The Talos Principle 2 – Review

Vamos direto ao ponto: The Talos Principle 2 é um incrível jogo de puzzles com mistério de ficção científica e grande profundidade filosófica. Se você gosta dessas coisas, nem pense duas vezes para jogá-lo: a experiência atinge um nível de qualidade incomum nos jogos. Para quem está na dúvida, vamos detalhar melhor para entender o que a descrição significa.

Primeiro, vamos tirar do caminho aquele “2” que acompanha o título. Sim, trata-se de uma sequência direta ao jogo original de 2014, mas posso dizer que não é obrigatório haver jogado o primeiro para entender e aproveitar o segundo, pois eu mesmo comecei a jogar o irmão mais novo sem saber uma mínima coisa a respeito do primogênito.

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Certamente, quem jogou primeiro o mais antigo terá uma visão de continuidade, mas a chave é que essa perspectiva também será de gigantesca expansão. Portanto, o jogador que chegar agora à história ficará por dentro sem nem se dar conta se algo foi realmente perdido, pois tudo é esmiuçado nas vastas proporções de contexto que a sequência oferece.

O slogan do novo jogo é, literalmente: “o que passou é prólogo”, isto é, uma breve preparação para o que vem agora. Em todo caso, o primeiro The Talos Principle está disponível na PS Store e faz parte do catálogo do PS Plus Extra, então você pode conferi-lo também.

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Em segundo lugar, vamos aos puzzles. Sabem aqueles jogos de quebra-cabeças organizados em menus com listas de mundos, cada um com sua própria lista de fases? Solucione algumas fases para abrir novos mundos/listas, até o final. Imagine um desses e substitua as listas por um lugar belo e amplo dividido em áreas, sendo cada área pontilhada de edifícios de arquitetura altiva e engenhosa, cada um contendo um puzzle.

Acrescente uma história enigmática, NPCs para conversar e acompanhar na campanha e registros do passado a descobrir. Esta é a fórmula de The Talos Principle 2.

As diferentes áreas são enormes, beirando o desconforto. Eu gostaria que tivessem mapas, mas a bússola se mostrou muito eficiente para localizar o que importa sem grandes empecilhos. Felizmente, há um sistema de viagem rápida que leva diretamente a cada local de puzzle já descoberto, mas ele só pode ser acessado do ponto inicial de cada área.

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É bom destacar que a aventura cognitiva pelos mundos pode ser jogada em primeira e terceira pessoa, alternando instantaneamente. É muito raro eu gostar de jogar em primeira pessoa, mas, nesse caso, variei de acordo com o momento, uma vez que essa foi a forma mais fluida de jogar, enquanto a visão em terceira pessoa foi mais prática em outras situações.

Boa parte dos puzzles consiste em usar equipamentos para conduzir feixes de energia e, com isso, abrir os portões que nos separam dos botões que devemos acionar. Falando assim soa bem simples e até repetitivo, mas a execução é muito sofisticada. Mesmo depois de bastante tempo jogando, o jogo ainda surpreende com as maneiras criativas como as mecânicas se comportam em ambientes precisamente calculados e como podem ser repensadas em conjunto com as novas mecânicas que surgem nas novas áreas.

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Cada puzzle principal é autocontido, isto é, tem dentro de seus muros todo o necessário para solucioná-lo. Não há mistura com os enigmas ao lado, nem aquisição de habilidades especiais ou evolução das capacidades do protagonista. Todo o resto depende do raciocínio e experimentação da pessoa que joga, o que evita os becos sem saída de quando achamos que há algo faltando e que devemos voltar ali mais tarde na campanha. Ao contrário: tudo é imediatamente solucionável.

Não demorou para perceber que o modus operandi é estrito: existe uma maneira certa de solucionar os enigmas e você deverá descobrí-la um passo por vez, até chegar ao objetivo daquela sala. Há maneiras mais enxutas de encontrar soluções, mas apenas uma vez eu tive a sensação de ter descoberto um atalho lógico.

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A questão é que, em The Talos Principle 2, não há maleabilidade de usar a física para quebrar a lógica com saltos convenientes, itens posicionados em ângulos marotos, arremessando equipamentos ou posicionando caixas de forma a fazer uma escada. Os quebra-cabeças aqui funcionam como relógios com peças que se encaixam de forma arbitrária.

Por um lado, isso parece limitar a inventividade, mas, por outro, é bonito ver os mecanismos trabalhando em conjunto. Além disso, essa abordagem garante que as regras sejam sempre claras, evitando que o raciocínio de quem joga perca-se na tentativa de quebrá-las. Essa escolha de design é proposital para levar a pessoa que joga a repensar, reorganizar e combinar as regras como parte do todo que forma a solução. É como uma equação sempre reordenada com suas novas variáveis.

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Um grande ponto positivo que faz The Talos Principle 2 dar certo é sua estrutura de progressão flexível. Após a introdução, encontramos uma megaestrutura piramidal com quatro lados. Cada um deles aponta para uma região com três áreas separadas, somando doze no total. Cada área tem edifícios com oito puzzles principais e dois opcionais. Há mais coisinhas intrigantes e variadas a resolver fora deles, mas, para esta review, vamos focar nesses dez enigmas de cada área.

Embora a numeração dos edifícios sugiram uma ordem de abordagem, todos os dez puzzles de uma área ficam disponíveis ao mesmo tempo e podem ser resolvidos em qualquer ordem. Antes mesmo de completar todos, o caminho para a próxima área será aberto automaticamente pelo avançar da história.

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Por exemplo: quando completei cinco puzzles da primeira área, a segunda ficou acessível com seus outros dez puzzles. No final das contas, é necessário completar ao menos oito puzzles das três áreas de uma região para progredir para a seguinte, mas a flexibilidade consiste em não deixar o jogador quebrando a cabeça com um obstáculo fixo por vez. Cansou de um? Tente outro, renove sua perspectiva e busque novas ideias.

Por isso, senti mais a empolgação do desafio do que a frustração da dificuldade. Tem até alguns itens obtidos em desafios fora dos edifícios que podem ser gastos para burlar um puzzle ou outro, dando ainda mais margem para avançar na campanha.

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Em terceiro, temos a narrativa. A flexibilidade de progressão de que falei também se aplica ao enredo porque a maior parte da viagem filosófica está presente em diálogos inteiramente opcionais. A história principal certamente vai instigar reflexões metafísicas, mas ela permanece voltada ao mistério em questão, isto é, o que são as edificações avançadas descobertas na ilha distante?

Quem são Prometeu e Pandora que deram as caras em Nova Jerusalém, a cidade da nova humanidade? Por que os lugares estão repletos de desafios cognitivos sem motivo aparente? O que aconteceu no passado da cidade e qual será seu destino? Quem foi a Fundadora e por que ela deixou seu povo?

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Os segredos devem ser o suficiente para manter o interesse na trama, mas uma enorme quantidade de detalhes está à disposição para ler — ou ignorar — segundo sua vontade no momento. São textos auxiliares, cartas, conversas com os companheiros de exploração, diálogos de fóruns, citações filosóficas reais e fictícias e registros de áudio que vão atiçar a intelectualidade especulativa de se deparar com questões da vida, o universo e tudo mais.

Ainda que parte disso seja voltada a pessoas habituadas a palavras como “ontologicamente falando”, o questionamento basilar que dá origem aos demais é acessível enquanto ideia. Trata-se do próprio princípio que dá nome ao jogo: Talos, um homem feito de bronze mencionado na mitologia grega, isto é, um autômato artificial, antepassado milenar ao conceito de robô.

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A partir disso, a série The Talos Principle criou Straton de Estagira, um filósofo grego fictício que se pergunta: se Talos é como um humano, será também o humano uma máquina dotada de consciência? Afinal, somos feitos de matéria e formados por partes funcionais que trabalham no conjunto de um todo. E o que isso diz sobre o universo?

Quando a espécie humana estava à beira da extinção, uma cientista partiu do princípio de Talos para projetar uma nova humanidade de máquinas que desse continuidade à nossa existência. Assim despertou Atena, a robô que foi primeira nova humana e deu início à criação de uma população que construiria a cidade de Nova Jerusalém, lugar que ela mesma abandonaria muito tempo depois.

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O jogo começa quando o protagonista 1K, o novo humano número mil, desperta, fechando o ciclo de ares religiosos que a comunidade chama de Objetivo. A cerimônia de nascimento de 1K é interrompida por uma estranha forma de energia que se chama de Prometeu e incita os habitantes a explorarem uma ilha distante dali, onde encontrarão novos questionamentos, novas tecnologias e, talvez, respostas sobre o paradeiro de Atena.

Nova Jerusalém pode ser explorada, mas a campanha em si ocorre na tal ilha com a mega-pirâmide no centro e será avivada pelos ótimos NPCs que acompanham 1K na jornada de descoberta e lembranças. Os corpos robóticos têm algo um tanto estático, especialmente no olhar que se move em uma moldura parada. Em todo caso, são robôs humanizados, então o vale do estranhamento é uma prerrogativa deles.

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O que importa mais é como suas personalidades são distintamente marcantes, manifestas em diálogos expressivos e uma dublagem prazerosa que os enche de vida e caráter. Byron, Yaqut, Melville e Alcatraz, além de mais pessoas que não vou mencionar, formam um grupo memorável de personagens que, com suas diferentes visões de mundo e contradições, enriquecem o quadro maior de uma humanidade confrontada com seu lugar diante do universo, uma relação com o cosmos que é definida mais pelas perguntas do que pelas respostas.

Se não deu para perceber ao longo do texto, concluo de forma explícita: The Talos Principle 2 me maravilhou constantemente de uma forma que raros jogos fizeram. Eu comemorei cada avanço através dos puzzles, fiquei pasmo diante de problemas aparentemente sem solução, me intriguei diante de respostas narrativas, apreciei a arquitetura brutalista de senso alienígena e me envolvi com personagens que apenas a boa ficção consegue oferecer. Eu agradeço que The Talos Principle 2 exista e que tenha vindo às minhas mãos, mesmo que por acaso, apenas por curiosidade.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Devolver Digital.

Veredito

The Talos Principle 2 é uma obra-prima que se aventura nos puzzles e no universo filosófico dos questionamentos profundos. Ainda que seja voltada ao público que busca estímulos intelectuais empolgantes, desafiadores e honestos, esta é uma experiência menos intimidadora do que pode parecer, graças à flexibilidade para avançar na campanha e a certeza de que cada puzzle já traz consigo todo o necessário para resolvê-lo. Poucos jogos me deram tanta satisfação com a beleza de ver tudo se conectar e finalmente desvendar o enigma diante de mim, fazendo-me correr logo para o próximo. Este é um dos melhores jogos de 2023 e fico feliz que ele exista.

100

The Talos Principle 2

Fabricante: Croteam

Plataforma: PS5

Gênero: Puzzle / Aventura

Distribuidora: Devolver Digital

Lançamento: 02/11/2023

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim, inclusive de platina

Comprar na

Veredict

The Talos Principle 2 is a masterpiece that ventures into ingenious puzzles and the philosophical universe of deep questions. Even though it is aimed at audiences looking for exciting, challenging and honest intellectual stimulation, this is a less intimidating experience than it may seem, thanks to the flexibility to progress through the campaign and the certainty that each puzzle already contains everything necessary to solve it. Few games have given me so much satisfaction with the beauty of seeing everything connect and make sense of the riddles, making me run to the next. This is one of the best games of 2023 and I’m humbly delighted to see its existence.