Sobreviver é necessário, primordial e não negociável. Em The Long Dark, todas as capacidades e conhecimentos serão colocados à prova para garantir a existência humana onde a natureza domina, dentre um interminável inverno e com perigos em cada canto.
A premissa do jogo da Hinterland é de que o planeta foi alterado graças a eventos catastróficos, iniciando um resfriamento maior de toda a Terra, mudando o dia a dia da maioria das pessoas até o ponto em que um evento geomagnético desativa qualquer equipamento eletrônico existente, radicalizando todo o estilo de vida atual.
Há duas formas principais de se jogar The Long Dark. A primeira é no modo campanha, denominado Wintermute, em que o jogador acompanha a saga de Will Mackenzie e Astrid Greenwood, que caem de avião nas montanhas geladas do norte do Canadá exatamente no momento em que acontece o já citado evento geomagnético. A campanha é dividida por episódios, como em The Walking Dead da Telltale, sendo que no lançamento já estão disponíveis os dois primeiros e os demais serão adicionados sem custos posteriormente.
A outra forma, e talvez a mais purista de se jogar, é o modo Sobrevivência. Nele, o jogador assume o controle de um personagem deixado em meio ao inverno canadense, sendo que não há uma narrativa direta e o único objetivo é sobreviver o maior tempo possível. Há variações do modo sobrevivência com objetivos específicos, mas que não desviam tanto da proposta inicial de sobreviver enquanto puder.
Ambos os modos de jogo compartilham da mesma jogabilidade. Sobreviver é a única opção e, para isso, tudo pode ser aproveitado. Vários materiais estão disponíveis para serem usados e prolongar sua estadia entre a mãe natureza. Gravetos podem ser colhidos para virar lenha de fogueira ou uma tocha para iluminar. Roupas podem ser encontradas para se proteger mais do frio. Trapos podem ser transformados em ataduras contra hemorragia, enquanto frutas e ervas naturais viram chás contra infecção. Animais imediatamente são fontes de alimento e qualquer canto começa a ser vasculhado atrás daquela pequena barra de cereal perdida.
Tudo o que se coleta é fundamental. Para continuar vivo a cada dia, o jogador deve manter o personagem abastecido com água e comida, além de controlar o cansaço e, principalmente, a temperatura. Todas essas condições culminam num status único, que indica se o personagem está próximo ou não do seu fim. Não adianta estar devidamente abastecido de comida e água, mas se encontrar no meio do nada, completamente exausto, o que ocasionará em um desmaio e, consequentemente, fim de jogo. O frio é mortal e talvez o maior perigo no jogo. Avançar por uma tempestade de neve sem estar devidamente preparado é porta aberta para morrer por hipotermia.
A mensagem clara que se tem ao jogar The Long Dark é de que o ser humano não pertence mais à natureza. Tudo evolui para que a sobrevivência fique mais difícil a cada dia que se passa. Ursos e lobos são perigos constantes e ameaças mortais se não houver a atenção necessária. Comida vai ficando escassa conforme se vasculha bem uma região, sendo necessário avançar para locais mais distantes. Porém, mesmo com todas as dificuldades citadas, The Long Dark se mostra mais punitivo pelas escolhas erradas do jogador e não apenas difícil por ser difícil.
O modo campanha se apresenta mais como um grande tutorial nesses capítulos iniciais. Apesar da carga dramática nos personagens e no plano de fundo da história, parece mais como uma narrativa que foi apenas inserida num modo sobrevivência para dar mais dinamismo e conteúdo, com um design de missões que não varia muito do “ir do ponto A ao B ou o leva e traz de itens. Apesar de personagens secundários bastante interessantes, o que realmente pode motivar o jogador a avançar na campanha é o desvendar dos mistérios que dão origem ao caos do jogo, os eventos naturais que ocorreram e vão sendo explicados no decorrer da trama.
O modo sobrevivência é a experiência definitiva e, particularmente, recomendo a começar direto por ele, tendo a sensação de desespero por estar perdido e não saber o que fazer, e também de satisfação por conseguir aprender e sobreviver dia após dia nas mais adversas situações. Diferente da campanha, que utiliza checkpoints e te impedem de perder seu progresso, aqui a morte é permanente e cada erro pode ser fatal, forçando a iniciar um novo jogo, porém com mais experiência dessa vez.
Um grande ponto positivo é o jogo usar bastante da realidade em seu contexto. Mesmo com a ficção cientifica por trás da trama, The Long Dark passa de um jogo survival para chegar aos moldes de um simulador de sobrevivência, com a utilização de itens e técnicas reais de áreas geladas e até doenças e aflições específicas de regiões assim. O controle das roupas é bem interessante. Aquelas que protegem mais contra o frio são mais pesadas e reduzem a movimentação. Elas podem tanto molhar e até congelar, caso em contato com a água, o que as transforma em inúteis e até prejudiciais.
Para acompanhar a vasta solidão em meio a tanto gelo, a trilha sonora do jogo é companhia de alta qualidade, fazendo presença em momentos chaves da campanha e da jogabilidade, como quando se está próximo da morte ou de um perigo iminente. Apesar do jogo tentar manter um estilo visual mais limpo e único, existem alguns pormenores que podem incomodar. O interior de alguns veículos possui texturas lavadas e de baixa qualidade, se comparado com demais detalhes do jogo, além de itens com modelagem abaixo do esperado para um jogo da atual geração, se assemelhando a títulos de consoles anteriores.
Tecnicamente, alguns problemas interferiram bastante no lançamento. Constantes crashes do jogo toda vez que se ia fazer um loading ou transição de cenário foram bastante comuns no início, além de outros bugs, como morte instantânea no início da campanha. Apesar de tudo, a Hinterland agiu rápido e conseguiu corrigir quase todos problemas técnicos com vários patches na semana de lançamento.
Ao utilizar a câmera em primeira pessoa, The Long Dark acerta muito ao dar imersão maior à jogabilidade. Será bastante comum se esgueirar e observar sempre os arredores à procura de lobos, que são bem ameaçadores, instigando o jogador a se preocupar e olhar bastante tudo o que o cenário oferece. Entretanto, mesmo configurando a sensibilidade, o controle de câmera parece desajustado e impreciso, além de um marcador na cor branca, o que em meio a tanta neve, pode ser um pouco confuso de acompanhar.
Assim como vários jogos hoje em dia, The Long Dark começou como um projeto de financiamento coletivo no PC, posteriormente evoluiu para um modelo de acesso antecipado e agora tem seu lançamento oficial realizado no PS4. Praticamente um longo período de experiências e testes, tanto pelos desenvolvedores quanto para os jogadores, mas que, de certa forma, demonstra uma evolução certeira, culminando num produto de boa qualidade no vasto mercado de jogos.
Veredito
Sobreviver é difícil e em cada erro a punição é certeira. The Long Dark mostra isso da maneira certa e com uma jogabilidade afiada para o estilo de jogo, mesmo que alguns problemas técnicos possam atrapalhar em alguns pontos. A campanha tem seus problemas, mas como é dividida por episódios, ainda pode ser aprimorada e todo o mistério do jogo incentiva a acompanhar o desfecho da história.
Jogo analisado com código fornecido pela Hinterland Studio.
Veredito
Veredict
Surviving is difficult and for every mistake you make you are going to be punished. The Long Dark shows this the right way with an exellent gameplay, although some technical issues can get in the way sometimes. The campaign mode has its problems, but since the game is based on episodes, it can be improved and the game’s whole mystery encourages you to follow its story.