ou uma duração maior de uma determinada habilidade psíquica. Os pontos são obtidos nas quests e explorando o mapa.
Já as armas são melhoradas com os modificadores. Com espaço para até três para cada tipo (você começa com apenas um espaço, porém), o jogo permite que um modificador seja instalado na arma para coisas como mais dano, maior velocidade de recarga e assim por diante. Interessantemente, Jesse também possui os chamados modificadores pessoais. No caso, você coloca até três (novamente, é preciso abrir os outros dois slots) que fornecem mais vida, mais energia ou coisas mais específicas, como um custo de energia menor para arremessar objetos.
Os modificadores são algo que cada jogador deve escolher para adaptar ao seu estilo de jogo. A proposta é basicamente essa – você é do tipo que prefere ter mais vida ou mais energia, por exemplo? Ou gosta de causar mais dano ou receber menos dano?
Algo que Control oferece (e que é até raro atualmente) é que a sua vida é recuperada ao eliminar os inimigos e pegar os itens que eles deixam. Ou seja, você não recupera sozinho com o tempo.
Apesar dessa “dificuldade” maior para os padrões atuais, Control não é um jogo difícil (há poucas batalhas contra chefes, a maior parte são inimigos comuns) e sua longevidade não é das maiores. Para esta análise, levamos 9h30 para concluir Control com cerca de 5 a 10 sidequests feitas, de acordo com a série de vídeos gravados para o YouTube (fique de olho em nosso canal – os vídeos serão publicados até sexta). Considerando que algumas vezes dei uma explorada em áreas (e que não gravei) e também cortei algumas mortes acidentais, Control leva, em média, 10 a 11 horas para ser concluído. Se considerarmos as sidequests (a lista de troféus aponta que existem pelo menos 15) e outros objetivos paralelos, o tempo para chegar ao 100% (e à platina) gira em torno de 15 a 20 horas.
Vale mencionar que Control está legendado em português do Brasil (não há dublagens em nosso idioma). De uma maneira geral, a tradução está boa e não há do que reclamar.
No fim, Control é um ótimo jogo. Alguns aspectos realmente não agradam, como explicamos a fundo nesta análise: sua história intrigante porém confusa, algumas quedas no framerate (inclusive no PS4 Pro) e talvez a escassez de chefes. Mas o gameplay agrada bastante, principalmente o seu combate com poderes psíquicos e a pistola com diferentes funções. O estilo metroidvania com sistema de cartões de acesso também é funcional.
Se você tiver uma mente aberta e principalmente uma boa imaginação, Control o agradará bastante. Para aqueles que preferem algo concreto e menos abstrato, tentem esquecer a história e divirtam-se no gameplay.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela 505 Games.
Veredito
Apesar de sua história confusa, Control é um ótimo jogo de ação e aventura, com um gameplay bastante variado. A ideia de uma arma ser usada para todas as funções, associada a todos os poderes psíquicos de Jesse, faz com que o combate funcione muito bem. O estilo “metroidvania” simplificado também agrada, possibilitando que Control não seja totalmente linear.
Veredict
Despite its confusing story, Control is a great action adventure game with a varied gameplay. The idea of a weapon being used for all functions, combined with all of Jesse’s psychic powers, makes combat work very well. The simplified “metroidvania” style is also very good, making Control to be not so linear.