The Library of Babel é um jogo bem peculiar. Para começar, ele conta com uma das artes gráficas mais bonitas e únicas que tive a oportunidade de presenciar ultimamente em uma produção independente. Além disso, The Library of Babel também combina elementos de jogos clássicos, como stealth e plataforma, para criar uma ambientação de ficção científica bastante sombria. Mas, apesar de sua proposta ser muito interessante, a realidade é que o resultado final acabou sendo um pouco diferente do que imaginava.
A história de The Library of Babel é inspirada na obra literária homônima de autoria do argentino Jorge Luis Borges e é ambientada em um cenário futurista, vinte mil anos após a extinção da humanidade, em um mundo agora dominado por robôs avançados. Nela, você assume o papel de Ludovik, um Seeker criado para investigar uma série de assassinatos atribuídos a um culto, cujo líder foi corrompido pelo vasto conhecimento encontrado em uma biblioteca repleta de segredos sobre tudo que foi e que um dia também será escrito.
Todo o desenvolvimento da história se dá através de diálogos por texto. O jogo oferece uma ampla quantidade de personagens e você passará boa parte do tempo interagindo com eles para coletar informações. Só que a falta de localização para o português brasileiro, em um jogo onde os diálogos são tão fundamentais para sua compreensão, é determinante para torná-lo praticamente inviável para os que não tiverem conhecimento da língua inglesa ou espanhola. Você até pode jogar The Library of Babel sem entender esses idiomas, mas a chance de se decepcionar por ficar perdido é enorme.
Para tornar as coisas ainda mais complicadas, mesmo a história apresentando bons elementos, ela deixa uma impressão ruim ao acabar de maneira inconclusiva, ficando óbvia a intenção de criar uma lacuna para uma possível continuação.
No lado positivo das coisas, a ambientação de The Library of Babel sem dúvida é sua maior qualidade. Além da excelente arte gráfica, o jogo conta com uma trilha e efeitos sonoros muito bons, contribuindo para criar uma boa atmosfera de suspense. The Library of Babel não é aquele jogo que vai causar sustos, mas ainda possui momentos de tensão e, de certa forma, até um pouco mais sinistros.
A jogabilidade em The Library of Babel contempla vários elementos, os principais deles sendo a furtividade, plataforma e a gestão de itens. Há também alguns mini-games e muitos quebra-cabeças, sendo que os quebra-cabeças me surpreenderam positivamente por serem bem elaborados. The Library of Babel não possui um sistema de combate nem de evolução de habilidades. Até aí, tudo bem. Só que alguns dos elementos básicos da sua gameplay acabam apresentado problemas, que podem afetar a experiência de maneira considerável.
O stealth é o menos problemático dentre eles. Particularmente, não sou um grande adepto dos jogos desse estilo, preferindo quando esse sistema aparece como uma opção ao invés de obrigação. Por conta disso, confesso que tinha um pouco de receio com que encontraria em The Library of Babel. Mas o fato é que o sistema de stealth não é dos mais difíceis e suas sessões são bem dosadas. E mesmo que a punição por qualquer vacilo resulte em morte imediata, o jogo conta com um bom mecanismo de checkpoints para minimizar uma eventual desmotivação com essa mecânica.
A maior parte das sessões de stealth envolvem andar agachado, se esgueirar por trás de objetos, encontrar passagens secretas e se manter estático durante os momentos de tensão. Durante algumas dessas sessões também é comum encontrar portas que necessitam ser destrancadas e caixas que devem ser empurradas para ativar mecanismos.
A parte mais importante da jogabilidade é o sistema de plataformas e talvez aqui esteja minha maior decepção. Apesar de ser nítido que o objetivo de The Library of Babel é oferecer um sistema de plataformas com um nível de desafio um pouco mais alto, infelizmente muitas dessas partes acabam se tornando frustrantes por dependerem não apenas de sua persistência e habilidade, mas também da aleatoriedade de alguns elementos.
Um exemplo disso aconteceu em um trecho onde deveria evitar ser tocado por vaga-lumes. Esses vaga-lumes não possuem um padrão bem determinado de movimentação, então você fica totalmente dependente de o jogo colaborar com você apresentando a melhor situação possível. Isso ocorre em diversas outras sessões durante a campanha e, por muitas vezes, você vai se frustrar quando ficar preso em algumas delas durante um tempo maior por conta disso.
Uma outra situação que prejudica o sistema de plataformas é que os controles nem sempre funcionam de maneira adequada. É comum em The Library of Babel você ter um tempo muito curto para tomar uma decisão. Quando isso é afetado por um comando que não responde bem, se torna algo preocupante. As hitboxes são estranhas e passam a sensação de que, em muitas ocasiões, você morreu de forma injusta. Também há problemas de colisão, que fazem com que seu personagem nem sempre consiga se agarrar nas bordas, resultando muitas vezes em morte.
Isso não significa que todo o sistema de plataformas seja ruim. Pelo contrário, o jogo conta com bons momentos. Mas infelizmente o grau de frustração em situações específicas acaba deixando parte deles em segundo plano.
Uma outra mecânica que não me agradou foi a de gestão de itens. A premissa até é boa e, como fã do gênero point-and-click, normalmente não tenho muito problemas com uma gestão de itens um pouco mais complexa. Só que The Library of Babel simplesmente não te dá quase nenhuma direção. Há um diário com as missões principais e secundárias que fornece pouquíssimas dicas. Você ficará totalmente dependente de diálogos e de itens que devem ser encontrados explorando os mapas, para depois serem combinados e entregues aos personagens, para obter mais itens, e assim por diante. Por mais de uma vez me vi perdido por não conseguir um item, sem que houvesse qualquer tipo de informação sobre como encontrá-lo.
O maior problema é que, se por algum descuido você perder algum detalhe, por menor que seja, isso poderá te levar a um ciclo de ficar rodando sem rumo tentando encontrar um meio para avançar na história. Muitos itens são atrelados ao que supostamente seriam missões secundárias, mas que têm um papel fundamental na sua progressão. Portanto, ignorá-las deixa de ser uma alternativa. Outros itens devem ser adquiridos com o vendedor e caso você não tenha cristais suficientes para comprá-los, será necessário explorar novamente os mapas apenas para coletar mais.
Uma situação extremamente frustrante me deixou por mais de uma hora impedido de avançar, quando na realidade a solução era ir até o bar e tomar um drink. O problema é que só consegui deduzir essa solução ao ler a lista de troféus do jogo e ver que havia um troféu referente à isso. Quando algo desse nível ocorre, é sinal de que não foi bem concebido.
Posso concluir dizendo que The Library of Babel não é um desastre completo. Para ser franco, desenvolvi com ele uma relação bastante estranha. Por algumas vezes considerei deixá-lo de lado, mas por conta de suas boas características acabei insistindo em finalizá-lo. Por conta disso, ainda vejo nele potencial para agradar a um grupo específico de jogadores.
Só que ainda é importante salientar que The Library of Babel tem uma margem muito pequena para erros, depende de um sistema de gestão de itens confuso e que sem dúvidas vai testar sua paciência. O maior problema de The Library of Babel não é ser um jogo com uma proposta um pouco mais complicada, mas sim de executá-la de maneira incorreta. Sua excelente arte gráfica e ambientação pesam a favor, mas ainda não são capazes de salvá-lo de ser uma experiência mediana.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Neon Doctrine.
Veredito
The Library of Babel possui ótimo design gráfico e ambientação, mas não espere muito além disso. A não ser que você seja um daqueles jogadores que gosta de sofrer com sessões de plataforma apertadas e um sistema de gestão de itens confuso, é melhor evitá-lo.
The Library of Babel
Fabricante: Tanuki Game Studio
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: Stealth / Plataforma
Distribuidora: Neon Doctrine
Lançamento: 07/04/2023
Dublado: Não
Legendado: Não
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
The Library of Babel has great graphic design and setting, but don’t expect much more than that. Unless you’re one of those players who likes to suffer from tight platforming sessions and a confusing item management system, it’s better to avoid it.