Warriors All-Stars

Jogos Crossovers são o ápice do fan-service. Criados para celebrar a história de franquias ligadas por pequenos detalhes em comum, nem sempre fazendo qualquer sentido ou abandonando boa parte do que tornou aquelas franquias dignas de serem celebradas, tornando difícil prever se Crossovers serão dignas celebrações ou caça-níqueis que não fazem jus ao que os fãs esperam.

Felizmente, Warriors All-Stars, novo jogo da Omega Force, maior produtora de jogos de ação ”musou” da indústria, encaixa-se na primeira opção. Lançado para celebrar os 40 anos da Koei Tecmo e 20 anos da Omega Force e da franquia Warriors, Warriors All-Stars (conhecido como Musou Stars) reúne uma série de heróis de um enorme espectro de franquias que tornaram a Koei Tecmo uma das mais importantes produtoras japonesas.

O gameplay de Warriors All-Stars é semelhante ao que se esperaria de outros jogos que trazem esse nome. Temos aqui um musou, ou seja, uma evolução exagerada dos tradicionais beat-em-ups, com dezenas de inimigos na tela que devem ser derrotados pelo jogador, enquanto o mesmo toma diferentes bases (cada uma com um modificador diferente, seja de bônus de ataque, defesa, itens de cura, recuperação de habilidades ou ataques periódicos a bases inimigas) e derrota generais inimigos para cumprir os objetivos.

WAS, no entanto, não se limita apenas a mecânicas tradicionais da série. Por mais que estejam presentes os tradicionais musou attacks (poderosos ataques capazes de matar dezenas de inimigos comuns e até oficiais e heróis de uma vez só) e o sistema de combo e defesa ainda seja o mesmo, existem coisas novas aqui que o diferenciam do último crossover produzido pela Omega Force (Warriors Orochi 3 Ultimate, lançado em 2014, que reunia personagens das séries Dynasty Warriors e Samurai Warriors).

O jogador controla uma equipe de cinco personagens, sendo um principal, que ficará sob seu comando ao longo da maior parte da batalha, e quatro heróis de suporte, que podem tanto ser controlados por um curto espaço de tempo ou ter suas Hero Skills ativadas. As Hero Skills são duas habilidades especiais que cada herói possui e que podem tanto ser um ataque quanto aumentar o poder da equipe ou curá-la. Independente da escolha, há um tempo de cooldown após usar as habilidades, que pode ser acelerado matando mais inimigos ou coletando itens disponíveis em algumas bases.

A outra novidade é a adição de uma habilidade especial chamada Musou Rush, na qual uma quantidade absurda de inimigos passa a habitar a tela e o objetivo do jogador é matar o maior número possível dentro de 20 segundos. A cada 150 mortes um dos membros da equipe aparece para “torcer” pelo jogador, mais 5 segundos são acrescidos ao timer e, quanto mais deles aparecerem, mais forte será o ataque realizado ao final do Musou Rush. É uma habilidade divertida que pode mudar o rumo de algumas das batalhas mais difíceis e que serve como uma celebração do absurdo que é o gênero.

Essa celebração, aliás, é algo que permeia todos os cantos de Warriors All-Stars. Esse é um raro jogo do gênero desenvolvido pela Omega Force que foca mais na sua história do que na ação, abandonando alguns dos sistemas mais intrincados dos jogos anteriores em prol de uma ação mais simplificada e menos estratégica, tornando-o mais acessível aos fãs de franquias presentes que não estão habituados aos musous. Não existem montarias ou armas, por exemplo, sendo que a customização se limita a “Hero Cards”, cartas com efeitos especiais que mudam levemente o combate.

Essa troca de profundidade por história funciona em favor do jogo. Apesar da bizarra ausência de um modo multiplayer, tanto online quanto offline, e que a ausência de alguns dos sistemas mais complexos incomode quem é fã de longa data do gênero, a história é boa o suficiente, com momentos de leveza e a esperada dramaticidade exagerada que são comuns aos jogos da Koei Tecmo. O jogo possui uma história simples, contando a batalha entre três jovens da família real que brigam pelo trono para salvar o mundo.

Há uma quantidade gigantesca de finais e rotas a serem destravadas, o que compensa a completa falta de outros modos além da campanha principal. Existem também vários tipos de missões diferentes com objetivos diferentes e a possibilidade de aceitar pedidos dos seus companheiros que dão desafios distintos e que funcionam como uma maneira de aumentar a ligação entre os personagens, fundamental para destravar novas habilidades e alguns bônus no museu.

O mais importante e que realmente sustenta Warriors All-Stars e o torna um jogo atraente tanto para os fãs do gênero quanto para os de outras séries da KT é o grande volume de heróis de diferentes séries. Tudo, desde os inimigos, cenários e até a trilha sonora, é bastante inspirado nos jogos e captam bem a identidade de cada um deles, sendo notório o cuidado em representar, da melhor maneira possível, personagens de jogos tão distintos.

Contando com personagens das séries mais tradicionais da Koei Tecmo, como Dynasty Warriors, Samurai Warriors, Ninja Gaiden e Dead or Alive, assim como de franquias mais novas e que tem recebido bastante destaque como Toukiden, Atelier, Nights of Azure e Nioh, o casting de personagens é bem variado, sendo realmente diferente de se jogar com cada um. Há algo especial em montar uma equipe que vai de heróis icônicos como Ryu Hayabusa, Kasumi e Zhao Yun a novatos como Sophie Neuenmuller e William Adams, ou personagens cuja série nunca chegou aqui, como Hajime Arina (sendo a primeira vez que um personagem da série neoromance chega em um jogo ao Ocidente).

No geral, Warriors All-Stars é um jogo fantástico para os fãs do gênero musou e um deleite para aqueles que apreciam os jogos da Koei Tecmo e se interessam pelo gênero, mas que nunca realmente encontraram a melhor porta de entrada. É uma ótima maneira de valorizar o incrível legado dessa produtora que há tanto tempo produz jogos de qualidade e que não é reconhecida como deveria.

Jogo analisado com cópia digital fornecido pela Koei Tecmo.