Você gosta de jogos que te passam a impressão de estar assistindo a um filme? Títulos como Heavy Rain, Beyond: Two Souls, Until Dawn e Man of Medan conseguem entregar muito bem essa experiência. Agora, para incrementar a biblioteca de títulos do gênero no PS4, chega ao mercado The Dark Pictures Anthology: Little Hope, novo título da série de The Dark Pictures.
E o que é exatamente The Dark Pictures Anthology? Ele nada mais é que uma série de jogos de aventura/terror desenvolvida pela Supermassive Games, mesma produtora de Until Dawn. O plano do estúdio é que sejam produzidos ao menos oito jogos dentro de um período de seis a oito meses. Claro, como você pode ver, Little Hope demorou um pouquinho mais do que isso para ser lançado, mas finalmente saiu.
The Dark Pictures Anthology: Little Hope promete ser mais imersivo e aterrorizante que Man of Medan, primeiro jogo da série. Mas será que ele realmente cumpre essa promessa?
Após um acidente de ônibus, um grupo de universitários e seu professor ficam perdidos no meio do nada. Sem muitas opções do que fazer ou para onde ir, eles decidem seguir para a cidadezinha de Little Hope procurar por ajuda. Porém, o que eles ainda não sabem, é que além de terem que lidar com uma cidade aparentemente fantasma, terão que impedir que suas almas sejam levadas para o inferno.
A trama de The Dark Pictures Anthology: Little Hope pode ser um tanto quanto “dramática”, mas ela combina muito bem com o universo criado. Qualquer detalhe a mais que eu possa dar dentro dessa história pode ser spoiler (ou não), já que a narrativa segue de acordo com as suas escolhas. E já que essa é a principal atração do título, vamos começar por ela.
Uma das coisas que mais agrada em Little Hope é ver que as suas escolhas realmente influenciam no destino dos personagens. Em Man of Medan, por exemplo, a maioria dos acontecimentos dependia muito mais dos QTEs (Quick Time Events) do que propriamente das decisões tomadas. E isso não acontece aqui. Quer dizer, pelo menos não com a mesma frequência.
Em diversos momentos você sente que os QTEs podem sim ajudar (ou atrapalhar), mas os produtores conseguiram equilibrar muito bem o sistema com os resultados das suas escolhas, permitindo que o jogador tenha a sensação de que a sobrevivência vai muito além de apenas seguir o “caminho correto”.
Para ajudar um pouco nessas situações de perigo, foi adicionado um sistema que avisa quando ocorrerá um QTE. No começo você pode não entender muito bem o que o símbolo significa (já que nada é explicado), e isso pode te causar alguns problemas, porém, depois de um tempo é possível perceber que a adição foi uma ótima escolha.
Caso a nova mecânica citada acima te incomode de alguma forma, é possível desabitá-la no menu de acessibilidade, o que deixa o jogo ainda mais imprevisível. E já que tocamos nesse assunto, é importante dizer que a Supermassive Games pensou nos mínimos detalhes ao adicionar coisas como: aumentar o tamanho da legenda, deixá-la colorida, aumentar as letras das escolhas e mais. Pode parecer bobo, mas para quem usa óculos (como eu), ver palavras maiores e/ou coloridas ajuda bastante.
Como Little Hope segue o padrão dos jogos da Supermassive Games, você pode esperar por gráficos estonteantes. A versão para o PS4 Pro foi aprimorada, e é possível enxergar detalhes minúsculos, tais como os relevos da mesa do curador, que sempre aparece no intervalo dos capítulos.
Ainda falando de gráficos e como eles tornam a imersão ainda maior, podemos dizer também que os personagens foram muito bem trabalhados dentro deste mundo. Atores como Will Poulter (Midsommar e The Maze Runner) e Caitlyn Sponhemmer (The Sisterhood), emprestaram seus rostos para dar vida a alguns personagens, e o trabalho está realmente incrível.
Embora os detalhes estejam realmente muito bons, é preciso dizer que a expressão facial é um pouco dura e forçada em alguns momentos. Isso talvez seja algum tipo de “marca” do estúdio, já que Until Dawn e Man of Medan seguem no mesmo caminho.
Para complementar as experiências negativas dentro do jogo, Little Hope faz “entregas demais” quando não precisa e de menos quando é necessário mais. Em muitas situações os personagens simplesmente não reagem ao que está acontecendo. Pelo menos não da forma que você espera que aconteça.
Um exemplo que posso dar aqui é de quando escapei da morte e voltei de encontro ao grupo. Os outros personagens simplesmente ignoraram o fato e seguiram tranquilamente pelo caminho. Em outras palavras: ninguém ali liga se você morre ou não.
Essa falta de emoção no título pode ser vista como algo negativo, afinal, são seres humanos lidando com a morte. Assim como você “sente” a perda dos personagens, é esperado que eles também sintam, porém, não é isso que acontece.
O gameplay de Little Hope não é a coisa mais inovadora do mundo, mas também não deixa a desejar. Na verdade, não é preciso usar muitos botões aqui, já que o maior foco dele está na narrativa.
Uma melhoria super bem-vinda está na fluidez de como os personagens se comportam e em como os comandos são “transferidos” na hora do aperto. Eu explico: durante um evento, por exemplo, os protagonistas precisarão da sua ajuda para sobreviver, mas para isso acontecer, será preciso passar por uma série de transições e QTEs. Parece legal, certo? E é, mas só por um tempo. Embora essas “trocas” de “papel principal” sejam muito bem feitas, apertar uma enorme quantidade de botões pode cansar muito rapidamente.
Como o gameplay está inserido nas cutscenes de alguma forma, é preciso compartilhar aqui o quão frustrante é ter que assistir a essas cinemáticas que, por vezes, não fazem sentido. Algumas delas simplesmente não se conectam, e isso faz com que a história aparente estar sendo cortada por algum tipo de censura, como geralmente acontece com aqueles filmes que passam em horários não propícios para o conteúdo.
Jogar The Dark Pictures: Little Hope é como assistir a um filme extremamente longo e cansativo. Por mais que você queira saber o final, acaba sendo desgastante ver o mesmo ambiente e a mesma hora do dia.
Para tentar amenizar o cansaço, Little Hope traz de volta o multiplayer local e online para até cinco pessoas. Eles são divertidos por justamente serem imprevisíveis, trazendo aquela sensação que os verdadeiros filmes de terror costumam entregar.
No geral, The Dark Pictures Anthology: Little Hope consegue entregar um produto final bom, mas nada além disso. Não há tantos jump scares, e esse equilíbrio entre os sustos e a tensão já o tornam superior ao primeiro título da saga, que era basicamente baseado em gritos de desespero. Porém, é preciso ir além disso para sentirmos que a série não está sendo apenas empurrada goela abaixo. Afinal, supostamente ainda existem seis jogos da saga. Será que você aguenta?
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Bandai Namco
Veredito
The Dark Pictures Anthology: Little Hope possui uma história e mecânicas superiores ao seu antecessor. No entanto, existe um “padrão” no enredo que deve ser quebrado, assim como a forma como eles constroem os personagens. Caso as mecânicas continuem as mesmas, há grandes chances de seus sucessores caírem na mesmice.
Veredict
The Dark Pictures Anthology: Little Hope has a history and mechanics superior to its predecessor. However, there is a “pattern” in the plot that must be broken, as well as the way they build the characters. If the mechanics remain the same in the future, chances are its successors will fall into sameness.