A cada novo lançamento (ou relançamento, no caso) de jogos da FuRyu, parece que os mesmos pontos acabam sendo a base das análises e sempre citados tanto como pontos positivos quanto negativos. Afinal, é exatamente o que faz o estudo digno de admiração parte dos problemas que limitam o sucesso e apelo dos seus jogos.
The Legend of Legacy HD Remastered é uma prova cabal disso. Um jogo muito mais em conformidade com as sensibilidades modernas de 2024 do que com o cenário do mercado quando foi lançado em 2015 no Japão e 2016 no Ocidente para o Nintendo 3DS, já no fim do ciclo de vida do portátil, essa remasterização parecia ser a chance perfeita de se demonstrar as qualidades do jogo e melhorar seus problemas.
Infelizmente, não é o que acabamos vendo aqui. The Legend of Legacy HD Remastered talvez seja o mais decepcionante entre os jogos da FuRyu que vimos até aqui. Embora seja tecnicamente um port muito bom, suas limitações fazem com que o jogo seja aquilo que, pessoalmente, eu considero o mais grave dos crimes que um jogo pode cometer: ser entediante.
Mas, antes de chegarmos nos problemas, é necessário falar sobre o que é o jogo em si. The Legend of Legacy é um jogo altamente inspirado por uma das mais antigas séries de RPGs da Square Enix, mas uma que parece ter sido relegada às margens da história do gênero: SaGa.
A criação de Akitoshi Kawazu, que começou como progressão natural dos sistemas implantados em Final Fantasy II, é uma que divide opiniões entre fãs do gênero, mas que conta com uma linhagem de excelentes títulos ao longo dos seus 35 anos de história. E vários dos seus conceitos foram sendo adaptados para jogos distintos nesse período, sejam eles da própria Square Enix, como Live a Live e Octopath Traveler, ou de outras publishers como Demon King Chronicle. E então há a FuRyu.
The Legend of Legacy traz o mesmo conceito de histórias distintas contadas a partir do ponto de vista de diferentes protagonistas cujas jornadas e objetivos vão se entrelaçando. Ele serve um pouco como um prelúdio para o que seria feito pouco tempo depois em The Alliance Alive, que também recebeu uma remasterização em 2019, trazendo diferentes contos dos seus sete protagonistas em suas explorações pela ilha de Avalon.
São eles Meurs, um jovem elementalista em busca de entender porque tantos elementais estão se reunindo em Avalon; Bianca, uma jovem sofrendo de amnésia em busca de suas memórias; Liber, um caçador de tesouros em busca do mais promissor deles, o Star Graal; Garnet, uma templária em busca de punir as blasfêmias acontecendo em Avalon; Owen, um mercenário em busca de concluir aquele que talvez seja o seu último contrato; Eloise, uma sedutora alquimista estudando os caminhos pelos quais poderá conquistar a juventude eterna; e Filmia, o misterioso herdeiro do trono de um reino à muito esquecido.
É um interessante grupo de personagens, cada qual com suas próprias motivações bem fundamentadas que servem de justificativa para todos eles se encontrarem em Avalon, montarem base na cidade de Initium e começar a explorar a região à pedido do King of Adventurers. Um ponto importante é que, embora ao escolher um protagonista principal você conte com uma equipe padrão, é possível substituí-los na hora que quiser por um dos demais, desde que limitados a um grupo de três heróis ativos por vez.
O problema narrativo de The Legend of Legacy é que ele é basicamente o que foi dito aqui. Há uma justificativa por trás do que cada um busca e algumas linhas de diálogo à medida em que eles vão avançando em suas respectivas jornadas, com um pouco da história daquele mundo sendo contada em meio a isso, mas não é grande coisa. É um pouco triste pois há potencial para que cada um deles receba mais destaque, mas o jogo opta por só dar uma premissa básica a cada passo dado e parar por aí.
Se um RPG não prioriza tanto a sua história, seria de se imaginar, então, que o foco fica por conta do gameplay. E, bem, embora isso possa ser dito aqui, ele talvez seja o ponto mais medíocre do jogo. The Legend of Legacy traz um certo ar de dungeon crawler em sua jogabilidade, com o King of Adventurers pedindo à sua equipe que ela mapeie as diferentes regiões que visitarão, uma vez que poucos aventureiros conseguiram retornar com vida usando mapas de cada uma das áreas do jogo.
Isso significa que você precisará andar por cada centímetro dos mapas para revelá-los por inteiro, descobrindo monstros, tesouros e ruínas misteriosas nesse processo. Realizar esse mapeamento de cada região te traz uma recompensa financeira, uma vez que é possível vendê-los a qualquer momento (por mais que só valha a pena mesmo após concluir 100% de tudo), sendo esse pagamento o retorno mais interessante da exploração visto que boa parte dos tesouros que você encontrará são itens comuns.
Andar pelos mapas é até bem legal, visto que o estilo gráfico do jogo é bem charmoso, mesmo que em cenários bem limitados em escopo. Os gráficos em HD são uma considerável evolução em comparação ao limitadíssimo hardware do 3DS, mas não espere aqui nada de muito estupendo. A remasterização traz várias melhorias de qualidade de vida consigo, como a possibilidade de acelerar os combates, além de uma trilha sonora que já era muito boa soando ainda melhor.
Dito isso, o combate é absolutamente sofrível. Isso chega a surpreender visto que o jogo copia integralmente a forma como as batalhas por turnos funcionam nos jogos da série SaGa. Você poderá organizar seu trio de heróis em formações, equipar diferentes armas cada qual com suas próprias habilidades e usar itens para se curar. É possível mudar suas formações em plena batalha, dando assim maior maleabilidade às suas estratégias.
Pena que essas estratégias raramente são necessárias. O combate é extremamente chato e repetitivo, quase sempre se resumindo a apertar X o mais rápido possível para atacar inimigos também muito repetitivos e acabar com aquela batalha o quanto antes. A duração das lutas é inteiramente dependente do RNG e, embora a medida em que o jogo avance você precise usar um pouco mais das habilidades que vão sendo desbloqueadas, você realmente só precisará planejar seus ataques em lutas contra chefes, muito pelos aumentos súbitos de dificuldade que eles representam em relação aos inimigos comuns.
Como é de se imaginar, o sistema de progressão também é copiado de SaGa, não havendo um sistema de experiência aqui. Você basicamente usa seus ataques até que seus personagens passem por um despertar e as habilidades subam de nível ou você ganhe melhorias de HP, SP ou até mesmo desbloqueie novas habilidades. O elemento mais único fica por conta do sistema de afinidade elemental, com cada personagem e mapa possuindo afinidades tendentes para um dos quatro elementos (fogo, ar, água e sombra) e podendo usar Charms para canalizar esses elementais em habilidades únicas.
Por mais que não haja nada de efetivamente ruim ou mal feito nos pontos que fazem de The Legend of Legacy HD Remastered o jogo que ele é, infelizmente eles também não se combinam para fazer um jogo marcante ou excepcionalmente competente. Ele é, infelizmente, um jogo que existe e só, sendo totalmente esquecível e dificilmente justificando o preço cheio cobrado nele.
Se você é excepcionalmente fã da série SaGa ou um curioso bastante interessado no que estúdios menores andam ou andaram fazendo por aí, vale a pena dar uma chance ao jogo em uma eventual promoção, dado o quão raro é um jogo usando esses elementos mesmo hoje em dia. No entanto, para qualquer outro jogador, esse é um título que passa longe de ser lendário ou sequer de deixar qualquer tipo de legado.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela NIS America.
Veredito
Embora inspirado por importantes clássicos do gênero e com boas ideias, The Legend of Legacy HD Remastered falha em entregar uma experiência que prenda o jogador o suficiente para mantê-lo interessado em concluir uma jornada. Muito menos sete – o que acaba o colocando em segundo plano um cenário em que experiências de alto nível são cada vez mais abundantes.
The Legend of Legacy HD Remastered
Fabricante: FuRyu
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: RPG
Distribuidora: NIS America
Lançamento: 22/03/2024
Dublado: Não
Legendado: Não
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Although inspired by important classics of the genre and with good ideas, The Legend of Legacy HD Remastered fails to deliver an experience that engages the players enough to keep them interested in completing a journey. Much less seven of them.