Seguir o desenvolvimento de Wing of Darkness foi uma experiência interessante. É notório que jogos independentes japoneses não recebem um módico da atenção que jogos indies ocidentais recebem, por motivos óbvios. Afinal, até mesmo jogos de publishers japonesas tradicionais não costumam ser reconhecidas por grande parte dos veículos mais conhecidos (com uma clara exceção aqui no PSX Brasil).
Então, quando esse pequeno shmup 3D foi anunciado para o PS4 lá no começo de 2019, era difícil saber se ele realmente chegaria por aqui. Ainda assim, a sua premissa chamava bastante a atenção por ser algo bastante único e que parecia ter algo interessante a falar com sua narrativa.
Focando a história em torno de duas amigas, Klara e Erika, que se tornam parte de um grupo de soldados de elite chamado Fraulein, responsáveis por pilotar aeronaves especiais chamadas de Held System. Apesar de serem a única linha de defesa da humanidade contra os misteriosos invasores Blankers, apenas aqueles nascidos com habilidades específicas podem controlar os Held System nessa batalha sem fim.
A história é um elemento muito importante e central para Wing of Darkness. Todas as cenas entre as missões ocorrem através de imagens fixas renderizadas das personagens, com os acontecimentos sendo narrados pelas dubladoras (em japonês). Não há diálogo propriamente dito, mas é tudo bem expositivo e realmente traz um peso para cada um dos eventos que vão se desenrolando pelo jogo.
Infelizmente, é esse foco na história que acaba revelando o principal (ainda que não seja o único) problema do título: a sua extremamente curta duração. Não que um shoot ‘em up deva durar épicas 40 ou 50 horas, mas Wing of Darkness é, na melhor das hipóteses, uma experiência de 02 a 03 horas, com pouco ou nenhum fator replay a se considerar.
Esse curto tempo de duração faz com que o roteiro do jogo pareça extremamente corrido, indo de momentos leves que pareceriam dedicados a aprofundar o relacionamento das protagonistas para momentos extremamente tensos na mesma cena sem mais nem menos.
E enquanto uma narrativa pode funcionar com algumas mudanças súbitas, ir de momentos fofos entre as protagonistas para os horrores de uma guerra em questão de 5 minutos é um pouco demais (e sim, muitas vezes a escrita parece com a de alguém tentando contar uma história inspirada em Gundam sem muito sucesso).
Combinando isso com o fato do jogo entregar momentos importantes de exposição durante algumas cenas intensas de combate e, pela dublagem apenas em japonês, isso dificultar um pouco a absorção completa da narrativa, a sensação que se tem é de potencial desperdiçado.
Os momentos mais importantes da história poderiam ter tido um impacto maior se o trabalho do jogo em tornar Klara e Erika personagens marcantes funcionassem bem, mas é tudo tão corrido que é bem difícil se importar com as cenas ou até mesmo com a conclusão (que também parece vir do mais absoluto e completo nada e ainda fica um pouco em aberto).
O mesmo problema acaba se estendendo ao gameplay. WoD traz uma versão 3D de um tradicional shmup, te colocando em áreas totalmente abertas em combate direto com aeronaves inimigas. Fugir do tradicional sistema de sidescroller/vertical scrolling de jogos do gênero é uma ideia interessante, mas acaba afetando várias áreas que limitam a diversão do jogador.
A primeira delas é que, por se passar em um plano tridimensional, WoD precisou implantar um sistema de mira e ele não funciona como deveria. Enquanto a HUD é bem clara com as informações e pilotar em si é legal, o jogo muitas vezes tem problema em travar a mira no alvo que o jogador deseja, mesmo que ele esteja diretamente na sua frente, muitas vezes te forçando a manter a visão em uma direção e atirar sem mirar em alvos específicos.
Isso acontece principalmente quando existem muitos inimigos na tela ou inimigos com múltiplas áreas que precisam ser atacadas e causa uma certa frustração durante os combates. Adicione a isso o fato dos inimigos morrerem muito fácil ou demorarem demais para morrer e os tiros não terem real impacto e o combate perde a graça muito rápido.
Alguns desses problemas poderiam ser remediados se o arsenal ao seu dispor fosse mais rico ou houvesse a possibilidade de equipar armas especiais. Infelizmente, o que o jogo traz é apenas a possibilidade de customizar o seu loadout antes das missões de um rol limitado de opções de armas primárias, secundárias e terciárias e só isso.
Não considere isso como um apontamento de que tudo no combate está errado porque, mesmo com os problemas, é bem fácil se divertir com ele pelo tempo que o jogo dura. Há muitas coisas para melhorar, inclusive na parte gráfica (visto que as naves inimigas muitas vezes são pequenas demais para serem vistas), mas há potencial caso o jogo um dia receba uma sequência ou sucessor espiritual.
O destaque fica principalmente pelo fato de terem conseguido acertar em elementos como a movimentação e esquiva no plano 3D logo de cara e atirar no jogo é divertido. O problema é que, essas limitações, fazem com que mesmo sendo um título tão curto ele consiga se tornar repetitivamente cansativo ainda mais rápido.
Talvez algo que remediasse um pouco a duração curta do título seria uma forma mais simples de jogar novamente a campanha ou alguma espécie de modo horda ou similar. Mas, pelo menos no momento em que o jogo foi lançado, só é possível rejogar certas missões a partir do modo de seleção de capítulos e só.
É engraçado que isso acaba afetando um outro elemento que Wing of Darkness tem a seu favor: a platina fácil. Dada a curta duração, é bem fácil conquistar os troféus do título, mas como alguns deles exigem uma grande quantidade de grind (especialmente os de atirar determinado número de vezes com cada arma), ficar escolhendo missões do seletor de capítulos é bem chato.
No geral, Wing of Darkness é um título divertido e que deve ficar no radar dos jogadores curiosos com títulos independentes japoneses para uma futura promoção. Infelizmente, com a duração curtíssima e os vários problemas encontrados é impossível recomendá-lo pelo preço em que o título foi lançado na PS Store brasileira, mas talvez em uma futura promoção com um desconto bastante expressivo.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Clouded Leopard Entertainment.
Veredito
Wing of Darkness sofre com vários problemas na implantação do seu gameplay, mas tem em seu maior problema a duração extremamente curta. É um título com o qual é possível se divertir e há bastante potencial inexplorado na história, já que as personagens são interessantes, mas o resultado final acaba deixando bastante a desejar.
Veredict
Wing of Darkness suffers with a variety of issues with its gameplay, but its biggest problem is the extremely short duration. It is a title you can have fun with and there’s a lot of untapped potential in the story, as the characters are interesting, but the end result leaves a lot to be desired.