Ys X: Nordics – Review

Consistência é algo imensamente difícil de conseguir manter, especialmente quando se fala sobre videogames. Afinal, em uma forma artística na qual absolutamente tudo irá por água abaixo se um dos sistemas ou estruturas não funcionar e acabar afetando negativamente a experiência dos jogadores, colocando rios de dinheiro a perder, cada novo projeto pode ser um gol de placa ou um frango gigantesco.

Quando se considera a forma como a Nihon Falcom vem conseguindo sustentar ambas as suas principais séries caminhando lado a lado com sucesso, isso por si só já chama a atenção. Mas quando se mergulha mais ainda no caminhar e legado do seu RPG de Ação primordial e a forma como ele vem entregando consistentemente alguns dos melhores títulos do gênero desde Ys VI: The Ark of Napishtim lá em 2003, é natural que se tenha altas expectativas em torno do próximo capítulo.

E é com esse “peso” que Ys X: Nordics finalmente chega ao Ocidente. Embora originalmente planejado como título de aniversário de 35 anos da franquia, o que acabou não ocorrendo graças aos empecilhos trazidos pela pandemia, ele não só traz um Adol muito mais novo, mas uma reimaginação de sistemas que já vinham bem estabelecidos nos últimos três títulos e algumas boas novas idéias.

Ys X: Nordics

Ambientado entre os acontecimentos de Ys II e Ys: Memories of Celceta, tornando o canonicamente o terceiro jogo da franquia (não que isso importe muito, já que a história é bem contida em si e totalmente acessível para novatos). O jogador assume o controle do nosso intrépido e valoroso jovem herói Adol Christin, um aspirante a aventureiro que parece sempre atraído pelo destino para os mais confusos e misteriosos eventos.

Durante sua viagem até Celceta, Adol e seu amigo Dogi têm seu barco atacado por uma frota de piratas vikings chamados aqui de Normans. Os Normans são um povo de guerreiros bastante habilidosos no mar e em terra que policiam e mantêm a segurança da região por um preço. O grupo que ataca o navio de Adol é liderado pela jovem princesa Norman chamada Karja Balta, uma poderosa guerreira portadora de uma misteriosa fonte de poder chamada apenas de Mana.

Após punirem o capitão, a população é escoltada até a ilha e, chegando lá, Adol começa a ouvir uma misteriosa voz vindo de uma concha que desperta nele a habilidade de usar Mana também. E, quando essa Mana o faz ficar preso (literalmente) pelos pulsos a princesa pirata em meio aos ataques de uma misteriosa raça de monstros conhecida apenas como Griegr, que só podem ser mortos por usuários de Mana, que sequestra toda a população da ilha, cabe a Adol e sua nova companheira salvarem a todos.

Ys X: Nordics

A narrativa é a sua já esperada e um tanto quanto padrão história da série Ys. É leve e divertida, mas com claros pontos estabelecendo a importância das ações de Adol e Karja para salvar não só a vida dos seus novos amigos, mas garantir também a sobrevivência dos Normans e evitar que a ameaça Griegr se espalhe para novas regiões do mundo. A história como um todo flui incrivelmente bem, capturando o jogador e o mantendo engajado em busca do que virá logo a seguir.

Parte desse sucesso se dá muito por uma reavaliação do que a série iria trazer. Quando Ys IX: Monstrum Nox foi lançado, embora eu tenha gostado imensamente dele, até mais do que de Ys VIII: Lacrimosa of Dana, era claro que a série vinha buscando se aproximar mais do estilo narrativo visto em The Legend of Heroes e a construção de alguns elementos comuns entre ambas, talvez até como forma de reduzir custos de desenvolvimento. Algo que foi totalmente abandonado agora.

Ys X: Nordics é, acima de tudo, inegavelmente um jogo da série Ys. Esse processo se inicia na reavaliação do sistema de combate, sendo abandonado por completo o sistema de party estabelecido lá em Ys Seven e replicado em Lacrimosa of Dana e Monstrum Nox, com tudo agora girando em torno de Adol e Karja, tanto no combate quanto na narrativa.

Ys X: Nordics

É uma dinâmica mais centrada e que permite ao jogo desenvolver muito mais não só as habilidades de cada um deles, mas a jornada de cada personagem, algo feito excepcionalmente bem. Se há uma razão pela qual a história funciona aqui é o quão bem escrita, construída e o quão carismática é a nova parceira de Adol, Karja, com a dinâmica entre os dois elevando até os momentos mais simples a novos patamares. Isso faz com que, pelo menos pra mim, Karja seja a melhor companheira que Adol teve até aqui, superando até mesmo Dana, algo que só se consegue pelo fato dela ser mais uma co-protagonista do que personagem secundária.

Ver o nosso intrépido herói mais jovem e, consequentemente, mais inexperiente, ainda que não por isso menos capaz ou menos dedicado a ajudar os outros, também traz um sopro de leveza e frescor à narrativa que a eleva a um grau de sucesso muito merecido. Isso não impede que o jogo vacile um pouco em algumas missões secundárias mais dispensáveis ou elementos secundários (ou terciários) da história, mas nada que impeça o jogador de aproveitar bastante a experiência.

Um ponto interessante de gameplay atrelado ao fato da Karja ser uma princesa pirata é que, pela primeira vez, é possível comandar o seu próprio navio, chamado de Sandras, pelos oceanos de Obelia Bay. Embora no começo seja um pouco excessivamente lento, investir em upgrades logo deixa a experiência bem divertida. Em termos de gameplay, tanto no combate quanto na exploração, pense em Assassin’s Creed IV: Black Flag e você estará bem próximo. A principal diferença fica pelo combate ser mais sobre atacar o inimigo até ele reduzir sua velocidade e então finalizá-lo com golpes mais poderosos.

Ys X: Nordics

Outra novidade do jogo é a presença de uma Manaride, que é basicamente um skate motorizado com mana e que te permite explorar as diferentes ilhas de forma mais ágil. É algo muito bem integrado ao jogo e, juntamente com o gancho de Mana disponível pro Adol, são elementos importantes dos puzzles de exploração do jogo e usados de forma tão interessante que fazem valer a sua incorporação ao título.

Um ponto negativo da exploração, no entanto, é que o jogo tem cenários relativamente simples e repetitivos, especialmente comparados com os cenários presentes em Ys VIII: Lacrimosa of Dana. Embora seja um jogo muito mais colorido e brilhante do que Monstrum Nox, ele acaba sendo tão repetitivo em termos de cenários quanto, com a diferença sendo que agora você estará constantemente olhando para montanhas, mares e árvores.

Em termos de combate, Ys X: Nordics é ainda melhor em comparação aos jogos anteriores. Além de ter os elementos já esperados da série, com ataques em tempo real, um sistema de esquiva e defesa, com bônus para bloqueios e esquivas perfeitas e tudo mais, além de habilidades especiais, o sistema aqui é muito mais construído em torno da dinâmica simultânea entre os protagonistas do que alternar entre um e outro a depender da fraqueza do inimigo.

Ys X: Nordics

Isso se dá graças ao sistema de “Chain Attack”, no qual é preciso construir uma sequência de ataques baseada em dois elementos simples: o uso do seu SP para atacar com habilidades progressivamente mais fortes que te deixem sem SP e saber a hora e a ordem de usá-las, já que você precisará constantemente alternar entre Adol e Karja para manter a sequência crescendo até ter acesso às poderosas Combo Skills, ataques simultâneos entre os dois parceiros que são essenciais para os combates mais difíceis do jogo.

Falando em ataque simultâneos, segurar R2 permite ao jogador atacar com ambos os personagens ao mesmo tempo. Não só o uso dessa possibilidade é fundamental para conseguir destruir os escudos de inimigos mais fortes, mas é a forma de ativar as Combo Skills citadas anteriormente, embora elas tenham um custo altíssimo de SP caso você não suba o seu medidor antes. Um ponto interessante nesse foco em variação é que não é possível usar duas habilidades iguais em sequência, trazendo muito mais estratégia para o combate já que não é possível só spammar os mesmos ataques mais poderosos o tempo todo.

Um último elemento é que, não só o Flash Evade (a esquiva perfeita de ataques rápidos) e a Flash Guard (a defesa perfeita de ataques fortes) retornam, mas ficou mais fácil de identificá-las, com inimigos ficando envoltos em uma aura azul ou vermelha antes de atacar. Com isso, ataques rápidos (envoltos em azul) não podem ser bloqueados, mas há uma esquiva automática caso você esteja correndo e ataques fortes podem (envoltos em aura vermelha), mas exigindo que ambos os personagens estejam vivos. Faça um bloqueio perfeito e você irá carregar a barra de vingança (Revenge Gauge), que aumenta a força das suas habilidades na proporção do quão cheia a barra estiver.

Ys X: Nordics

Por fim, o jogo traz também um novo sistema de progressão chamado de Release Line que é, essencialmente, uma versão para Ys do Sphere Grid de Final Fantasy X, com o jogador tendo liberdade para desbloquear habilidades e buffs para Adol e Karja através dele. É bem interessante e funcional e permite um bom grau de customização para a experiência já que ambos os personagens são relativamente distintos em combate (mais centrado no fato do Adol ser mais rápido e usar uma espada e Karja mais forte e lenta usando seu machado).

Dito tudo isso, embora tenha alguns pequenos problemas de performance, com alguns slowdowns durante a exploração, o jogo em si é excepcional. Meu único outro problema ficou por conta do mapeamento dos botões que é um pouco estranho para jogadores ocidentais (com X sendo botão de ataque e O de pulo, por exemplo), mas a liberdade em remapeá-los como preferir resolve isso fácil.

Portanto, quer seja você fã da série Ys ou um fã de RPGs de Ação em busca de uma nova e engajante experiência, Ys X: Nordics é uma excepcional experiência que merece ser aproveitada por todos os jogadores. O jogo acerta em todos os seus pontos centrais, com uma história excepcional e combate imensamente divertidos, trazendo a série de volta a sua identidade própria e, com isso, entregando mais um excepcional RPG nesse ano tão recheado deles.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela NIS America.

Veredito

Ys X: Nordics é um RPG de ação excepcional. O jogo retorna às origens da série para entregar uma experiência bastante sólida construída sobre um sistema de gameplay mais estratégico e uma ótima narrativa com excelentes personagens que captura o senso de aventura e exploração que tornam a série tão divertida.

90

Ys X: Nordics

Fabricante: Nihon Falcom

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: RPG / Ação

Distribuidora: NIS America

Lançamento: 25/10/2024

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Ys X: Nordics is an exceptional action RPG. The game returns to the series’ roots to deliver a solid experience built on a more strategic gameplay system and a great narrative with excellent characters that captures the sense of adventure and exploration that makes the series so fun.