Unknown 9: Awakening – Review

O risco da criação de novas IP’s no mundo dos jogos é algo que pode ser frequentemente observado. Tentar criar do zero um novo universo, personagens e mecânicas tem sido um desafio frequente e com muitos estúdios dizendo ser uma das tarefas mais complexas hoje em dia. Tal tarefa tem ficado mais a cargo de desenvolvedores independentes ou novos estúdios as tentativas de emplacar uma novidade de peso no mercado atual.

Nessa mentalidade, a Reflector Entertainment em parceria com a Bandai Namco lança Unknown 9: Awakening, o primeiro passo de um novo universo próprio que também estará presente em outras mídias de entretenimento com histórias diversas. No sistema de mídias diferenciadas para o mesmo mundo, Unknown 9 já está presente em HQ, podcasts e livros, com o jogo tendo o maior impacto em tudo isso agora em seu lançamento.

Os Nove Desconhecidos do título é referente às entidades que geram e cuidam dos ciclos de vida do nosso planeta e do Umbral, uma espécie de mundo paralelo ao nosso. Os quaestor são pessoas que conseguem manipular parte do Umbral para o nosso plano de diversas maneiras, assim como adentrar no outro mundo também. Tentando descobrir mais sobre a relação entre esses mundos e os benefícios que o Umbral pode entregar, os quaestor exploram o mundo em busca de mais conhecimento.

Unknown 9: Awakening

Awakening mostra a jornada de Haroona, interpretada por Anya Chalotra, uma jovem quaestor numa missão de descobertas sobre o Umbral e que tem seguido seus passos de aprendizado junto com sua mentora. Num certo ponto, eventos trágicos acontecem e mostra o surgimento de uma sociedade pronta para usar esse outro mundo de forma diferentes e com propósitos nada nobres. Harrona passa a perseguir uma vingança particular e investigar mais sobre os propósitos dessa sociedade enquanto fortalece seus poderes, encontra aliados e descobre ainda mais sobre seu passado e relacionamento com o Umbral.

Já tivemos a oportunidade de experimentar o jogo em duas outras oportunidades antes, com uma bastante recente. A recepção foi mista em ambos os casos, mas há similaridades que condizem com o que foi encontrado na versão final para esta análise. Em resumo, antes de nos aprofundarmos mais, Unknown 9: Awakening é um jogo com grande potencial no universo introduzido e com opções de ramificação disso ainda maior, mas que se sustenta em muito pouco ao entregar uma experiência datada em diversos pontos e entregue pela metade.

Unknown 9: Awakening

Awakening segue uma estrutura que era bastante comum em jogos de ação/aventura linear de mais de uma década atrás. Uma boa referência é o primeiro Uncharted, que guia o jogador por áreas com plataforma, puzzle, combates direto ou via stealth, mas que ainda vai intercalar a história com diversas cenas narrativas ao longo da campanha solo. Transportar o trabalho da Reflector para o ano 2007 e teremos uma ideia quase perfeita do que é o jogo quando comparado ao primeiro título da Naughty Dog no PS3.

Isso não é referente a qualidade em si, mas a forma de fazer um jogo sem muita evolução em todo esse tempo passado. Awakening segue essa mesma estrutura de narrativa, com missões que vão percorrer locais diferentes mostrando um avanço na história de Haroona e que irá intercalar as diversas cenas, sessões de jogabilidade com combate e stealth e leve exploração. No fim, é quase um jogo que começou a ser desenvolvido com ideias engessadas e que pouco evoluiu disso no decorrer dos anos.

Unknown 9: Awakening

A própria narrativa faz pouco uso do material possível. Os questionamentos sobre o Umbral e os poderes dos quaestor quase não são explorados e muito fica preso apenas no uso dp que é necessário disso para a história central e jogabilidade. Diversos passos da jornada da protagonista ficam à mercê de colecionáveis em texto e áudios sem aproveitar um potencial maior aqui. Inclusive, apesar de uma boa introdução neste novo universo, a narrativa é falha em diversos pontos e funciona quase como anticlímax nos pontos mais importantes, forçando preencher parte dos acontecimentos com twists desnecessários ou introduzindo elementos e personagens sem qualquer preparo para suportar algum ponto.

A história de Awakening poderia funcionar bem melhor do que é entregue, fazendo jus a um universo de potencial. Entretanto, não é possível jogar toda essa culpa apenas na narrativa ruim. Há uma soma de todos os fatores que compõem o jogo que deixam a desejar em algum momento e começam a transformar a experiência como algo insosso em poucas horas. Das cenas pobremente desenvolvidas e editadas, dublagem inconsistente, design de mapas e níveis desinteressantes e uma direção de arte que não representa bem a proposta são alguns.

Unknown 9: Awakening

Se jogos do tipo usam as cenas narrativas como ponto principal em contar seus enredos, aqui temos isso mas particularmente problemático. Há cortes abruptos demais e levam o jogador a supor parte do que aconteceria ali, além de que algumas cenas simplesmente não carregam nenhuma carga dramática e apenas jogam a imagem ao entendimento de quem assiste. Há um sério problema em entregar pontos importantes e de ligação da história pela metade e sem muito desenvolvimento, o que acarreta no desinteresse de uma história que não progride.

Um problema que me incomodou imensamente foi a dublagem de Haroona pela atriz Anya Chalotra. Às vezes estridente demais, outras tentando parecer jovem de forma irritante e quase sempre sem muita vontade, parece que boa parte foi apenas redublada ou dublada antes de qualquer construção da cena, deixando o jogador perceber a personagem tentando se comunicar de 4 ou 5 formas diferentes durante toda a campanha.

Unknown 9: Awakening

Além disso, o jogo mesmo parece não fazer valer as diversas localidades que poderiam representar muito mais da cultura indiana e afins do início do século passado na qual a história acontece. Com exceção da primeira cidade, os demais mapas quase sempre são só uma releitura de algum ponto num deserto qualquer ou em alguma selva esquecida, com mínima diferenciação mostrando a transição geográfica que acontece na história.

Falando sobre a jogabilidade, essa consiste num misto de combate corpo a corpo e uso dos poderes umbrais, assim como uma leve exploração e áreas de plataforma. Novamente, se usar Uncharted de 2007 como exemplo, vai encontrar similaridades naqueles mapas menores e afunilados, intercalando combate e progresso. Entretanto, Awakening força muito mais o combate que qualquer coisa, mas ainda dando opção para o jogador agir de forma sorrateira ou agressiva.

Unknown 9: Awakening

Haroona não usa armas e seu maior trunfo é a manipulação do Umbral para ações de ataque. Empurre ou puxe seus inimigos de forma física ou manipule os mesmo no umbral para causar dano. Use esses mesmo poderes para afetar o cenários, explodir objetos e quebrar outros, até mesmo controlar inimigos e tomar ações com eles que possa impactar a área de combate ou atacar seus companheiros. A variação aqui é interessante e acaba ficando mais divertido quando mais habilidades são desbloqueadas e fica possível manipular cada vez mais elementos no combate, seja ele direto ou stealth.

O sistema de combate em si é um bom acerto na estrutura do jogo e funciona muito bem, mas também vemos aqui o efeito de “entregar pela metade”. A IA dos inimigos é risível e as lutas contra chefes são extremamente fracas. Há também uma repetição exagerada de encontros e inimigos, assim como a falta de variedade dos mesmos e também das áreas de combate. Em alguns capítulos, a constância de combates transforma o jogo quase em arenas intercaladas com foco só no combate e com um ritmo totalmente quebrado, com mínimo progresso acontecendo.

Unknown 9: Awakening

Algo que precisa ser ponderado é que o jogo também, de forma técnica e visual, não se compara a um título da geração atual com 4 anos de existência. Mesmo tendo uma versão de PS4 também disponível, a versão de PS5 é sofrível de diversas formas. Visualmente datado, animações não tão fluídas, cenários limitados e aspectos técnicos reduzidos entregam um jogo visualmente a par da geração anterior apenas. Mesmo o poder do PS5 não parece ser utilizado além do SSD para loading inicial. Limitado a 30fps, sem opções visuais, e com resolução reduzida perceptível pela boa quantidade de serrilhados encontrados, mostram que há versão de jogos apenas no PS4 com qualidade superior.

Unknown 9: Awakening pode não ser o passo mais certo para um universo pensado para ser imenso e abranger outras mídias. Diversas falhas e defeitos ficam em maior evidência do que a qualidade do universo apresentado e de um sistema de combate funcional com potencial ainda maior. Além disso, uma estrutura de jogo já datada, sem evolução e com uma execução geral de forma ruim impede que esse passo seja melhor. Há o que melhorar e, talvez, possamos ver essa evolução em outro título daqui um tempo.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Bandai Namco.

Veredito

De forma datada e com falhas em diversos aspectos, Unknown 9: Awakening é uma proposta entregue pela metade e sem muita qualidade. Há pontos positivos para enaltecer, como o universo apresentando e um sistema de combate interessante, mas o pacote geral é medíocre e aquém do que poderia ser.

65

Unknown 9: Awakening

Fabricante: Reflector Entertainment

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Ação / Aventura

Distribuidora: Bandai Namco

Lançamento: 17/10/2024

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Dated and flawed in several aspects, Unknown 9: Awakening is a half-delivered proposal without much quality. There are positive points to praise, such as the universe presented and an interesting combat system, but the overall package is mediocre and below what it could be.