Quando a Gearbox Software lançou a última DLC planejada para Borderlands 2, ninguém poderia esperar o quanto aquilo mudaria a franquia no futuro. Borderlands 2 – Tiny Tina’s Assault on Dragon Keep mudou o foco naquele momento para algo já diferente, ainda que emaranhado nas raízes e estrutura que o Borderlands sempre carregou. Ainda mais nonsense, fugindo do óbvio e abraçando a loucura de forma definitiva, a DLC foi um sucesso imediato.
Ainda que Borderlands The Pre-Sequel e Borderlands 3 tenham seguido o caminho tradicional, jogadores sempre lembravam da DLC específica e esperavam mais daquele tipo. Tiny Tina’s Wonderlands é o resultado do sucesso anterior e do foco em entregar algo já mais único e com o pé fora da tradição da franquia, abrangendo o leque de opções que chegam para os fãs das criações da Gearbox.
Wonderlands ainda soa como um experimento. A princípio, parece como uma tentativa de desvincular Tiny Tina e sua mente fantasiosa do que realmente é Borderlands, dando assim mais espaço pras maluquices da personagem florescerem. Entretanto, há diversos fatores que impedem isso de acontecer e vamos comentar um pouco aqui.
Num jogo de RPG de mesa como Dungeons & Dragons, Tina é a mestre do jogo que o jogador acaba por começar como um novato numa partida recente. Seguindo o ressurgimento do terrível Lorde Dragão, a história segue a linha de qualquer RPG de mesa tradicional, com classes, vilões, itens, evolução, dungeons e mais, colocando o jogador numa jornada atrás do que for preciso para derrotar o terrível senhor do mal.
Da maneira como a história é contada e pelas ações de Tina, o jogador pode esperar que qualquer coisa maluca aconteça em qualquer momento. Para Tina, tudo pode ser subvertido em prol da diversão, mesmo que não seja essa a intenção. Um bom exemplo acontece ainda nas primeiras horas do jogo, como um salgadinho que impede avançar pelo mapa e a mestre do jogo inventa motivos para a existência dele como se fosse algo lógico. Tiny Tina teve seu destaque por ser única, excêntrica e divertida, mantendo todas essas características em Wonderlands e reforçando cada vez mais o humor em diversas situações. Isso também faz o jogo ficar mais dinâmico, como acontecer alguma situação aleatória e que pode mudar no meio de um momento importante, já que tudo faz parte da cabeça de Tina e é ela que decide o ritmo dessa aventura fantasiosa.
A mistura de Borderlands com Dungeons & Dragons é vista desde o princípio através da arte e design usados aqui. Mais colorido, vibrante e muito mais vivo, Tiny Tina’s Wonderlands mostra tons que coincidem com diversas obras de fantasia medieval inspiradas em D&D. Além disso, um mapa que funciona como um tabuleiro de RPG e miniaturas que se movimentam nele traz um charme especial ao jogo. Mas não se iluda, apesar das variações, há muitas similaridades com a estrutura padrão dos jogos anteriores. Por exemplo, mesmo com o novo mapa estilo tabuleiro, as partes jogáveis ainda acontecem nos mapas de estilo tradicional da franquia.
As variadas classes, indo muito além das tradicionais de Borderlands, são o grande diferencial assim que o jogador começa sua aventura. Todas são similares às tradicionais já experimentadas por aí, como guerreiro, ladino, mago, necromante e mais, mas dentro do universo de Borderlands há mudanças que vão impactar no gameplay de forma interessante. Saem de cena as as builds formadas apenas por habilidades passivas e ativas em uma estrutura de árvores de habilidades para entrar um sistema de habilidades junto de pontos investidos a cada subir de nível. Escolha ainda opções num sistema similar de habilidades tradicionais, mas com impactos diferentes, e também pontos de atributos que vão acelerar restauração de escudo, aumento de vida, tempo de cooldown de habilidades e outros.
A jogabilidade, que sempre foi o ponto alto da franquia, assume o mesmo papel aqui, mas agora impactado pelas habilidade transformadas para um estilo mais fantasioso. Saem as granadas e entram magias. Armas continuam e com forte apelo no sistema de elemental e efeitos que podem ser aplicados, mas com impacto visual que unifica mais o jogo ao estilo escolhido. Os equipamentos são expandidos, com o jogador indo além do escudo e artefato, mas agora utilizando livros de impulso de habilidades, anéis e mais. Apesar de muito disso apesar ser uma forma expandida de como acontecia em outros jogos, há ainda mais opções de combinações que podem ser feitas, como focar no uso de magia a longa distância e dano em área, por exemplo, dando assim muito mais variação do que já havia em Borderlands 3.
Tudo isso continua aprimorando o ótimo combate que sempre existiu, mantendo assim o estilo de FPS responsivo e prazeroso, com mecânicas de RPG expandidas e o tradicional loot agressivo de sempre. Wonderlands é, em termos de jogabilidade, tão bom quanto Borderlands 3, mesmo que parta para um lado um pouco diferente do usual. A temática de fantasia medieval encaixou tão bem com o jogo que, se o jogador quiser fazer uma comparação esdrúxula, basta dizer ser um Skyrim com shotguns que é a representação mais certa possível.
Entretanto, a roupagem nova pode ser vista por muitos como uma reskin dos jogos anteriores, o que também não é errado falar e pode desanimar alguns. Se você se atentou aos problemas dos jogos anteriores e viu que mudanças não ocorreram, pode esperar o mesmo aqui. Design de missões que ainda insistem no sistema de ir do ponto A ao ponto B e enfiar combates no meio, inventário nada facilitado e já antiquado em alguns pontos, menus em excesso e navegação pelos mesmos ruins e também o sistema de mapa nada prático são alguns dos pontos negativos que a franquia carrega de jogo para jogo sem mudanças efetivas.
Algo que vejo bastante notável e continua como algo ruim é a IA de inimigos. Várias melhorias foram sendo feitas nisso com o tempo, principalmente nas lutas contra chefes e cenários para os mesmos, mas inimigos comuns continuam mantendo padrões de ataque similares aos do primeiro Borderlands. Praticamente todos vão se resumir a ir correndo feitos loucos em sua direção ou ficar de longe atirando sem muita variação. Apesar de Wonderlands adicionar novidades que puxam mais pelo lado da fantasia, como magias, a estrutura de ação dos inimigos não vai variar muito e vai ficando cada vez mais notável com o tempo.
Como sempre, um dos grande problemas com esses jogos é a necessidade de se jogar de forma cooperativa, e Wonderlands não é diferente. A experiência compartilhada com mais jogadores torna o título quase obrigatório de ser jogado assim, mostrando que uma aventura solo pode ser mais monótona e insossa às vezes. Felizmente, isso pode ser resolvido tanto com até 2 jogadores em coop local ou até 4 online, sendo assim a maneira mais acertada de aproveitar o jogo.
Da parte técnica, ficam as inúmeras melhorias feitas para o jogo na atual geração. Resolução para até 4K, 60 fps com poucas oscilações, modo para até 120 fps, qualidade de imagem em distâncias ainda mais longas e o uso do DualSense são motivos suficientes para o jogo no PS5 ser mais indicado ao invés da versão pra geração anterior. Não consegui testar a versão nativa de PS4, via retrocompatibilidade no PS5, mas ao que indica ainda é limitada a 30 fps e com quedas notáveis, o que acaba atrapalhando bastante principalmente no combate e momentos mais acelrados.
É interessante o quanto o tema parece em falta no mercado, mesmo com opções ainda sendo lançadas. Usar a fantasia medieval como é aqui, longe das abordagens sérias e cinzentas já feitas em outros títulos, mostra que um jogo que procurasse ser algo como um D&D puro, bem feito e sem muitas firulas, poderia ter sucesso, diferente das tentativas falhas que decidem apelar para “novidades” sem peso algum. Wonderlands mostra também que Borderlands precisa se reinventar e se renovar, com um spinoff abrindo caminhos para isso e talvez muito mais. A Gearbox tem uma fórmula definida e que carece sim de melhorias, mas pode funcionar com outros temas e abordagens, sem cair demais na mesmice.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela 2K.
Veredito
Tiny Tina’s Wonderlands é revigorante e mostra uma abordagem diferente para a fórmula tradicional da Gearbox. Ainda há problemas recorrentes e uma grande impressão de ser apenas uma reskin em alguns aspectos. De toda forma, o jogo consegue ser bastante divertido e continua entregando uma das melhores experiências cooperativas.
Veredict
Tiny Tina’s Wonderlands is refreshing and shows a different approach to the traditional Gearbox formula. There are still recurring issues and a impression of being just a reskin in some ways. However, the game manages to be extremely fun and continues to deliver one of the best co-op experiences.