Qual jogador de videogame (novo ou não) não conhece a franquia Rainbow Six ou jogos com o nome Tom Clancy’s no título? Franquia essa conhecida pelo seu teor estratégico, ações coordenadas entre os membros da equipe e simulação. Rainbow Six Siege foi uma surpresa na E3 2014, anunciado sem muito alarde e surpreendendo pelo gameplay estratégico e cenários destrutíveis. Na época, especulava-se um Rainbow com codinome “Patriost”, mas que chegou com o subtítulo “Siege”. A série sempre ficou à margem dos FPS’s, deixado de lado frente a franquias “consagradas” como Battlefield e Call of Duty – em qualquer discussão ou reportagem do gênero os títulos mencionados são Battlefield e Call of Duty, como se fossem os únicos FPS’s do mercado.
Rainbow Six Siege traz o enredo de que a criação de uma equipe de elite mundial é necessária frente a uma nova ameaça terrorista. Uma equipe terrorista altamente treinada requer uma resposta à altura, e a reabertura do “protocolo Rainbow” para responder de forma relevante a essa nova ameaça se mostra essencial.
Tudo isso é um pano de fundo para as partidas multiplayer, o foco principal do jogo, já que não existe uma campanha singleplayer propriamente dita – o que existe é uma espécie de tutorial que ensina conceitos do jogo, dividido em 10 cenários, em que o jogador é “treinado” em técnicas de invasão, extração de refém e eliminação dos inimigos do lado atacante, e defesa de refém, criação de armadilhas e emboscadas do lado defensor.
Depois de terminar esse “tutorial”, o jogador é colocado ao lado de 4 pessoas em uma partida cooperativa contra a IA, em que o trabalho em equipe é necessário para conseguir chegar ao objetivo proposto, fazendo com que o jogador coloque em prática tudo o que aprendeu nos cenários anteriores. Essa nova proposta de jogos com o foco voltado para partidas multiplayer em detrimento da campanha singleplayer tem sido comum nos jogos recentes. A cada ciclo de lançamentos, a campanha singleplayer é deixada cada vez mais de lado, um ponto controverso entre os jogadores.
Em questão de estilo de jogo, qualquer um da franquia Rainbow é focada em estratégia e paciência, totalmente o oposto de qualquer outra franquia do mercado. Ao contrário das batalhas frenéticas e mapas reduzidos de Call of Duty e mapas gigantescos e povoados de Battlefield, a série Rainbow foca totalmente seu gameplay em mapas “pequenos” (casas, aviões, prédios, etc.), com salas, corredores e escadas simulando situações do dia a dia de equipes de elite ao redor do mundo.
Depois de um hiato de 7 anos desde o último lançamento de um jogo da franquia para os consoles (Rainbow Six: Vegas 2 em 2008 para PS3 e X360), Rainbow Six Siege traz batalhas multiplayer de 5×5 e partidas cooperativas de 5 pessoas para os consoles de nova geração. O passo à frente e a grande novidade na franquia é o multiplayer competitivo, em que jogamos defendendo e atacando em rodadas alternadas. Diferente dos jogos antigos, onde a campanha era focada no modo singleplayer, controlando a equipe com comandos individuais, Rainbow Six Siege foca as partidas cooperativa ou competitiva totalmente em ações cooperativas entre a equipe, seja atacando ou defendendo.
O foco estratégico em Rainbow Six Siege é levado a um novo patamar, já que os videogames de nova geração deixam o aspecto de comunicação, formação de partys e equipes muito mais simplificado e dinâmico, pois é muito simples entrar em um grupo e se comunicar com ele. E comunicação é tão ou mais importante quanto a habilidade individual de cada jogador: criar estratégias de invasão, cobertura e ataque fazem toda a diferença para a vitória ou derrota na partida; o mesmo vale para a defesa, criando armadilhas, fortificando cômodos ou criando situações de emboscada.
Não existe nada mais gratificante do que localizar um refém dentro de uma sala repleta de inimigos e sincronizar um ataque com os companheiros de equipe: um destruindo a parede frontal para entrar na sala, outro no rapel para entrar pela janela e mais um no andar de cima entrando pelo alçapão do teto, todos em um movimento sincronizado e utilizando granadas de luz ou de fumaça para criar os segundos necessários para que a equipe elimine os inimigos em um único movimento.
Toda essa dinâmica cria partidas únicas a cada rodada. Já que a posição de ataque e defesa muda, os membros da equipe podem trocar de agente a cada rodada, criando estratégias diferentes com dinâmicas diferentes, sendo que em cada rodada cada agente só pode ser controlado por 1 membro da equipe, ou seja, ao escolher o agente X, outro membro da equipe não poderá escolhê-lo, dependendo dos agentes desbloqueados por cada jogador. O único agente “repetido” é o Recruta, que não possui uma habilidade especial.
O lineup inicial de Rainbow Six Siege conta com 20 agentes diferentes, divididos em 2 classes (10 de ataque e 10 de defesa) e 1 genérico conhecido como Recruta. Os agentes representam uma força policial de elite ao redor do mundo. SWAT dos EUA, SAS da Grã-Bretanha, GIGN da França, GSG9 da Alemanha e SPETSNAZ da Rússia. Cada agente possui habilidades e características distintas, uma “utilidade” específica, seja ela a de bloquear ou destruir portas, aumentar a defesa dos agentes com o uso de coletes, utilizar equipamentos eletrônicos para destruir armadilhas, etc.
Cada facção tem suas vantagens: os defensores têm a vantagem na fase de preparação, ganhando tempo para a criação de fortificações, o uso de câmeras (que podem ser destruídas) para detectar a movimentação exterior, além do fato de poder esperar, já que o tempo joga a seu favor. Já os atacantes têm a vantagem de poderem se mover pelo ambiente externo, procurando rotas de invasão, drones de varredura, além de equipamentos que podem abrir rotas alternativas através de paredes e assoalhos.
Além desse lineup inicial, a Ubisoft já anunciou o calendário de lançamentos de seus DLC’s (todos gratuitos) ao longo do ano de 2016, um calendário nos mesmos moldes de Driveclub. Os DLC’s incluem 8 novos agentes, que serão disponibilizados ao longo de 2016, sendo 2 a cada trimestre. Uma curiosidade é que um agente representante do Brasil será o 3º a ser lançado, em julho de 2016. Além dos agentes, o calendário mostra ainda 4 novos mapas, novos modos de jogo, novas armas e novos skins para arma. O jogador começa apenas com o “Recruta” disponível, um agente genérico com armas primárias e secundárias, granadas e gadgets de defesa, mas sem nenhuma habilidade especial disponível. Qualquer agente pode ser desbloqueado a qualquer momento, basta que você tenha “Renowns” suficientes para fazê-lo – um tipo de moeda do jogo que recebemos ao completar partidas cooperativas ou competitivas, tutoriais, etc.
Rainbow Six Siege é dividido em multiplayer competitivo e multiplayer cooperativo. O modo cooperativo se divide em 3 dificuldades (normal, difícil e realista) e coloca o jogador jogando sozinho ou em equipe diante de um mapa repleto de inimigos controlados pela IA protegendo objetivos. O multiplayer competitivo é dividido em 2 tipos, “Casual” e “Por Ranking”. Em “Casual”, a busca por partida acontece por jogadores de níveis aleatórios, não dá a possibilidade de escolha de posição de defesa e as partidas são jogadas em melhor de 5 rodadas; já a opção “Por Ranking” só estará disponível ao atingir o nível 20 de jogador e coloca você ao lado de jogadores com nível de ranking próximo, a opção de poder escolher o local para defender, além de colocar suas estatísticas de Vitória/Derrota e Kill/Death separadas e em destaque, e a principal diferença é que as partidas ocorrem em melhor de 7 rodadas e pontos por destruir aparelhos inimigos não ocorrem, além de mudanças sutis na interface de jogo.
Dentro do multiplayer competitivo existem 3 modos de jogo. No primeiro modo, “Resgate de Refém”, a equipe atacante tem que resgatar o refém, eliminando ou não a equipe inimiga. É preciso cuidado primeiramente com a segurança do refém, já que um tiro errado ou uma granada mal lançada pode colocar tudo a perder, enquanto a equipe defensora tenta apenas impedir que os atacantes localizem e extraiam o refém a tempo. “Desarmar Bomba” é o segundo modo de jogo, em que a equipe atacante tem que desarmar uma das duas bombas no mapa, sendo que apenas 1 dos membros da equipe possui o anulador. A equipe defensora tem que proteger 2 bombas em posições diferentes no mapa, impedindo que o anulador seja colocado. Por fim, “Proteção de Área” é o modo em que os atacantes têm que descobrir onde se encontra o dispositivo biológico e proteger o local por determinado período de tempo; já os defensores, têm de impedir essa ação.
Além dessas opções, o jogador pode criar partidas com suas regras específicas, como tempo de partida, tempo de fase de preparação e ação, índice de dano, habilitar ou desabilitar o “fogo amigo”, escolher o mapa, modo de jogo, número de rodadas em caso de empate, o número de prorrogações, etc. Todos os aspectos da partida podem ser criados. O ponto negativo é que ao jogar esse modo de jogo não se recebe “XP” ou “Renowns”. Ao criar seu tipo de partida, as configurações podem ser salvas para que essa configuração de jogo possa ser usada futuramente, sem a necessidade de repetir todo o processo novamente.
Rainbow Six Siege possui 10 mapas, desde um Banco até um Avião Presidencial, passando por Chalé, Consulado, etc. Mapas típicos de ações policiais envolvendo terrorismo. Todos são relativamente grandes, envolvendo vários ambientes divididos em níveis, possibilitando as invasões dos cômodos por vários lados diferentes, janelas, etc.
Rainbow Six Siege cumpre muito bem o seu papel, com cenários muito bem feitos e detalhados, com paredes, pisos, portas e janelas destrutíveis, partículas voando por todos os lados, granadas, balas voando e explosões acontecendo por todos cantos. É tudo muito bonito. Os sons das armas e equipamentos são únicos, cada arma se comportando de forma diferente, com coice e estabilidade únicos.
Um aspecto muito importante em Rainbow Six Siege é que os cenários são quase 100% destrutíveis, ou seja, ficar abaixado atrás de uma parede pode não ser uma boa estratégia. Basicamente tudo pode ser perfurado ou destruído pelos tiros, bombas ou granadas. Isso é um aspecto que influencia diretamente na estratégia, já que cria a possibilidade da abertura do campo de visão, passagens para novas rotas, a possibilidade de criar emboscadas com armadilhas, etc.
Nenhum lado está completamente seguro, já que o inimigo pode aparecer pela frente, pelos lados, pelas costas, pelo alto ou até mesmo por baixo (dando um tiro no andar de baixo, vazando o teto). Através dos sons, conseguimos diferenciar um agente especialista acionando um dispositivo específico no cômodo ao lado, pessoas andando no andar de cima ou na sala adjacente. Esse detalhe possibilita o uso do som para tentar a sorte de acertar alguém através da parede. Enfim, é realmente um jogo muito bem feito graficamente e sonoramente. Não deixa nada a desejar para franquias de renome concorrentes.
Em um jogo 95% multiplayer (para não dizer 98%), aspectos de conexão são importantíssimos, já que basicamente tudo é controlado a partir de servidores on-line, e o jogo requer conexão constante com os servidores da Ubisoft, ou seja, se você não estiver conectado ao servidor as recompensas de cenários ou partidas solo não contam para seu perfil, e logicamente as partidas multiplayer também ficam indisponíveis. No primeiro beta, as quedas de conexão e problemas de busca de partidas foram um problema, algo que só melhorou depois de ajustes feitos na fase aberta do beta a alguns dias do lançamento oficial do jogo. Um problema solucionado, já que as partidas ocorrem sem problemas graves de conexão ou quedas, partidas são encontradas rapidamente e geralmente com pessoas de mesma nacionalidade, o que ajuda na comunicação e na formação de novas amizades.
Pequenos bugs acontecem, como ficarmos presos em uma posição ou o drone cair atravessando o chão, mas quero deixar claro que são ocasiões pontuais, ou seja, de todas as partidas que joguei (multiplayer ou singleplayer) os bugs citados acima aconteceram apenas uma vez. Os bugs não são um fator significativo, tendo em vista todos os problemas que a Ubisoft enfrentou com outras franquias.
Veredito
A série Rainbow volta com força total para dar aos fãs de FPS uma nova opção de jogabilidade, diferente do frenesi de COD e das partidas povoadas de BF. Rainbow Six Siege traz um jogo cadenciado e estratégico à tona, com ações pensadas e movimentos sincronizados entre companheiros de equipe. Aqui, sair correndo pelo mapa atirando em todo mundo não é uma opção, já que sua rodada pode acabar com um movimento em falso e você terá que esperá-la terminar para voltar a jogar.
O ponto forte de Rainbow Six Siege está na comunicação, sendo preferível estar em uma equipe com 5 jogadores medianos, mas com estratégias bem sincronizadas e táticas inteligentes, do que em uma equipe com 5 ótimos jogadores individualistas; aqui a tática pode vencer a habilidade individual. A falta de uma campanha solo pode ser um ponto negativo para alguns, mas a inclusão de uma campanha fraca apenas pelo fato de tê-la ali também é um ponto negativo, algo que aconteceu com alguns títulos, e a tendência parece estar caminhando na direção de jogos cada vez mais focados no multiplayer e com o singleplayer deixado de lado.
Rainbow Six Siege é 100% focado no trabalho em equipe e jogo multiplayer, e a falta da campanha solo como conhecemos não é um fator relevante. Ele pode ser considerado um sopro de novidade em um mercado dominado e saturado por “FPS’s padrão”. A estratégia e comunicação tornam Rainbow Six Siege único em seu nicho de mercado.
Jogo analisado com cópia adquirida pelo redator.