O PlayStation 5 chegou, e consequentemente, todas as atenções – do público e desenvolvedores – voltaram-se para ele. Porém, segundo a Sony, o PlayStation 4 ainda tem mais três anos de muita lenha para queimar, e para provar que o console está com tudo, a SadSquare trouxe à plataforma um ousado jogo de terror chamado Visage.
Visage acaba trazendo uma proposta ousada pelo simples fato de ter como inspiração P.T. Isso mesmo. O título da SadSquare inspirou-se no que seria o futuro Silent Hills, jogo que, infelizmente, foi cancelado e teve apenas essa pequena – e assustadora – demo como “aperitivo”.
Embora Visage traga elementos do projeto cancelado de Del Toro e Kojima, ele consegue entregar uma experiência que só será possível entender ao ler este review.
Você provavelmente já tem na cabeça um padrão de são alguns filmes de terror, certo? Eles costumam mostrar uma casa assombrada por espíritos de pessoas que moraram ali anteriormente e que, por alguma infelicidade, acabaram mortas dentro do próprio lar. E se você está pensando que Visage é assim, pensou certo.
Dwayne, o homem que vive nessa casa assombrada, acorda – aparentemente – machucado no meio de uma sala com uma poça de sangue. Sem se lembrar muito do que aconteceu (ou entender o que está acontecendo), ele começa a procurar um meio de sair deste lugar. Sem sucesso em suas primeiras tentativas, o protagonista acaba tendo que lidar com forças sobrenaturais que atormentam o local.
Com essa proposta, Visage pode ser considerado um clichê dos tradicionais produtos de terror existentes no mercado. Porém, seu grande diferencial está nos detalhes mostrados dentro de cada um dos quatro capítulos, que sempre conta uma história diferente.
Como mencionado anteriormente, Visage não puxa o tradicional roteiro da casa mal assombrada por fantasmas genéricos. Existe uma história mais complexa por trás de todas as atividades paranormais.
Embora o jogo inteiro se passe dentro da casa, você tem à disposição quatro capítulos de puro horror e medo. Cada um deles mostra a história de cada uma das pessoas que ali morreram. A melhor parte é que não é preciso seguir um padrão, pois é possível começar qualquer episódio na ordem que bem entender.
Quando um episódio se inicia, não é possível ir para outro até que o atual seja finalizado. Para isso, será preciso ir a fundo no caso e descobrir o que de fato aconteceu com essas pessoas.
No processo para encontrar as respostas, será preciso enfrentar o medo mais profundo dos antigos residentes. No episódio “Insidious Friend“, por exemplo, você terá que lidar com o monstro do armário que tanto atormentava a garotinha Lucy.
Durante o gameplay, você se verá preso num labirinto de portas e corredores. Assim como em P.T, é possível que um novo caminho se abra, porém, é claro, isso só acontecerá caso esteja seguindo a história corretamente.
Mas não pense você que para explorar os cantos dessa casa mal assombrada basta seguir em frente, encarando tudo e todos como se fosse um caçador de fantasmas profissional. Muito pelo contrário. Dwayne tem um medidor de sanidade no canto inferior esquerdo que fica vermelho quando se está há muito tempo no escuro. Para esses casos, existem duas saídas: ficar próximo de uma luz ou tomar o remédio de um dos frascos que existem espalhados pelo cenário.
E já que tocamos no assunto de que Dwayne não pode ficar muito tempo na escuridão, eu preciso confessar que fiquei muito frustrado com a falta de entendimento do que seriam “pontos de luz” em Visage. Eu explico:
Como dito antes, para evitar ficar à mercê das sombras, você tem à disposição isqueiros, lâmpadas e outros objetos. Sempre que possível, é importante ficar próximo desses locais iluminados para evitar a morte pelas forças sobrenaturais. No entanto, mesmo cumprindo esses requisitos, você pode ser pego enquanto carrega uma vela ou está próximo de um ponto de luz, por exemplo. Além disso, mesmo com uma chama forte, o jogo não entende o isqueiro como algo capaz de espantar as “forças das trevas”, e como consequência, sua sanidade tende a se esvair rapidamente.
Como de costume nos jogos do gênero, existe um inventário para guardar suas coisinhas de sobrevivência. Ele é composto por cinco espaços para itens dinâmicos (como velas, isqueiros e remédios) e outros reservados para a alocação de itens chave da casa.
Visage se mostra um jogo atencioso quando apresenta também um item dinâmico especial para cada capítulo. Em um deles, por exemplo, você deve carregar um martelo para quebrar os espelhos da casa, enquanto em outro é possível usar uma câmera fotográfica (no melhor estilo Fatal Frame) para revelar segredos dos cenários.
O fato do espaço ser pequeno pode irritar um pouco, pois a todo momento você se vê necessitado de itens importantes. Porém, para aliviar um pouco a situação, é possível acessar uma sala onde é permitido guardar os itens. Ela pode ser um pouco complicada de acessar, já que a casa está em constante mudança, porém, saber onde suas coisas estão sendo armazenadas já passa uma sensação de alívio.
Todos os títulos são analisados por uma série de fatores, tais como gameplay, trilha sonora, gráficos e outros. Porém, jogos de terror em específico acabam passando por uma outra análise: o fato de haver ou não os famosos “jump scares“.
Nem sempre os jump scares são bem vistos pelo público. Quando há demais, podem achar forçado. Se há de menos, criticam o fato de não haver tantos sustos. Por sorte, Visage consegue dosar muito bem isso tudo, e embora ele tenha momentos de pânico, consegue manter o jogador tenso e com receio de abrir uma simples porta, quase que 100% do tempo.
Para ambientar tudo isso e manter a atenção, Visage entrega gráficos bonitos e bem obscuros. Isso, em conjunto com a trilha sonora, te deixa atento aos acontecimentos ao redor.
Embora Visage entregue esses belos gráficos, existe algo que incomoda muito: o personagem não ter corpo. Não é possível ver as mãos, pés, tronco ou até mesmo o reflexo de Dwayne. Tudo bem que é um jogo indie, porém, títulos como SOMA, por exemplo, entregam uma experiência mais imersiva ao mostrar ao jogador que existe uma pessoa virtual ali. Da forma que está, parece que você está controlando algum tipo de fantasma.
Outro ponto negativo vai para o inventário. Ele não é lá muito intuitivo de se organizar. Não serão raras as vezes que você se perderá na hora de tirar um item do inventário para colocá-lo em sua mão. Na verdade, o maior problema desse detalhe está em quando essas situações ocorrem em momentos de tensão, que na maioria delas, resumem-se ao fato do personagem estar na escuridão total.
Caso você não seja bom no inglês, o jogo também conta com legendas em português. Porém, ao contrário do que a PlayStation Store alega, ele não é PT-BR, mas sim PT-PT. Claro, é possível entender praticamente tudo do que está sendo dito, mas fica aqui o aviso para não se assustar caso palavras diferentes das que você conhece apareçam na tela.
Eu já joguei muitos jogos de terror na vida, bem como já analisei alguns deles aqui para o PSX Brasil, porém, nenhum deles me deixou com tanto medo e tão tenso quanto Visage.
Mesmo com alguns problemas técnicos, Visage consegue entregar tudo aquilo que um título do gênero precisa. E embora ele seja muito difícil e cheio de puzzles que podem ser complicados à primeira vista, prende de uma forma aterrorizante e muito boa.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela SadSquare Studio.
Veredito
Visage não é um jogo recomendado para todos. Ele é difícil, requer muita paciência, análise e claro, coragem para lidar com as situações da casa. Porém, caso esteja disposto a encarar toda essa loucura, saiba que estará dando, mesmo com pequenos problemas técnicas, uma chance a um dos melhores títulos de terror do PS4.
Veredict
Visage is not a recommended game for everyone. It is difficult, requires a lot of patience, analysis and, of course, courage to deal with the situations in the house. However, if you are willing to face all this madness, know that you will be giving a chance to one of the best horror titles on PS4, even if it has some small technical problems.