Stellar Blade – Review

A cada ano que passa, a indústria dos videogames se torna muito competitiva. Não apenas isso, mas o foco dos desenvolvedores no geral não têm sido em campanhas single-player narrativas. Nadando contra essa maré, a SHIFT UP, desenvolvedora coreana que apenas havia trabalhado em títulos mobile, nos oferece (com apoio da Sony) Stellar Blade.

Stellar Blade, como veremos a seguir, é um ótimo jogo de ação. É claramente inspirado em outros títulos do gênero, desde soulslike a hack and slashes. Mas será que consegue criar uma identidade própria?

Stellar Blade é um jogo de ação, mas possui grande foco em sua história. Se você jogou a demo, já tem mais ou menos ciência de como começa a aventura da protagonista EVE. Basicamente, a informação que temos é que a Terra foi devastada por criaturas chamadas Naytibas. Com isso, há uma Colônia no espaço que é o refúgio da humanidade e justamente de onde EVE vem.

Após deixar a Colônia, EVE, membro do 7º Esquadrão Aéreo, chega às ruínas desoladas do nosso planeta com uma missão muito clara: reconquistar a Terra para salvar a humanidade dos Naytibas.

A premissa inicial é bastante simples, mas logo você notará que a história não é o que parece. De uma forma geral, é um enredo com começo, meio e fim; tudo bem explicado e de forma que prende o jogador a entender o que vai acontecer em seguida. Mas é também bem previsível.

Não digo que você já vai saber o fim do jogo estando na metade dele, mas quando acontece algo na trama, se torna óbvia a próxima etapa. Não que isso seja ruim, mas uma história previsível pode se tornar monótona em alguns momentos.

A campanha de Stellar Blade não é longa. Se você se focar apenas nas missões principais, pode levar em torno de 10 a 15 horas para terminar, ou até menos, dependendo do quão rápido você for. No entanto, Stellar Blade oferece vários conteúdos paralelos e inclusive múltiplos finais. Portanto, esse número vai mais do que dobrar, dependendo do quanto você deseja investir no game.

Em minha experiência, levei 31 horas jogando Stellar Blade para escrever este review. Finalizei a campanha e todas as missões paralelas. Faltaram colecionáveis, no entanto.

A estrutura de Stellar Blade é algo que parece confusa à primeira vista, mas logo que você chega na cidade de Xion, começa a ficar claro como funciona. Basicamente, Xion, que é uma cidade onde residem humanos e é uma das únicas na Terra, serve como um hub em sua jornada. Haverá vários personagens e lojas para interagir, além de muitas missões paralelas e pedidos a serem concluídos.

Portanto, até mais ou menos metade do jogo, você usa Xion como um local central para acessar outras áreas mais perigosas, com inimigos e desafios a serem vencidos. Então, você sempre conclui algo em uma área ao redor e depois retorna a Xion.

As missões paralelas costumam ser simples, como coletar um item ou eliminar um chefe específico. Normalmente, elas não acrescentam nada à história, mas o gameplay ao menos não é ruim, como dito muitas possuem chefes próprios em seu final, algo que honestamente não esperaria. Há algumas missões em específico que dão mais vida a determinados NPCs, mas eles não participam da história principal, portanto é realmente algo paralelo.

Os pedidos que foram citados antes são coisas ainda mais diretas que as missões paralelas, como eliminar 10 tipos de um monstro ou coletar um item em uma região. Esses pedidos são registrados em um painel, como se fosse uma “quadro de missões” de um RPG comum.

A ambientação de Stellar Blade é muito boa, com ótimos gráficos a 60 quadros por segundo constantes. Há muitos momentos muito bonitos, como uma cena que ocorre no espaço. Mas devo admitir que os ambientes que exploramos ao longo da campanha acabam sendo um pouco repetidos. Basicamente, ou é um deserto, ou uma cidade destruída pelo tempo ou é dentro de uma instalação. Há momentos que saem disso, mas a maior parte será assim. Pessoalmente, como estamos falando de uma Terra devastada, faz sentido, mas se você se incomoda com ambientes similares, pode se decepcionar um pouco.

Stellar Blade possui muitos itens e colecionáveis. Há recursos como o dinheiro e diversos tipos de itens específicos para a construção de outros, assim como munição para o seu drone. Um dos colecionáveis é no mínimo engraçado: latas de diversos tipos, sejam de cerveja ou refrigerante/suco. Além de EVE pegá-las em uma forma de “personagem de videogame”, essas latas estão bem escondidas ao longo de sua jornada.

Há um único problema em relação aos colecionáveis: Stellar Blade é um jogo que só permite criar um único save. Não tive coragem de testar o “Novo Jogo” após concluí-lo para ver se cria um novo save ou se sobrescreve o que você tinha, mas desconsiderando a opção de Novo Jogo do menu, só há um save e todos os salvamentos são automáticos. Então qualquer decisão “errada” que você tomar… “senta e chora”. Não há o que fazer a não ser aceitar o seu destino.

Isso é um pouco complicado em um jogo com múltiplos finais e “ponto de não retorno”, porque força o jogador a tomar uma decisão e não poder ver o outro resultado a não ser carregar o save da nuvem (PS Plus; se tiver como) ou jogar um novo jogo. Dito isso, e retornando à conversa dos colecionáveis, o que quero dizer é que você não pode fazer o conteúdo paralelo após finalizar a campanha, é preciso fazer tudo à medida que vai surgindo, pois dificilmente haverá outra oportunidade. Pessoalmente, isso é ruim para um jogo atual. Gosto quando o jogo permite fazer o conteúdo paralelo em meu ritmo ou completar tudo o que sobrou após terminar a história. Quando o jogo dita para mim o conteúdo paralelo, meio que se torna um conteúdo obrigatório e não exatamente paralelo.

Um dos focos de Stellar Blade são os trajes. Há dezenas dele e, a princípio (ao menos o que notei) todos são puramente cosméticos. E sim, há trajes bastante sensuais, mas também há comportados para todos os tipos de gostos.

Não me importo com a sensualidade de EVE, inclusive ao jogar sempre colocava os trajes mais expostos que possuía. É até engraçado ver uma exímia espadachim lutando monstros vestida de coelhinha da Playboy. Mas uma coisa que me incomodou um pouco é a sensualidade de Lily. Lily é uma personagem de suporte na história que acompanha EVE (e Adam), fornecendo melhorias mecânicas e outros tipos de upgrade. Não encontrei a idade da personagem nas informações do jogo, mas sensualizá-la é estranho.

Além dos trajes, temos opções de óculos, brincos e do drone em si para customizar também. Apesar dos trajes não fornecerem mudanças no gameplay, há duas mecânicas distintas que alteram bastante isso.

Essas mecânicas são as chamadas Exoespinha e Componentes. O primeiro é mais amplo e afeta mais o seu estilo de jogo. Por exemplo, você pode aumentar o dano das Habilidades Beta ou facilitar a Esquiva/Bloqueio Perfeitos. Já o segundo é mais específico, com situações como aumentar o escudo ou diminuir o dano recebido de corpo a corpo. No começo, há pouco espaço para esses itens, mas no fim da jornada há um total de dois para a Exoespinha e quatro para o Componente.

Para entender melhor os termos acima, é preciso explicar o gameplay de Stellar Blade. Como citado no início, Stellar Blade busca inspirações em vários jogos. Em um vídeo dos bastidores, a própria desenvolvedora cita jogos como God of War, Sekiro, Dark Souls, Devil May Cry e Bayonetta. De fato, é clara a inspiração em soulslike. Existe um jogo que me veio em mente sempre que jogava e é a comparação perfeita: Star Wars Jedi (Fallen Order ou Survivor). Você considera o jogo da Respawn um soulslike? Se sim, Stellar Blade também é um.

O gameplay de Stellar Blade é simples e direto: quadrado é um ataque rápido, triângulo é um ataque mais lento mas mais forte, X pula e O desvia. Segurando L1, você defende. Tanto a defesa quanto o desvio, se forem executados em momentos específicos do ataque do oponente, ocasionam o “perfeito”, ou seja, um parry no caso da defesa e um desvio invulnerável para o desvio.

Enquanto segura o L1, você pode executar as Habilidades Beta. São habilidades bastante poderosas que causam bastante dano nos oponentes. Para usá-las, é preciso ter a Energia Beta – a qual é obtida atacando os inimigos ou realizando o parry. Mais para frente no jogo, você destrava as Habilidades Explosivas. São mecânicas similares à Beta e executadas com R1, mas são mais poderosas e para usá-las, adivinhe, é preciso ter Energia Explosiva que é obtida desviando com perfeição.

Essas mecânicas no L1 e R1 são cruciais em Stellar Blade. Todas elas, assim como outras opções do gameplay, são aprimoradas em uma árvore de habilidades.

Há mais mecânicas no combate que não queremos nos aprofundar para que você mesmo descubra jogando, como um “rage do Kratos” no L3 + R3 (obviamente não possui esse nome; não queremos dar spoiler de seu nome verdadeiro).

O combate de Stellar Blade parece simples à primeira vista, mas é bem profundo. Tanto os inimigos quanto EVE possuem um escudo além de vida. Pense o escudo como o “atordoamento” de Final Fantasy VII Remake: todos os ataques que você dá no inimigo diminui tanto a vida quanto o escudo dele. E quando o escudo terminar, seus ataques causarão mais dano a ele. O oponente pode recuperar o escudo de diferentes formas, seja pelo tempo ou porque o combate é programado dessa forma. A lógica do escudo é a mesma para EVE.

Apesar de EVE só utilizar sua espada em todo o jogo, há um momento em que o Drone que a segue pode ser usado como arma de fogo (no L2) com diferentes tipos de munição (atire com R2). Há até mesmo sequências na jornada que somente o Drone pode ser usado, o que o força a aprender a usá-lo corretamente.

Por fim, o D-Pad para cima cura EVE (há tanto poções que você recupera em pontos de descanso, quanto compradas em loja) e para baixo usa alguns itens como granada ou minas no combate. Fora dele, o único item que será usado nessa opção é a vara de pesca. O minigame de pesca é bem simples e divertido. Além de abusar das funcionalidades do DualSense, não é monótono.

Como pode ser visto, o combate de Stellar Blade é bastante variado e muito bom. Mas há alguns pontos que decepcionam. Primeiramente, e o mais óbvio, é que muita coisa demora para ser destravada, como as Habilidades Explosivas e o Drone.

Mas há um ponto em que me incomodou demais, seja com o jogo finalizado ou quando aproveitei a demo: o desvio. A precisão necessária para conseguir a Esquiva Perfeita é extremamente exagerada. É uma janela minúscula. Não estaria reclamando disso se o Bloqueio Perfeito, ou seja, a outra opção defensiva de EVE, fosse tão fácil de executar. Em outras palavras, é muito mais seguro e garantido defender e arriscar fazer um parry do que tentar desviar para obter a Esquiva Perfeita. Não faz sentido a janela desses dois, que são mecânicas teoricamente similares, ser tão diferente.

Outro ponto problemático do combate é que parece não existir um balanço entre as habilidades de EVE. A Habilidade Beta localizada no quadrado é extremamente poderosa para usar em um único inimigo, enquanto que a do triângulo ajuda a combater quando há mais de um ao seu redor. O restante no X (que é mais defensiva) e O (para longa distância) quase não usei, considerando o quão bom são as outras duas. E a mesma coisa é válida para as Habilidades Explosivas.

Não digo que se tornam habilidades inúteis, mas como tudo utiliza o mesmo recurso, meu gameplay sem dúvida foi uns 85% da Habilidade Beta no quadrado, uns 10% do triângulo e 5% dos outros dois – que foram usados ou de forma acidental ou “para vê-los”.

Por fim, na demo houve muita reclamação de um “input delay”, ou seja, uma demora para a resposta aos comandos executados. O jogo final continua similar, mas é uma coisa que você se acostuma, sinceramente.

Stellar Blade está localizado em português do Brasil, inclusive dublado. O trabalho de Bruna Matta como EVE está muito bom, assim como o de Isabella Guarnieri como Lily.

No fim, Stellar Blade é uma ótima experiência single-player narrativa. O gameplay é muito divertido (apesar de ter alguns pontos no combate e conteúdos paralelos que poderiam ser aprimorados) e o mundo criado pela SHIFT UP é sensacional. Não há problemas técnicos (é um jogo bastante polido, não sofri nenhum travamento ou até mesmo bugs) e sua duração poderia ser maior (no caso a história principal), mas há conteúdo e desafio de sobra para todos os jogadores.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Sony Interactive Entertainment.