Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch é a primeira visual novel da desenvolvedora japonesa independente Fragaria a ser lançada no Ocidente, graças à Aksys Games que está publicando o jogo no Ocidente, e à Kemco, empresa que desenvolveu as versões para consoles e lançou o jogo em seu território original.
A Kemco é conhecida no Ocidente por seus JRPGs com visuais nostálgicos, porém bastante esquecíveis e que são lançados aos montes para conseguir alguma relevância no mercado de games. Entretanto, ela também publica visual novels de outras empresas no Japão, e algumas dessas chegam por aqui, como o aclamado Raging Loop e o nem tanto lembrado Archetype Arcadia.
Com um histórico trepidante, por pouco essa análise não foi realizada, em parte por conta do volume dos lançamentos que começam a apertar após o mês de Agosto, e por pouco ter sido falado e publicado sobre Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch na internet. Já adianto nesse parágrafo que acabei muito feliz em ter dado uma chance ao jogo, pego totalmente de surpresa enquanto esperava só mais uma visual novel mediana num período lotado.
Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch inicia com a história de Hikaru Nishime, um jovem de 17 anos que perdeu seus pais ainda criança, sendo levado a morar com a sua tia abusiva e sua família em Tóqui. Logo nos primeiros minutos, essa mesma tia avisa Hikaru que eles vão precisar sair do país e que o jovem precisaria ir morar com seu avô, numa ilha isolada no Japão.
Hikaru, pego totalmente desprevenido, mas acostumado a ser tratado como resto e em segundo plano, aceita a mudança. Após pegar seus poucos pertences pessoais, pega o vôo e o barco até a cidade de Toyotoki, onde moram poucas centenas de habitantes, praticamente isolada do centro do Japão.
Logo ao chegar, ele é hostilizado por um grupo de idosos, evidenciando o desdém da população da ilha por intrusos e imigrantes. Com muito custo, Hikaru encontra a casa do avô, mas para sua surpresa, ele saiu em viagem seis meses antes, deixando o garoto totalmente perdido e abandonado.
Sem dinheiro, sem família, sem o contato do seu avô, e sem ter aonde ficar, Hikaru se refugia numa cabana improvisada e abandonada no meio de um campo de cana-de-açúcar, até descobrir que lá habitava Lilun, uma jovem misteriosa que se identifica como bruxa e diz ter se infiltrado na ilha para realizar uma missão secreta.
E é do encontro entre Hikaru e Lilun que o grande desenrolar da história acontece. Logo os dois percebem que não podem morar na plantação, dão um jeito de entrar na casa do avô de Hikaru e se instalam ali. Durante essa adaptação, eles conhecem Akari, uma garota extrovertida que também é filha do prefeito da cidade, Tsumugi, uma vendedora de seguros, Kaneshiro, um valentão, e Kiriko, que assim como Akari, também é sucessora de uma das famílias tradicionais da cidade.
Durante a história, laços são estreitados entre os seis personagens, mas principalmente entre Hikaru e Lilun. As dificuldades que eles passam para se manterem, como trabalhar juntos, dividir as tarefas de casa, conseguir montar algum plano para o futuro, em algum momento começa a se evidenciar como um interesse romântico entre os dois.
A história é dividida em quatro “etapas”, e que ocorrem nessa ordem, por serem cronologicamente sequenciais: o início do jogo, a história de Akari, a história da vendedora de seguros, e a história de Lilun. Em tempo de jogo, não são exatamente equivalentes, mas cada parte serve um propósito específico.
No início do jogo, vemos Hikaru e Lilun se conhecendo, tentando se estabelecer na cidade, assim como um pouco do passado de Lilun. Em seguida, a história de Akari, em que os protagonistas tentam ajudá-la a realizar seu sonho de ir para Tóquio e se tornar uma dubladora de sucesso. Depois, a história de Tsumugi, a vendedora de seguros, que sofre de amnésia e não consegue parar em nenhum emprego.
E por fim, a história de Lilun, em que o jogo vai finalmente revelando o passado da personagem, de onde ela veio, e principalmente o clímax do jogo, que envolve a aparição de um grande vilão que ameaça tanto o mundo como a vida de Lilun, colocando todos os personagens em ação para evitar que o pior aconteça.
A primeira parte é divertida por introduzir o universo do jogo, mostrar um pouco dos personagens e da cidade de Toyotoki. A segunda parte talvez dê um tom ao jogo que existe mais apenas nesse capítulo – um tom mais descontraído, divertido. A terceira parte começa a de fato mostrar mais sobre aonde o jogo vai chegar, e também passa a trazer traumas e dramas humanos, conflitos e mal-entendidos que trazem um tom mais sério.
A quarta parte, por fim, aumenta esse tom à enésima potência, trazendo situações bastante delicadas, trazendo à discussão sobre vida e morte, amor e perda, abandono e acolhimento, que eu certamente não esperava que fosse encontrar nesse jogo. É na terceira parte, e principalmente nesta última quarta parte, que o jogo brilha como poucos.
Não lembro quando, pela última vez, um jogo me fez chegar perto de lágrimas, me envolvendo pessoalmente na história e no drama dos personagens. Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch não fez isso apenas uma vez, mas várias vezes. O investimento emocional em ver um grupo de jovens se deparando com assuntos delicados e o desespero deles ao ver que pouco se pode fazer contra verdades absolutas, como o luto e a morte, foi bem grande.
Um grande ponto que me fez prestar atenção no jogo e que ajudou a me manter engajado foi a arte. O traço dos personagens é único, dificilmente você encontrará outra mídia com uma arte parecida como em Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch. Talvez um ponto negativo, mas compreensível de um jogo de orçamento modesto, é que apenas os seis personagens mencionados têm arte no jogo – todos os demais aparecem apenas em texto, sem aparecer na tela.
Da mesma forma ocorre com a dublagem, que considerando o escopo e tamanho da desenvolvedora, é bastante competente. Apenas cinco dos seis personagens são dublados no jogo (o protagonista Hikaru não tem dublagem), mas todas as cenas em que algum desses cinco personagens aparecem são dubladas. A trilha sonora também é um grande destaque, principalmente nas cenas de drama em que uma faixa em específico me lembrou demais da trilha sonora de The House in Fata Morgana.
O jogo não é longo, o que talvez seja mais um ponto positivo. Ele dá conta de introduzir os personagens e o universo do jogo, desenvolver mais os personagens dentro desse universo, iniciar conflitos pessoais e resolvê-los em quinze a vinte horas, dependendo da velocidade de leitura de cada jogador.
Entendo que poucos sites se deram o trabalho de jogar e analisar Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch, e que talvez menos ainda tenham se emocionado tanto com a história, mas após ter sido pego de surpresa com um jogo que provavelmente vai passar batido para a imensa maioria dos jogadores, até mesmo entre entusiastas do gênero, fica aqui a minha maior recomendação do ano até este momento.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Aksys Games.
Veredito
Um showcase de sucesso em mostrar que existem grandes histórias em jogos inusitados, Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch tem a capacidade de ressoar emocionalmente de uma forma que poucos jogos tentam com seu público-alvo.
Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch
Fabricante: Fragaria
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: Visual Novel
Distribuidora: Aksys Games
Lançamento: 22/08/2024
Dublado: Não
Legendado: Não
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
A successful showcase in displaying how there are great stories in unusual games, Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch has the ability to emotionally resonate in a way that very few games even try with its target audience.