Às vezes, o óbvio precisa ser dito, então vamos começar logo por ele: Symphonia é deslumbrante de olhar. Com visuais desenhados em contornos finos e cenários ricamente pintados, fica muito claro como a francesa Sunny Peak quis chamar atenção de cara com a apresentação rebuscada.
A segunda obviedade é o tema musical, que podemos ver primeiro no próprio nome e na capa, e, depois, no grande tema que permeia todo o jogo. A inspiração segue as orquestras grandiosas do romantismo, movimento cultural que, no século XIX, se espalhou a partir da Europa. Mesmo que não seja um apreciador, com certeza você conhece o maior nome dentre os músicos dessa linha, Beethoven, e, provavelmente, já ouviu músicas de Chopin e Tchaikovsky. Ou seja: Symphonia também é deslumbrante de ouvir.
A história está em harmonia com o tema, trazendo uma fábula simples: em um mundo feito pela música, a orquestra rompeu e a falta de melodias de vida está levando tudo à decadência. Um misterioso violinista toma forma a partir de uma máscara para erguer uma nova orquestra e restaurar o mundo. Isso é contado na abertura, mas o decorrer do jogo segue sem palavras, narrando a breve epopeia por meio de belas cenas de animação.
A ideia não é adaptar as obras de compositores renomados do passado, mas criar uma fantasia esteticamente grandiosa que representa a vitalidade idealista do romantismo em um misto de arte visual, movimento e interação — ou seja, um videogame.
Quando pensamos em jogos com tema de música, geralmente vem à mente gêneros de ritmo, mas esse não é o caso agora. Symphonia é um plataforma 2D de precisão.
Nesse aspecto, o game sabe o que fazer, construindo longas fases segmentadas em desafios pontuais, com checkpoints constantes e retorno rápido após a morte. A dificuldade também segue o bom design do estilo de precisão: você pode focar em apenas superar os obstáculos com saltos, mas pode também tentar um pouco mais para obter os colecionáveis, que demandam acrobacias mais exigentes.
O diferencial aqui é que, além do salto comum, podemos usar o salto com o arco do violino, que bate no chão e nos projeta mais alto e mais longe, podendo ser usado em sequência. Ao mesmo tempo em que essa é uma mecânica gostosa de usar, também é fonte de frustrações e às vezes parece nos tirar o controle preciso que o gênero determina, especialmente quando o movimento nos lança mais longe do que pretendemos e acabamos caindo nos espinhos quase onipresentes.
Se a coisa toda estiver difícil demais, há duas opções de acessibilidade, desbloqueadas logo após conseguir passar da primeira sala de desafio. Uma libera o pulo duplo, enquanto a outra diminui a velocidade de jogo por um medidor de porcentagem, permitindo que, se for preciso, você ajuste a gameplay ao seu nível de reflexos. As outras salas de desafio concedem gemas que liberam mais habilidades desse tipo.
Originalmente, Symphonia foi criado como um projeto curto de estudantes, lançado gratuitamente em 2020 (você pode baixar no itch.io). O jogo manteve o nome e foi trabalhado para se tornar a obra de que falamos agora. Se antes ele durava apenas meia hora, foi consideravelmente aumentado com o tempo. Levei cinco horas e meia para chegar ao final, havendo revisitado duas fases e morrido muito (especialmente nos momentos finais), então acho razoável considerar que quatro a seis horas seja uma possível média de duração para a experiência.
Além de um hub, há uma fase curta inicial e três longas fases que representam partes da orquestra: A Estufa do Sopro, A Pradaria das Cordas e o Palácio dos Metais. Senti falta de mais uma fase, que representasse a percussão e trouxesse novas mecânicas, mas achei que o conteúdo de Symphonia é o bastante para considerá-lo um jogo satisfatoriamente completo.
Como cada fase introduz uma nova habilidade, há um senso de progressão de gameplay e elas podem ser usadas para revisitar trechos anteriores e finalmente conseguir alcançar alguns colecionáveis e salas de desafio.
Ao finalizar pela primeira vez, é desbloqueado o modo Perseguição Sombria, em que uma sombra segue no encalço do herói por toda a campanha, repetindo todos os seus movimentos, sem deixar margem para parar. Isso serve para o pessoal que gosta de mais desafios e de treinar speedruns, algo típico nos plataforma de precisão e bem atendido em Symphonia.
Assim, essa aventura de tema musical encanta os olhos, ouvidos e coração, além de fazer correr a adrenalina de realizar saltos bem posicionados para avançar ou de morrer muitas vezes seguidas em um mesmo local. Os controles não oferecem a mesma precisão dos melhores do gênero, mas atende muito bem aos apreciadores que estiverem em busca de um jogo bem projetado e executado.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Headup Games.
Veredito
Artisticamente, Symphonia é um dos mais belos exemplares do gênero de plataforma de precisão. Seus temas musicais são envolventes e tão eficientes quanto o design de níveis e a progressão da gameplay, embora os controles nem sempre sejam precisos como deveriam e uma ausência de uma área a mais para fazer do jogo um pacote mais robusto e variado. Essas questões, porém, não anulam a harmonia dessa orquestra que vale a pena ouvir.
Symphonia
Fabricante: Sunny Peak
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: Ação / Plataforma
Distribuidora: Headup Games
Lançamento: 05/12/2024
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Artistically, Symphonia is one of the most beautiful examples in the precision platform genre. Its musical themes are engaging and as efficient as the level design and gameplay progression, although the controls are not always as precise as they should be and there is a lack of an additional area to make the game a more robust and varied package. These issues, however, do not negate the harmony of this orchestra that is worth listening to.