São poucos os estúdios que possuem a mesma coragem e ambição que a Nihon Falcom quando o assunto é inserir o jogador em seus universos. Esperar até o segundo jogo de um arco para desenvolver sua narrativa parece loucura, mas, nas mãos certas, pode dar resultados incríveis. Trails to Azure não só prova que a fórmula pode dar certo, mas também entrega um dos melhores títulos da franquia graças a seu excelente roteiro e final eletrizante.
Nossa história começa quando Lloyd Bannings é encarregado de realizar uma operação especial na cidade de Altair. Embora o escopo do jogo seja muito maior, seu prólogo introduz muito bem o ‘’clima’’ que se permeia por toda narrativa.
As tensões políticas do primeiro jogo estão ainda maiores, com as duas grandes potências do Império de Erebonia e a República de Calvard ficando cada vez mais impacientes sobre sua ‘’partilha’’ de Crossbell.
Piorando ainda mais a situação, diversos outros grupos começam a invadir a cidade, alegando terem suas próprias alianças e objetivos, tornando tudo ainda mais caótico.
É assim então, que a jornada do jogador se desenvolve, agora que o grupo da Special Support Section tem mais aliados e uma reputação maior, suas expectativas e tarefas se tornam ainda mais complicadas, dando assim, espaço para para participarem diretamente da trama central do jogo.
É possível até mesmo dizer que a verdadeira protagonista não são as personagens jogáveis mas sim a própria cidade de Crossbell. Algo que é muito comentado entre fãs de RPG é como o mundo de Trails é vivo devido às interações com os diversos NPCs, e é possivelmente em Azure que esse aspecto melhor se destaca.
Conversar com os diversos cidadãos é extremamente gratificante pois eles não só reagem aos acontecimentos da história, mas também dão suas próprias opiniões sobre quem deve governar e como deve ser o futuro da nação, acentuando ainda mais as tensões políticas e dando a sensação de que problemas são inevitáveis.
É interessante ver como isso também se estende a todo continente de Zemuria, que devido ao desenvolvimento da narrativa, acabam temendo pelo pior. O medo de um novo confronto armado faz com que até mesmo personagens de Trails in the Sky sintam a necessidade de intervir, deixando ainda mais imersivo o nível da crise atual, e dando ao jogador a sensação de estar sempre encurralado.
Isso fica ainda mais evidente até mesmo no combate onde Trails to Azure se mostra o jogo mais difícil da franquia, principalmente em relação aos seus diversos chefes. Já não basta mais descobrir e abusar de fraquezas elementais, muitas lutas vêm acompanhadas de desafios e quebra cabeças adicionais, o que acaba exigindo melhores estratégias vindas do jogador.
É claro que para lidar com esse desafio, foram também preparadas novas ferramentas à altura. O clássico sistema de Orbment foi atualizado com os novos Master Quartz. Esses dão ao jogador uma profundidade maior para desenvolver sua equipe como quiser através de efeitos especiais que são ativados automaticamente, além de aumentarem bastante seus status e distribuírem novas habilidades.
Por outro lado, minha nova mecânica favorita é o sistema de Burst. Em momentos críticos durante a história será possível entrar em um modo especial onde seus personagens poderão atacar continuamente, sem precisar esperar para carregar magias, aumentando seu dano e ignorando totalmente o turno do inimigo.
Dito isso, carregar esse recurso leva tempo. O uso incorreto dessa ferramenta pode tornar a luta contra alguns chefes ainda mais complicada, principalmente no começo da história onde os recursos são escassos e muitas habilidades ainda estão bloqueadas.
Infelizmente, muitas das barreiras que Crossbell precisava derrubar, ainda estão de pé. Como explicado em nossa análise de Trails from Zero, o port de PS4 ainda é de longe a pior versão do título, com grande parte dos mesmos problemas se estendendo a Azure.
De todos os problemas apresentados em seu antecessor, o único a ser resolvido foi relacionado aos erros de texto. Artes e modelos de personagens ainda estão feios e pixelados, o áudio continua irregular e algumas features básicas como texto automático ainda não estão presentes.
Considerando o tempo adicional que o jogo precisou para ser lançado por aqui, e o fato de sua tradução já estar pronta, é inaceitável que mais um título da seja lançado nessas condições, ainda mais em uma plataforma onde grande parte de seus fãs se encontrem.
É uma situação lamentável considerando a importância que Azure tem para o legado da franquia no geral. É aqui que a Falcom conseguiu utilizar todo o potencial de tudo que já vinha sido trabalhado tanto na narrativa quanto no combate desde Trails in the Sky (2004), e ainda dando uma sensação especial, como se fosse uma despedida ao saudoso PSP e ainda conseguindo rivalizar contra outros grandes nomes lançados na época.
Trails to Azure é outro excelente RPG, preso em um port terrível. O título é indispensável para quem gostou de seu antecessor, possuindo um dos finais mais memoráveis que eu já vi. Dito isso, é melhor optar pela versão de computador, ou, caso necessário, esperar um grande desconto antes de comprar no PS4.
Jogo (versão de PS4) analisado no PS5 com código fornecido pela NIS America.
Veredito
Trails to Azure é um daqueles jogos que, ao terminar, o deixa marcado por muito tempo. Uma das experiências mais divertidas que se pode ter em um RPG de turno, o título é indispensável a todos os fãs da série e uma conclusão poderosa para o arco de Crossbell. Apenas fique ciente que, infelizmente, a versão de PS4 deve ser evitada caso possível.
Veredict
Trails to Azure is one of those games that, when finished, sticks with you for a long time. One of the most fun experiences you can have in a turn-based RPG, this entry is a must-have for all fans of the series and a powerful conclusion to the Crossbell arc. Just keep in mind that, unfortunately, the PS4 version should be avoided if possible.