The Last Guardian, assim como Final Fantasy XV, é um título complicado de se analisar. Afinal, foram vários anos de espera, de fãs com corações partidos por notícias de cancelamento, rumores e mais rumores, até que finalmente o jogo chega ao PS4. Tudo isso causa apenas uma coisa: as expectativas ficam cada vez maiores. E é justamente aqui que se torna complicado analisar: o game alcançou o que prometeu?
Primeiramente, o jogador precisa ter em mente que The Last Guardian é um jogo de Fumito Ueda e é na mesma "veia" de ICO e Shadow of the Colossus. Ou seja, há uma história simples, mas que pode se tornar extremamente complexa sob outro olhar e um gameplay mais simples ainda e que também se torna complexo devido aos desafios oferecidos.
Em The Last Guardian, você controla um garoto que acorda com tatuagens misteriosas. Além disso, há um ser acorrentado chamado Trico. A magia de The Last Guardian começa justamente aí: você sabe que precisa libertá-lo a todo custo e que, a cada passo dado no jogo, o elo entre o garoto e Trico será maior.
A história, no entanto, é contada em forma de uma narrativa. Ou seja, o garoto, mais velho, está contando para alguém em algum lugar essa sua passagem com Trico (em uma língua própria do jogo). Isso inclusive serve como dicas do que deve ser feito quando as coisas não ficam muito claras. É uma maneira interessante e que funciona na maioria dos casos.
Porém, em determinados pontos, acontece algo estranho (que é explicado depois, de certa forma) que abre a possibilidade de mostrar cutscenes da história, para esclarecê-la ainda mais. É um tanto quanto bizarro a maneira que isso ocorre, mas, como dito, é explicado também à maneira do jogo.
Deixando agora a história de lado (que inclusive nem é o foco principal de The Last Guardian), vamos falar do que realmente importa: o gameplay. Como dito anteriormente, você controla o garoto e Trico é uma inteligência artificial (a CPU que o comanda). Com o R1, você pode chamá-lo e pressionando R1 e mais um botão, é possível pedir que ele faça diferentes movimentos, como saltar ou atacar/empurrar.
Trico é um ser bastante inteligente e uma das melhores I.A.s que já vi em um videogame. Muitas pessoas reclamarão que ele não obedece aos seus comandos, mas essas pessoas estão fazendo errado – assim como eu fazia no início do jogo, até pegar o jeito. Não quero estragar a sua compreensão de Trico, pois é parte da experiência, mas saiba que apesar de parecer que ele o ignora, isso não é verdade.
Trico, portanto, é um aspecto que merece palmas em The Last Guardian e qualquer pessoa que estiver com receio de que é mais um parceiro controlado pela CPU com problemas, pode ficar sossegada. O verdadeiro vilão do jogo é a câmera.
Por Trico ser gigantesco, e boa parte de sua aventura acontecer em ambientes fechados, você lutará bastante com a câmera, principalmente para saber onde está o garoto. Para que a câmera não saia do cenário, os desenvolvedores inseriram um sistema que a deixa totalmente preta quando é "esmagada". Isso só piora ainda mais a confusão.
É claro, a câmera é funcional em boa parte do tempo. O que estou citando aqui são momentos específicos que muitas pessoas ficarão estressadas por não entenderem o que está acontecendo. Além disso, outro problema de The Last Guardian é o próprio garoto, que parece ser uma marionete. Quando ele cai de Trico, então, é um saco de batata caindo.
O garoto em si, na verdade, é cheio dos problemas: o seu modelo gráfico é muito inferior a todo o restante visto no jogo, seus comandos são imprecisos muitas vezes (como escalar ou descer de Trico ou até mesmo uma simples escada) e, somado com a câmera, algumas ordens de Trico acabam saindo errado devido a uma alteração para onde você estava apontando.
Porém, o garoto também conta com pontos positivos. O seu andar/correr (principalmente quando anda pelas escadas) é uma das melhores animações que já vi em videogames, assim como a sua interação com Trico também merece elogios.
The Last Guardian possui uma campanha consideravelmente longa, com puzzles que variam de fáceis a desafiadores. Há colecionáveis em forma de barris utilizados para alimentar Trico. E é basicamente isso. O jogo é bastante simples em sua proposta, o que não é algo ruim – pelo contrário. O único ponto negativo da campanha é a perfomance técnica: como jogamos no PS4 Pro, a taxa de quadros por segundo era relativamente estável, mas muitas vezes, quando você sai de uma caverna e chega em um ambiente aberto, aconteciam algumas travadas complicadas.
Deixando de lado o aspecto técnico e falando do gameplay em si, o jogo introduz um espelho no início que serve para apontar aonde Trico deve atacar. Infelizmente, esse espelho some também no início, voltando apenas bem mais tarde. É uma escolha de design, porém é algo que senti falta no jogo: você faz a jornada inteira com os mesmos comandos obtidos desde o início (o garoto não recebe nenhum upgrade, e Trico também só segue os comandos básicos que o garoto possui também desde o começo). Não se engane: o jogo é bastante variado mesmo sendo simples dessa forma, principalmente em seus puzzles, mas aqueles que buscam uma variedade maior nos comandos em si, podem se decepcionar.
A trilha sonora de The Last Guardian é excelente, assim como os gráficos (exceto o modelo do garoto, como mencionado anteriormente). Mas a verdadeira tecnologia a ser ressaltada no jogo é a inteligência de Trico. Sua jornada em The Last Guardian será inesquecível por conta de Trico e dos puzzles elaborados graças à sua presença. Você estará tão imerso no jogo em dados momentos que esquecerá que o garoto existe.
Veredito
The Last Guardian é uma experiência única. Trico é uma das melhores inteligências artificiais que já vi em um videogame e a jornada se torna inesquecível por conta disso. Os principais problemas estão na câmera, em alguns pontos do aspecto do modelo do garoto e de sua jogabilidade.
Jogo analisado com cópia física adquirida pelo redator.