Adaptar jogos de estratégia para consoles é sempre um desafio à parte. Nascido, expandido e consolidado como um dos gêneros mais intrinsecamente ligados aos PCs, dada a sua complexidade, transportá-los para plataformas com menos botões disponíveis e sem a precisão e intuitividade do uso do mouse para se mover pela tela de jogo (e mover suas unidades), por melhores que fossem os jogos, a experiência com um controle na mão sempre deixou a desejar.
E, por mais que as coisas tenham se tornado melhores ao longo dos anos com a evolução dos consoles, afinal muito se caminhou desde os tempos de SimCity 2000 no PS1 ou Dune II no Mega Drive, todo lançamento ainda é uma caixinha um tanto mista do que se pode efetivamente esperar, com seu próprio conjunto de desafios únicos para apresentar ao jogador.
É nesse cenário que temos o lançamento de Spellforce: Conquest of Eo, novo jogo da Owned by Gravity e publicado pela THQ Nordic. Marcando o aniversário de 20 anos da franquia, ele combina dois elementos que costumam tornar esse estilo de jogo mais palatável para jogadores de console, apresentando um bom misto entre Estratégia por Turnos e RPG Tático.
Spellforce é mais uma das séries que a THQ Nordic vem tirando da sua hibernação forçada desde que a publisher retornou das cinzas. Lançado na esteira do sucesso de Spellforce 3 de 2017 e suas expansões, Conquest of Eo se afasta das raízes de Estratégia em Tempo Real (com uma certa pitada de Diablo) que eram muito fortes em Spellforce 3 para trazer algo realmente mais adequado para consoles e que ainda assim é um estilo que casa bem com PCs.
Dessa forma, a adoção de um estilo de Estratégia por Turnos bebe um pouco da fonte mais famosa do gênero: a série Civilization. Com isso, há uma certa sensação de que se está jogando algo que tenta simplificar o notoriamente complexo gênero de 4X (incluindo aqui os mapas divididos em hexágonos), casando-o com uma exploração em que você pode mover o personagem pelo mapa e um combate que te dá um controle direto sobre as ações de cada unidade, muito como num RPG Tático.
O principal foco aqui é a campanha. Nela você poderá escolher um entre vários aprendizes de mago cujo objetivo é dar sequência ao trabalho iniciado por seu mestre. Para isso, você precisará enfrentar os outros magos da entidade conhecida como The Circle, explorar Eo coletando recursos e aumentando seu poder e, no fim das contas, tentar assumir o controle do recurso mágico mais poderoso da franquia, a essência de poder conhecida como Allfire.
O quanto você irá tirar da narrativa dependerá muito do quão integrado ao lore da franquia ou o quanto você está disposto a ler os documentos extras apresentados ao longo da campanha. Caso você não queira mergulhar nas entranhas mais misteriosas de Eo, a campanha funciona como uma interessante e eficiente apresentação aos sistemas de jogo e consegue manter as coisas andando de forma satisfatória.
Portanto, apesar do jogo se vender muito como um RPG, não espere dele a mesma quantidade ou qualidade narrativa que estamos acostumados a vincular ao gênero. Ela é meramente útil e nada muito além disso. O foco aqui é claramente outro e por mais que a ambientação seja bastante interessante, não há nada de muito memorável em termos de história ou personagens.
Cabe dizer aqui que, além das missões principais que irão manter a história fluindo e a campanha avançando, existe uma quantidade até bem considerável de missões secundárias. São objetivos que você obterá ao longo da exploração para ajudar diferentes pessoas e facções ao redor do mundo, geralmente sendo necessário coletar certos recursos ou derrotar inimigos específicos para completá-las.
Se a história é secundária, o ponto de destaque aqui fica por conta do gameplay. Ele é dividido, essencialmente, em duas fases distintas, uma de estratégia e outra de combate. A primeira fase, que é mais voltada para a estratégia, coloca o jogador para mover seu mago por um mapa dividido em hexágonos onde você irá explorar o mundo, encontrar novos personagens, recrutar novas unidades, coletar recursos e eventualmente entrar em combate.
A principal diferença aqui fica pelo fato de que você não possui uma base fixa para a qual retornar. Ao contrário, sua torre acompanha o seu mago. E, embora isso a coloque sobre maior risco de ataque dos inimigos, ela pode ser usada para criar novas estruturas para captar recursos, melhorar suas unidades, incluindo dando acesso a novas classes, e curá-las. Gerir a posição da sua base, coleta dos recursos necessários e suas unidades é o principal desafio de Spellforce: Conquest of Eo e um cujo balanço de complexidade e acessibilidade é bem feito.
A complexidade, é claro, não fica restrita à forma como você irá gerenciar suas unidades e torres. Cada um dos diferentes magos possui um tipo de poder distinto, unidades distintas que podem ser desbloqueadas e, naturalmente, abordagens completamente distintas tanto para exploração quanto para as batalhas. Inicialmente você terá acesso a um Necromante, um Artífice e um Alquimista, todos bem distintos entre si, mas irá desbloquear novos tipos de magos ao longo da sua jornada, havendo um grande incentivo para se jogar a campanha múltiplas vezes.
Aqui cabe um elogio específico para a versão de console. Embora não seja a forma mais eficiente ou intuitiva de se jogar um jogo de estratégia, Conquest of Eo é muito bem adaptado a limitação de comandos que o DualSense oferece. É claro, você ainda irá se bater às vezes com o controle e nem todas as opções são facilmente acessíveis, mas foi feito um trabalho muito bom dentro das condições impostas.
A segunda fase do gameplay são os combates e eles podem ser resolvidos de duas formas. A mais sem graça e objetiva é a auto-resolução, nas quais os encontros são resolvidos com base em probabilidade. A outra é realmente participar das batalhas. Cabe dizer que se recomenda muito a segunda opção, visto que é bem possível reverter resultados de batalhas nas quais você não tinha uma previsão de resultado favorável e elas todas são muito rápidas e curtas de se resolver.
Durante o combate propriamente dito você verá os dois grupos de unidades dispostos em lados distintos de um mapa de batalha, podendo mover suas peças no seu turno e realizar ações dentro de uma quantidade restrita de AP. Unidades possuem ataques comuns e habilidades especiais específicas, além de poderem usar itens de ataque ou defesa e se defenderem de inimigos. É um estilo de batalha de RPG Tático bem simples e intuitiva mas que funciona dentro do contexto do jogo.
Do ponto de vista estético, não espere nada de muito especial vindo de Spellforce: Conquest of Eo. Ele funciona e há uma visual legal e bem feito de fantasia medieval clássico, mas nada que não tenha sido visto anteriormente. Onde o jogo falha realmente é no seu áudio, com uma trilha sonora bem simples e praticamente nenhuma dublagem, o que acaba tornando a experiência mais pobre.
No geral, se você é fã de RPGs de Estratégia e busca algo novo e diferente nos consoles, Spellforce: Conquest of Eo é uma opção interessante e bem-vinda que irá te entregar uma experiência satisfatória. Não é nada revolucionário, mas deve satisfazer a ânsia dos fãs mais carentes do gênero.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela THQ Nordic.
Veredito
SpellForce: Conquest of Eo é uma divertida mistura entre RPG e Estratégia por Turnos que deverá agradar aos fãs mais aficionados pelo gênero e entrega um ponto de entrada acessível a curiosos, ainda que deixe um pouco a desejar em certos pontos.
Spellforce: Conquest of Eo
Fabricante: Owned by Gravity
Plataforma: PS5
Gênero: Estratégia
Distribuidora: THQ Nordic
Lançamento: 07/11/2023
Dublado: Não
Legendado: Não
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
SpellForce: Conquest of Eo is a fun mix between RPG and Turn-Based Strategy that should please the most passionate fans of the genre and provides an accessible entry point for curious ones, even if it stumbles at certain points.