The Solus Project é um daqueles jogos ambiciosos que a gente duvida ter nascido de uma empresa indie. Desenvolvido na Unreal Engine 4 pela sueca Teotl Studios, o jogo esteve em produção desde 2013 e todo projeto foi tocado por um time que oscilou entre cinco e dez pessoas. Originalmente lançado em 2016 para PC e Xbox One, o jogo chega agora em sua versão completa para PS4, incluindo suporte para ser jogado no PSVR de maneira opcional.
Em sua essência, The Solus Project é um jogo de sobrevivência, mas que vai além, trazendo uma longa narrativa e muita, mas muita exploração. Jogado em primeira pessoa e pensado como experiência single player, o jogo coloca o jogador sozinho em um mundo alienígena, tendo que procurar por recursos e abrigo para sobreviver num ambiente vasto, desconhecido e cheio de segredos e perigos.
A história e toda temática do jogo são baseadas em ficção científica espacial. O ano é 2164, treze anos após a destruição da Terra por uma estrela errante. Três espaçonaves-colônias contendo alguns milhares de pessoas são tudo o que restou da humanidade. Orbitando Plutão, o objetivo é encontrar um planeta que tenha boas condições para se estabelecer e recomeçar.
O jogador é Octavius (ou Octavia) Sken, e se encontra na Solus 3, uma espaçonave de reconhecimento, que se aproxima do planeta Gliese-6143-C. Misteriosamente, a nave é atingida e explode, com o jogador se salvando ao ser ejetado em uma cápsula de emergência. Sem equipamentos além de Wilson, um PDA multifunção, o objetivo é sobreviver ao clima árido do novo planeta, enquanto busca uma maneira de estabelecer contato com a nave mãe. Seus problemas, no entanto, ganham outra dimensão a partir do momento em que se percebe que algum tipo de civilização viveu (ou vive?) neste planeta.
Por ser um jogo de sobrevivência, é necessário estar atento a diversas variáveis, que podem ser sempre verificadas na tela do Wilson. O jogador necessita se alimentar e beber como requisitos principais de sobrevivência. Além disso, é necessário dormir para ter boas condições de explorar o planeta. Por fim deve-se prestar atenção à temperatura corporal, sujeita a alterações causadas pelo clima, umidade, vento e também caso o jogador fique molhado. Temperaturas muito altas ou muito baixas fazem com que o jogador perca pontos de vida ao longo do tempo, podendo vir a óbito e, consequentemente, game over. Morrer, no entanto, significa recarregar o último arquivo salvo ou checkpoint.
Comer e beber, apesar de algo essencial, não é um fator tão impactante. Com uma exploração cautelosa e um bom gerenciamento de sua mochila (que limita a quantidade de objetos que se pode carregar), é improvável que o jogador morra de fome ou sede. O verdadeiro vilão em The Solus Project é o planeta. Tempestades, relâmpagos, tornados e até uma chuva de meteoros podem acontecer de maneira aleatória, podendo inclusive aparecer em conjunto. Quando qualquer anomalia climática ocorre, o jogador deve correr em busca de abrigo ou contar com a sorte de não ser morto por um meteoro na cabeça ou sofrer de hipotermia após ficar molhado pela chuva durante uma noite gelada.
Os perigos também se escondem nas cavernas e estruturas de uma antiga civilização escondidas por Gliese. Alguns ambientes são bem gelados, enquanto outros são o extremo oposto, e podem conter armadilhas naturais, como plantas venenosas, e também mecânicas, como mecanismos que acionam espinhos ao passar por cima deles. São variadas surpresas e condições aleatórias que promovem alguns momentos de desespero enquanto o jogador procura sobreviver até conseguir salvar o jogo.
O jogo é salvo automaticamente ao entrar em uma nova região e pode ser salvo manualmente ao encontrar totens específicos para isso ou dormir. Os totens, no entanto, são poucos e nem sempre estão em locais óbvios, podendo passar despercebidos pelo jogador desatento. Dormir necessita estar em um abrigo, com boas condições de temperatura. Além de salvar o jogo, o ato de dormir também recupera a vida do personagem e é afetado por alterações de temperatura ou fome/sede.
Além da parte de sobrevivência, The Solus Project conta também com a parte de exploração. E exploração é o que não falta. O mundo do jogo é formado por diversas regiões de grande extensão, contando com ilhas e cavernas que as interligam. A equipe de desenvolvimento, embora pequena, fez um trabalho minucioso e incrível, com o jogo contendo centenas de objetos a serem coletados e segredos espalhados por todos os cantos das regiões, colocando muitas horas de conteúdo à disposição do jogador.
Escondidas em diversas localidades estão artefatos que melhoram os status do jogador, como resistência a fome, queda, frio, etc. Há também cavernas menores que guardam segredos e pequenos quebra-cabeças, além de figuras e escritos de uma antiga civilização, que são parte importante da narrativa dentro do jogo. É possível ainda encontrar destroços da espaçonave, incluindo aí textos da tripulação, que revelam o que aconteceu com cada um, bem como trazem pequenas histórias a respeito dos bastidores do cotidiano na nave.
Vale ressaltar que o jogo não possui combate. Apesar de ser possível encontrar espadas e escudos, estes são usados para outro propósito. No entanto, a atividade de exploração nunca se tornou maçante, sendo bem convidativo entrar em uma nova caverna ou gastar um tempo em destroços na praia em busca de itens e segredos, enquanto me preocupava com a sobrevivência e torcia para não ocorrer uma alteração climática. Guardadas as devidas proporções, The Solus Project me proporcionou o mesmo sentimento de exploração e descoberta que encontrei em Skyrim.
Uma ferramenta interessante é encontrada nas primeiras horas de jogo: uma arma de teleporte. Com ela, é possível atirar um disco e ser teleportado para o local em que ele cai. Desse modo, a arma tem a dupla funcionalidade de poder ser usada para chegar a locais inacessíveis, bem como deixar o disco em algum local "seguro" enquanto explora a região, teleportando-se de volta para escapar de alguma situação ou ambiente hostil.
Visualmente, o jogo é muito bonito, com destaque para a ambientação. É sempre um colírio aos olhos ver a aurora boreal pintando o céu noturno, enquanto as duas luas de Gliese e suas superfícies cheias de crateras passeiam pela noite superestrelada. Até mesmo a chuva de meteoros, apesar de mortal, proporciona momentos de deslumbramento. Nem tudo é bem polido, no entanto, principalmente objetos e detalhes de estruturas, que possuem texturas mais grosseiras.
O design de áudio do jogo foi bem implementado, com som 3D trazendo boa imersão ao jogador, sendo dessa forma mais bem aproveitado com fones de ouvido. A música é meio tímida na maior parte do tempo, optando por dar mais espaço aos sons do ambiente de modo a não desviar a atenção do jogador na exploração. No entanto, quando se faz presente, especialmente nos momentos mais críticos ou dramáticos, as músicas executam bem o seu papel.
Toda essa amplitude de regiões a serem desbravadas e gráficos de boa qualidade, entretanto, cobram um preço caro. The Solus Project possui uma performance regular em alguns momentos. O tempo para se carregar o jogo e cada vez que se troca de região é bem longo, passando de um minuto. E ainda assim, passado o loading, é possível ver algumas texturas e objetos sendo carregados. Em algumas áreas a queda na taxa de quadros é visível, mas nada que prejudique o gameplay.
Loading demorado e quedas de fps são aspectos até que aceitáveis em um jogo, principalmente ao levar em conta que The Solus Project foi desenvolvido por um time minúsculo. Apesar disso, o problema que mais me irritou foi o crash que ocorre ocasionalmente durante o loading, com o jogo fechando repentinamente. Não é algo constante, mas presente o suficiente para deixar o jogador inseguro toda vez que o jogo carrega. Felizmente, isso não causou nenhum problema de corrupção de dados ou qualquer outro erro que comprometesse a progressão.
Opcionalmente, é possível aproveitar a campanha inteira do jogo no PSVR. Da mesma maneira como implementado em Resident Evil 7, pode-se alternar entre a realidade virtual e o modo convencional utilizando um mesmo arquivo de jogo. Como em tantos outros jogos em primeira pessoa, jogar no PSVR traz muito mais imersão com o ambiente, fazendo com que o jogador se sinta realmente presente em um planeta desconhecido. É também por meio do PSVR que se tem a real noção de escala das estruturas e flora de Gliese.
O modo VR oferece duas opções de movimentação: a convencional, em que o personagem anda para frente ao pressionar um botão, olhando para os lados ou pressionando outros botões para virar; e a por teleporte, em que o jogador mira para onde quer ir, dentro de um determinado raio de limite, e o personagem é automaticamente levado até lá. Esta última opção é a melhor, principalmente para exploração vertical, sem correr o risco de morrer ou se ferir em um pulo mal calculado.
Infelizmente, para jogar no PSVR é obrigatória a utilização de um par de PS Move. Os controles, no entanto, não possuem um mapeamento muito bom. A principal vantagem de usar o PS Move é dar liberdade ao jogador para interagir no ambiente de maneira mais natural e próxima do real, mas isso fica limitado no jogo. Ainda é preciso apontar e pressionar um botão para interagir com objetos e o jogador continua limitado a usar somente um braço para manipular um item, com o outro ficando exclusivo para ver as informações no PDA.
De um modo geral, The Solus Project é um jogo ambicioso tocado por um time pequeno. Apesar de seus problemas de performance e a irritação quando ele dá crash que causa seu fechamento, a experiência como um todo é bem positiva. São horas de exploração, descoberta, segredos e uma narrativa de ficção espacial que proporciona bom entretenimento, dentro de uma ambientação visual muito bonita. É um pacote bem recheado por um preço bem atrativo, tornando-se uma ótima recomendação.
Veredito
The Solus Project é um jogo que mistura sobrevivência com exploração, embalado por uma narrativa de ficção científica espacial que entretém. Sobrevivente de um acidente espacial, o jogador se encontra em um planeta desconhecido e de clima hostil, devendo tomar cuidado de sua alimentação e temperatura, além de procurar abrigo durante alterações climáticas diversas, tudo isso enquanto procura uma forma de estabelecer contato com sua equipe e descobre que parece não estar sozinho neste planeta. Apesar de ser desenvolvido por um time pequeno, o jogo surpreende por sua imensidão, com áreas extensas a serem exploradas e centenas de segredos a serem desvendados, garantindo muitas horas de diversão por um preço bem acessível.
Jogo analisado com código fornecido pela GRIP Digital.
Veredito
Veredict
The Solus Project is a survival game that mixes exploration with an entertaining space science fiction narrative. The player is the sole survivor of a spaceship crash, trapped in an unknown planet with a hostile climate, and needs to find food, keep a good body temperature, and seek shelter during various climate changes, while searching for a way to establish contact with the rescue team. To make matters worse, soon the player discovers that s/he may not be alone on this planet. Despite being developed by a small team, the game is surprisingly vast, with large areas to be explored and hundreds of secrets to be discovered, providing many hours of fun for a very affordable price.