The Good Life – Review

The Good Life é um jogo de aventura/RPG de mistério desenvolvido pela White Owls e publicado pela Playism, mas se você já ouviu falar desse jogo antes, provavelmente foi por conta de seu criador e diretor, Hidetaka “Swery” Suehiro. O jogo foi anunciado em Agosto de 2017 para financiamento coletivo pela plataforma Fig, lançado alguns meses depois.

Após uma campanha mal sucedida, a equipe tentou novamente, agora pelo Kickstarter, arrecadando mais de 81 milhões de ienes, que pela cotação atual daria algo por volta de 710 mil dólares. Após alguns atrasos e trocas de publisher, The Good Life foi lançado para todas as plataformas anunciadas em sua campanha de Kickstarter, incluindo PlayStation 4.

The Good Life conta a história da jornalista Naomi Hayward, que após adquirir uma dívida milionária com a empresa de comunicação para a qual trabalha, recebe a missão de se mudar para Rainy Woods, uma cidadezinha do interior da Inglaterra, conhecida também como “a cidade mais feliz do mundo”. Nossa protagonista então chega à cidade com a tarefa de descobrir os mistérios por trás da cidade e seus habitantes.

Naomi logo percebe que há algo estranho com a cidade, porém começa a receber várias tarefas de Elizabeth Dickens, uma das moradoras da cidade, para então revelar à Naomi os mistérios da cidade, Naomi entregá-los à sua empregadora, abater a sua dívida milionária e finalmente voltar a ter sua liberdade, retornando aos Estados Unidos e seguindo com sua vida.

Parece simples, porém as coisas logo começam a dar errado. Na primeira noite de lua cheia na cidade, Naomi descobre que todos os residentes misteriosamente se transformam em gatos e cachorros, continuando assim até o fim da noite de lua cheia. Logo em seguida, durante uma de suas tarefas, Naomi também ganha o poder de se transformar em cão e gato, tudo sem muita explicação, enrolando mais ainda o mistério do enredo.

Após uma série de tarefas entediantes cumpridas, logo quando Elizabeth está pronta para então revelar os mistérios da cidade, uma tragédia ocorre que muda a dinâmica da cidade e os objetivos de Naomi passam a ser outros. Agora Naomi deve desvendar quem foi o culpado por trás dessa tragédia, utilizando dos seus poderes animais, em três rotas diferentes, e quem sabe descobrir os segredos da cidade enquanto isso.

The Good Life é chamado de “RPG de mistério” pela equipe que desenvolveu o jogo, mas não é tão complicado assim. Ou melhor, é complicado, mas não é tão interessante assim. É possível delimitar que 95% do jogo se trata de “fetch quests”, ou missões em que você deve adquirir algo ou cumprir certos objetivos para algum personagem do jogo. Vá para o ponto demarcado no mapa, faça o que estiver estipulado pelo jogo, adquira o item/cumpra o objetivo e volte para avisar o personagem.

Acontece que essas missões são, em sua esmagadora maioria… Entediantes. Poucas são as vezes que algo interessante acontece durante, fazendo com que o jogador gaste a maior parte do seu tempo passando por diálogos desconexos, gastando mais tempo andando pelo enorme mapa (vazio) do jogo, até chegar ao ponto, realizar uma missão inconsequente, passar mais uma boa parte do tempo voltando (ou se teleportando para casa ou entre os santuários, pelo menos algo feito pensando no jogador) e então avisando o personagem, que quase sempre desencadeia uma próxima missão dessas.

Enquanto isso acontece, o jogo também impõe ao jogador a dinâmicas de “sobrevivência”, por assim dizer. Você deve controlar sua fome, sua energia, seu sono, sua aparência/limpeza, tudo isso enquanto o tempo no jogo passa em 24 horas, como se fosse um dia completo. As dinâmicas servem mais para restringir e atrapalhar do que necessariamente engajar o jogador em algo interessante, sem contar que elas não são explicadas direito durante o jogo e libertador é o momento em que o jogador percebe que muitas delas podem até ser ignoradas, como as “doenças” que podem afligir Naomi.

A história do jogo até tem seus momentos de brilho e charme no meio de tantas missões chatas, porém alguns enredos específicos são tão absurdos que acabam sendo para poucos, ou você vai amar, ou vai odiar e ficar ainda mais entediado com as missões relacionadas a esses enredos. Missões opcionais são oferecidas durante o jogo, que em muitas vezes são mal explicadas pelos personagens ou requerem um contorcionismo mental para resolvê-las.

Os gráficos e a direção de arte do jogo é um dos poucos pontos interessantes. Com um visual que remete muitos à geração do PlayStation 2, os designs dos personagens e da cidade são bem bonitos, trazendo aquela vibe de jogos AA (de médio porte) que não se vê quase hoje em dia. Dito isso, para quem conhece o histórico de Swery, problemas são esperados.

A performance do jogo, pelo menos rodando no PlayStation 5, não é ruim, quando se fala em framerate. Entretanto, muitos outros problemas aparecem. Os gráficos do background ficam piscando de forma aleatória, tirando qualquer imersão que o jogador possa ter naquele momento. Pop in também é frequente, quando você está andando pelo mapa e árvores ou animais aparecem do nada. O tempo de loading também distrai demais, já que muitas missões pedem que você entre numa loja, fale com um personagem por pouco tempo e saia logo em seguida.

A dublagem em inglês do jogo é boa, atrapalhada mais pelo roteiro e pela direção. São poucas as cenas totalmente dubladas, enquanto a maioria das cenas possuem apenas trechos dublados – o problema é que sempre são os mesmos trechos, de Naomi gritando ou reclamando da cidade. Esses trechos se repetem tanto que em muitos momentos, a vontade era de mutar o jogo durante o diálogo. A trilha sonora traz o ar de cidade do interior ao jogo, mas logo fica monótona também e reforça essa vontade de ouvir outras músicas enquanto joga.

Após toda essa exposição, eu entendo que jogos do diretor Swery são desenvolvidos para fãs dos jogos do diretor Swery. The Good Life foi meu primeiro jogo dele, que também desenvolveu Deadly Premonition e D4: Dark Dreams Don’t Die. Conhecendo o histórico do diretor e de seus outros jogos, acaba caindo naquele nicho de que quem gosta de um desses jogos, vá gostar de todos os outros e vai conseguir ignorar ou relevar os defeitos que trazem consigo.

Falando do jogo da perspectiva de alguém que nunca jogou outros jogos de Swery e fala de uma visão mais geral, The Good Life não é para muitos. Não, The Good Life é para poucos. São muitos seus problemas, poucas vezes acerta o que se propõe a fazer, não entrega nada de muito original e se torna um trabalho para terminar o jogo para aqueles que não são fãs do diretor. Para seus fãs, a nota desse jogo será bastante alta e está tudo bem. Para a maior parte do público restante, não recomendo se arriscar e perder seu tempo.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Playism.

Veredito

Se você já conhece e aprecia o trabalho do diretor Hidetaka “Swery” Suehiro, há uma grande chance que você vá gostar de The Good Life. Se você não conhece, existem vários outros jogos no mercado mais capazes de diverti-lo.

50

The Good Life

Fabricante: White Owls

Plataforma: PS4

Gênero: Aventura

Distribuidora: Playism

Lançamento: 15/10/2021

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

If you already know and appreciate the work of director Hidetaka “Swery” Suehiro, there’s a big chance you’ll enjoy The Good Life. If you don’t, there are plenty of other titles in the market that are more capable of entertaining you.