Sword Art Online: Hollow Fragment é mais um caso de um jogo de PSP que veio para o Vita com melhorias e mudanças. Este caso, porém, é significativo – o conteúdo extra de Hollow Fragment é enorme e durará horas nas mãos daqueles pacientes para aguentar o resto do jogo.
Você já viu esse tipo de história antes: o protagonista e milhares de outros personagens foram presos em um mundo de realidade virtual, e morrer nesse mundo significa morrer na vida real. A única maneira de se salvar é terminar o jogo, que consiste em passar de 100 andares compostos de labirintos e monstros, com cada andar sendo casa de um chefe. No anime, os personagens terminam o jogo no andar nº 75, devido a um glitch durante o evento final do jogo; esse não é o caso em Hollow Fragment. Sem saber o que aconteceu, o que resta aos heróis é prosseguir até o centésimo andar, como era o plano original.
E esse é o jogo de PSP. Mas subir os 25 andares restantes é apenas metade de Hollow Fragment. A novidade está por conta da chamada Hollow Area, uma área nova, com história própria e separada de Aincrad (o mundo principal), e com diversas regiões para explorar e missões para realizar. Hollow Area, entretanto, é notavelmente mais difícil que a escalada de andares. Você tem liberdade para escolher qual dos dois seguir, ou mesmo ficar intercalando as duas campanhas, mas no final, Hollow Area ficará em segundo plano por um tempo, até que se progrida um pouco em Aincrad.
Mecanicamente, Sword Art Online é um action RPG com um sistema de armas que imita um MMORPG. Existem diversas classes de armas cuja proficiência aumenta com o uso, assim liberando novas habilidades para aquela arma ou abrindo caminhos para armas diferentes. O sistema é interessante no sentido de incentivar a experimentação, mas é assolado pela mesma praga dos RPGs online: o grind. Enquanto no começo sua proficiência parece aumentar rapidamente, ao alcançar níveis mais altos, a taxa de progresso diminui consideravelmente de maneira não proporcional. Espere ter que utilizar métodos de grind específicos caso queira masterizar armas e abrir novas habilidades, pois jogando normalmente estas não serão liberadas tão facilmente.
Aliás, essa repetição é notória do jogo inteiro. As áreas são muito parecidas, os inimigos são repetitivos e aparecem em quantidade absurda, e o sistema de combate, embora inteligente, fica cansativo rapidamente devido a isso. Em Sword Art Online, você tem um rol de mais de 40 habilidades que pode designar em vários atalhos para acesso rápido, simulando um jogo ação. Essas habilidades podem ser utilizadas através de um menu que abre em tempo real, então, mesmo não tendo todas em atalhos, uma batalha pode ocorrer com 20 habilidades, por exemplo. Elas são, porém, dependentes de uma barra de SP que diminui consideravelmente por habilidade, mas que é restaurada com o tempo ou através de itens.
Entre as habilidades, estão a esquiva e um sistema de contra-ataque (parry). Ambos utilizam stamina e além disso, exigem habilidade. Não é só utilizar a esquiva que você se garante contra o ataque – é importante ver o campo que o ataque deve acertar e esquivar para longe dele. O mesmo com o parry, que deve ser realizado no tempo certo e recompensa o jogador com um atordoamento momentâneo do inimigo e restauração da barra de SP. É uma pena, então, que um sistema de combate interessante se torne cansativo devido aos vários problemas do jogo, como o mencionado grind exagerado.
Sword Art Online é um fenômeno no Japão, mas a recepção ocidental não é das melhores. A animação é repleta de estereótipos orientais que não funcionam no ocidente, e muitos destes são carregados exponencialmente no jogo. E aí mora outro problema do jogo: a lista de personagens é composta principalmente de mulheres, e os poucos homens do jogo não tem quase nenhum tempo de cena. O grande problema é que todas são apaixonadas pelo personagem principal. Embora exista uma certa hierarquia, com Kirito sendo casado virtualmente com outra personagem, isso não impede que quase todas as conversas do jogo sejam voltadas a flertes exagerados e fora de lugar.
E esse lado ruim do jogo, infelizmente, se expande de diversas maneiras. Embora Kirito possa jogar sozinho, o jogo te estimula a utilizar uma parceira no combate, e as relações não param aí: na cidade principal do jogo, há um mini-game de simulação de encontros, em que você pode levar a parceira a locais específicos para momentos supostamente românticos (alerta: não são). Estes possuem dois problemas. O primeiro é que o grind desenfreado aparece aqui também. Colocar a parceira no nível máximo de relação exige a repetição das mesmas cenas e conversas por horas. Sim, horas. Vendo as mesmas cenas ruins e diálogo mal feito. Já o segundo problema é devido à péssima localização do jogo. Os diálogos dos encontros são tão, mas tão mal traduzidos e adaptados, que conversas que supostamente deveriam ser românticas acontecem com frases como "Ei, o banco lendário…" e você deve responder com opções mais desconexas ainda.
Aliás, a localização do jogo é quase inexistente, desde o áudio que ainda é japonês. A versão japonesa de Hollow Fragment já continha a opção de se jogar em inglês, embora a tradução fosse péssima. O trabalho de localização ocidental parece ter sido feito a partir desta tradução, ao invés de feito do original japonês. Erros de grafia e sintaxe são muito comuns. Frases não fazem sentido, e alguns inimigos ainda aparecem com o nome original em japonês. Foi um trabalho preguiçoso e mal feito e que está presente em todas as áreas, desde o diálogo até menus, telas de informação, inimigos e itens.
Sword Art Online: Hollow Fragment é, essencialmente, um simulador de um MMORPG. Ele, porém, tem as piores partes do gênero – o grind excessivo, reutilização de inimigos, e até, ironicamente, quedas absurdas de framerate (em especial na cidade) que não intencionalmente simulam quedas de conexão. As partes boas de um MMORPG, como a interação com outros jogadores e o sentimento de recompensa, inexistem. Apesar do nome e da história, Sword Art Online é um jogo single-player offline, e pode ser jogado multiplayer somente por conexão local.
Veredito
Sword Art Online: Hollow Fragment tem um espectro de público-alvo peculiar. Os fãs do anime certamente estarão curiosos para testá-lo, mas é difícil dizer que suportarão a repetição imposta pelo título. Já os fãs de RPGs podem estar aptos para o desafio de paciência, mas provavelmente não aguentarão a história e personagens unidimensionais do jogo. Há sempre a opção de se ignorar todo este lado, e aqueles dispostos a fazer isso encontrarão aqui dezenas de horas de conteúdo e um sistema de batalha interessante, mesmo que, eventualmente, desgaste até o mais paciente dos jogadores.
Jogo analisado com cópia digital fornecida pela Bandai Namco.