Trinity Fusion – Review

Na língua inglesa, a palavra Trinity quer dizer trindade, ou seja, um grupo de três objetos ou seres que compartilham as mesmas características. Coincidentemente, Trinity Fusion também é o terceiro jogo do gênero roguelite que estou analisando no período de um mês. E por mais que ele não seja o mais complexo em termos de mecânicas de construção de build e de variação de cenários, sua forte inspiração no gênero metroidvania foi suficiente para me deixar curioso para experimentá-lo.

Trinity Fusion conta a história de um multiverso criado para explorar os recursos de energia conhecidos como a Trindade, formados pela união da Vida, do Padrão e da Mente. Esse Multiverso foi separado em três mundos básicos. O Submundo representava a Vida, um lugar povoado por seres humanos, fauna e flora silvestre, no qual os recursos se regeneravam constantemente e a vida prosperava em crescimento. O Supramundo era habitado pelas máquinas e pelos humanos responsáveis por mantê-las funcionando. Nele prevalecia o Padrão, uma energia que operava para que tudo permanecesse em seu devido lugar. Já o Hipermundo era dominado pela Mente, um lugar onde habitavam os seres mais inteligentes que estavam cheios de promessas e de ideias tecnológicas. Para controlar esse Multiverso, Primário era o centro onde as energias se equilibravam, o lugar no qual os Engenheiros colhiam os louros de tudo que criaram.

Trinity Fusion

Tudo funcionava na mais perfeita harmonia, até que um dia a situação saiu de controle. Primeiro foi o Hipermundo, com seus habitantes evoluindo para um forma de vida conhecida como os Ewer, uma raça que acreditava que o equilíbrio do Multiverso estaria apenas no seu mundo. Na sequência, as máquinas do Supramundo se rebelaram e expulsaram seus controladores para o Submundo. No Submundo, as feras se tornaram gigantescas e agressivas, devido ao descontrole na proporção de energia vital. Agora, com o Multiverso à beira do colapso, a única maneira de reequilibrá-lo seria ativando seus harmonizadores para fundi-lo de volta para um único mundo.

Para enfrentar esse desafio, os engenheiros recrutaram Maya. Tida como uma jovem excepcionalmente inteligente, ela cresceu no Primário estudando para ser uma pesquisadora. Apesar de não possuir muitas habilidades de batalha, Maya foi escolhida por ser a única a ter suas três contrapartes vivas em cada mundo: Altara, uma guerreira do Submundo dotada de um braço mecânico capaz de disparar pulsos de energia; Kera, uma sobrevivente do ataque das máquinas no Supramundo e proficiente com armas corpo a corpo; e Naira, uma remanescente de uma sociedade seguidora dos Engenheiros no Hipermundo, especialista em armas de fogo.

Trinity Fusion

De posse do controle das personagens, seu objetivo é navegar pelos mapas de cada mundo até chegar no chefe e conseguir ativar o respectivo harmonizador. Somente ao ativar os três harmonizadores, o acesso ao último chefe do jogo é garantido. Cada um dos mundos possui sua própria sequência de cenários, passando por biomas de cavernas, cidades abandonadas, uma fortaleza, uma fábrica, dentre outros. Além dessa sequência fixa, há também um ambiente chamado de Intermediário. Esse mapa funciona como uma espécie de elo de ligação entre o Multiverso, servindo como ponte para que uma personagem de um dos mundos possa ter acesso aos outros harmonizadores.

No Intermediário você poderá escolher salas geradas aleatoriamente para conseguir melhores habilidades, armas e outros bônus. Já no restante dos mapas, a estrutura de exploração segue uma linha muito similar aos jogos metroidvania, com um level design mais linear e que conta com sessões de combate, plataforma e até algumas áreas que só podem ser acessadas com uma habilidade específica. Em muitos casos, essa habilidade será exclusiva de uma personagem de outro mundo. É então onde aparece o conceito da fusão.

Trinity Fusion

Em cada mapa haverá um portal de fusão para ser encontrado. Nele, poderemos investir uma quantidade de recursos para combinar duas personagens e acessar suas habilidades únicas. Por exemplo, Altara possui um pulo duplo para alcançar maiores distâncias e um drone para se teletransportar por espaços que não podem ser alcançados pelas outras personagens. O mesmo vale para Kera e Naira, cada qual com suas habilidades de locomoção e combate. Por isso, muitas vezes será necessário realizar a fusão com a personagem certa caso queira explorar os mapas por completo.

A exploração exerce um papel importante em Trinity Fusion, pois é ao acessar todas as áreas dos mapas que encontraremos baús contendo vida, recursos, consumíveis, assim como lojas de armas e lugares para ativar amplificadores. Esses amplificadores modificam algumas características das personagens, dando benefícios de ataque, defesa, recuperação de vida, dentre muitos outros. Cada amplificador faz parte de um grupo, com alguns deles até compartilhando dois grupos ao mesmo tempo. Ao combinar três amplificadores do mesmo grupo, um bônus adicional será ativado. O problema é que a maioria desses amplificadores acaba sendo muito condicional. Isso trava boa parte de seu progresso e limita as mecânicas roguelite do jogo. Ao longo de suas runs, você aprenderá a identificar as melhores opções e chegará à conclusão que somente algumas combinações de amplificadores serão realmente capazes de impactar sua build.

Trinity Fusion

Com o processo de fusão também é possível combinar habilidades de ataque das personagens. Isso abre um pouco mais o leque de criação de builds, mas também evidencia o desiquilíbrio que há de uma personagem para as demais. Kera é o maior exemplo disso. Com sua limitação de locomoção causada pela ausência de um pulo duplo e o combate apenas com armas corpo a corpo, ela se torna a personagem menos viável dentre as três. Portanto, uma run iniciada com ela quase sempre se torna uma jornada para encontrar um portal de fusão o mais rápido possível.

Há também um desequilíbrio na evolução dos mapas. A cada nova área acessada, os inimigos vão se tornando mais fortes. Isso teoricamente não seria um problema, já que sua personagem também sobe de nível conforme elimina mais inimigos. Só que por muitas vezes o salto no nível dos inimigos parece maior do que o level das armas que você encontrou, fazendo com que muitos deles passem a impressão de se tornarem esponjas de golpes. Isso até pode ser amenizado caso você tenha a sorte de encontrar armas correspondentes ao seu nível. Mas como o drop dessas armas é aleatório, isso também faz com que as armas que você encontrou, e que gostou de seu moveset e suas características, se tornem obsoletas muito rápido. É comum ter que deixar uma ótima arma para trás em favorecimento a outra não tão interessante, apenas por ela ter um nível mais alto.

Trinity Fusion

Uma das melhores características de Trinity Fusion está exatamente na variedade de itens e dos bônus que eles carregam. São muitas possibilidades de armas melee, poderes, habilidades e armas de fogo. Em estágios mais avançados, as armas podem aparecer com até três modificadores. Por isso, deveria haver uma maneira mais consistente de evoluir uma arma que você achou ideal para sua build. No entanto, as estações de melhoria de armas apenas estão disponíveis antes de lutas contra os chefes principais.

Outro problema na aleatoriedade é encontrado na geração dos mapas. Por mais que apresente gráficos interessantes, uma boa direção de arte e até uma relativa variedade de biomas, a forma com que Trinity Fusion cria seus mapas não apresenta muitas novidades. Há uma constante sensação de repetição, fazendo com que você decore algumas sessões dos mapas com certa facilidade.

Trinity Fusion

O design dos inimigos e a inteligência artificial são bons, mas o jogo também sofre com uma repetição exagerada dos inimigos considerados mais comuns. Além disso, alguns inimigos que atiram projéteis podem se tornar um problema nos casos em que você não tiver a sorte de encontrar uma boa arma ou habilidade para combatê-los. O mesmo vale para as lutas contra os chefes, onde a falta de uma arma adequada ou a escolha da personagem errada é capaz de gerar frustração. Por sinal os chefes não empolgam, pois possuem padrões de ataques simples e poucas tentativas são necessárias para que você consiga decorá-los. Mesmo o chefe final, onde supostamente deveria estar o maior desafio do jogo, acaba sendo uma decepção ao apenas replicar mecânicas já vistas em outros chefes durante a campanha.

Na questão da evolução permanente, Trinity Fusion oferece duas mecânicas distintas de progressão. As melhorias de combate, como o próprio nome já diz, são focadas nas habilidades das personagens e na progressão durante as runs. Dentre as melhorias para serem compradas estão a habilidade de desmontar armas para obter mais recursos, a possibilidade de encontrar lojas antes das lutas contra os chefes, além de uma taxa melhor de geração de energia. Já os aumentos psíquicos dizem respeito ao limite de sua barra de vida, taxa de acerto crítico, recuperação de vida e até uma habilidade de ressureição. Uma característica importante dos aumentos psíquicos é que cada melhoria possui um número que ocupa um espaço limitado de habilidades para serem equipadas. Esse limite pode ser ampliado com chips encontrados nos mapas, mas até que você tenha chips suficientes para liberar um maior número de espaços, será necessário gerir quais habilidades deseja adquirir e equipar.

Trinity Fusion

No geral, o sistema de upgrades permanentes do jogo é bom, e serve para ajudá-lo no progresso durante as primeiras runs. Só que, no fim das contas, Trinity Fusion é muito mais um jogo de sorte e paciência do que de habilidade. Para mim, isso foi algo que deixou o resultado final do jogo com um gosto meio amargo. Ainda que ao final da campanha seja liberado um modo mais difícil, os problemas de repetição de cenário e a pouca variedade de inimigos acabaram me deixando desmotivado para encarar todo o processo novamente. Por mais que a proposta de Trinity Fusion seja interessante, tanto as mecânicas de roguelite quanto a exploração do mapa no estilo metroidvania se mostraram superficiais. Trinity Fusion não é um jogo ruim, ele até possui um combate divertido e um bom sistema de exploração, mas fica devendo em alguns aspectos cruciais para colocá-lo no patamar dos melhores jogos do gênero roguelite.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Angry Mob Games.

Veredito

Trinity Fusion traz uma boa mistura dos gêneros roguelite e metroidvania. No entanto, algumas limitações em seu sistema de criação de builds e a constante sensação de repetição de cenários e de inimigos o impedem de alcançar um lugar de maior destaque dentre as muitas opções do gênero.

75

Trinity Fusion

Fabricante: Angry Mob Games

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Roguelite / Metroidvania

Distribuidora: Angry Mob Games

Lançamento: 15/12/2023

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Trinity Fusion brings a good mix of the roguelite and metroidvania genres. However, some limitations in its build creation system and the constant feeling of repetition of scenarios and enemies prevent it from reaching a more prominent place among the many options in the genre.