Entre tantos jogos disponíveis que resgatam gráficos e gameplay de clássicos do passado, poucos são os que realmente incorporam novas ideias e conceitos. World of Horror traz uma jogabilidade que remete aos RPGs/Aventuras de texto de computadores antigos, além de uma apresentação visual no formato 1bit toda desenhada no Microsoft Paint, mas nem por isso é um típico jogo retrô.
Após um longo período em acesso antecipado no PC, o PlayStation 4 recebe este jogo de terror inspirado nos materiais do escritor Lovecraft e do mangaká Junji Ito. Trata-se de um produto que transmite boa parte da sua narrativa primariamente por meio de textos, imagens e simples animações em pixelart.
A jogabilidade é tão simples quanto seus aspectos visuais e esta se caracteriza pela escolha de opções ou da movimentação de um cursor para interagir com os cenários. O jogo se diversifica dos games retrô na variedade por meio de elementos roguelike e pelas diferentes possibilidades de se concluir uma história.
Perpassados os tutoriais, o jogador poderá escolher entre diferentes modos de jogo, mas o que possivelmente será mais desfrutado pela maior parte dos jogadores é o “quickplay”. Tal modo consiste em uma geração aleatória de diferentes aspectos, como personagem, deus antigo/ancestral, casos, entre outros.
Assim que definido todos os fatores procedurais, o jogador começa uma nova aventura, que basicamente consiste em desvendar pelo menos cinco casos, para então partir rumo à conclusão da aventura. Neste processo, a aventura nunca será a mesma. Vale ressaltar que o fracasso é constante mesmo nas dificuldades intermediárias, pelo menos até o jogador entender as diversas mecânicas que o jogo reserva.
A jornada inicia na casa do seu personagem gerado, localizada na cidade de Shiokawa – um local onde os noticiários não param de transmitir eventos estranhos e que é possível perceber a influência dos deuses ancestrais. Cada personagem traz atributos distintos (como resistência, força, conhecimento, destreza, etc), além de itens ou habilidades especiais. Alguns deles são liberados no decorrer do jogo e diversificam ainda mais a experiência de World of Horror.
Antes de sair de casa, o jogador pode descansar e interagir com o apartamento à sua volta. Assim que estiver pronto, é preciso escolher um de cinco casos, para dar início à aventura de fato. Tomando como exemplo o caso do “Ramen Rançoso”, nele o usuário do game deve desvendar o mistério em volta de uma barraca de ramen que não para de atrair clientes, cujo prato principal é viciante tal qual uma droga e os frequentadores não conseguem parar de comer.
Assim que uma jornada inicia, é possível visitar diversas localidades de Shiokawa e investigar cada uma delas. Da investigação, poderá haver frutos ou prejuízos – nesse aspecto, o jogo costuma ser bem aleatório. O jogador poderá se deparar com um evento sobrenatural traumático, que fará o seu personagem automaticamente perder pontos de vida ou até encontrar uma criatura grotesca, da qual resultará em uma batalha por turnos. Há algumas circunstâncias em que será possível explorar um cenário com um cursor, selecionados objetos específicos, mas geralmente a interação é bem simples.
Já o combate é um dos pilares mais importantes de World of Horror, mas não necessariamente o mais interessante. Não existem apenas ações de ataque ou defesa disponíveis. Há mecânicas mais complexas, como a realização de rituais para exorcizar fantasmas. Faz-se necessário apontar que tais ferramentas nem sempre são bem explicadas pelo jogo e muita coisa é compreendida na base da tentativa e erro, o que pode gerar grandes frustrações em um jogo roguelike de permadeath. Talvez o maior problema com as batalhas seja a repetitividade depois de um determinado tempo de jogo.
Nos confrontos contra os monstros de World of Horror, há itens e magias que são fundamentais para o sucesso do jogador. Além dos itens “utilizáveis”, há a possibilidade de carregar três equipamentos para melhorar seus atributos. Já os poderes mágicos possuem diversos efeitos, mas como não há mana, usualmente acarretam em algum efeito colateral prejudicial. Vale destacar que praticamente todas as investigações realizadas e as batalhas vencidas geram pontos de experiência, que poderão ser trocados por um avanço de nível do personagem (com o típico upgrade de atributos).
À medida que a aventura avança, podem surgir algumas maldições que afetam a cidade de Shiokawa, geralmente representadas por pequenos desafios impostos ao jogador. Paralelo a isso, há a mecânica de “doom”, que é simplesmente uma contagem de 0 a 100%, sendo que ao chegar no indicador máximo, o gameover é automático. Ao fazer atividades paralelas como visitar uma loja ou descansar, o índice de doom aumenta, portanto é preciso usar os benefícios com moderação.
As supracitadas atividades paralelas costumeiramente resultam em vantagens significativas. Por meio da loja, por exemplo, o jogador pode gastar seus fundos para comprar armas, equipamentos ou diversos itens de uso único. Há vários outros estabelecimentos, como a delegacia de polícia, pátio da escola, clínica médica, etc. Há uma variedade considerável que é fundamental para tornar a experiência em World of Horror gratificante.
Nas etapas finais de cada caso a dificuldade pode se intensificar, mas tudo depende das escolhas e progressão do jogador. É possível até mesmo terminar um caso sem resolver o mistério. Se a investigação for conduzida da maneira correta, usualmente no fim há um chefe final, momento caracterizado por uma batalha bastante desafiadora. Diante de tantas possibilidades, é natural que World of Horror traga em sua bagagem diversos encerramentos.
É por todos os aspectos procedurais, pelas distintas consequências de cada escolha e pelos resultados variados de cada história, que World of Horror se destaca. Mesmo que comunicado por um meio visual simplório, a narrativa é interessante e eficaz ao transmitir a sensação de pavor. A trilha sonora em chiptune também amplia a atmosfera sombria do jogo e cumpre muito bem o seu papel.
O jogo só deixa de ser interessante quando os eventos começam a ficar repetitivos. Nem todos os casos possuem muitas ramificações e, portanto, não possuem o mesmo fator replay. Enquanto “fresco”, World of Horror é bastante satisfatório, mas depois de algumas horas, o jogo cansa.
Um outro problema do game é como a sorte afeta constantemente o sucesso da saga de um personagem(run). Há muita imprevisibilidade durante as investigações. Nesse quesito, o jogo poderia ser melhor lapidado. E vale reiterar – algumas mecânicas são obscuras demais.
Não dá pra deixar de citar também sobre a adaptação da interface do jogo no PlayStation. Em boa parte do game, o jogador precisa guiar um cursor com o analógico para interagir. Em algumas situações até há atalhos que usam os botões da face e do direcional do Dualshock/Dualsense, no entanto, são circunstâncias escassas. É possível adaptar a sensibilidade e velocidade do cursor, mas a jogabilidade não é tão confortável como em um combo de mouse + teclado.
Para quem não domina o idioma inglês, uma notícia ruim – World of Horror não possui suporte ao português. E como se trata de uma aventura textual, compreender as mensagens é algo essencial.
Jogo (versão de PS4) analisado no PS5 com código fornecido pela Ysbryd Games.
Veredito
O universo de terror criado em World of Horror merece ser conferido, especialmente por suas mecânicas peculiares. As diferentes histórias, acompanhadas de uma competente trilha sonora e direção de arte, tornam a experiência agradável e interessante. É uma pena, no entanto, que os casos não tragam tantas ramificações, o que pode deixar o jogo repetitivo depois de algumas horas de jogo.
Veredict
The universe created in World of Horror deserves to be checked out, especially for its peculiar mechanics. The different stories, accompanied by a competent soundtrack and art direction, make the experience pleasant and interesting for a while. It’s a shame, however, that the mysteries don’t have as many ramifications, which can make the game repetitive after a few hours.