Tiny Troopers: Global Ops – Review

Continuações tardias tem chamado muito a nossa atenção nos últimos anos, quando franquias adormecidas retornam de onde seus últimos jogos, por vezes originais de duas, três gerações atrás, pararam. Muitas vezes, essas sequências encontram em hardwares mais potentes um bom motivo para voltarem com uma repaginação técnica completa; e em outros casos, eles se mantém o mais fiel possível à proposta original apostando em elementos nostálgicos de tema e linguagem, e esta segunda opção parece ser o caso de Tiny Troopers: Global Ops, que segue o legado de Joint Ops lançado pouco mais de dez anos antes, mas que na comparação, parecem ter não mais que meses de distância entre eles.

Basicamente, o jogo segue uma premissa muito próxima a do original: o jogador assume o papel de um soldado de elite dentre um grupo de quadro guerreiros cuidadosamente – ou nem tanto – selecionados como os melhores dentre os melhores para operações especiais ao redor do mundo. E, bem, não há muito sobre a história do jogo a se contar aqui e as conexões entre missões são muito mais piadas bobas de duplo sentido do que algo que guarde qualquer fio narrativo, o que torna o jogo bastante direto e objetivo. Invada, destrua, derrote pencas de adversários, conquiste território, faça uma ou outra escolta, e volte são e salvo para o quartel general, de preferência, com espólios e um bom desempenho para conseguir complementações de habilidades especiais, equipamentos mais adequados e outras melhorias significativas.

A principal característica aqui, dito isso, é a objetividade da ação. Por cerca de quarenta missões divididas em seis grandes núcleos (que somadas não passam das sete ou oito horas de campanha), cada qual com cerca de dez minutos de duração quando muito, as tarefas atribuídas acabam se mostrando muito mais uma consequência do esquema protocolar de progressão do que qualquer outra coisa, porque a exigência estratégica não foge muito do padrão de avançar, limpar a área e seguir adiante. Claro que há pequenas metas complementares e sub-objetivos que demandam um pouco mais de atenção e foco, como encontrar um item no cenário dentro de um tempo determinado, proteger civis antes de serem exterminados ou liberar torres de comunicação espalhadas pelo cenário que, se não chega perto de se mostrarem metas complexas, as vezes tem lá seus caminhos tortuosos e coisas do tipo. Mas nada que vá precisar de muita concentração conceitual e quase sempre a solução mais óbvia é a correta.

Como um típico shooter isométrico no estilo de movimentação e combate twin-stick (daqueles onde o direcional esquerdo comanda o deslocamento e o direito a mira), a jogabilidade precisa ser bastante fluída para que possamos lidar com muitos inimigos ao mesmo tempo vindo de todas as direções, e nesse aspecto, Tiny Troopers: Global Ops é bastante satisfatório. Sem reinventar a roda ou buscar complicações desnecessárias, logo nos primeiros minutos já estamos cientes do que é possível fazer e de como vencer as hordas inimigas, com um gatilho disparando a arma e o outro dando conta das armas secundárias, além de haver aquele bom e providencial comando de esquiva, que deve ser utilizado com cuidado porque há um tempo de cooldown. Para além disso, há comandos de interação com dispositivos e outros atalhos, mas nada tão diverso, e pode se mostrar repetitivo em sessões prolongadas. Vença a primeira fase e o resto é mais-do-mesmo, só que cada vez mais intenso e complicado.

Uma vez vencida a missão, podemos seguir para a próxima, repetir a mesma ou voltamos ao QG, onde temos à disposição uma variedade bastante surpreendente de opções de customização. A primeira delas é relacionada especialmente ao visual no nosso avatar, com uma infinidade de rostos e uniformes, com algumas variações de apetrechos e de cor de pele. Não só o nosso protagonista pode ser personalizado como todos os demais companheiros também devem passar por esse banho de loja, por assim dizer. Importante frisar, aliás, que à medida que vamos avançando nas primeiras fases, liberamos o primeiro parceiro que pode ser controlado tanto por outro jogador como pela IA. Subindo de patente e cumprindo alguns requisitos, outros companheiros também ficam a disposição, e logo estamos preparando um esquadrão com os quatro obstinados pela aventura.

Para tanto, o dinheiro adquirido em cada missão pode ser utilizado para as já citadas melhorias possíveis, que vão desde prestígio para crescer dentro da hierarquia do exército, como para liberar novas armas primárias e secundárias, habilidades extras, fortalecimento de capacidades (como a barra de vida ou a diminuição do tempo de recarga da esquiva, e outros tantos), cada qual com níveis de aperfeiçoamento. Parece complexo, mas tudo é bastante simples e fácil de se compreender. Se assim desejarmos, podemos voltar à fases já superadas para farmar mais pontos e assim conseguirmos estar melhor preparado para avançar com mais segurança e cautela, e por vezes me vi dividido entre arriscar o próximo desafio ou me armar melhor, porque a curva de dificuldade não é tão exigente assim mas por vezes pode surpreender os desavisados e até mesmo ferir até os mais experientes.

Um dos motivos disso é que dentro de cada nível, a morte de seus aliados é quase permanente. “Quase” porque é possível reviver aqueles que caíram em batalha por um breve período de tempo, mas quando a morte é final, eles não voltam mais até que os substituamos novamente lá no quartel. Ou seja, se perder seu time pelo caminho, será necessário chegar ao fim sozinho, ou morrer tentando, e todas as melhorias e atualizações investidas no(s) aliado(s) que se for(em) não retornam. A boa notícia é que ao contar com tarefas sempre muito curtas, não é qualquer prejuízo ter que recomeçar tudo de novo, levando consigo a vergonha da derrota, mas também a experiência para voltar mais preparado. Particularmente, os trechos que nos colocam contra ondas de inimigos bem preparados foram os que mais me deram trabalho já que são os que menos contam com power-ups de recuperação de saúde. Nesse caso, melhor levar alguns consigo.

Para colaborar com o fator de acessibilidade, o jogo ainda permite selecionar o nível de dificuldade dentre quatro (ou cinco para os mais dedicados) possíveis a cada novo início, então se jogar no hard está dando mais trabalho do que se esperaria, é possível, primeiro, tentar acumular mais pontos nas fases anteriores para se preparar melhor, ou então baixar para um nível menos agressivo, o que depende do estilo do jogador e das suas pretensões, já que quanto mais difícil, maior a recompensa pelo multiplicador de estatísticas ao final da fase. Pelo menos até que liberemos o fuzil de assalto que se mostra muito mais poderoso que as armas anteriores e beira o desbalanceamento. Com ele em mãos, as coisas ficam bem mais tranquilas e nos permitem invocar o Rambo dentro de cada um de nós atirando sem pensar naquilo que se mexer.

Resgatar uma fórmula de interesse do passado não tão distante assim traz consigo, porém, seus pecados. Ao reduzir demais o escopo do “nós contra eles” e dos “mocinhos contra bandidos”, o game cai nas armadilhas do maniqueísmo que pode ser até simpático dado o estilo estético, mas que também acarreta na representação estereotipada de aliados e, principalmente, inimigos, incluindo aquele velha (e ruim) piada com a pronúncia de nomes árabes, por exemplo. Ainda que o jogo esteja longe de se preocupar com qualquer sofisticação do discurso narrativo, e sua história seja tão profunda como um pires, isso não significa que esses elementos simbólicos não estejam lá. Então caso essa divisão entre bons e maus por uma perspectiva tradicional estadunidense não te incomode, certamente esse elemento não afetará sua experiência, mas confesso que para mim foi bastante desconfortável acompanhar esta retratação superficial e cheia de preconceitos que já se mostra deslocada e desgastada para os dias atuais.

Pelo lado artístico, esse tom mais cartunesco chibi de personagens cabeçudos e com traços mais simpáticos funciona bem em um mundo composto por cenários ricos e coloridos que apresentam uma variedade climática que realmente nos dá a sensação de uma escala global. São modelos adequados e funcionais, com alguns rostos meio perturbadores, confesso, mas que cabem muito bem dentro da proposta. O jogo ganha pontos ainda pela composição de cenografia e direção de arte que, sem contar o fato de, como já citado, retratar lugares já esperados pela simplificação temática, são representações cheias de um certo charme infantilizado e que flertam com um tom quase artificial, como se tudo fosse de brinquedo, tornando a ação mais leve e atenuando a violência. Se continua não sendo uma recomendação para crianças menores pelo tiroteio desenfreado, certamente tem menos impacto gráfico do que outros jogos de mesma natureza.

A composição sonora, porém, brilha menos. O trabalho de vozes carrega um tom canastrão que até pode caber na proposta, mas chega a pontos de exagero que se tornam quase que uma caricatura de si mesmo. Além disso, o texto não é dos melhores e as piadinhas propositalmente de tiozão mais irritam do que divertem, e o exagero da interpretação não ajuda em nada. Também senti um certo desequilíbrio na mixagem entre trilha musical, vozes e efeitos onde ao invés de se completarem, elas parecem concorrer entre si, sem contar com um bug de som que por vezes faz com que os efeitos de tiro simplesmente sumam. As canções seguem o mesmo padrão das demais áreas e trazem algumas passagens “típicas” de cada região representada, se intercalando com aquele tema militar famoso por ser tocado por bandas marciais de escolas primárias, mas que sem quaisquer variações ligadas ao ritmo da ação, acabam parecendo deslocadas quando, por exemplo, trazem uma cadência mais leve enquanto está rolando um grande tiroteio desenfreado.

Como um todo, Tiny Troopers: Global Ops é um jogo que consegue ser divertido na maioria do tempo com sua temática simplória e mecânicas diretas. Traz uma boa fluidez, sobretudo quando conseguimos desbloquear as melhorias mais significativas, e oferece um nível de desafio bastante adaptável ao estilo do jogador, o que é ótimo e convidativo tanto para quem tem pouca intimidade com o sistema twin-stick shooter quanto para os mais preparados para o formato. Os tropeços representativos dependem das expectativas e leituras do jogador e podem ou não ser uma questão relevante, mas independentemente disso o tom adotado tem lá seus deslizes técnicos e no estilo do humor adotado. Para os veteranos que conhecem o jogo anterior, para o bem ou para o mal, tudo aqui segue muito fiel ao que já foi feito antes com exceção da possibilidade de agora seus companheiros poderem ser pessoas de verdade, seja localmente, seja on-line; para os novatos, tudo certo também porque não há qualquer tipo de exigência ou pré-requisito de conhecimento de causa. É chegar, curtir um trocadilho indigesto e sair atirando em inimigos, galinhas-bomba e o que mais parecer com uma ameaça.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Wired Productions.

Veredito

Sem grandes pretensões artísticas, narrativas ou de inovação da jogabilidade tradicional, Tiny Troopers: Global Ops é um típico twin-stick shooter propositalmente imaturo que traz alguns deslizes datados, mas consegue ser divertido e competente naquilo que se propõe, melhorando substancialmente quando compartilhado com mais pessoas em sessões leves e desinteressadas.

70

Tiny Troopers: Global Ops

Fabricante: Epiphany Games

Plataforma: PS5

Gênero: Tiro / Ação

Distribuidora: Wired Productions

Lançamento: 09/03/2023

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

Veredict

Without great artistic, narrative or innovative gameplay pretensions, Tiny Troopers: Global Ops is a typical twin-stick shooter that brings some dated slips, but manages to be fun and competent in what it proposes, improving substantially when shared with more people in light sessions.