Dentro do segmento de jogos esportivos, cada qual bastante dedicado a nichos específicos, nenhum deles é tão representativo para o mundo dos videogames quanto o tênis. Não só porque é provavelmente um dos mais acessíveis no que se refere a gameplay e compreensão (ou ao menos assimilação) das regras mesmo para os leigos no assunto; nem é porque é uma das linhas derivadas de Super Mario com mais produções bem-sucedidas; mas sim porque a história dessa mídia não pode ser contada sem citar um dos mais importantes jogos dos seus primórdios: Pong. Antes dele, porém, houve uma experiência chamada Tennis For Two, que muitos consideram o primeiro jogo eletrônico de todos os tempos. Sim, os videogames nasceram e se consolidaram por meio de uma bolinha rebatida de um lado para o outro.
Significativo, portanto, não é o fato em si, mas os seus motivos: o princípio da competição simétrica, com um campo de batalha e um sistema de pontuação facilmente compreensível é o ponto de partida para praticamente tudo o que temos hoje em dia nesta indústria vital. Não é por acaso que toda e qualquer plataforma com alguma relevância nos últimos 40 anos contava com o seu representante de um esporte que, na vida real, é dos mais elitistas, talvez só não tanto quanto o golfe, mas que nas quadras virtuais permite um espaço democrático para toda e qualquer pessoa que tiver interesse em dar uma ou outra raquetada. Entretanto, há anos que não temos em nosso imaginário coletivo uma série definitiva que represente o esporte, e esta lacuna ainda espera por um título sólido. TopSpin retorna almejando, quem sabe, preencher este lugar.
A edição deste ano é TopSpin 2k25, a primeira a já se apropriar do ano seguinte em seu título (como é tradição em games esportivos), e parece buscar reiniciar uma linha interrompida no quarto jogo, lançado lá no já longínquo ano de 2011. Se nunca se propôs uma franquia anual – há uma média de dois a três anos entre um lançamento e outro desde o primeiro título de 2003 – fica claro que o objetivo da 2K, até então, não é emular o que a EA faz com o futebol ou o futebol americano, nem o que a Sony faz com o beisebol, e como modelo de negócios, a apresentação do conteúdo oferecido se mostra realmente algo muito menos dinâmico e pouco voltado a uma fidelização live service. É um jogo que não pretende ficar preso ao ano de seu lançamento.
Desta forma, é importante entender que TopSpin2k25 é muito mais modesto em sua apresentação do que seus correlatos de outros esportes, e se prova muito mais um tributo do que uma celebração do espetáculo televisivo visto em The Show MLB ou Madden NFL. O elenco de jogadores presentes na obra é relativamente curto, com 24 atletas atuais ou já aposentados, e certamente você, que conhece um pouco do circuito mundial ou que ao menos já se interessou em saber a quantas anda os rankings, vai sentir falta de alguns dos maiores nomes que já pisaram numa quadra de grand slam hoje ou no passado. E se a sua pergunta óbvia for a presença do nosso maior representante, o tricampeão de Roland-Garros, Gustavo “Guga” Kuerten, já adianto que infelizmente é uma das ausências mais sentidas para nós, brasileiros.
Ao mesmo tempo, alguns dos nomes mais famosos de todos os tempos marcam presença em um verdadeiro encontro de gerações, e você poderá reviver confrontos históricos, como Sampras versus Agassi, ou ainda promover embates impossíveis na vida real, como Steffi Graf contra Serena Williams. Há algum tempo que eu não dedicava tanto tempo assim, em um jogo do gênero, ao modo amistoso, o Exhibition, porque neste caso este é o espaço onde pude experimentar jogar com várias destas estrelas inoxidáveis. Com a possibilidade de escolher alguns dos palcos mais consagrados do mundo, incluindo quadras licenciadas dos maiores torneios do circuito, é bastante divertido jogar partidas aleatórias, sem o compromisso de seguir em campeonatos mais longevos. Ainda assim, eu gostaria que houvesse um modo desse tipo, com os torneios, chaveamentos e tudo mais.
Para seguir carreira, porém, há o outro grande modo single player do jogo, que é o MyPlayer. Como se pode imaginar pelo próprio título, é onde criamos nosso próprios jogador por meio de um editor surpreendentemente bem detalhado, em uma jornada para sair do anonimato em torneios pequenos até chegar ao topo do ranking mundial. Aqui, mesmo que de forma simplificada, é o lugar para se aprender os fundamentos do esporte e os principais comandos enquanto se prepara para desafios promocionais e, claro, os campeonatos que dão experiência e rodagem para nosso recém criado jogador. Com um calendário cheio e a necessidade de se escolher bem onde investir tempo e energia, é o modo de maior longevidade do título.
Se a princípio há aqui uma série de similaridades com a criação de jogadores individuais no EA Sports FC, por exemplo, a dinâmica do gerenciamento da carreira é mais rápida e muito prática, sem contudo abrir mão de um certo nível de complexidade, como por exemplo a contratação de treinadores para melhorar certas qualidades a partir de metas atingidas; a distribuição de pontos de experiência, como em um clássico RPG, em atributos, como força, velocidade ou precisão em certos tipos de raquetadas; e um currículo de títulos e outras realizações que, logo, nos levarão a melhores posições mundiais. Não espere, portanto, que nos primeiros anos, ou temporadas, já se chegue na disputa de um grand slam, porque há muito o que remar até lá. Os quatro maiores torneios (Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e o US Open), aliás, estão presentes aqui e basta ser bom o suficiente para vencê-los.
Para isso, há tempo para se aprender a masterizar os principais aspectos da jogabilidade, um verdadeiro desafio para games que buscam a representação deste esporte em específico. Afinal, como inovar e renovar mecânicas que parecem tão bem sedimentadas, no universo tridimensional, desde antes do Virtua Tennis lá da época do Dreamcast? A boa notícia é que tudo o que já acumulamos de experiência, seja nos games anteriores da franquia, seja em outros similares, continua valendo, e não há qualquer complicação em começar uma partida normal e sair atravessando paralelas e cruzadas contra um adversário do outro lado da quadra. Desde ao design da tela, que é o mesmo desde o Master System e que reproduz uma transmissão televisiva convencional, até os tipos de batidas na bola, tudo é bastante confortável e familiar.
O maior desafio, portanto, não está exatamente em correr atrás da bolinha e devolvê-la para o outro lado da quadra, mas sim aprimorar a precisão em como e quando fazer isso. Por padrão, há um temporizador em cada ação, e quanto mais preciso for o timing do comando, melhor será a resposta na direção e na força resultantes. Apertar o comando muito cedo ou muito tarde são a receita para batidas menos efetivas. Se errar esse tempo não inviabiliza a resposta, haverá uma certa punição a seguir, seja com um ataque para fora da quadra adversária, seja na facilidade para o outro lado responder. Ou seja, ser mais lento ou mais rápido que o ideal não significa errar a bola, algo que irrita em jogos mais exigentes, mas traz uma punição relativa.
Como resultado, temos partidas mais disputadas, trocas mais intensas e ralis mais longos, principalmente nos níveis de dificuldade padrão. Jogando com atletas consagrados, a porcentagem de erros é ainda menor, já que a maioria compensa a ineficiência com estatísticas mais altas partindo de um nível de personagem avançado. Já no modo carreira, quando seu personagem ainda é jovem e com skills com valores baixos, o erro custa mais caro e não é incomum que partidas sejam decididas pelos erros não forçados se o jogador negligenciar demais o timing perfeito. Não por acaso, há toda uma sessão dentro do modo dedicado à prática, algo que pode até ser ignorado, mas é melhor seguir com o cronograma para estar com a memória muscular em dia nos níveis mais avançados.
Chama atenção também a boa movimentação dos personagens, com um atraso bastante humano na resposta a mudanças de direção, com uma boa sensação de peso do corpo, o que é essencial para o tênis. Não há a busca pelo extremo realismo, mas TopSpin 2K25 evita aqueles movimentos extravagantes, mergulhos espetaculosos ou coisas do tipo. Escorregadas, pneus, forehand e backhand, tudo flui com uma certa naturalidade, mesmo quando o alcance parece impossível. O game, ao que parece, favorece um jogo jogado e valoriza a persistência. O desempenho das animações in-game é exemplar, mesmo que a física da bola pareça leve, mais confortável do que se esperaria em algo mais voltado ao realismo.
Por outro lado, as vantagens vistas na movimentação estão diametralmente contrárias ao material gráfico do jogo. Mesmo que tenhamos vários personagens icônicos facilmente reconhecíveis, a modelagem é bastante rasa, com expressões faciais muito aquém do que estamos acostumados a ver nos dias de hoje. Se os games esportivos atuais não conseguem escapar do vale da estranheza, TopSpin 2k25 está alguns degraus abaixo, com texturas de pele, cabelos e pelos faciais semelhantes ao que vimos há duas gerações. Olhos perdidos e esbugalhados, em especial, passam aquela sensação perturbadora de bonecos de cera animados, e sempre que a câmera se aproxima em replays e cenas de corte tudo parece artificial para além do que estamos acostumados.
Já na representação dos ambientes e cenários, a coisa é um pouco mais interessante, principalmente nos elementos não humanos. A torcida e todos os NPCs são tão robóticos como é de se esperar, mas há um trabalho muito bem feito no que diz respeito à cenografia, colorização e efeitos climáticos. A iluminação, em especial, exibe um valor de produção muito positivo, mesmo que dias ensolarados em quadras muito detalhadas possam cansar a visão. O ambiente normalmente aberto se aproveita do horário do dia em que o evento é realizado para estabelecer um tipo de luz global que não se apoia só na dicotomia entre onde está ou não coberto, como jogos de futebol, e ao invés disso trabalha bem com a temperatura de cor. Nada tão complicado, mas bem eficiente.
Sem uma narração, mesmo estrangeira, porém, toda a sonoplastia se resume às rebatidas, reações da torcida – que atua bem em bolas improváveis e boas jogadas – e um trabalho de vozes que busca reproduzir aqueles gemidos típicos de jogadores profissionais do esporte. Nenhum deles é tão visceral quanto era o nosso Guga nas quadras reais, mas é inegável que esse elemento traz mais personalidade a bonecos estranhos. Há músicas bastante comuns de eventos do circuito, mas enquanto um esporte elitista por natureza, há pouco de popularesco no jogo tal como nas transmissões televisivas. Tudo é contido, mais intimista, e até efeitos de tira-teima são reproduções daquilo que vemos quando assistimos jogos de 2, 3, 4 horas na TV.
O escopo econômico faz de TopSpin 2K25 um jogo esportivo que foge do padrão de outras produções, que enchem a tela de opções, jogadores realisticamente reproduzidos, espetáculos pirotécnicos televisivos e coisas assim, algo que transborda também para além das quatro linhas de uma quadra. Os modos são contidos, restando o multiplayer on-line para testar seu personagem customizado contra outras pessoas para além do treinamento protocolar, da carreira e dos amistosos off-line. A ausência de outras opções mais criativas, como torneios e campeonatos reais para se jogar com estrelas da atualidade é uma falta sentida, enquanto, por outro lado, não se apoiar num modelo de negócios agressivo como jogos similares mostra que a ideia aqui não foi criar um mina de dinheiro, mas sim um jogo honesto que reverencia o esporte e sua história.
A monetização, se assim podemos chamar, vai para outro caminho, abusando dos elementos de customização estética, algo que dá sentido ao sistema de acúmulo de pontos conforme se avança na campanha ou mesmo se joga partidas amistosas aleatórias. Marcas reais estão presentes o tempo todo, e certamente a exposição de seus produtos ajuda na autenticidade do fornecimento de suprimentos esportivos e, claro, no equilíbrio das contas de desenvolvimento, principalmente o licenciamento de várias das mais conhecidas personalidades do tênis mundial. As edições premium do game, aliás, estão apoiadas nesses elementos como seu principal ponto de atenção, com raquetes, camisetas e outros itens de raridade alta.
TopSpin 2K25 retorna, duas gerações depois de sua última aparição lá na era PS3, trazendo de volta uma certa simplicidade para um mundo onde tudo tende a ser vertiginoso demais. Com os pés no chão, centrado em mecânicas sólidas e no respeito ao legado de várias gerações, o game também parece pouco ganancioso nos aspectos mais técnicos graficamente falando, se utilizando das ferramentas mais modernas de forma bem tímida, e apostando naquilo que sempre fez de melhor. Se visualmente o jogo pode parecer ter parado no tempo, é na diversão adaptativa para perfis diferentes de especialistas a raqueteiros de final de semana onde está a sua maior aposta de longevidade. Resta saber se este é o reinício de uma proposta seriada cheia de iterações anuais ou se continua sendo o que sempre foi: um jogo único para segurar a geração, algo que parece ter sido esquecido por um mercado sedento pelo hype imediatista.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Take-Two Interactive.
Veredito
TopSpin 2K25 é o retorno esperado de uma das marcas mais aclamadas do esporte e traz consigo algumas das melhores qualidades que a fez tão querida anos atrás. Ainda assim, parece pouco gananciosa em termos visuais e, principalmente, na quantidade de conteúdo oferecido, fazendo da simplicidade seu grande trunfo e, ao mesmo tempo, seu maior limitador.
TopSpin 2K25
Fabricante: 2K Sports
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: Esportes
Distribuidora: 2K Sports
Lançamento: 23/04/2024
Dublado: Não
Legendado: Não
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
TopSpin 2K25 is the long-awaited return of one of the sport’s most acclaimed brands and brings with it some of the best qualities that made it so beloved years ago. Still, it seems a little greedy in visual terms and, mainly, in the amount of content offered, making simplicity its greatest asset and, at the same time, its biggest limitation.