Dica: escute isto enquanto lê a análise.
A busca por um dos sacerdotes que possa ler o Manuscrito Antigo te leva até a cidade de Markarth. Você mal passa do portão quando presencia um assassinato e ajuda os guardas a cuidar do atacante. Logo após o incidente, um desconhecido esbarra em você e lhe entrega um bilhete que você supostamente deixou cair. Seu conteúdo é um pedido para encontrá-lo no Templo de Talos. Parece que a cidade está cheia de mistérios, mas o sacerdote vem em primeiro lugar, então você deixa uma anotação em seu caderno para ir até o templo depois.
Tavernas são os melhores locais para saber dos boatos mais recentes, então é para lá que você se dirige. Após uma tentativa falha de persuasão, você gasta algumas centenas de Septims para abrir a boca do taverneiro, que relata que alguém parecido com um sacerdote foi visto em uma caverna não muito distante dali. A pista é fraca, mas cavernas sempre aguçam sua curiosidade.
Por via das dúvidas, você contrata um mercenário para te ajudar (no pior dos casos, ele pode carregar os espólios mais valiosos que encontrarem no caminho). Antes de sair, um estranho encapuzado o aborda e te desafia para uma competição de bebidas. É tentador, mas é melhor não desviar de sua missão principal ainda. Mais uma anotação em seu caderno sobre o que fazer mais tarde.
A caverna possui algo de macabro, com muitos rastros de sangue, ossos e restos do que parecem ser corpos, e no fim se mostra uma pista falsa: seu morador é na verdade um necromante. Após darem conta do inimigo, guardada em um baú, você encontra uma joia peculiar, diferente de qualquer outra que já viu. Sem mais pistas a seguir, você decide retornar à cidade ver se consegue um bom dinheiro com a joia.
A jornada de volta é interrompida por uma emboscada, mas seu mercenário rapidamente cuida da situação. Ao revistar os corpos dos inimigos, você encontra uma anotação perturbadora: alguém contratou a Dark Brotherhood para te assassinar. A venda da joia vai ter que ficar para depois, pois é melhor saber qual é a desse grupo. Com este novo objetivo em mente, você se apressa até a cidade, porém um rugido familiar no ar faz com que você mude os planos novamente: um dragão vem ao seu encontro…
Meus caros, isso é Skyrim. O destruidor de vidas sociais e o terror daqueles que têm TOC em explorar 100% de um jogo. Lançado em 2011, The Elder Scrolls V: Skyrim Special Edition chega em sua versão remasterizada para a nova geração, possibilitando aos jogadores de console desbravarem o jogo em uma versão muito mais bonita, detalhada e polida, com a opção de adicionar Mods que trazem ainda mais aventuras e variedade para o jogo (mais sobre isso no final da análise).
Skyrim Special Edition traz consigo diversos novos efeitos e técnicas gráficas com nomes bonitos e complicados. Em resumo, isso significa uma ambientação muito mais realista e bela, com efeitos de iluminação e névoa incríveis, uma vegetação mais densa, maior profundidade de campo, texturas em melhor definição e cores mais saturadas. Fora isso, o jogo roda no PS4 em 1080p, a uma taxa de 30fps na maior parte do tempo (é uma pena que não conseguiram chegar nos 60) e com tempos de loading muito menores – a versão de PS3 sofre muito neste aspecto, com loadings longos até mesmo ao entrar ou sair de uma casa.
Para os que ainda não conhecem o jogo, Skyrim é um RPG que faz jus ao seu gênero. Você realmente incorpora um personagem e é seu o poder de decisão sobre o que ele vai ser, para onde irá e o que vai fazer. Existe um objetivo principal (e zilhões de objetivos secundários), mas ele não é o mais importante e pode até ser ignorado. O que importa aqui é a sua jornada; é você quem cria sua própria história. O grau de liberdade entregue pelo jogo é um dos pontos mais positivos e o que o tornou tão amado por muitos jogadores.
Se mesmo assim você quer uma história, tudo bem, pois Skyrim te entrega todo um universo. O mundo é rico em detalhes e muito denso em história. Existe todo um passado que pode ser conhecido por meio de centenas de livros espalhados pelo jogo, bem como ao conversar com personagens chave, desenvolver missões secundárias ou simplesmente observar o ambiente. Existe um pouco de tudo aqui: diversas raças e línguas estranhas, arquitetura, política, guerras, religião, misticismo, sucessões, traições e… dragões.
Por falar neles, o jogo se inicia com o retorno de Alduin, o primeiro dragão, devorador de mundos, que supostamente tinha sido derrotado e extinto eras atrás. Como toda boa história de fantasia, você descobre ser o Dragonborn: aquele capaz de absorver a alma de dragões e utilizar seus poderes na forma de Shouts (em português, gritos, sendo o mais famoso o “Fus Ro Dah”). Cabe então a você se tornar o herói necessário para dar um fim em Alduin e no terror do retorno dos dragões, se você quiser.
Se não bastasse isso, Skyrim, que se trata de uma província de um continente maior, Tamriel, passa por um momento conturbado de guerra civil. O Alto Rei foi assassinado por Ulfric Stormcloak, que iniciou uma rebelião para tirar o reino da mão dos Imperials, por estar insatisfeito na forma como governam, submetidos aos altos elfos do Domínio Aldmeri. Essa rebelião tem influências nas cidades e vilarejos que você visita, sendo possível participar ativamente de um dos lados da guerra civil e por um ponto final nela, se você quiser.
“Se você quiser” define bem o mundo aberto de Skyrim. Seu poder de escolha é bem amplo, com várias narrativas que você pode optar por seguir ou não, sendo que algumas são alteradas (ou até mesmo eliminadas) de acordo com o que você fizer. Existem mais de 300 dungeons, dezenas de locações, fora as atividades secundárias como alquimia, encantamentos, criação de armaduras, etc.
A Special Edition traz também as três expansões (devidamente remasterizadas) lançadas para o jogo: Dawnguard, Hearthfire e Dragonborn, que adicionam mais algumas dezenas de horas de jogo. Dawnguard te coloca em uma disputa entre uma família antiga de vampiros contra membros de uma guarda especializada em caçá-los, possibilitando escolher qual lado você quer defender. Hearthfire é um “brincar de casinha”, em que você constrói e personaliza seu próprio lar, com várias outras opções como adotar crianças, um bicho de estimação e até contratar um zelador. Dragonborn traz uma campanha que se passa em uma nova área, em que você investiga o retorno de outro Dragonborn como você, mas uma das principais características dessa expansão é a habilidade (limitada) de voar em um dragão.
Por se tratar de um remaster, Skyrim mantém muitas das limitações tecnológicas e orçamentárias impostas na época de seu lançamento. A IA dos NPCs e inimigos não é das melhores, o que pode causar momentos tanto cômicos quanto irritantes. A expressão facial dos personagens, bem como sua movimentação, incluindo o combate, quando comparados com jogos atuais, é bem inferior. Além disso, não espere por cutscenes antes ou no decorrer das missões; tudo é feito em tempo real, o que acaba limitando a carga dramática de algumas cenas.
Bugs acabaram sendo uma marca indesejada associada à Bethesda, que a própria desenvolvedora às vezes acaba assumindo de forma bem humorada. No PS3, Skyrim sofreu muito com bugs e problemas de performance, que demoraram meses para serem aliviados. A versão de PS4 é mais estável nessa parte, mas não é imune. NPCs ainda podem desaparecer ou não interagir com você, itens podem ficar presos em um local inacessível, portas podem não abrir, ou seja, ainda existem coisas que podem impedir seu avanço, embora isso seja raro de ocorrer. Mesmo assim, recomendo manter um estoque de saves por precaução.
A trilha sonora continua sendo perfeita (se você seguiu minha dica no início da análise, deve estar concordando comigo agora), combinando muito bem para a imersão durante a exploração do mundo. O áudio como um todo parece estar uma qualidade superior. Mesmo eu gostando muito da parte sonora do jogo, vale apontar que ainda há momentos em que o áudio meio que se perde, principalmente ao recarregar um save ou fazer fast travel, com a música por vezes chegando atrasada ou não combinando com o momento.
Embora o jogo seja um dos meus favoritos, sou obrigado a apontar seus principais defeitos. É um tanto triste ver que a remasterização focou apenas em melhorias gráficas e de ambientação, sem ter havido um investimento em tentar localizar o jogo para mais línguas. Sim, infelizmente não há sequer legendas em PT-BR para Skyrim, o que limita o acesso daqueles que não entendem inglês, principalmente porque o jogo traz uma quantidade enorme de conteúdo. Você pode até pensar “tudo bem, tem um Mod pra PC com legendas feitas pela comunidade”, mas aí vamos ao problema que gerou certa revolta dos jogadores.
Skyrim Special Edition traz pela primeira vez aos consoles a possibilidade de se adicionar Mods ao jogo. Mods são conteúdos criados pelos jogadores que vão desde mudanças estéticas até criação de verdadeiras expansões que podem ser aplicados ao jogo base. Infelizmente, devido a discordâncias entre Bethesda e políticas da Sony, os Mods de PS4 não podem adicionar arquivos externos, o que limita bruscamente a quantidade deles no console quando comparado com o PC e Xbox One (incluindo o mod que adiciona legendas em PT-BR). Basicamente, o que existe são mudanças cosméticas e pequenos ajustes naquilo que já existe no jogo base.
É sim triste saber que existem coisas que não posso fazer na versão de PS4, mas a limitação de Mods não afetou minha experiência de maneira absurda. Mods desabilitam troféus, o que já desestimula muita gente de experimentá-los. Isso se dá ao fato de vários deles serem verdadeiras trapaças, disponibilizando itens extremamente poderosos ou mexendo demais no jogo de maneira que poderia comprometer a conquista de alguns troféus. Em minha opinião, os Mods são apenas um pedaço pequeno do que o jogo oferece e sua ausência não afeta o fator diversão, que já é alto. Se mesmo assim isso seja algo que você sente que é realmente indispensável, recomendo que procure a versão para PC ou XONE.
Veredito
Vale a pena jogar The Elder Scrolls V: Skyrim Special Edition? Sim, vale muito a pena. Vale a pena jogar novamente, se já joguei no PS3? Sim, a diferença gráfica é muito grande e duvido muito que você tenha explorado 100% do que o jogo oferecia quando foi lançado. Vale a pena comprar agora que foi lançado? Aí depende. Considero um exagero cobrar o valor cheio pra um jogo de 2011, mesmo com todas as inovações gráficas, expansões e a possibilidade (limitada) de usar Mods. Se você tem muito interesse pelo jogo e é fã de RPGs, compre, pois a diversão é garantida. Se seu interesse é mediano, recomendo que aguarde por uma promoção. Mas não deixe de conferir este que é um dos melhores RPGs já lançados. Ainda é um mistério qual magia negra a Bethesda criou no jogo que faz com que você sempre queira continuar só mais um pouquinho, explorar só mais aquela caverna, fazer só mais esta missão…
Jogo analisado com cópia digital adquirida pelo redator.