É sempre curioso ter a experiência de jogar um pequeno jogo independente japonês. Ao contrário de empreitadas do gênero desenvolvidas no Ocidente, eles costumam ser projetos de escopo ainda menor, muitas vezes desenvolvidos usando ferramentas um tanto quanto ignoradas pelas bandas de cá e flutuando por plataformas de freeware, recebendo um certo status de “cult” em comunidades dedicadas, mas raramente atenção em espaços mais populares.
Ao longo dos últimos anos, a Dangen Entertainment tem feito um trabalho primoroso de tentar trazer mais e mais desses jogos para um público mais amplo, em plataformas em que antes eles não chegariam. E é basicamente essa a história por trás de The Witch’s House MV, um pequeno título de terror desenvolvido para PC usando RPG Maker que agora chega ao PS4, inclusive com legendas em português.
Desenvolvido pela Fummy, você joga como uma pequena garota loira chamada Viola que se perde em uma floresta apesar dos desejos de seu pai e precisa encontrar uma forma de ir para casa. Como toda boa criança em uma obra de terror, Viola decide que só existe uma forma de conseguir isso: entrando na casa mal assombrada de uma suposta bruxa na clareira onde ela acorda.
Naturalmente, essa é uma decisão que se mostra terrível rapidamente, já que a casa está cheia de armadilhas para todo lado e qualquer passo em falso de Viola pode ser o seu último, muitas vezes literalmente. The Witch’s House MV é construído de uma forma em que, salvo se você executar cada pequeno passo em uma ordem específica, você irá morrer.
Isso pode parecer frustrante, mas é exatamente isso que torna o looping de gameplay do jogo divertido, te forçando a experimentar e errar múltiplas vezes até aprender o caminho certo e então conseguir chegar ao final do jogo. É bem interessante como o título brinca com as expectativas do jogador, encaixando pequenos sustos, os chamados “jump scares”, ou meras piscadas de luz ou assombrações, justamente para não te deixar se sentir confortável ou capaz de prever quando será a próxima morte.
Esse sistema de tentativa e erro que o jogo constrói parece desenhado para te forçar a avançar por ele um nível de dificuldade por vez, com o Fácil te permitindo reiniciar uma sala imediatamente antes da decisão que causou a sua morte, o Normal te deixando à mercê só dos pontos de save para não perder todo o progresso, já que uma morte é game over e o Extra mudando tudo e te fazendo questionar tudo que você aprendeu sobre aquele mundo até ali para sobreviver.
A atmosfera que essa estrutura simples consegue criar, já que o jogo não possui nada além de um botão de interação e quebra-cabeças de ambiente para serem resolvidos, é o que acaba tornando-o bom. Há uma constante sensação de tensão, de dúvidas e incertezas sobre como e o que fazer, mesmo que o jogo sempre te dê dicas de como resolver aquilo que está à sua frente.
Outro ponto que acaba trabalhando para enriquecer a experiência proposta aqui é que, no fim das contas, The Witch’s House MV é um jogo excepcionalmente curto, com uma run “perfeita” durando algo em torno de uma hora até uma hora meia. Mas é através dos constantes erros e acertos que ele vai se alongando e a sensação de sucesso e progressão que o jogo dá é bem recompensadora.
Cabe dizer ainda que, apesar de bastante simplória, o jogo consegue contar uma narrativa bem legal, com tudo sendo contado através de diários opcionais e pequenas interações entre Viola e o Gato Preto ou na leitura de dicas importantes espalhadas pelo lugar. Cabe dizer ainda que o jogo conta com múltiplos finais, sendo mais um incentivo para jogá-lo múltiplas vezes, aumentando assim o retorno no investimento que o título requer (ainda que o preço de R$79,90 seja mais baixo do que a média hoje em dia).
Alguns dos momentos em The Witch’s House MV são genuinamente assustadores, graças em parte, também, pela trilha sonora minimalista que só aumenta o clima do jogo, algo excepcional para um título feito em uma ferramenta relativamente limitada como é o RPG Maker, ainda que essa versão receba esse nome por ter sido refeita usando justamente o RPG Maker MV.
Essa mudança para a versão mais nova dessa tradicional plataforma foi um ótimo passo para tornar o jogo mais agradável aos olhos. Embora o The Witch’s House original de 2012 não seja feio, essa nova versão traz cenários melhor iluminados, texturas mais bonitas e é, no geral, uma forma de tornar os diferentes ambientes um pouco mais interessantes.
No geral, isso significa que The Witch’s House MV é um jogo ainda melhor do que aquele que já havia começado a construir o espaço dele enquanto um pequeno “clássico cult” entre os jogos independentes de terror japoneses, com direito até mesmo a um mangá adaptando-o.
Se você é fã do gênero e do estilo japonês de contar esse tipo de história, esse é um jogo que deve ficar no seu radar graças à forma criativa como ele apresenta sua narrativa, o clima tenso e os desafiadores quebra-cabeças. A inclusão do Extra e de todas as mudanças trazidas por ele também o tornam um bom título para quem teve contato com a primeira versão, além de alongar a experiência que, apesar de essencialmente curta, consegue render através de múltiplos finais e sessões.
Jogo (versão de PS4) analisado no PS5 com código fornecido pela Dangen Entertainment.
Veredito
The Witch’s House MV é um divertido e desafiador jogo de terror, ainda que seja uma experiência relativamente curta. Apesar das limitações enfrentadas por ele, é um ótimo exemplo da criatividade vinda de jogos independentes e o quanto eles brilham neste gênero.
Veredict
The Witch’s House MV is a fun and challenging horror game, albeit a relatively short experience. Despite the limitations it faces, it is a great example of the creativity that comes from indie games and how much they shine in this genre.