WWE 2K Battlegrounds – Review

Desde que a série de jogos licenciados da WWE passou a seguir mais o caminho da simulação, ainda na época em que eram desenvolvidos pela THQ, e deixando de lado os seus elementos de ação arcade, os fãs têm clamado pelo retorno dos jogos às suas origens. E, com as claras e absurdas falhas presentes em WWE 2K20, a necessidade de mudanças era ainda mais clara.

Para tentar remediar isso, a 2K Sports não só cancelou o lançamento do que seria o WWE 2K21, dando mais um ano para a Visual Concepts acertar a mão no jogo e entregar um simulador menos problemático do que o último, como resolveu usar uma outra fonte de talento para manter os fãs da maior empresa de luta livre do mundo um pouco mais satisfeitos com a publisher.

Dando sequência a sua parceria com a Saber Interactive, que já havia desenvolvimento o NBA 2K Playgrounds 2, agora temos o lançamento de WWE 2K Battlegrounds, um jogo de luta mais cartunesco e arcade, mais preocupado em trazer diversão e situações absurdas do que capturar a essência do esporte que está tentando simular.

Battlegrounds segue a mesma fórmula de Playgrounds: pegar a “liga” na qual é inspirada e tirar das (não tão) rígidas regras do ringue de quatro lados e levar para cenários exóticos e bem diferentes do que as arenas comuns. Para isso, ele adota o mesmo estilo de gráfico do jogo anterior da Saber Interactive, transformando as estrelas e lendas da WWE em versões cartunescas de si mesmos.

Isso se materializa em uma pequena variedade de cenários em que todo tipo de loucura está presente. Você pode arremessar seus adversários em crocodilos no pântano ou em carros numa garagem, pular de um helicóptero em uma instalação militar ou usar uma gaita de fole ou um bode mecânico para atacar os seus adversários e ganhar o máximo de vantagem possível para vencer cada luta.

As ideias e conceitos por trás de cada arena são bem interessantes, mas elas se tornam bastante repetitivas muito rápido e a quantidade bem limitada de cenários presentes também não ajuda em nada o seu resultado final. Ao todo são cerca de 10 arenas distintas, cada uma com sua especialidade, mas que logo se tornam bem previsíveis e você dificilmente vai prestar atenção no que elas tem de especial, salvo pelas opções extras de se causar dano.

Felizmente, a ação dentro dentro dos ringues é bem divertida. Cada personagem tem um botão de soco, um de chute, um de agarrão e um para usar o Irish Whip ou colocar o outro lutador nas suas costas. Usando esses botões, é possível fazer combos distintos ou usar golpes especiais segurando L1, subir em certos pontos do ringue e, é claro, o tradicional botão de corrida que serve como modificador para os ataques e agarrões e R1 para se defender.

Para realizar cada ação você precisa de sua barra de stamina e, enquanto golpes comuns gastam pouco dela, usar ataques especiais gastam mais e, caso você gaste demais, ficará aberto para que o seu adversário te ataque e retome o controle do combate. Isso pode ser contornado com o uso de power ups que afetam o gameplay, como te tornando imune a dano, recuperando sua energia ou aumentando o poder dos seus ataques.

Ter isso em mente sempre é importante pois os power-ups possuem três níveis distintos e, para acessar os mais altos, você precisa colocar o público do seu lado, realizando ações específicas que vão aparecendo na tela. Quanto mais o público estiver do seu lado e mais dano você causar e sofrer, a sua barra de “Heat” vai subindo e você tem acesso aos ataques especiais que são os Finishers e Signature Moves de cada lutador que causam muito mais dano e podem definir o rumo de uma luta.

Saber quando e como usar os seus ataques especiais é outro ponto importante. Algo que está presente aqui e que já existia em outros jogos da WWE é o fato de que quanto mais dano um lutador sofrer, mais suscetível ele ficará para sofrer o pin ou mais difícil ficará para ele se livrar de uma submissão. Isso significa que, por mais que seja possível pinar ou submeter um inimigo cedo, quanto mais demorada a luta for, mais chances ele tem de ser derrotado (ou de te derrotar).

Esse esquema de controles é bem divertido, mas há um pequeno problema nesse esquema de controles que é a forma como ele foi implantado. Como ele busca ser mais simples e acessível, os combos e ataques especiais logo se tornam bem repetitivos, salvo, naturalmente, pelos Finishers/Signature Moves dos personagens.

Isso é especialmente mais notório pelo fato de que agarrões são os mesmos para todos os lutadores de cada classe, fazendo com as lutas acabem se tornando um pouco entediantes graças a repetição exagerada, fazendo com que o jogo funcione melhor para partidas curtas entre amigos do que para longas sessões solo

Falando sobre as classes, elas se dividem em cinco, tanto para os homens quanto para as mulheres. Technicians, especialistas em submissões; High-Flyers, com um arsenal maior de manobras aéreas; Powerhouses, são os mais fortes e capazes de usar golpes poderosos e armas especiais como, por exemplo, carregar motos; Brawlers, que tem mais combos a sua disposição; e All-Rounder, que são mais equilibrados e fazem tudo razoavelmente bem.

O elenco, aliás, como é tradicional na série, é bem vasto, com uma quantidade considerável disponível de cara, uma outra parte sendo desbloqueável através do modo campanha e outros podendo ser comprados na loja do jogo usando os pontos que vai se ganhando ao vencer lutas, completar desafios diários e subir o nível do seu perfil.

Tem algumas coisas estranhas, como ver lutadores que não estão mais na empresa presentes (incluindo com papéis importantes na campanha, como Rowan e Jake ‘The Snake’ Roberts), mas, no geral, todo mundo que importa está presente. Outro problema é que, apesar do jogo te dar uma quantidade considerável de pontos, existem lutadores importantes bloqueados, fazendo com que você precise ou grindar para desbloqueá-los ou apelar para microtransações (algo que, infelizmente, também é comum aos jogos da WWE 2K).

O problema é que, como todo mundo se encaixa em uma dessas classes, todos realmente parecem ser os mesmos lutadores, salvo por algumas diferenças visuais. É claro, lutadores de de rating mais alto são mais eficientes, causam mais dano e tudo, mas, na essência, existe pouca distinção entre Rey Mysterio, Lince Dorado ou um High Flyer que você mesmo pode criar no (robusto) sistema de criação do jogo.

Essa mesma limitação se estende para os tipos de luta presentes. Existe uma quantidade bem restrita de opções, com todas as lutas sendo 1v1, Tag Team (normal ou Tornado Tag Team), Triple Threat, Fatal Four Way, Steel Cage ou Royal Rumble. Isso cobre uma vasta quantidade de opções, mas o balanceamento desses modos deixa bastante a desejar e mostra um outro grave problema do jogo: A inteligência artificial.

Lutas comuns um-contra-um e Tornado Tag Teams funcionam muito bem, mas a IA é estranhamente punitiva em Triple Threat, oscila bastante em Steel Cages e se mostra especialmente ruim em Tag Teams normais, Fatal Four Ways ou em um Royal Rumble. Essa falta de constância afeta o jogador especialmente no modo campanha, fazendo com que algumas lutas sejam muito fáceis, enquanto outras sejam capazes de te fazer quebrar o controle.

Talvez a maior decepção fique na forma como os Steel Cages e Royal Rumble foram implantados. Nas lutas dentro da temida jaula de metal, a única opção para vencer é escapando e, para isso, você precisa coletar dinheiro para preencher uma barra e então conseguir fugir, o que gera um looping de gameplay muito entediante, já que não existe muito propósito em realmente lutar contra seu adversário.

Já nos Royal Rumbles é onde o escopo limitado do jogo mais se mostra. Enquanto as mecânicas de eliminação e a dinâmica desse tipo de luta consegue capturar a empolgação pela qual ele é conhecido, 2K Battlegrounds não consegue lidar com mais de quatro lutadores na tela ao mesmo tempo. Isso faz com que, após completar 4 lutadores, o jogo vá sempre colocando um novo após um dos quatro lutadores ativos ser eliminado, o que tira um pouco do caos que torna o tradicional PPV tão amado.

Isso também se mostra em um dos principais modos de jogo apresentados pelo WWE 2K Battlegrounds, que é o King of the Battleground. Nele, até 8 jogadores podem se enfrentar para ser o último lutador de pé. Só que a luta sempre começa com 4 lutadores e outros 4 ficam aguardando a sua vez de entrar no combate, o que faz com que, apesar do ótimo conceito do KotB, ele acabe se tornando um pouco chato para quem começa de fora e um pouco punitivo para quem está desde o começo.

O jogo ainda conta com outros modos, como um Online Tournament em que os jogadores precisam batalhar em uma série de torneios de tempo limitado com diferentes condições de vitória, e o Battleground Challenge, no qual você cria o seu próprio lutador e precisa subir nos rankings até se tornar o melhor de todos. Ainda assim, o destaque fica realmente no modo campanha.

A história do modo Campaign gira em torno de um conceito bem interessante. Paul Heyman consegue a autorização de Vince McMahon para criar uma nova divisão chamada de Battlegrounds e consegue o apoio de “Stone Cold” Steve Austin para ajudá-lo a recrutar os lutadores mais durões e preparados para terem as suas próprias Battlegrounds e vencerem as estrelas comuns da WWE.

Antes de cada luta principal, a história é contada através de uma página de uma história em quadrinhos, mostrando um pouco mais sobre cada um desses sete lutadores originais do jogo, com cada um se encaixando em uma das classes distintas e apresentando a essência do gameplay do jogo, incluindo os diferentes tipos de luta. Ao todo, são sete capítulos, mas existe uma série de lutas secundárias, totalizando 118 nódulos distintos no diagrama da campanha o que faz com que ela entregue uma boa quantidade de conteúdo.

A narrativa não é nada de muito especial, mesmo que seja infinitamente superior a tudo que foi mostrado nos últimos WWE 2K, sendo mais uma justificativa mesmo para se jogar, aprender mais sobre WWE 2K Battlegrounds e desbloquear mais lutadores, roupas e power-ups. Assim, é fortemente recomendado que você comece por aqui (até para não comprar lutadores que você poderia destravar), mas também não é nada de obrigatório para os fãs, a não ser que eles realmente já estejam interessados.

No geral, WWE 2K Battlegrounds é um jogo divertido, especialmente para os fãs da luta livre que querem algo mais leve para jogar com os amigos ou filhos, sem ter que se apegar muito a simulação e só querem algo fácil de pegar o controle, entender e se distrair. Não é nada revolucionário, mas vistos os problemas que a série vinha enfrentando e o menor valor cobrado aqui, me parece um passo na direção correta.

Jogo analisado no PS4 base com código fornecido pela 2K Sports.