Star Ocean: The Divine Force – Review

É sempre bom ver um novo Star Ocean sendo lançado. Em se tratando de uma franquia tão influente, cuja implantação de mecânicas de combate em tempo real ajudou bastante a definir os rumos do que hoje tradicionalmente conhecemos como RPGs de Ação, nascido do talentoso grupo de desenvolvedores responsáveis pela criação da franquia Tales, SO vem tendo uma complexa e conturbada existência desde a fusão com a Square.

Embora pioneira e relativamente única em sua ambientação espacial, fortemente influenciada por Star Trek, a Square Enix nunca pareceu realmente saber como lidar com um dos principais itens que passou a fazer parte do seu portfólio. Enquanto Dragon Quest segue sendo tratada com toda reverência e paixão que merece, Star Ocean se viu relegado a jogos de menor orçamento, jamais alcançando o mesmo nível de investimento e, consequentemente, ambição vistos até Till the End of Time.

Quando os jogadores se viram diante da tragédia que foi Star Ocean: Integrity and Faithlessness e a subsequente mudança da franquia para mobile com Anamnesis, o fim parecia próximo. Mas, muito como a ave mitológica que inspirou o nome da sua publisher original, SO segue se recusando a morrer, retornando agora, seis anos após o seu último título para consoles, com Star Ocean: The Divine Force.

Star Ocean: The Divine Force

Desenvolvido pela tri-Ace, The Divine Force é um jogo que se inspira bastante nos jogos anteriores da franquia ao mesmo tempo em que tenta remodelar o que o futuro dela pode oferecer. Ele traz de volta algumas das ideias mais bem quistas do seu passado enquanto tenta implementar alguns novos sistemas que jamais poderiam existir em consoles mais antigos.

Um dos principais retornos ao passado é o sistema de dois protagonistas. Ausente desde The Second Story (e, consequentemente, seu remake Second Evolution), ela faz o seu retorno um tanto quanto triunfal ao contar a história pelo prisma de dois protagonistas bem diferentes, o mercador especial Raymond Lawrence e capitão da nave Das, e a princesa do reino de Aucerius, Laeticia Aucerius.

A perspectiva através do qual o jogo é visto varia a depender do protagonista escolhido varia bastante, mas o cerne da história ainda é o mesmo. Após ter sua nave atacada, Raymond se vê preso em Aster IV, um planeta primitivo composto de vários reinos e impérios, dentre eles, o de Aucerius.

Star Ocean: The Divine Force

Raymond logo é abordado por Laeticia e seu guarda-costas, Albaird Bergholm, que o salvam de um ataque de criaturas hostis no planeta. Laeticia e Albaird acabam concordando em acompanhar Ray em sua busca por uma das outras naves de fuga que caíram em Aster IV, na qual ele acredita que uma das suas subalternas, Chloe Kanaris.

Não tendo êxito em sua busca inicial, mas tomando posse de um misterioso item chamado D.U.M.A., o visitante espacial e os guerreiros locais decidem entrar em um acordo mútuo para se auxiliarem em suas respectivas buscas e acabam se envolvendo em um plano para salvar não só Aster IV, mas o próprio universo de uma ameaça vinda da mais inesperada de todas as fontes: a própria Federação Pangalática.

Apesar de não entregar a narrativa mais criativa e revolucionária do mundo, Star Ocean: The Divine Force tem muito sucesso por se ater àquilo que ela faz de melhor: seus personagens. Logo de cara fica bem perceptível que a equipe acertou na dinâmica entre o brincalhão Raymond, o extremamente sério Albaird e a responsável mas leve Laeticia, com cada um deles se trazendo algo para a sua equipe inicial e se desenvolvendo de forma muito-bem vinda.

Star Ocean: The Divine Force

Todos eles têm seus próprios objetivos e missões pessoais, mas conseguem evitar cair (muito) dentro dos já esperados clichês, especialmente com os protagonistas. Raymond foge do esperado padrão de brincalhão e responsável, sendo motivado por um forte senso de compromisso com sua equipe. Laeticia se mantém um pouco misteriosa, mas ficam claras as suas boas intenções e coração doce.

Os personagens secundários também executam bem suas tarefas, fugindo das armadilhas de se tornarem meras ferramentas para avançar o plot, se sustentando e cativando os jogadores por si só. Cada um deles tem seu espaço para brilhar e razão de existir, algo muito bem explorado através do sistema de Private Action da série, no qual as interações individuais dos personagens ajudam a moldar o relacionamento entre eles de forma mais crível.

A história principal também é muito boa, ainda que essa sim acabe caindo muito no clichê do que se esperaria da série. O fato de ser mais preso ao mundo de Aster IV permite que ela se desenvolva melhor e cada ação tenha um peso, sendo possível ver o impacto que eles têm naquele mundo. É um pouco decepcionante que ele não seja tão voltado para uma Ópera Espacial quanto outros jogos da série, mas o misto de ficção científica com fantasia medieval traz um sentimento único a experiência que é, num todo, muito divertida e que faz valer a pena por si só jogar The Divine Force.

Star Ocean: The Divine Force

Gameplay é outro ponto no qual o jogo brilha e que merece ser destacado. Star Ocean foi um dos pioneiros em trazer ação para os JRPGs e aqui os seus sistemas tradicionais brilham. O jogador pode mapear diferentes habilidades para quadrado, triângulo e círculo, com total liberdade para montar seus combos, incluindo os chamados Chain Combos, que podem ser usados um mero botão e são a forma mais rápida de ativar habilidades ao invés de usá-las individualmente.

É claro, nada disso é feito livremente sem qualquer tipo de limitação. Cada técnica, sejam elas Special Arts ou Semiomancy (nome dado aqui para Symbology) tem um determinado custo de AP, ou Action Points, com o jogador tendo que ficar um tempo sem executar ataques caso esvazie a sua barra de AP. Eles se enchem rápido e podem ser manipulados a depender da forma como você luta, com pontos sendo adicionados em caso de ataques surpresas, por exemplo, ou reduzidos como punição por ataques de inimigos.

O grande diferenciador em combate aqui é o D.U.M.A. Ao usá-lo, o jogador pode usar ataques especiais de alta velocidade, como o VA Attack que te permite planar e voar em direção ao inimigo (com as habilidades variando de personagem para personagem), obter escudos especiais que o protegem de ataques, Blindsides, que são ataques no ponto cego do inimigo que o deixam paralisado por um curto período de tempo, ou até mesmo rastrear de onde os próximos ataques em sua direção virão.

Star Ocean: The Divine Force

Por fim, uma das principais vantagens do D.U.M.A. é a possibilidade de voar. Com isso, você poderá encontrar posições mais vantajosas em combate, além de explorar melhor as vastas áreas que o jogo apresenta. Ao contrário dos apertados corredores de Integrity and Faithlessness, The Divine Force traz áreas abertas exploráveis que, se não chegam a ser um mundo aberto, fazem a implantação desse sistema de voo muito bem-vindo. Ele ainda te permite acessar áreas específicas para encontrar importantes itens ao redor do mapa (incluindo usando o scan dele), tesouros e gemas que podem ser utilizadas para melhorar as habilidades do robozinho.

São sistemas simples, mas que fazem um mar de diferença para tornar The Divine Force um jogo muito superior ao seu antecessor. Mesmo outros sistemas tradicionais da franquia, como a criação de itens, o sistema de talentos e a árvore de evolução de personagens é tão bem implantada e te dá uma liberdade tão grande de personalização e evolução que fazem com que a experiência seja muito mais próxima do melhor que a franquia tem a oferecer.

Mas, infelizmente, nem tudo aqui é um mar de rosas estreladas. Pelo quão bem o jogo executa os elementos mais básicos de um bom JRPG, ele falha miseravelmente em algo essencial para um jogo em 2022: sua performance é sofrível. Independente se jogar no modo de qualidade ou performance, o jogo tem uma série de limitações que demonstram que a Square Enix não parece confiar na série o suficiente para investir nela da forma que seria necessário para executar a sua constante ambição.

Star Ocean: The Divine Force

Quedas de framerate são constantes, tanto durante a exploração quanto, principalmente, durante o combate, onde eles se demonstram muito mais graves. Para um combate tão rápido e intenso, onde o jogo não tem qualquer transição entre exploração e batalhas, a precisão é fundamental e falhar em uma esquiva porque o jogo teve um slowdown brusco é muito frustrante.

Também não ajuda que, mesmo contando com cenários bonitos e um tanto quanto únicos, o jogo conte com modelos de personagem visualmente bem limitados. Embora a maioria dos seus personagens tenham um design bem único e interessante, vê-los dentro do jogo é algo meio decepcionante, especialmente pelo jogo ser todo renderizado na própria engine, sem CGs fantasiosas compensando pelo resto. Dito isso, cabe se elogiar a qualidade da dublagem e o fato do jogo praticamente não ter linhas de diálogo não-faladas, evitando cair na armadilha de personagens insuportáveis tão comuns nos últimos dois jogos da série.

Dito tudo isso, o quanto você irá aproveitar Star Ocean: The Divine Force depende muito do quanto você gosta da série e da sua proposta. Enquanto alguns o compararão negativamente ao jogo mais recente da série cuja linhagem deu origem a esta, em momento algum ele me parece ter a mesma ambição vista ali. Ele só tenta ser um bom Star Ocean e, apesar dos graves problemas técnicos, caso você consiga ignorá-los, irá encontrar um jogo que faz jus ao nome que carrega e deverá agradar aos fãs dela.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.

Veredito

Star Ocean: The Divine Force é tanto uma carta de amor ao que a série já foi um dia quanto uma reflexão sobre o que o futuro dela pode vir a ser diante das capacidades técnicas das plataformas atuais. Enquanto a história e gameplay empolgam e trazem uma inesperada profundidade, o seu potencial acaba sendo bastante restrito graças a uma série de limitações técnicas enfrentadas por ele.

80

Star Ocean: The Divine Force

Fabricante: tri-Ace

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: RPG / Ação

Distribuidora: Square Enix

Lançamento: 27/10/2022

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Star Ocean: The Divine Force is both a love letter to what the series once was and a reflection on what its future might look with the power of current gen consoles. While the story and gameplay excite players and bring an unexpected depth, it falls short of its potential thanks to its technical limitations.