A onda de jogos como serviço é algo que veremos por algum tempo ainda. Exemplos não faltam para ideias que funcionaram, assim para as que não deram tão certo como esperado. De toda forma, não faltou também modelos e tentativas diferentes, o que acaba nos levando para Sea of Thieves e suas jornada de, até agora 6 anos, levar um mundo de pirataria para diversos jogadores.
Vindo da Rare, aquela mesma desenvolvedora de icônicos jogos da Nintendo na década de 90, Sea of Thieves é uma proposta de um jogo quase num estilo sandbox e, também, quase num estilo arena PVPVE. Apesar de soar confuso tentar explicar o que realmente o jogo é, a proposta apresentada é bem simples e funcional, ainda que tenha misturado estilos e decidido não se aprofundar em nenhum deles.
Seja seu próprio pirata e parta numa jornada em busca de qualquer tipo de tesouro possível. Solo ou com amigos, compartilhe um mundo com diversos outros piratas jogadores que podem mudar o rumo de cada viagem de várias formas possíveis. Sem níveis ou atributos, melhorias tradicionais, habilidades ou equipamentos dos mais diversos tipos, a ideia é entregar ao jogador suas ferramentas básicas e fazer uso de bastante interação para se tornar uma lenda dos mares.
Boa parte do que o jogo propõe é colocar o jogador para ser responsável por tudo sem muita automatização. Como exemplo, para velejar é preciso um ritual para embarcar e lançar seu navio, como levantar âncora, hastear o mastro, controlar direção das velas, acompanhar manualmente localização via bússola e mapa, sem muita ajuda e com essas ações tendo pesos e tempos que precisam ser compensados de certa forma. Confesso que vi isso como bastante positivo mesmo que com algumas ressalvas quando o jogo é aproveitado de forma sola, mas detalharemos isso depois.
Sea of Thieves deixa o jogador de forma livre para explorar e seguir sua jornada sem criar pontos de referência ou direções automaticamente. Como não há áreas ou inimigos que usam um sistema de níveis de dificuldade, desde o primeiro momento o mapa é livre e aberto para qualquer interação. Há histórias e eventos isolados que funcionam como missões, mas nenhuma cria uma campanha de forma tradicional. Jogadores são incentivados a entender o mundo, as facções que o compõem e o que cada uma delas oferece de recompensas caso decida auxiliar com suas requisições. Evolua sua afinidade com elas, ganhe novos itens e outras missões pelo mundo, aumente seu rank e, com mais dinheiro, tenha um visual cada vez mais único para seu pirata e seu navio.
Ao abraçar toda a fantasia de pirataria, encontramos diversas lendas e histórias que são representadas aqui. Esqueletos, fantasmas, mapas com tesouro marcados por um X, criaturas marítimas dos mais diversos tipos, ilhas com nativos agressivos ou vulcões ativos, locais característicos de lendas e mais vão estar presentes. Isso é extremamente importante para dar conteúdo e reforçar a ambientação do jogo, ainda que após diversas horas é possível achar que a falta de inimigos ou variedade comece a ser um problema.
Compartilhar momentos com seus amigos nesta grande arena é o maior trunfo do jogo e o grande acerto aqui. Reparar um buraco de bala com tábuas enquanto seus companheiros lidam com retirar a água com um balde enquanto outros ainda estão combatendo inimigos vai ser sempre motivo de risadas. Tudo isso acaba reforçando o quão o jogo é primariamente voltado ao cooperativo e competitivo em grupo, mas faz muito pouco para o jogador solo. Ainda que haja um modo apenas para você e seus amigos, sem outros jogadores, isso não melhora a situação e apenas retira do jogo o fator mais importante.
A falta do que poderíamos chamar de uma evolução dentro do jogo, como níveis e equipamentos, é suprida exatamente pelo fator cooperativo e como isso funciona mesmo na parte competitiva não opcional. É sempre importante ficar de olho em tudo, já que mesmo horas de buscas por tesouros pode acabar num resultado de nenhuma recompensa se você for abordado por outros jogadores e ter seus itens roubados. Apesar de parecer algo ruim, isso claramente faz parte e também justifica o título de um jogo de pirataria num mar repleto de outros ladrões de tesouros.
Uma grande parte do jogo, também justificado pelo modelo de jogo como serviço com base em temporadas, é o sistema de cosméticos existente. Tudo em questão de itens fora os essenciais de uso, como madeira para reparos ou comida para recuperar vida, é baseado em cosméticos sem qualquer efeito prático. Comparado com demais jogos que também se baseiam nisso, achei o sistema até mesmo agressivo de certa forma, ainda que entregue opções diversas e em grande quantidade. Sendo algo que, ao menos para mim, vai ser opcional e sem muita função, cabe ao jogador decidir se investe tempo e recursos nisso. Bom notar que a maior parte das recompensas das facções ou tesouros são para incentivar isso, seja mais opções de cosméticos ou dinheiro ingame para adquirir visuais diferentes para tudo o que for possível.
Um dos pontos que realmente me incomodou é a dificuldade em explicar ou se mostrar claro com informações em diversos momentos. Seja pelos menus, interface geral, modos de jogos e mais, falta um pouco de clareza para o jogador em assimilar bastante coisa de imediato. Obviamente é um jogo já com 6 anos de mercado e diversas mudanças ao longo do tempo, mas mesmo isso deveria deixar mais transparente as informações básicas para jogadores no início, como saber quando um barco é seu ou emprestado e em que modo de jogo isso se diferencia.
Liberdade de exploração e foco no cooperativo, além de uma jogabilidade simplificada, são os grandes trunfos aqui, mas não posso deixar de dar destaque para o estilo artístico do jogo e ótimo uso da Unreal Engine. Da parte técnica o jogo é praticamente impecável e só é possível pontuar pequenos loadings vez ou outra. Ainda que você possa dizer que é um título ainda da geração passada (originalmente do Xbox One) e que também não tem como objetivo qualidade visual de ponta, o resultado final aliado ao ótimo trabalho de arte é notável. O mais notável de tudo isso ainda vai ser a água, tanto na movimentação de ondas quanto do visual e efeitos ao velejar.
Algo de imensa importância aqui é realmente entender a proposta do título da Rare e comprar isso da maneira correta. Como já disse, o jogo é livre e de pouca exigência em muita coisa, garantindo uma proposta simplificada para um mundo de exploração sem muito empenho, mas com um PVP que pode ser mais agressivo. Adentrar esperando qualquer outra coisa além disso é um tiro n’água para suas expectativas que com certeza serão frustradas. Uma outra dica importante é não desistir do jogo apenas pela experiência de jogar solo, já que aproveitar assim não é indicado. Mesmo para a análise e com acesso antecipado, precisei esperar o lançamento oficial do título para entender melhor sua proposta e jogar com um amigo, o que me fez ter uma visão diferente do que realmente é.
Como um dos jogos da primeira leva do que a Microsoft e Xbox Game Studios estão levando a outros consoles, e principalmente pelo apelo multijogador, Sea of Thieves é uma boa opção de jogo quando seguindo a risca o que oferece e em companhia de outras pessoas. Com crossplay e milhares de jogadores pelo mundo todo, navegar e pilhar aqui é a melhor proposta de pirataria que temos no momento, representando bem o histórico de piratas na nossa história.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Xbox Game Studios.
Veredito
Sea of Thieves é uma boa adição ao catálogo de jogos para diversos jogadores de PlayStation no mundo todo. O próprio jogo vai se beneficiar de um aumento na base de usuários e mais interessados na proposta de multijogador da Rare. Apesar de nunca se aprofundar em nenhum aspecto do que propõe e ser uma experiência nada agradável para o jogador solo, a mágica do cooperativo e a liberdade de aproveitar o jogo sem muito compromisso são os grandes atrativos num novo mundo de pirataria.
Sea of Thieves
Fabricante: Rare
Plataforma: PS5
Gênero: Aventura / Arena
Distribuidora: Xbox Game Studios
Lançamento: 30/04/2024
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Sea of Thieves is a nice addition to the PlayStation’s catalog of multiplayer games around the world. The game itself will benefit from an increase in the player base and more interest in Rare’s multiplayer game. Despite never delving into any aspect of what it proposes and being an unpleasant single-player experience, the magic of cooperation and the freedom to enjoy the game without much commitment are the great attractions in a new world of piracy.