SINce Memories: Off The Starry Sky é o primeiro jogo da série japonesa Memories Off, uma franquia de visual novels que começou em 1999 e que entre jogos principais e spin-offs, já recebeu mais de dez títulos. Sob o comando da Mages (antiga 5pb.) desde 2007, apenas em 2024 estamos recebendo um jogo da série no Ocidente, a cargo da PQube, empresa que vem localizando jogos da Mages há bastante tempo.
Os jogos da franquia Memories Off são visual novels focadas em histórias baseadas mais na realidade, com personagens que enfrentam traumas e conflitos em suas vidas, além do romance que surge na juventude e como cada um vai lidar com a trama principal.
Em SINce Memories: Off The Starry Sky, a gente acompanha Junya, um jovem universitário que também ajuda na empresa de faz-tudo de seu pai, juntamente da sua irmã mais nova, Misora. O início do jogo traz o grande evento que acaba ligando Junya com todos os personagens da trama: o acidente de carro que sofreu alguns anos antes e que tirou a vida de seu irmão mais velho, Takaya.
Mesmo muitos anos após o acidente, Junya se encontra envolvido no mistério por trás do acidente, revivendo o trauma e precisando encarar a verdade por trás da relação entre seu irmão, sua amiga de infância, Chihaya, e de uma nova personagem que surge um dia em suas vidas, Azusa, além de outras amigas que acabam sendo trazidas para a história.
O aspecto de romance do jogo é que Junya, através das escolhas durante a história, pode decidir com quem se aproximar, mudando também o rumo da narrativa e em quem o jogo irá focar a partir daquele momento. A trama principal, no entanto, acaba sendo desenvolvida nas rotas de Chihaya e Azusa, com a explicação de como elas estão relacionadas ao acidente de anos atrás.
Acho que aqui cabe anunciar a falha crítica de SINce Memories: Off The Starry Sky: o jogo é muito chato. Em uma década redigindo análises de vários jogos, e principalmente de visual novels, deve ser a primeira vez que uso esse termo para descrever um jogo, mas aqui elaboro o motivo por trás dessa crítica.
A trama principal parece inicialmente intrigante, mas os personagens que vão surgindo são bastante irritantes, principalmente Azusa, que surge um dia na empresa do pai de Junya, atacando o protagonista, sendo extremamente hostil e insultando ele usando o irmão morto. A história depois se encarrega de explicar a motivação da jovem em assumir esse tipo de atitude, mas não a ponto de justificar a irritação que ela causa no jogador.
As opções de romance são muito estereotipadas e cansativas. Junya acaba escolhendo entre duas amigas de infância, uma jovem estrangeira que pede sua ajuda num dia aleatório na universidade, uma idol japonesa que está se escondendo na cidade em que se passa a história, e é claro, com Azusa, a garota que entra na história de forma repentina e insuportável. A melhor amiga da sua irmã mais nova, e que gosta de Junya desde criança, que seria uma opção óbvia, não é incluída.
Os pensamentos de Junya, e até como os personagens tratam uns aos outros, é de fazer qualquer um se irritar. Todos eles andam em círculos, fazendo um xadrez 4D para não frustrar ou aborrecer uns aos outros, gastando precioso tempo de jogo, para no final, adivinhem, frustrar e aborrecer uns aos outros. Junya leva ao extremo o estereótipo de mídia japonesa de um jovem rapaz que atrai todas ao seu redor, porém não percebe e age como se nada estivesse acontecendo, frustrando todas sem exceção.
A arte do jogo, talvez, seja um ponto positivo. Não tem um traço característico, parecendo apenas mais do mesmo, mas pelo menos não tem nada grosseiro ou pouco refinado. Os cenários são bem desenhados, ainda que a ambientação numa cidade do interior do Japão faça com que os locais em que a história se desenrole sejam bem batidos.
O jogo é totalmente dublado em japonês, e a dublagem cumpre seu papel. O protagonista não é dublado, o que é até comum, fazendo aquele papel de protagonista silencioso. A localização, porém, é a segunda falha crítica que torna o jogo uma indicação quase impossível.
Para quem talvez não acompanhe o mercado de visual novels, a Mages é uma das maiores e mais renomadas desenvolvedoras no Japão, principalmente para consoles, e que passou muitos anos sem ter seus jogos traduzidos. Desde Steins;Gate no meio da década passada, só os jogos mais famosos, como os títulos da série SciADV, eram trazidos para o Ocidente.
Do ano passado para cá, houve alguma negociação entre a Mages e a PQube, que desde então anunciaram mais de quatro jogos para o Ocidente, sendo SINce Memories: Off The Starry Sky um deles. E todos, sem exceção, tem vindo com uma localização muito porca.
Em SINce Memories: Off The Starry Sky, no entanto, chega a um novo limite. Há erros frequentes de escrita, de adequação de gênero, palavras usadas fora de contexto, coisa que eu não via desde a década de 2000. Até outras empresas, que na época lançavam jogos com traduções desleixadas, desde então trataram de melhorar seu controle de qualidade e trazer algum asseio para seus trabalhos.
Mas não a PQube, infelizmente. A empresa nunca foi exatamente conhecida pela qualidade de localização em seus jogos, mas ela chegou num novo nível com SINce Memories: Off The Starry Sky. Foram vários momentos em que eu tinha que desligar o jogo e fazer outra coisa para não ficar irritado com sucessivos erros de escrita enquanto tentava engajar numa história que por si só já era bastante irritante.
Então acaba sendo essa a conclusão de tudo: SINce Memories: Off The Starry Sky é um jogo extremamente chato, com uma localização relapsa. Em alguns momentos, encontramos jogos ótimos, mas que tiveram pouco cuidado na sua localização, ou em outros, encontramos jogos medianos, mas que tiveram bastante carinho na sua tradução. SINce Memories: Off The Starry Sky é uma rara combinação de um jogo ruim com uma localização medíocre.
Jogo (versão de PS4) analisado no PS5 com código fornecido pela PQube.
Veredito
SINce Memories: Off The Starry Sky não só não traz uma história engajante, mas também entrega uma localização desleixada.
Veredict
SINce Memories: Off The Starry Sky doesn’t offer an engaging story, while also delivering a shoddy localization.