Durante a E3 2019, a Bandai Namco anunciou que seu novo jogo da série Tales of seria lançado no ano seguinte. Com a chegada da pandemia do coronavirus, o título foi adiado, e por algum tempo não se ouvia mais falar dele. Porém, após dois anos de espera e angústia, os fãs finalmente podem botar as mãos em Tales of Arise.
Tales of Arise chega após muito tempo desde o lançamento de Berseria, último título original lançado para consoles. Tendo isso em vista, iremos fazer uma pequena viagem no tempo para relembrar um pouco dessa época e contextualizar a importância do mais novo jogo da série.
Embora a Bandai Namco tenha começado a mudar o conceito da saga em Tales of Xillia, foi em Tales of Zestiria que ela deu o famoso “salto da fé” e decidiu implementar algumas novidades, como um sistema de fusão entre os personagens e um mundo aberto gigantesco. Porém, isso não foi o suficiente para agradar os fãs, nem mesmo a mídia especializada.
Em 2015, a Bandai Namco anunciou Tales of Berseria, jogo que narra os acontecimentos antes de Zestiria. Ele foi melhor recebido pela crítica graças as diversas novidades que realmente deram certo, como gameplay, história e a presença de personagens extremamente carismáticos.
A verdade é que não é raro ver a Bandai Namco lançar continuações de títulos da série. Embora não seja algo muito constante, podemos usar Tales of Symphonia 2 e Tales of Xillia 2 como exemplos de jogos que fizeram parte desse grupo. No entanto, quando isso acontece, um pouco da bagagem do anterior continua, justamente para que a diferença não seja tão discrepante. E isso, obviamente, nem sempre é bom.
Tales of Arise chega com muitas mecânicas que nunca foram vistas anteriormente e, por este motivo, irei fazer referências a jogos passados, justamente para mostrar como a Bandai conseguiu transformar a série de uma forma positiva.
Como dito anteriormente, alguns Tales of são continuações de outros, no entanto, em sua maioria eles narram contos individuais. Tales of Arise não é diferente, e traz Alphie e Shionne como os novos protagonistas da trama.
O jogo conta como os Renianos invadiram a terra dos Dahnianos com toda a tecnologia avançada do planeta. Há 300 anos, o povo de Rena escraviza os habitantes de Dahna, além disso, toda a terra foi dividida em cinco reinos, sendo governado por diferentes lordes.
Cansado da escravidão, Alphen (até então conhecido como Máscara de Ferro) encontra a oportunidade perfeita para acabar com isso ao perceber um ataque a uma carga. Após conhecer Zephyr e Shionne, uma cidadã de Rena, ele embarca numa aventura para destruir todos os lordes e acabar com a ditadura em seu mundo.
Para derrubar os lordes, Shionne e Alphen precisam deixar suas diferenças de lado para lutar por um objetivo em comum. Isso, inclusive, é deixado muito claro durante a aventura, pois embora estejam no mesmo time, eles continuam projetando a rivalidade dos povos um no outro. Porém, assim como na vida real, é possível melhorar seu relacionamento interpessoal com os integrantes do grupo.
Eu, particularmente, sempre gostei das linhas adotadas em Tales of the Abyss e Tales of Vesperia. Quando a Bandai decidiu mudar o conceito da saga, senti um certo receio, e a demo – ruim – de Arise só me fez ficar ainda mais preocupado com o que eles estavam fazendo. Muitos previews do jogo foram negativos, mas por sorte, o título entrega muito mais do que foi mostrado.
O mapa-múndi, padrão de títulos antigos, morreu, e agora ele é dividido por regiões, como o que foi visto em Tales of Berseria. Isso não é ruim, mas se você gostava de viajar pelo mundo para explorar, pode ficar desapontado com a limitação.
Tales of Arise também traz de volta as viagens rápidas. Elas são liberadas no início do jogo, e fazem uma diferença absurda na hora de ir a um lugar a outro. Aliás, eu recomendo fortemente que você faça isso para resolver as missões, pois com exceção das cidades e dungeons, muitos locais no mapa funcionam com nomes muito específicos, que lembram muito mais alguns tipos de estradas. Tendo isso em vista, é aconselhável deixar a exibição das quests ativada, caso contrário, as chances de se perder – e se irritar – serão altas.
Como qualquer bom JRPG, Tales of Arise conta com diversas side quests, e para facilitar, é possível ver as notificações no mapa e se transportar direto para o local desejado. Se você é do tipo que gosta de desafios e prefere encontrar tudo por conta própria, muito provavelmente não vai gostar deste sistema. No entanto, essa mudança mostra que a Bandai Namco quer atrair um público maior para essa nova fase da saga.
Não é preciso se esforçar muito para completar as missões secundárias, pois elas costumam ser bem fáceis, já que são resumidas a derrotar monstros ou entregar algo a alguém. Isso, inclusive, deixa um pouco a desejar, pois chega uma hora que fica um tanto quanto repetitivo.
Para amenizar a mesmice das missões secundárias, existem algumas “atividades” de campo. Uma delas é a de curar todos os indivíduos machucados que encontrar para ganhar recompensas. Outro exemplo, é a missão de encontrar todas as corujas e mandá-las para o reino das corujas, que funciona mais ou menos como a Katz Village, local que existe em outros jogos da série.
A série Tales of sempre foi recheada de coisas para fazer, mas duas delas costumam se destacar: os combates e a exploração em si. Em Tales of Arise, como já dito anteriormente, o mundo é mais “compacto”, o que dá a impressão de ser um caminho linear que, mesmo com várias rotas disponíveis, conta com diversos locais sem saídas que servem, basicamente, para coletar tipos de materiais e matar monstros.
Embora o jogo tenha esse tipo de limitação no mapa, Arise consegue entregar uma exploração muito boa e objetiva, coisa que não se via em Zestiria, por exemplo, onde você tinha um mundo enorme para explorar, mas muito vazio e extremamente genérico.
Uma das coisas que mais chamou a atenção na exploração de Tales of Arise, foi a possibilidade de pular e nadar. Isso nunca aconteceu antes, e posso dizer que o fato do personagem poder executar essas ações quando quiser, economiza muito tempo na hora de se aventurar. Infelizmente ainda não é possível se agarrar às beiradas das pedras, mas com o rumo que a série está tomando, não duvido que isso possa acontecer um dia.
E já que estamos falando dos cenários, devo dizer que, desta vez, eles capricharam. Assim como os gráficos no geral – que estão muito bonitos e bem desenhados -, os cenários se destacam não apenas pelo seu tamanho, mas também pelos seus incríveis detalhes. Alguns locais internos contam com reflexos muitos bem feitos, que mostram todo um cuidado com o desenvolvimento.
Mas mesmo com tantos recursos bons, algumas coisas parecem ter recebido menos atenção do que outras. A dublagem é ótima, mas a sincronização labial na língua inglesa é bem ruim. A Bandai Namco poderia ter tido mais carinho com isso, mas ainda assim, não é algo que estraga a experiência, já que também é possível configurar o jogo para que utilize as vozes japonesas.
Tales of Arise traz um dos melhores sistemas de combate da série. Tudo é extremamente dinâmico, e a IA consegue trabalhar muito bem. Isso, inclusive, é um ponto muito importante, já que não existe mais o modo multiplayer, o que deixa o jogador completamente dependente de uma inteligência que realmente funcione.
A parte mais legal do combate aqui, é que você VAI querer jogar com todos os personagens. Eles foram igualmente balanceados, e conseguem ser extremamente divertidos de se controlar. Até mesmo a Rinwell, maga do grupo, consegue ser ágil nos ataques, coisa que raramente acontece com essa classe nos jogos da franquia.
Para elevar um pouco mais a dificuldade, o jogo limitou as artes de cura a um sistema chamado Pontos de Cura. Qualquer coisa que envolva recuperação de HP ou suporte, será consumido desses pontos. Não é impossível passar por batalhas difíceis sem ele, mas é preciso ter em mente o tipo de estratégia que os personagens devem usar.
Tales of Arise, inclusive, conta com um sistema de estratégias muito bem elaborado. Você pode definir várias ações específicas, o que pode ajudar na sobrevivência dos seus integrantes ou até mesmo na economia de itens, que são bem caros aqui.
O ditado “não se mexe em time que está ganhando” não se aplica aqui, pois quando você coloca as mãos no jogo, percebe que muitas das mudanças feitas eram realmente necessárias para a série, já que a antiga fórmula estava ficando batida.
Mesmo com a recepção incerta e diversos previews negativos que assombraram Tales of Arise, posso afirmar, sem nenhuma dúvida, que a Bandai Namco acertou em cheio, transformando o jogo em um dos melhores da franquia.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Bandai Namco.
Veredito
Tales of Arise tem alguns probleminhas técnicos, mas que são passáveis perante à obra final. A chegada do novo título mostra que as mudanças eram realmente necessárias para a renovação da série, que já estava se perdendo em seu próprio conceito. Se você é fã do gênero ou da série Tales of, com certeza vai adorar Arise.
Veredict
Tales of Arise has some technical issues, but it’s no big deal. The arrival of the new title shows that the changes were really necessary for the renewal of the series, which was already getting lost in its own concept. If you’re a fan of the genre or the Tales of series, you will love Arise for sure.