Começarei este review com uma declaração meio polêmica: roguelikes e seus derivados normalmente não são a minha praia. É meio complicado continuar uma análise com um começo desses, mas ela tem sua importância já que não é como se eu odiasse todo o estilo. Hades e Dead Cells foram alguns dos poucos títulos que, até então, conseguiram me deixar com aquele gostinho de “querer mais” apesar de serem punitivos.
Não sei dizer se foi o combate ou o estilo gráfico, mas acabei ficando curioso pra saber se Summum Aeterna iria “clicar” comigo da mesma forma que os outros dois acima conseguiriam. Apesar de alguns problemas técnicos, Summum Aeterna conseguiu me surpreender além do esperado e acabou se tornando o meu favorito do gênero.
A premissa do jogo é simples – talvez até demais. O protagonista é um rei que se auto proclama o príncipe das trevas e quer de uma forma ou outra trazer de volta a glória para o seu reino que ironicamente se chama Vila Faminta.
Nosso “herói” acabou ficando aprisionado nessa vida graças a maldição do Caos onde ele se tornou um imortal, repetindo ciclos toda vez que ele morre, o que acaba sendo o motivo para estar sempre voltando à vida.
Se tudo isso soa familiar é porque Summum tem toda aquela estrutura tradicional dos roguelites que a gente já está cansado de saber.
Você morre, perde todos (ou boa parte) do seu progresso e retorna até uma base onde o jogador pode comprar alguns upgrades permanentes e aos poucos incrementando o seu personagem, tornando cada jornada um pouquinho mais fácil.
Como de praxe, a customização é um dos pontos mais fortes do jogo. Além de todas aquelas melhorias básicas como aumentar vida, dano, recursos e etc, é possível desbloquear até mesmo skins e outros status relacionados diretamente aos equipamentos do Príncipe, dando uma sensação de progressão mais vertical.
Dito isso, minha maior surpresa em toda essa personalização foi justamente ter a habilidade de moldar cada fase conforme eu queira, deixando ela mais fácil ao custo de menos espólios ou tornando ela ainda mais difícil para conseguir mais recursos.
Diferente de alguns títulos, Summum Aeterna deixa você escolher exatamente qual fase quer jogar antes de cada jornada, graças ao sistema de sementes que funcionam como “chaves” que abrem as missões e por ventura acaba ajudando em tornar toda experiência menos repetitiva do que o normal, além de poder focar naquelas nos níveis mais adequados no momento.
No começo do meu save tive muita dificuldade em progredir na Vila Harunokaze e na Hiperbórea, dois locais infestados de armadilhas e inimigos poderosos, mas graças a toda essa customização, acabei transformando elas em mapas mais fáceis, ou alterando sua localização por outras fases mais apropriadas para o meu nível.
Não mencionei muito da história até então porque, sinceramente, é um dos principais pontos negativos do título, especialmente em uma época onde temos Hades e Returnal dando aula nesse quesito.
Sua exposição a narrativa se resume a diálogos curtos ali e aqui conforme se vai progredindo nas fases e que muitas vezes acabam bugando e trocando o idioma para espanhol aleatoriamente.
Perdi a conta de quantas vezes um tutorial ou qualquer diálogo em ponto crítico da história simplesmente trocou de portugues para inglês ou espanhol.
Claro que como eu venho falando, o jogo não vai ganhar nenhum prêmio de história ou revolucionar a indústria, mas é sempre chato quando esses problemas técnicos acabam quebrando a imersão, especialmente quando Summum Aeterna tem uma arte tão “nostálgica”, semelhante ao saudoso Adventure Quest que muitos cresceram jogando no navegador.
Se a sua narrativa não é lá grande coisa, o mesmo não pode ser dito para o combate, que acabou sendo a melhor parte de todo o pacote e o motivo de querer fazer perder umas boas horas de sono.
Por mais que possa soar clichê, a melhor forma de resumir a jogabilidade do título é que ela é extremamente fluida, tanto nas armas que o jogador tem quanto na física que governa toda a movimentação do príncipe.
Seus três principais armamentos conseguem se destacar muito bem entre si, nenhum deles é essencialmente melhor do que o outro e existe ali puramente para se adequar a tipos de jogadores específicos.
Quando você começa o jogo, seu único equipamento é uma espada simples, que apesar de ser básica, consegue ser rápida e também é muito efetiva em acertar inimigos que sobrevoam pelo mapa, especialmente aqueles que acabam ficando em ângulos mais “chatos” de se alcançar.
Eventualmente, o príncipe desbloqueia uma pistola/escopeta (sim, ela funciona com os dois tipos de munição) que obviamente é a mais eficaz para manter a distância.
Admito que essa foi a arma que eu menos gostei do trio, mas como dito acima ela é longe de ser ruim, só que exige um certo treinamento para ficar sempre recarregando as balas, o que é justo já que é a forma mais “segura” de progredir no game.
Por mais que a foice seja desbloqueada mais cedo do que a pistola, deixei ela para o final porque é disparada a minha arma favorita do trio, e a responsável por ter gostado tanto do jogo.
Apesar dela ser mais pesada do que as suas irmãs, nas mãos certas ela consegue ser a mais rápida do jogo. Lembra quando eu disse que o Summum Aeterna tem uma física fluida? O peso do equipamento combinado com a esquiva aérea fazem com que o príncipe ganhe um impulso a mais na movimentação, dando aquela sensação de acelerar o combate.
Se antes eu estava matando um inimigo de cada vez, observando timings de esquiva e tentando ser cauteloso com armadilhas, quando desbloqueei a foice passei a abusar da arma, e disparando entre as fases e dilacerando vários monstros de uma vez só, algo que é ainda mais fácil graças a um debuff de maldição que a foice aplica.
Isso tudo fica ainda mais divertido conforme eu fui explorando novas fases, liberando aqueles poderes aleatórios que são de praxe dos roguelites. Muitas dessas habilidades começam bem básicas, como dar mais dano de vida cheia, congelar oponentes ou coisas do tipo, mas até essas conseguem fazer um diferencial enorme no combate facilitando demais os confrontos.
Ainda é possível encontrar versões melhoradas das três armas que o príncipe usa, cada uma com a sua própria raridade, efeitos adicionais e poder de dano e até mesmo melhorar o modo como seus armamentos básicos funcionam.
A consequência de todas as ferramentas é que às vezes dá até pra dizer que Summum Aeterna tem “opções demais”. A cada vez que eu voltava para a base eu sentia que mais um NPC aparecia com algum sistema novo que requer uma moeda nova e que afeta o jogo de alguma forma que eu nem imaginava que poderia mudar antes.
Alguns vão achar essa overdose de mecânicas um pouco sufocante, ainda mais que muitos dos upgrades são caros e transforma toda a evolução do príncipe bem gradual, a não ser que você seja muito bom e esteja matando vários chefes em sequência. Dito isso, os desenvolvedores parecem que estavam cientes desse problema.
No final de cada run (seja ela uma vitória ou fracasso), o jogador é levado a uma tela onde um baú de espólios junto de uma barra de carregamento aparecem. Quando cheia, o príncipe recebe uma grande quantidade de espólios que acabam aliviando a progressão até mesmo para aqueles que costumam ter mais dificuldade.
Admito sem nenhum problema que eu mesmo quase não conseguia passar das fases no começo, até mesmo os inimigos mais frágeis conseguem derrotar o protagonista em poucos golpes e um errinho que seja pode ser fatal, mas nada disso me incomodava muito a jogabilidade como disse acima é extremamente divertida, derrotar qualquer chefe me dava aquela descarga de adrenalina que eu não sentia a algum tempo, e claro, conforme os materiais vinham o jogo ficava cada vez mais fácil.
Summum Aeterna é uma fortíssima recomendação para fãs de roguelikes, metroidvanias ou qualquer tipo de jogo 2D com foco em combate. A história e seus bugs no diálogo são pedras no sapato realmente deixam a desejar. A quantidade densa de sistemas pode afastar alguns, mas se eu precisasse fazer uma comparação rápida, a fusão entre Castlevania e Hades foi excelente e sinceramente algo que eu não sabia que precisava tanto, talvez até seja a minha porta de entrada para mais títulos do gênero.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pelo Aeternum Game Studio.
Veredito
Summum Aeterna é outro roguelite fantástico. O título soube incorporar bem todas as suas influências e o resultado disso é um jogo de ação 2D satisfatório. Se você juntar todo esse lado “randomizer” à formula, o game consegue se tornar ainda mais divertido.
Summum Aeterna
Fabricante: Aeternum Game Studios
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: Ação / RPG / Roguelite
Distribuidora: Aeternum Game Studios
Lançamento: 14/09/2023
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Summum Aeterna is another fantastic roguelite. The title managed to incorporate all of its influences well and the result is a satisfying 2D action game. If you add this whole randomizer aspect to the formula, the game can become even more fun.