Transformers: Battlegrounds – Review

É sempre difícil analisar um jogo totalmente voltado para crianças. Enquanto podemos olhar para ele com os olhos atuais e julgá-lo pelo que ele faz (ou não faz) em comparação a outros jogos do gênero mais “focados” em um público geral, mas talvez não seja o ideal para lidar com o que eles se propõem a fazer.

Assim, seria melhor tentar pensar como um jovem jogador que quer ter em mãos uma experiência que o lembre dos desenhos matinais, mas que precisam que eles sejam mais acessíveis. Jogos que tanto podem servir como uma introdução à um novo estilo de jogos que você não conhece e que ainda te faça se sentir no controle dos seus heróis favoritos chutando a bunda dos seus adversários mais malignos.

Talvez seja bom então que Transformers: Battlegrounds (ou Transformers: Campo de Batalha como ele ficou sendo chamado aqui no Brasil) tenha tanto o espírito quanto o estilo de um típico desenho matinal. Abandonando os gráficos mais “realistas” das adaptações da franquia para o cinema em prol de um estilo mais cartunesco.

Essa decisão faz muito sentido, visto que Battlegrounds bebe fortemente da mais recente série de desenhos da franquia, Transformers: Cyberverse, colocando os dois principais personagens da animação, Bumblebee e Windblade, no papel de principais personagens das aventuras vivenciadas aqui, se valendo da familiaridade de ambos os personagens para os eventuais fãs de Cyberverse.

No entanto, a desenvolvedora Coatsink tomou algumas decisões um pouco curiosas em sua abordagem para esse novo jogo. A primeira e mais surpreendentemente é que, não só o jogador assume o papel de um humano resgatado por Bumblebee, mas é encarregado de dar ordens aos Autobots no campo de batalha para guiá-los contra os ataques Decepticons de dentro de Teletran X.

A história gira em torno de você acompanhando Bumblebee,Windblade, Optimus Prime e toda uma trupe de Autobots em uma missão para alcançar o AllSpark antes que Megatron e seus Decepticons consigam ter a posse dele. Enquanto ela não segue passo a passo cada passo de Cyberverse, há uma forte inspiração nos eventos do desenho, incluindo os Transformers mais humanos vistos aqui, em comparação com outras adaptações da franquia.

A campanha não é das maiores, mas conta com uma quantidade bem interessante de conteúdo, com a história contando com 20 missões divididas em 4 capítulos diferentes. Todas elas são bem simples (salvo por alguns aumentos consideráveis de dificuldade mais próximo ao final) e contam com objetivos fáceis, no geral alternando entre alcançar um determinado ponto do mapa ou derrotar todos os inimigos.

Enquanto isso pode ser visto como algo simplista que gera repetitividade, fica claro que é uma decisão voltada para manter o título acessível à jogadores mais novos interessados na experiência. Mesmo nos pontos em que há um aumento de dificuldade, ele vem com o jogador tendo personagens poderosos e já conhecendo mais sobre o jogo, o que trás um desafio capaz de fazer com que o jogador se sinta recompensado por vencê-lo.

A parte mais divertida dessas missões é que, para um jogo tão voltado para crianças, Battlegrounds tem uma IA surpreendentemente afiada e capaz de te desafiar de maneiras bastante inesperadas. Mesmo que o combate não seja exatamente difícil, na maior parte do tempo ela sabe o que está fazendo e é bem capaz de te punir caso você cometa erros muito grosseiros. Talvez o maior problema nisso sejam os inimigos muito repetitivos, com cada mapa sendo desenhado ao redor de certas classes e inimigos spawnando o tempo todo.

Para enfrentar os inimigos, é claro, faz-se necessário um sistema de combate e, inesperadamente, ao invés de adotar a estrutura de um jogo de ação, como vários jogos baseados na franquia fizeram ao longo das últimas décadas, Transformers: Battlegrounds é um jogo de estratégia, nos moldes de XCOM. E é nessa decisão que o título provavelmente tem o seu maior sucesso e o que o torna recomendável para novos jogadores e para pais fãs de um gênero que raramente apresenta opções para iniciar possíveis novos fãs nele.

Uma das primeiras coisas que fica bem claro é que Battlegrounds abandona todo e qualquer sistema de RNG que XCOM tem para poder tornar o combate mais acessível para jogadores mais novos. Portanto, se o inimigo estiver dentro do seu raio de ação, você com certeza irá acertá-lo.

A variedade de ataques também não é das maiores, mas é algo que funciona a favor do jogo. Cada personagem possui um ataque principal, uma habilidade secundária que pode ser melhorada usando mais pontos de ação e um ataque especial que usa a barra de Energon para causar dano a uma área maior do mapa. Ao concluir as missões, você ganha pontos de Spark que podem ser usados para comprar novas habilidades que tornam suas unidades ainda mais eficientes em combate.

Algo bem útil é o fato de cada personagem possui três pontos de ação que podem ser usados em seu turno, dando um raio de movimento e ataque bem grande para cada unidade. Junte a isso o fato de você poder usar todas as suas unidades no seu turno antes do adversário agir e é tudo bem intuitivo e fácil. Talvez a única reclamação da estrutura do combate é o fato de mesmo as ações de movimento não poderem ser canceladas, fazendo com que até o menor erro seja punível pelo adversário.

O elenco de personagens também é relativamente restrito, com os jogadores podendo contar apenas com Bumblebee, Optimus Prime, Windblade, Grimlock, Arcee e Wheeljack durante a campanha. Felizmente, todos os personagens estão dublados e o jogo conta com legendas em português para facilitar tornar a experiência ainda melhor para os jovens fãs da série.

Outro ponto que indica o foco do jogo em conquistar jogadores mais novos e proporcionar boas horas de diversão em família, são os modos multiplayer. Battlegrounds conta com cinco modos multiplayer local (sem online) que atendem as características básicas, sendo eles: Capture a Bandeira, Partida Decepticon, Captura de Energon, Último Confronto e Destruição. Todos trazem coisas divertidas para a mesa e devem estender ainda mais a vida útil do título.

Algo negativo que precisa ser notado é que Transformers: Battlegrounds sofre bastante com problemas de performance no PS4 base, com quedas constantes de framerate bem incômodas. Em um curto teste no PS5, o jogo roda consideravelmente melhor, então é possível que o mesmo se estenda ao PS4 Pro, já que ele não possui versão nativa para a próxima geração e roda no novo console da Sony através da retrocompatibilidade.

No fim das contas, Transformers: Battlegrounds é uma experiência divertida e claramente destinada aos fãs mais novos da franquia. Considerando o quanto os icônicos robôs transcendem gerações, ele serve como boa diversão em família e uma bela porta de entrada para jovens fãs conhecerem um pouco do gênero de estratégia, algo raramente visto na atualidade.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Outright Games.