Ace Attorney é uma série fantástica. Não sou uma pessoa que curte exatamente jogos no estilo adventure/visual novel, porém na época do Nintendo DS acabei jogando a trilogia original e é simplesmente incrível. Há pouco tempo, jogadores exclusivos de PlayStation puderam conferir exatamente essa trilogia (leia nosso review). Apesar de termos outros títulos ainda inacessíveis (como Apollo Justice, Ace Attorney Investigations: Miles Edgeworth, Phoenix Wright: Ace Attorney – Dual Destinies e Phoenix Wright: Ace Attorney – Spirit of Justice), a Capcom finalmente lança tanto para o Ocidente pela primeira vez quanto para os donos de PS4 a coletânea The Great Ace Attorney Chronicles.
The Great Ace Attorney Chronicles consiste basicamente de dois jogos: The Great Ace Attorney: Adventures e The Great Ace Attorney 2: Resolve. São dois jogos lançados originalmente para o Nintendo 3DS em 2015 e 2017, respectivamente, no Japão. Ambos seguem Ryunosuke Naruhodo, um ancestral japonês de Phoenix Wright, durante seu tempo na Inglaterra do final do século XIX.
Apesar de ser uma outra ambientação e época, a estrutura é basicamente a mesma da série. Em outras palavras, se você espera “mais do mesmo” é exatamente o que encontrará aqui. É claro, cada caso continua original e intrigante, mas você notará que determinados personagens são basicamente a “Maya Fey” da história, o “von Karma” da época e até mesmo o “Miles Edgeworth” (esse último mais no segundo jogo). Ou seja, claramente os produtores tentaram inovar um pouco, mas continuaram caminhando no “seguro”. Cabe você a julgar se isso é bom ou ruim. Pessoalmente, não vejo como algo ruim, pois os casos são diferentes. Mas analisando friamente, trocar Pheonix por Ryunosuke é quase seis por meia dúzia.
É difícil analisar um título com total foco na história sem entregar nada a respeito dela ou estragar a sua surpresa de alguma forma. Dito isso, gostaria de ressaltar apenas que são 10 casos – 5 em cada jogo – e que, no total, se você jogar normalmente sem um guia do que fazer, deve levar em torno de 30h por game para terminá-los. Acredite: são longos (e algumas vezes até desnecessariamente longos). Por exemplo, como disse em minhas impressões iniciais, somente o primeiro caso já é maior que qualquer outro jogo da série que já joguei, levando em torno de 3 horas.
Apesar de serem longos, você não notará o tempo passar. É claro, infelizmente, The Great Ace Attorney Chronicles não oferece textos em português do Brasil – o inglês se torna necessário. Aliás, eu havia reclamado em meu preview que a localização dos nomes dos personagens não foram originais como “Phoenix Wright” ou “Miles Edgeworth”, porém fica claro que quiseram manter os nomes em japonês para mostrar a diferença cultural na história entre o Japão e a Inglaterra.
Como dito anteriormente, o “gameplay” de The Great Ace Attorney Chronicles é basicamente o mesmo da série. A estrutura geral continua sendo o tribunal em um momento e a investigação em outro. Durante a investigação, você coleta as provas e conversa com os personagens para obter detalhes do crime que ocorreu e tentar mostrar que seu cliente é inocente. Depois, no tribunal, há sempre Ryunosuke Naruhodo – que no caso, é você, o advogado de defesa -; o promotor, que pode variar principalmente de um jogo para outro e que tenta obter o veredito de culpado para o cliente de Ryunosuke; o juiz, que tenta manter a imparcialidade para analisar as situações e conduz o julgamento; a testemunha, que normalmente sabe de algo do crime e, finalmente, o júri, composto de membros basicamente aleatórios que estão lá para ouvir e definir o andamento dos casos conforme as coisas são apresentadas.
Se você jogou a trilogia original, a única novidade aqui é o júri. Durante a parte do tribunal, em dados momentos, você pode escutar o que o júri tem a dizer. Inclusive, alguns deles podem simplesmente ter uma opinião formada sobre o caso e uma chama é jogada para o lado do veredito de culpado para o seu cliente. Seu objetivo, é claro, é alcançar o outro lado dessa balança em chamas. Para isso, é preciso ver por qual motivo um membro do júri está com aquela opinião e tentar apresentar um item – da mesma forma que você apresenta no discurso da testemunha – que o faça trocar de ideia. É a chamada “Summation Examination”.
Caso nunca tenha jogado um Ace Attorney, nessa parte do tribunal sempre começamos com uma testemunha dizendo o que viu do crime, sendo que você deve apontar as incosistências, pedindo mais informações ou apresentando algo que contradiga o que está sendo dito. A partir daí, podem vir um discurso modificado, um outro discurso sobre um assunto diferente ou até mesmo outra testemunha. Cada caso é um caso, literalmente. Vale destacar também que determinados itens podem ser analisados, mostrando coisas que podem ser esclarecedoras para a sua defesa.
Na parte investigativa, o gameplay continua sendo um cenário fixo que você pode analisar e encontrar diferentes personagens. A principal novidade, porém, vem por conta do personagem Herlock Sholmes. Trocadilho com o clássico Sherlock Holmes, ele é exatamente o detetive de Baker Street, mas de certa forma adaptado provavelmente para evitar algum problema de copyright. Com Sholmes, Ryunosuke colabora nas insólitas “Dances of Deduction”. Nessas novas sequências, os jogadores devem corrigir as conclusões exageradas de Sholmes para chegar aos fatos concretos do caso.
Aliás, a história toda – principalmente no segundo jogo – conta com muitas referências a Sherlock Holmes. Da mesma forma que você verá paralelos à trilogia Phoenix Wright, também verá paralelos aos elementos clássicos das obras de Sir Arthur Conan Doyle. Não vou citar para não estragar a sua surpresa, mas ao jogar entenderá.
No fim, The Great Ace Attorney Chronicles apresenta dois ótimos jogos que qualquer fã da saga precisa conferir. Em vários momentos desta análise fiz comparações com a trilogia original de Phoenix Wright. Considerando que são novos jogos em um universo já conhecido, é normal que isso aconteça. Porém, o que quero deixar claro é que você não precisa jogar a trilogia original para entender The Great Ace Attorney Chronicles. São tramas e personagens completamente independentes, sendo que fãs reconhecerão os paralelos que comentei no início desta análise. Mas você pode, sem problema algum, começar por aqui e ignorar os jogos originais.
A única crítica realmente válida a esse pacote é que são títulos originalmente de Nintendo 3DS. Mesmo com o polimento gráfico que receberam, ainda fica clara a sua origem (principalmente nos modelos 3D pouco detalhados). Nesse caso, somente um remake – e não remaster, digamos assim – para entregar algo que “faça justiça” à série.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Capcom.
Veredito
The Great Ace Attorney Chronicles é uma ótima coletânea de dois jogos da série que visitam um passado distante de um ancestral de Phoenix Wright. Dito isso, muitos paralelos com os jogos originais são criados – o que pode ser visto como algo bom ou ruim dependendo do seu ponto de vista. Independente disso, os casos em si continuam sendo intrigantes e divertidos. O único problema é que são remasters de jogos de 3DS e, consequentemente, os gráficos poderiam ser mais bem trabalhados.
Veredict
The Great Ace Attorney Chronicles is a good collection of two games in the series that visit the distant past of an ancestor of Phoenix Wright. That said, many parallels to the original games are created – which can be seen as a good or bad thing depending on your point of view. Regardless, the cases themselves remain intriguing and entertaining. The only problem is that they are 3DS remasters and, consequently, the graphics aren’t so good.