O colegial. Mesmo que as experiências no ensino médio não tenham sido das melhores, elas deixam uma marca inegável. Sejam pelas festas, amizades, descobertas, aprendizados ou até mesmo pelos estudos, o ápice da adolescência tem um impacto que nos faz lembrar deles de uma forma distinta das demais experiências de vida.
E, para toda uma geração (e muita gente ainda hoje em dia), a adolescência marcou também o primeiro contato com um pequeno jogo de tabuleiro chamado Dungeons & Dragons. O sentimento mágico de descobrir na sua infância/adolescência um mundo fantástico cheio de dragões, elfos, guerreiros e todo tipo de criatura extraordinária no qual você poderia viver qualquer aventura que imaginasse.
Wintermoor Tactics Club é um jogo sobre esse período mágico da vida. O período em que, não importa quantos amigos você tem, especialmente se você for um jovem nerd que não teve um grupo tão grande assim, vocês poderiam se juntar e esquecer dos problemas que giram em torno de você, se transformando em paladino, mago ou ladino e vencendo todo tipo de desafio que o mestre da aventura pudesse criar.
O jogo gira em torno de um pequeno grupo de jovens no internato Wintermoor Academy, que compõem um dos vários clubes presentes na escola. Chamado de Clube Tático, é lá que três jovens, a protagonista Alicia que interpreta uma maga, e seus amigos Jacob (o Ladino) e Colin (o Paladino que também faz as vezes de Mestre), se reúnem para jogar Cavernas & Catacumbas.
Mas como Wintermoor Academy conta com diversos clubes, o diretor da escola, buscando descobrir as razões pelas quais os alunos se juntaram e lutariam pelos seus clubes, resolve organizar um torneio para decidir qual é o Clube Supremo. E, é claro, as batalhas não poderiam ser resolvidas de outra forma senão através de um torneio de bola de neve.
Graças a sua expertise jogando C&C, o Clube Tático resolve usar as estratégias aprendidas no jogo para superar suas fraquezas e conseguir vencer o torneio já que, caso sejam derrotados, o seu clube será dissolvido para sempre. Olhando de fora, é fácil ver Alicia, uma jovem muito inteligente, mas tímida, Colin, um garoto acima do peso que sofre bullying de outros estudantes por ser nerd, e Jacob, visto como “confusento” por lutar contra as regras da escola e ver o diretor como um Ditador, como “outsiders”.
Mas a história gira em torno de mostrar que, por mais “fora do padrão” que eles sejam, eles tem uma paixão em comum e o seu amor pelo Clube Tático, pelas amizades formadas ali e pelas experiências que viveram juntos os motiva a seguir em frente. E, a medida que a história vai avançando, não só é possível ver que eles são apenas um dos vários grupos de “outsiders” existentes em Wintermoor, mas que eles tem mais em comum com seus colegas do que até eles imaginam.
Isso é materializado no fato do Clube ir crescendo à medida que outros grupos vão se dissolvendo e, por meio das batalhas e da demonstração da dedicação deles ao seu Clube, eles fazendo novas amizades e conquistando novos membros. Além disso, há uma clara progressão nos personagens centrais, demonstrando bem os conflitos e ideias que passam pela cabeça deles a medida que a história se desenrola.
No geral, a história que Wintermoor Tactics Club tenta contar é bem aconchegante e interessante. Ele faz um bom trabalho em explorar os sentimentos, muitas vezes conflitantes, que os personagens tem que enfrentar, como a alegria de salvar o seu clube misturando com a culpa de ser a causa da extinção dos outros, por exemplo. Mesmo lidando com algumas situações complicadas, a narrativa como um todo é bem leve e tem uma mensagem bem legal.
Algo que ajuda bastante no sucesso da narrativa é a já mencionada leveza, algo que só é exacerbado pelos constantes toques de humor que todos os diálogos do jogo tem. O jogo consegue casar bem momentos mais sérios e dramáticos (ainda que nunca seja muito pesado emocionalmente), com diálogos leves e bem escritos, com algumas piadas e referências bem divertidas colocadas no meio para temperar as falas com um pouco mais de humanidade.
Um outro ponto no qual Wintermoor Tactics Club consegue manter a sua leveza é no seu estilo visual. Os vários clubes são bem distintos e tem uma identidade única e você nunca vai confundir os membros do Clube Tático com a Juventude Monarquista ou os Detetives Psíquicos. Os traços lembram um pouco animações européias do século passado, sendo bem diferente do que estamos acostumados a ver em um jogo.
Já na parte mecânica, Wintermoor Tactics Club conta com duas vertentes um pouco distintas. Primeiro, é possível explorar o campus da Wintermoor Academy, indo a diferentes áreas como dormitórios, salas de aula, biblioteca e estádio para conhecer um pouco mais do local, conversar com outros alunos e avançar a história.
É através disso também que o jogador tem acesso as missões secundárias, através das quais é possível ajudar tanto colegas do Clube Tático quanto outros membros do corpo estudantil. Fazer essas missões é uma boa forma de explorar mais sobre o universo do jogo, além de tornar os membros da sua equipe mais poderosos para lidar com a outra parte do jogo: o seu combate.
Como foi mencionado anteriormente, o jogo gira em torno do jogo Cavernas & Catacumbas, a versão de D&D desse mundo. As partidas de C&C são essencialmente um RPG Tático, com os membros do Clube sendo espalhados por um tabuleiro e agindo na ordem de sua preferência no seu turno, com os inimigos agindo posteriormente.
Em sua vez, cada membro do clube pode atacar ou usar suas habilidades para lidar com cada situação, com mais e mais técnicas ficando disponíveis à medida que o jogador avança na história. Como o jogo não conta com um sistema de experiência, com tudo realmente sendo atrelado ao seu progresso nas missões secundárias, batalhas de desafio e na campanha principal, é bem fácil de entender o seu funcionamento e lógica, fazendo com que as batalhas sejam bem rápidas e diretas.
Os únicos problemas mais notórios no combate é o sistema de controles mal mapeados, incorporando o uso de botões em determinados pontos de forma meio desnecessária, além da péssima maneira escolhida para mover os personagens pelo tabuleiro e mirar os seus ataques. Um pequeno detalhe bem-vindo que o jogo traz é a possibilidade de refazer os seus turnos, o que te possibilita experimentar e arriscar um pouco mais e, caso seja necessário, refazer as suas ações antes de passar a vez para o inimigo.
Talvez a maior qualidade e o maior defeito de Wintermoor Tactics Club seja justamente o fato do seu sistema de combate ser bem simples e intuitivo. Você geralmente só precisa se preocupar com movimentar o seu personagem para a posição certa e atacar, mas os combates são bem intuitivos, faltando muito do elemento de desafio presente em outros jogos do gênero.
Ser mais acessível parece ser um dos objetivos do jogo já que o seu ponto principal realmente é contar a sua história. Isso faz com que, enquanto os combates sejam meio decepcionantes para veteranos do gênero, ele é bem acessível para novatos, tornando-o um jogo surpreendentemente indicado para quem tem interesse no estilo, mas não quer lidar com a insanidade de um Disgaea da vida.
Por sorte, a história contada aqui é forte o suficiente para carregar o jogo, elevando a experiência como um todo além do que se imaginaria nas primeiras horas. Ajuda que o jogo também é relativamente curto, tendo pouco mais de 10 horas ao longo dos seus 7 capítulos, o que faz com que ele não estenda a sua estada além do desejado.
Assim, Wintermoor Tactics Club é um divertido RPG Tático que conta uma história surpreendentemente nova e bem única para o gênero. O seu sistema de combate é bem simples e direto, o que deve deixar veteranos bem insatisfeitos, mas o torna mais acessível para novatos que queiram apenas curtir a história.
Jogo analisado no PS4 base com código fornecido pela Versus Evil.
Veredito
Wintermoor Tactics Club traz uma história cativante, bem pensada e divertida que ajuda a carregar o seu sistema de combate simplório e controles mal planejado. A sua ambientação e ideias deve atrair novatos para o gênero, ainda que deixe veteranos insatisfeitos.
Veredict
Wintermoor Tactics Club brings a captivating, well-thought-out and fun story that helps you load up its simple combat system and poorly designed controls. Its ambientation and ideas should bring newcomers to the genre, even if it leaves veterans wanting more.