Acredito que Sherlock Holmes seja um daqueles personagens que muita gente conheça sem nem saber de onde veio. Seu nome é tão grande que mesmo que nunca leu um livro ou até mesmo tenha assistido algumas das adaptações de filmes e séries lançadas já nos anos 2000 vai saber exatamente de quem estamos falando, imaginar sua personalidade e pensar em seu bordão “elementar meu caro Watson“.
Há quase 20 anos, mais precisamente em 2002, tivemos o primeiro título de uma grande série de jogos de aventura investigativa do personagem de Sir Arthur Conan Doyle produzida pela Frogwares. Chegamos agora ao mais recente título da série, o nono lançamento da franquia, Sherlock Holmes: Chapter One. E como já é possível perceber pelo nome, este é o primeiro jogo da série em sua ordem cronológica, sendo uma excelente porta de entrada para quem nunca nem sabia que essa franquia existe (mas ainda assim nada que fosse mudar muito, já que os títulos são sempre independentes. Nem o chamaria de Prequel, mas de jogo de “origem”, um “como tudo começou”.
Sherlock Holmes: Chapter One conta a história do jovem de um jovem de 21 anos começando sua carreira de “detetive consultor”. Sherlock decide retornar para a cidade onde viveu sua infância, a ilha de Cordona, para visitar o túmulo de sua mãe e também sua antiga casa. Durante sua estada na cidade, se envolve na resolução de diversos crimes e também começa uma busca pela verdade por trás de diversos acontecimentos de seu passado que não consegue se recordar. Tudo isso ao lado de seu amigo de infância Jon. E não, não é o Watson.
Caso você tenha jogado algum dos títulos mais recentes (Crimes & Punishments ou The Devil’s Daughter) é bem provável que já reconheça o formato do gameplay, que mantém-se similar aos anteriores. Ainda assim, a evolução do que vimos em 2016 para agora é imensa. Seu livro de anotações possui um design em tela cheia mais lúdico e alguns comandos ficaram melhores de se usar. As mecânicas de Sherlock Holmes: Chapter One foram inspiradas no último jogo desenvolvimento pela Frogwares, The Sinking City. Em nossa análise chegamos a fazer algumas críticas na época e consigo perceber que para este título atual a sensação é de que pegaram o melhor da série de Sherlock Holmes com o pouco que deu certo em The Sinking City e colocaram nele. Excelente trabalho. Nada fica vazio, exaustivo ou ruim de jogar.
Uma outro inovação para Sherlock Holmes: Chapter One é o conceito de mundo aberto que foi implementado. Após o prólogo é possível já explorar toda Cordona logo de cara, descobrindo missões para aprender mais sobre a história da ilha, novos crimes ou alguma loja nova. O visual da cidade está lindo. Diversos detalhes foram colocados. É possível ler vários papeis colados em paredes, mostrando que tiveram um trabalho pesado em renderizar texturas. A performance ao andar pela cidade está muito boa no geral. Tive apenas algumas pequenas quedas de frame em momentos aleatórios, mas nada que afetasse minha jogabilidade. Como testamos antes do lançamento, já havia nos sido informado de que estavam cientes destes pequenos problemas de performance que seria corrigidos no patch de Day One.
Existem também algumas batalhas com armas durante o jogo. Não são tantas, lembrando que o jogo não é de ação e também não é focado nisso, mas as pouca que existem são divertidas. Acho que até se forem mais, seria ruim, pois a mecânica de atirar é simples e não existem muitas variações no que fazer nestes locais. É basicamente atirar no ponto fraco do inimigo, em seguida checar próximo dele e utilizar um comando para golpeá-lo e prendê-lo. Claro, também é possível só ir atirando para de fato matar os inimigos, porém Sherlock Holmes não é um assassino, e toda vez que você fizer isso irá perder pontos com Jon, além de também receber menos dinheiro ao terminar o combate (já que cada prisão te dá um certo dinheiro). Espalhados pelo mapa também existem covis de bandidos, locais que você pode entrar a qualquer momento para fazer uma rodada de batalhas, sendo uma ótima forma de se farmar dinheiro.
Outra coisa que também me fez sentir que as batalhas são repetitivas é a similaridade dos inimigos. Não há muita variação no design destes capangas genéricos, então a sensação é de que você está sempre lutando contra as mesmas pessoas. Um desses designs de rosto é tão comum que também vejo diversas vezes na rua. Sei que esse é um problema geral de jogos com mundo aberto que possua muitos NPCs, mas sinto que faltou algum tipo de detalhe para isso ser menos incomodo. Realmente é só com este grupo, já que na cidade de Cordona você encontra uma boa variação de pessoas, com diferentes de etnias, raça, gênero, nacionalidade, etc. Diversas vezes você precisa interagir com uma pessoa de um certo grupo social e existem boas diferenças entre elas para que você consiga identificar facilmente.
Não quero dar muitos detalhes da história para evitar spoilers e também estragar um pouco dos desafios do jogo, mas uma coisa que posso falar é que em Sherlock Holmes: Chapter One você encontra uma boa narrativa com um excelente desenvolvimento de personagem. É muito legal perceber não só a evolução de Sherlock do início até um dos diferentes finais possíveis, mas sim de diversas outras pessoas que tem sua história contada no título. A história principal te deixa curioso e, mesmo que em algum momento certas situações possam ser previsíveis, lembre que diversos casos possuem mais de uma opção de resolução, então não necessariamente o que era óbvio de fato precisa acontecer.
Explicando um pouco como funciona a estrutura de um caso de maneira genérica, primeiro você recebe algum tipo de evidência que irá iniciar o caso (a missão). Isso pode ser uma carta, documentos oficiais da polícia do caso, uma foto ou alguma informação aleatória. Com isso você provavelmente irá abrir seu mapa e fazer uma marcação no local indicado, para chegar lá e encontrar ou alguma pessoa para conversar ou um espaço para investigação. É importante coletar todas as pistas possíveis (o jogo irá avisar quando você coletar todas as evidências principais e também todas as gerais em cada ambiente) para liberar novos dialogo com suspeitos. Em alguns momentos você precisará usar o comando de concentração (R1) para perceber detalhes extras que uma pessoa comum não notaria a olho nu.
Após coletar tudo possível e conversar com todas as testemunhas/suspeitos do local, será o momento de sentar (ou deitar) no chão e recriar os fatos. Neste momento você controlará Jon para colocar as opções certas dos acontecimentos no local e assim entender o que ocorreu. Sherlock Holmes: Chapter One é um jogo de escolhas e muitas vezes não existe uma “resposta certa” para o que deve ser feito, porém, todas as recriações devem acontecer da mesma forma. Neste caso toda vez que você for validar o que montou e se não forem os acontecimentos corretos haverá uma mensagem informando para tentar novamente. Você só consegue prosseguir se escolher a combinação correta de situações. É interessante que mesmo com essa “obrigação” de ser sempre o mesmo acontecimento relembrado, muitas vezes isso ainda dá margem para múltiplas interpretações e suspeitos.
O título não possui dublagens, porém possui legendas e textos em português. Infelizmente há diversos problemas com a localização, que vão além de typos e erros de digitação. Em alguns casos existem palavras traduzidas erradas (como principle, que deveria ser princípio, traduzida como príncipe). Esse problema de tradução me fez demorar um pouco em uma missão onde dava a entender que deveria interagir com pessoas de uma certa descendência, mas em ao procurar estas pessoas elas estavam marcadas com outro termo. Acho que nas primeiras horas do jogo não encontrei erro algum, mas conforme fui avançando do fim, mais e mais palavras mal traduzidas fui encontrando.
Terminei Sherlock Holmes: Chapter One em cerca de 20 horas, já fazendo também as missões secundárias. Não cheguei com a platina ainda pois preciso refazer algumas missões com outras escolhas para pegar alguns troféus que ficaram faltando. Acredito que o tempo de jogo seja bom o bastante, pois muito mais do que isso poderia torná-lo exaustivo. Muitos jogos de mundo aberto são ficam cansativos em um certo momento pois colocam tanta coisa desnecessária para fazer e encher o mapa que você sente que não avançar com a história principal. Para quem ficou com gosto de quero mais, em breve teremos mais missões liberadas (através do passe de temporada). E que venha um possível Chapter Two em breve.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Frogwares.
Veredito
Sherlock Holmes: Chapter One é um grande acerto, sendo o melhor jogo do detetive feito pela Frogwares até o momento. A franquia conseguiu dar um grande salto para a nova geração sem perder sua essência, trazendo um título completo, coeso e divertido.
Veredict
Sherlock Holmes: Chapter One is the best Sherlock game made by Frogwares to date. The franchise managed to make a big leap to the new generation without losing its essence, bringing a complete, cohesive and fun title.