O crescimento em popularidade da Nihon Falcom ao longo dos últimos é uma das mais merecidas da indústria. Uma das desenvolvedoras mais antigas ainda em atividade, prestes a completar 40 anos desde sua fundação, e que passou por sérios problemas financeiros e criativos no meio dos anos 2000, finalmente vem começando a ser reconhecida como uma das principais desenvolvedoras de RPGs do Japão.
E enquanto parte desse sucesso tem que ser atribuído ao crescimento da série The Legend of Heroes e o seu rico e elaborado universo, com uma das melhores histórias que se tem notícia em qualquer gênero, há um outro fator tão importante quanto. Afinal, a desenvolvedora é tão conhecida pelo expansivo mundo dos RPGs por turnos de Trails quanto pelo desafiador e divertido combate do seu RPG de ação, a série Ys.
Agora, 7 anos após as primeiras sementes da relação entre a Falcom e a NIS America (atual publisher responsável por lançar os jogos da desenvolvedora no Ocidente) serem plantadas lá no lançamento de Ys: Memories of Celceta na Europa, o seu mais recente jogo chega a este lado do mundo com Ys IX: Monstrum Nox.
Contando as mais recentes aventuras do protagonista da franquia, o aventureiro Adol Christin, Monstrum Nox se passa um pouco após os eventos de Ys Seven, e vê Adol, como já é de praxe, atraindo ainda mais problemas para si, mesmo sem se esforçar muito para isso. Em meio as suas viagens, ele e seu leal parceiro Dogi, são parados na entrada da cidade de Balduq, cidade sob o controle do Romun Empire na região da Gllia.
Ao ser reconhecido, Adol é acusado injustamente de estar envolvido no desaparecimento de uma frota militar do império (evento visto em Ys VI: The Ark of Napishtim), sendo capturado enquanto atravessava a cidade e enviado para a Balduq Prison, um antigo castelo no coração da cidade que foi convertido em centro de detenção do império.
Essa prisão, que acaba dando à cidade o apelido de “Prison City” e é famosa por ninguém conseguir escapar, além de guardar diversos segredos e áreas inacessíveis até mesmo para os soldados que trabalham e habitam nela. Em se tratando do Adol, é claro, ele consegue fugir, com o auxílio de uma figura misteriosa que concede novos poderes ao herói ao atingi-lo com uma bala mágica.
Esses poderes fazem de Adol um “Monstrum”, humanos com poderes sobrenaturais que têm aparecido na cidade e que, apesar de parecerem ajudar os cidadãos, são considerados pelo império como foras-da-lei, sendo caçados sempre que vistos. Acontece que, ser transformado em um Monstrum impede que eles deixem a cidade até que o seu objetivo esteja completo.
Adol se junta então ao grupo de Monstrums composto por White Cat, Hawk, Doll, Raging Bull e Renegade para auxiliar a líder deles, Aprilis, em sua missão de lutar contra o Grimwald Nox, uma força composta de monstros chamados Lemures, criado a partir das emoções negativas das pessoas de Gllia. Não satisfeito em só uma missão complicada, Adol resolve também desvendar os mistérios da Balduq Prison e tentar descobrir porquê o império vem aprisionando não só criminosos, mas também presos políticos e “inimigos do império”.
A história como um todo de Ys IX: Monstrum Nox é, surpreendentemente, boa. Para uma série que não é conhecida pela sua narrativa (mesmo que a Falcom tenha expandido mais isso ao longo dos últimos jogos), a aventura de Adol é bem satisfatória e extensa, ainda que o jogo seja mais restrito e focado no que está contando sem tentar expandir demais o universo.
Ajuda também que, ainda que conte com vários pontos que o ligam aos jogos anteriores, Ys IX, como todos os jogos da franquia, seja facilmente aproveitável sem qualquer conhecimento prévio dos outros títulos. Tudo o que você precisa para aproveitar Monstrum Nox é apresentado no jogo, sem depender em nada de você ter jogado qualquer outro. É claro, os fãs de longa data vão aproveitar ainda mais, com várias referências e menções a eventos anteriores, mas nada que afete a experiência dos novatos.
Talvez o maior problema narrativo em Ys IX seja usar a mesma estrutura de capítulos visto em outros títulos recentes da Falcom. Assim como em Tokyo Xanadu e Trails of Cold Steel, cada um dos capítulos é focado em um dos Monstrums, com o personagem designado sendo mais explorado e então se juntando à equipe.
Essa decisão tem dois efeitos bem distintos entre si. Por um lado, os personagens são muito melhor explorados do que é tradição na franquia, algo que dá muito certo pelos personagens serem bem desenvolvidos e terem suas próprias personalidades e motivações. Por outro, em vários momentos a impressão que se tem é que a ameaça central e o vilão do jogo não são tão importantes assim.
Um elemento em que Ys IX se distancia bastante de outros jogos da desenvolvedora é na presença de uma espécie de “semi-mundo aberto”. Como muito do jogo acontece dentro de Balduq e seus arredores, ela acaba sendo muito maior do que estamos acostumados a ver em jogos da Falcom (felizmente o sistema de quick travel também está presente aqui). Toda a cidade é um grande mapa, com apenas as imediações da cidade sendo compostas de zonas interconectadas, ainda que maiores do que as vistas em Lacrimosa of Dana.
Esse mundo mais expansivo acaba afetando um pouco o lado técnico do jogo. Enquanto Ys IX não sofre com problemas de performance (especialmente rodando no PS5), ainda é notório que, em dados momentos, texturas vão aparecendo aos poucos, além de vários cenários apresentarem um certo serrilhado. O jogo conta com uma direção de arte fantástica, mas esses detalhes só indicam o quão envelhecida a engine está à essa altura.
A performance estável é muito bem-vinda, especialmente naquilo que Ys IX: Monstrum Nox mais brilha: o seu combate. Ys é amplamente conhecido por ser a franquia mais focada em gameplay e é notório o quão refinado ele é para um RPG de ação. O jogo pega o sistema de combate visto em Ys VIII: Lacrimosa of Dana e o refina para entregar uma experiência muito melhor.
A estrutura ainda é a mesma: o jogador escolhe uma equipe de três personagens, assumindo o controle direto de um deles e podendo determinar se os seus companheiros irão atacar ou defender, com a possibilidade ainda de alternar entre eles no meio do combate e exploração para melhor tirar proveito das características únicas de cada Monstrum.
Cada personagem conta ainda com a possibilidade de equipar até 4 habilidades únicas de combate (ativas com R1 + um dos quatro botões de face), além do retorno de elementos introduzidos no jogo anterior, como a Flash Move e Flash Guard, te permitindo esquivar ou defender de um golpe no momento certo e não só anular o dano, mas receber melhorias temporárias em combate.
Um outro elemento que retorna são as Raid Battles de Ys VIII, agora na forma do Grimwald Nox. Esses combates usam elementos de Tower Defense, te forçando a defender pontos específicos de ondas de inimigos (com todos os seis Monstrums e não só com a sua party ativa) e podendo colocar armadilhas pelo cenário para lhe auxiliar.
Aqui eles são menos invasivos, já que esses combates em específico não acontecem mais aleatoriamente, mas como parte da história ou caso o jogador decida especificamente realizá-los. Há também a adição de uma versão inversa dessas batalhas em que você assume o papel de “agressor” e se torna responsável por avançar pelo campo de batalha, destruir gemas e então derrotar o chefe.
O sistema de combate não é feito só de pequenas iterações no que havia sido estabelecido em Ys VIII. A principal diferença fica por conta dos poderes dos Monstrums que afetam o combate e a exploração do mundo. Esses poderes são bem úteis e vão da possibilidade de se teleportar para um inimigo a se esconder nas sombras para fugir de ataques, voar pela arena ou usar poderosos ataques carregados.
Talvez o mais interessante disso não sejam os efeitos dessas habilidades no combate, mas para atravessar o mundo. Enquanto a “Crimson Line” de Adol o permite alcançar determinados pontos altos predeterminados no mapa, a habilidade da White Cat te permite correr por paredes, enquanto a Raging Bull te permite quebrar paredes rachadas. Tudo isso vai ampliando o rol de opções que você tem e torna a exploração do mapa mais fácil e divertida do que já era em Lacrimosa of Dana.
Todos esses elementos se combinam para fazer de Ys IX: Monstrum Nox um jogo surpreendentemente equilibrado. Enquanto ele não é livre de problemas, com a história deixando um pouco a desejar no desenvolvimento das ameaças em especial e a questão visual sendo um pouco fraca, ainda se trata de um RPG bastante recomendado para fãs do gênero e que queiram conhecer a franquia.
Há um certo alívio em não precisar lidar com o cast gigantesco e as proporções exageradas que outros jogos saídos da imaginação de Toshihiro Kondo algumas vezes tomam, com sua história contida sendo bem agradável e deixando bastante espaço para que o combate rico e bem balanceado brilhe, graças ao seu nível de desafio e profundidade na medida certa.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela NIS America.
Veredito
Contando com uma história bem divertida e agradável, ainda que não seja livre de problemas, Ys IX: Monstrum Nox evolui o sistema de combate da série para novas alturas, sendo mais um ótimo título que faz jus ao belo legado carregado pelo seu nome.
Veredict
With a very fun and enjoyable story, even if its not without its issues, Ys IX: Monstrum Nox evolves the series’ combat system to new heights, being another great title that lives up to the beautiful legacy of its name.