Análise – Assassin’s Creed Odyssey

Não importa como você olhe para ele, Assassin’s Creed Origins foi tanto uma reinvenção quanto o renascimento para a franquia. Extremamente criticada pelos lançamentos anuais e pela sua fórmula que, aos olhos de muitos, estava cansada, Origins foi um sucesso estrondoso ao juntar uma incrível ambientação e reconstruir todos os sistemas ultrapassados que a série ainda possuía.

Assassin’s Creed Odyssey parte, então, não só para transportar as mudanças estabelecidas no Egito Antigo para a Grécia, mas também refina-las e continuar a evolução da série, evitando cair nos erros cometidos anteriormente. E essa é uma missão que o novo jogo da série cumpre com bastante sucesso, por mais que alguns problemas antigos tenham voltado para assolar o jogo.

Não há como negar que ACOD é absolutamente gigantesco. Com o maior mapa que a série já viu, a reconstrução da Grécia durante a Guerra do Peloponeso é absolutamente avassaladora. É muito fácil se sentir assoberbado com a quantidade de lugares para visitar, ainda mais com, por se tratar da reconstrução de uma região com milhares de ilhas, na intersecção entre três mares distintos e com uma notória tradição marítima, o sistema de navegação volta a ser parte fundamental do jogo como o era em Assassin’s Creed IV: Black Flag e Assassin’s Creed Rogue.

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O jogador assume o controle de um dos filhos de Nikolaos, poderoso general espartano, e Myrrine, herdeira do lendário Rei Leônidas I de Esparta (famoso pela Batalha de Termópilas, representada em obras como 300), Kassandra e Alexios, vivenciando a história do ponto de vista de apenas um dos irmãos (diferente de Syndicate onde o jogador controlava ambos), com diferenças profundas na história a depender da escolha feita logo no começo.

Como um misthios (mercenário), o protagonista parte em uma jornada para reencontrar sua família, após ambos os irmãos serem jogados de um penhasco por ordem do oráculo, ao mesmo tempo em que tenta encontrar o seu lugar em uma guerra que ameaça abalar todas as estruturas do mundo grego. Esse período de incerteza permite ao Portador da Água alugar a sua espada e a Lança de Leonidas tanto a Esparta quanto à Atenas enquanto desvenda o paradeiro de sua família e os mistérios por trás de uma entidade que parece manipular das sombras todos os acontecimentos na região, o Culto do Cosmos.

ACOD, em sua essência, é sobre essas três linhas distintas se cruzando. A história da família de Kassandra e Alexios, a história do Culto do Cosmos e a história da Guerra do Peloponeso. Mantendo a tradição da série, isso te leva a conhecer não só ótimos novos personagens (Alexios, Kassandra e Nikolaos merecem especial destaque), como personalidades históricas como Heródoto, Sócrates, Péricles e Hipócrates.

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Mesmo tentando contar tanto ao mesmo tempo, Odyssey ainda assim consegue entregar uma das melhores narrativas que a série já viu. Se lhe falta o impacto emocional de Origins, por exemplo, ainda assim tudo o que é construído ao longo dos nove capítulos possui um resultado e, mesmo se passando séculos antes da criação da irmandade, ainda existe uma ligação com o plot principal da série (em especial com a Primeira Civilização). Há também algumas pequenas sessões no presente, com o retorno de Layla Hassan do jogo anterior, mas não só essas sessões finalmente estão mais contidas e melhor escritas, como são quase completamente opcionais.

A história não é o único ponto em que Odyssey faz jus ao seu nome. O mapa do jogo é gigantesco, fazendo com que Origins, que já era uma experiência longa, pareça pequeno diante dele, tornando o mero ato de explorar as áreas do jogo uma longa tarefa. Considerando o curto período de desenvolvimento (03 anos, já que a equipe principal do jogo é a mesma responsável por Syndicate), muitos assets foram aproveitados também região do Mediterrâneo em Origins, o que não chega a ser um problema (já que isso acontece mais nas ilhas banhadas pelo mesmo mar), mas é perceptível, até por existir uma homogenia maior entre as áreas aqui (a região como um todo tem um clima, fauna e flora mais similares do que o Egito). A maior parte das diferenças está na arquitetura, principalmente das ilhas e cidades maiores, fiéis as diferenças culturais de cada polis grega.

Felizmente, é possível percorrer o mapa seja a pé, de cavalo ou de barco, com o retorno de um dos pontos mais queridos da série, a navegação marítima, já que a maior parte do mapa é composto pelos três mares que banham a Grécia.. Dizer que essa decisão se encaixa como uma luva na ambientação é bastante óbvio, já que estamos tratando de uma das principais precursoras da exploração dos mares, muito pela necessidade de transporte entre a península e as ilhas, que é o que o jogador fará a bordo do Adrestia, seu próprio trirreme.

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A outra coisa que o jogador fará bastante em Odyssey é batalhar e é aqui que o mote de ampliar os sistemas criados por Origins parece ter tido mais problemas para ser implantado. Longe de ser uma falha, o combate ainda é bastante prazeroso e impactante, contando com os mesmos tipos de arma do seu antecessor, por mais que os golpes nem sempre pareçam tão impactantes e viscerais, independente de qual dos dois protagonistas o jogador esteja controlando. Ele é um pouco mais desafiador, entretanto, já que os inimigos são mais inteligentes e ágeis em como e quando atacam (algo que se estende ao combate naval), fazendo com que qualquer luta te mantenha em constante atenção.

O problema é que Odyssey tenta ampliar os sistemas de RPG que já vinham se tornando mais presentes na série e isso impacta bastante o combate, tanto pro bem quanto pro mal. O sistema de loot com diferentes características e níveis de raridade retorna e, com ele, temos a ampliação das gravações, permitindo uma maior customização do seu equipamento, inclusive podendo ampliar o nível dos seus equipamentos preferidos para continuarem sendo úteis à medida que o jogador vai evoluindo.

No entanto, o jogo reformulou completamente o sistema de habilidades e ele demanda uma considerável adaptação. Se, anteriormente, cada nova habilidade ou aumentava algo ou te dava novas capacidades que ficavam permanentemente disponíveis, agora é necessário equipar as habilidades ativas em um de oito slots, quatro para habilidades assassinato e combate e outras quatro para habilidades de caça (todas ligadas ao arco), limitando bastante a versatilidade do combate, te forçando a constantemente abrir o menu para alterar as habilidades ativas. Habilidades passivas continuam funcionando da mesma maneira, sendo algo que merece ser o foco na customização do personagem. Fora isso, cada habilidade possui três níveis, te forçando a se especializar bastante ou tentar ser versátil e ficar preso aos lentos menus do jogo.

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Naturalmente, esses sistemas de RPG se estendem também ao seu navio. Se não é necessário acumular experiência especificamente para ele (o nível do Adrestia sobe junto com o nível do protagonista), ainda existem diferentes áreas que precisam ser melhoradas, como as armas e o casco, além de algumas mudanças cosméticas (como a vela e a vestimenta da tripulação). Nada disso é novidade aos outros jogos que possuíam esse sistema, entretanto, vemos aqui a introdução de um sistema de tenentes para o seu navio, sendo possível recrutar vários personagens, desde soldados inimigos até personagens de missões específicas, para ocupar esses lugares, com diferentes tipos de bônus a depender do nível deles (também classificado pelo mesmo sistema de cores que os equipamentos são).

Completar todo o conteúdo de Assassin’s Creed Odyssey é um trabalho digno de Hércules para o jogador que pretende completar todo o conteúdo que o jogo dispõe. Não só a campanha principal lhe renderá entre 30 e 40 horas por si só (incluindo a caçada aos membros do Culto do Cosmos), como o restante das missões secundárias “principais” (seja as missões do mundo ou as atribuídas por NPCs) aumentam ainda mais isso, já que você precisará realizar pelo menos uma parte delas, considerando que as missões principais tem saltos consideráveis de nível recomendado.

Além disso, é possível participar da Guerra do Peloponeso em si. Como um mercenário, o jogador pode realizar diversas missões para sabotar os esforços de guerra da nação dominante de cada região (seja Atenas ou Esparta), incluindo assassinar o governante delas e, com isso, desencadear uma batalha pelo controle da área, envolvendo dezenas de soldados de ambos os lados (e com recompensas dignas das suas habilidades, sendo, inclusive, possível trair a nação pela qual você vinha agindo). Mas Kassandra/Alexios não é o único mercenário na Grécia e quanto mais notório você se tornar, mais mercenários aparecerão tentando te matar e coletar a recompensa pela sua cabeça (esse sistema é muito similar ao de jogos como Grand Theft Auto). Você também pode lutar em arenas destinadas aos mercenários e coletar diversos prêmios, crescendo nos rankings a cada vitória dentro e fora dos campos de batalha.

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Mesmo com os pequenos problemas apontados, Odyssey ainda é uma experiência incrível. O que realmente atrapalha e é um problema sério é a performance terrível do jogo no PS4 base. Toda a lista de problemas técnicos que se poderia esperar está aqui: queda de framerate, travamentos, clipping, desaparecimento de texturas… Ao ponto de, em determinados momentos, se tornar quase injogável. Obviamente, se espera que as coisas sejam corrigidas com o tempo (e a performance é melhor no PS4 Pro), mas se você só tem um PS4 normal à disposição, talvez seja melhor esperar mais alguns patches antes de pular de cabeça em um jogo que, pelas horas incríveis que proporciona, irá te proporcionar alguns momentos de muita raiva com a performance.

Outro ponto em que a performance falha é na dublagem em português. Se a voz do Alexios (e de outros personagens) é uma das melhores que a série já viu desde que começou a ser localizada no Brasil, ainda existem problemas. A voz da Kassandra quase não passa emoção, não combinando muito com a personagem, e a respiração do Alexios enquanto ele corre incomoda e facilmente te tira o foco. É perceptível o cuidado da Ubisoft com o lançamento do jogo, mas ainda existem passos a serem dados para chegar mais próximo do trabalho incrível feito pelos dubladores originais.

Apesar dos problemas, Assassin’s Creed Odyssey consegue manter a série de ótimos lançamentos desde o desastre que foi o Unity. Ele pode não alcançar os altos que Origins possui e se perde um pouco ao tentar ser grande demais, fora que a quase completa ausência da Irmandade e de momentos de social stealth, que tanto marcaram a série, é uma decepção pros fãs de longa data, mas a transição de um jogo de Ação/Aventura para um RPG de Ação parece basicamente completa e foi feita com maestria.

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Veredito

Por todos os anos em que os fãs clamaram por um jogo da série na Grécia, Assassin’s Creed Odyssey faz toda a espera valer a pena. Por mais que tropece ao tentar implantar vários sistemas ao mesmo tempo, o conjunto ainda é superior à soma das suas partes e todos os seus ótimos momentos fazem dessa uma jornada digna do seu próprio épico poema.

Jogo analisado com cópia digital fornecida pela Ubisoft Brasil.

Veredito

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Veredict

After all these years of fans claiming for a Greek mythology game in the series, Assassin’s Creed Odyssey makes the wait worthwhile. While it stumbles trying to implement many systems at the same time, the whole is still bigger than the sum of its parts and all of its great moments make this a journey worth of its own epic poem.