Existem jogos que buscam nos oferecer mais do que apenas “jogar”. São jogos que mexem com o jogador e que entram naquela discussão clássica de que videogames podem ou não serem considerados como arte. Um exemplo de um título desse tipo é Journey da thatgamecompany. Seu gameplay é simples, o objetivo também não é complexo, mas trouxe uma experiência única e basicamente artística. Ao jogar The Pathless, digo que senti uma “vibe” similar.
The Pathless é um game desenvolvido pela Giant Squid, cujo currículo até o momento inclui apenas ABZÛ. No entanto, a desenvolvedora conta com ex-membros da thatgamecompany, o que explica facilmente a sensação descrita no parágrafo anterior.
Se eu tivesse que descrever The Pathless em poucas palavras, diria que é uma mistura de The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Journey e uma pitada de jogos rítmicos (apenas uma pitada, logo ficará claro). O jogo começa de uma forma misteriosa e lenta. Muito lenta. Serei honesto: o início me deixou muito desmotivado, pois a velocidade com que a protagonista anda e o espaço que existe a ser explorado faz parecer uma eternidade. Mas aqueles que insistirem, serão recompensados com um belo jogo que se segue.
Em The Pathless, você controla uma Caçadora que é também uma mestre arqueira. Ela chega a uma ilha mística com o objetivo de afastar uma maldição sombria que está envolvendo aquele mundo. Após resgatar um espírito logo no início, você terá uma águia companheira em sua jornada (que também é bastante importante para o gameplay).
O objetivo principal de The Pathless, portanto, é espantar essa maldição. Para isso, você deve explorar vastas regiões (basicamente um mundo aberto) e ativar determinadas torres. Para ativá-las, é preciso ter uma espécie de token que você obtém explorando a área. Ou seja, encontre esses tokens espalhados por uma região e ative as três torres. Uma batalha contra um chefe acontecerá (que é outro espírito que precisa ser purificado) e, após vencer, a próxima área torna-se acessível.
Esses tokens mencionados são encontrados utilizando uma visão que a Caçadora ativa com o triângulo. Determinadas áreas ficam em vermelho e lá você talvez encontre o que precisa. Chegando nesse local em vermelho, um puzzle terá que ser solucionado para obter o token – como usar suas flechas para acender tochas ou usar a águia para levar objetos e deixá-los em cima de botões específicos. Para quem jogou Zelda, principalmente Breath of the Wild, entenderá o sistema aqui descrito melhor.
No entanto, The Pathless não oferece um mapa. Você precisa se locomover prestando atenção a diversos pontos de referência. Não sei se um mapa estragaria a experiência, mas digo que a sua ausência é notável.
Outra coisa que não existe é um Fast Travel. Para isso, a Caçadora se locomove no mapa atirando suas flechas em vários alvos que existem espalhados pelas regiões. Você corre segurando L2 e, enquanto corre, uma barra é gasta (que seria uma stamina/fôlego). Essa barra é preenchida atirando com R2 nesses alvos. A mira é automática, então você deve segurar a flecha até o fim para acertar o alvo com 100% de precisão ou soltar quando estiver exatamente em 50% (é aqui que temos a parte rítmica mencionada antes). Se você atirar a flecha em uma % de carregamento que não seja 100 ou 50, não é certo que o alvo será atingido – mas ainda existe a chance.
No início, os alvos são meio escassos e por isso o jogo é lento. Mas quando você já tiver resgatado dois ou três espíritos, notará que o gameplay fica mais rápido significativamente, de forma bem agradável de jogar. Além disso, o R2 possui um efeito bem pequeno da resposta tátil do DualSense, o que não faz cansar a mão e ainda aproveita “de leve” a funcionalidade do controle.
Além das flechas, outra mecânica importante é a sua águia companheira. Ela possui duas funções básicas importantes: você pode usá-la para planar e inclusive voar para cima em uma determinada altura (pense como um pulo duplo). Inclusive, esse voar vai sendo aprimorado conforme sua jornada avança, permitindo que a águia tenha mais e mais “pulos duplos”. Já a outra mecânica, que é com o botão bola do DualSense, faz com que a águia pegue objetos e siga sua personagem até onde você deseja colocar tal item (como um interruptor, por exemplo).
Cada área do mundo aberto de The Pathless conta com um chefe corrompido. Enquanto você ativa as torres, há uma nuvem gigantesca (que é o chefe) que fica andando pelo mapa. Se essa nuvem alcançá-lo, sua águia ficará corrompida e caída. Você terá que ir, lentamente e sem ser visto, até ela para resgatá-la. Depois, com o botão quadrado, você a chama para acariciar e limpar a corrupção.
Essa mecânica serei honesto: é ruim. Acariciar a águia obviamente que é legal, mas me refiro a essa nuvem gigantesca e essa parte de stealth que acontece. É algo que dura alguns minutos e o stealth é muito simples (várias vezes eu me mexi na área que não deveria e não fui detectado). Você entenderá minha crítica quando essa parte acontecer pela décima vez enquanto tenta ativar as torres.
Por fim, as batalhas contra chefes são bem bacanas. Há primeiramente uma perseguição e você deve atirar em determinados pontos do chefe. Depois, uma batalha mais tradicional acontece, sendo que cada chefe possui um método diferente de ser eliminado.
A parte técnica de The Pathless, ao menos no PS5 (o jogo também estará disponível no PS4), é sublime. O loading é basicamente inexistente, o jogo roda a 60 quadros por segundo sem quedas e os gráficos estilizados são lindos. A trilha sonora, composta por Austin Wintory (de Journey), é muito bonita e encaixa muito bem com o mundo apresentado.
De forma geral, The Pathless é um jogo que recomendo para fãs do gênero aventura e que gostam de exploração e puzzles. Temos aquela clássica frase que a primeira impressão é a que fica e The Pathless, infelizmente, é afetada por ela devido ao seu início lento. Além disso, mais tarde no jogo, os tokens exigidos para ativar cada torre aumentam, o que torna o jogo desnecessariamente repetitivo. Porém, isso logo é consertado quando uma batalha contra chefe acontece (e que são ótimas) e uma nova área é destravada para ser explorada.
Mas a “experiência”, que tentei descrever no início desta análise, é o que torna The Pathless um jogo que merece ser conferido por muitos.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Annapurna Interactive.
Veredito
The Pathless possui um início lento, mas é recompensador avançar na jornada. A parte técnica, a trilha sonora e o mundo do jogo são incríveis. Pode ser considerado repetitivo mais adiante, mas o gameplay e as batalhas contra chefes compensam essa parte. É difícil dizer em palavras, mas a “experiência” em jogar The Pathless é única.
Veredict
The Pathless has a slow start, but the journey is rewarding. The technical part, the soundtrack and the game world are incredible. It can be considered repetitive later on, but the gameplay and the boss battles make up for that. It’s hard to say in words, but the “experience” of playing The Pathless is unique.