Scars Above – Review

Em obras de ficção científica, talvez não haja um tema tão abordado quanto a questão se estamos sozinhos no universo ou não. Ao longo dos anos, diversas histórias responderam  a essa pergunta das mais variadas formas possíveis. Algumas delas se tornaram clássicos da ficção científica e contribuíram por fazer deste gênero um dos mais populares até hoje. E por mais que esse tema possa parecer batido, é inegável que ele ainda seja capaz de produzir boas experiências. Scars Above é um bom exemplo disso.

Desenvolvido pela Mad Head Games e publicado pela Prime Matter, Scars Above é um jogo de tiro em terceira pessoa com temática sci-fi, focado na ação, exploração e superação de adversidades. Neste jogo, você assumirá o controle da Dra. Kate Ward, uma astronauta e cientista, membro do esquadrão SCAR.

A história começa quando um objeto alienígena aparece na órbita da Terra, deixando a humanidade em estado de alerta. Enquanto muitos entram em pânico por não saberem o que fazer, uma equipe especializada é treinada e enviada em uma missão com o objetivo de estabelecer contato com esse objeto, nomeado de Metaedro.

Após seis meses de intenso treinamento, finalmente chega o momento do lançamento da missão. Mas ao chegar próximo do seu destino, a nave da SCAR é surpreendida por uma espécie de poço gravitacional criado pelo Metaedro, que emite um pulso de energia, puxando a nave em sua direção. O impacto deixa Kate desorientada. E quando recupera sua consciência, ela percebe que foi transportada para um lugar desconhecido, uma espécie de planeta alienígena, sem que haja quaisquer vestígios de sua nave ou de sua equipe por perto.

Mesmo confusa, ela toma a atitude de sair para explorar o planeta em busca de respostas. Mas logo que começa a investigá-lo, se depara com uma aparição alienígena, que parece querer guiá-la através de seu subconsciente. Na esperança de encontrar pistas sobre o paradeiro de sua equipe, Kate decide segui-la. No entanto, conforme vai explorando mais afundo o planeta, ela começa a encontrar evidências de que algo terrível pode ter acontecido não apenas com seus amigos, mas também com toda a população daquele lugar.

Um bom jogo de ficção científica deve ser bem ambientado e, nesse ponto, Scars Above acerta em cheio. O planeta alienígena é misterioso, cheio de ameaças e apresenta características de ter sido habitado por uma civilização antiga, porém muito avançada. A trilha sonora é composta por elementos eletrônicos e sintetizados, dando ao jogo uma ambientação típica de clássicos do gênero sci-fi.

Ao longo da campanha você encontrará uma boa variação de cenários, passando por biomas como pântanos, planícies, florestas, cavernas e, até mesmo, instalações e laboratórios alienígenas. Cada uma dessas regiões oferece seus próprios desafios e segredos a serem explorados.

A exploração, aliás, é um dos pontos fortes de Scars Above. Kate é uma cientista na acepção da palavra e não medirá esforços para colher todas as informações necessárias para sobreviver neste ambiente inóspito. Seja obtendo informações para solucionar quebra-cabeças, pesquisando evidências do destino do planeta e dos membros de sua tripulação ou encontrando recursos para confeccionar melhorias para seu equipamento, explorar o mundo de Scars Above é muito satisfatório.

A progressão pelos mapas se dá sempre de forma linear. Mas a maioria das áreas possui caminhos adjacentes que, quando explorados, podem recompensar o jogador com aperfeiçoamentos para armas, dispositivos e consumíveis. A evolução de Kate também está ligada à exploração, já que não há ganho de pontos de experiência através do combate. Todas as habilidades devem ser adquiridas com pontos que são obtidos ao recolher informações de campo ou encontrando cubos de conhecimento espalhados pelos cenários.

A campanha é dividida em seis capítulos e pode ter a duração média de 10 horas. Isso tende a variar bastante, dependendo da dificuldade escolhida. Uma das principais características de Scars Above é propor uma experiência de sobrevivência e superação de desafios e, mesmo optando pela dificuldade Especialista, que corresponde ao modo normal, já é possível encontrar um nível de desafio capaz de agradar à maioria dos jogadores.

O combate se destaca como o ponto principal em Scars Above. A princípio, comparações com Returnal são até compreensíveis, mas com exceção ao fato de ser um jogo de tiro em terceira pessoa com temática sci-fi e uma protagonista feminina, Scars Above não possui muitas semelhanças com o jogo da Housemarque. O jogo funciona de uma maneira muito mais cadenciada e linear, e não apresenta nenhuma característica do gênero Roguelite. Se fosse para traçar um comparativo para tentar descrever melhor o combate de Scars Above, diria que ele está mais próximo a algo como Remnant: From The Ashes, sendo um jogo de tiro em terceira pessoa de ação, mas com alguns elementos dos jogos Soulslike.

A cautela deve ser sempre adotada ao avançar pelos mapas, analisando bem os ambientes e os conflitos, para traçar a melhor forma de enfrentá-los. Os checkpoints funcionam assim como nos jogos da From Software, onde o uso de itens é limitado e o progresso só pode ser salvo ao encontrar um ponto específico no mapa. No caso de Scars Above, esses checkpoints são representados por pilares que, ao serem encontrados, servirão para salvar seu progresso e também recuperar os itens de cura e de utilidades. Alguns atalhos podem ser liberados para facilitar seu acesso aos pilares e, ao morrer, você voltará para o último pilar ativado, com todos os inimigos reposicionados.

As armas e acessórios em Scars Above funcionam muito bem e a sensação de atirar é muito boa. O jogo conta com quatro armas principais, além de uma arma corpo a corpo, que podem ser aperfeiçoadas até mesmo para modos adicionais de disparo. Essas armas com design futurista têm como característica principal seu dano elemental, sendo divididas entre choque, fogo, gelo e ácido. Alguns inimigos possuem pontos fracos que, quando acertados com o elemento correspondente, resultarão em uma grande quantidade de dano adicional.

As armas também podem ser utilizadas para criarem combinações de dano, dando ainda mais vantagem ao jogador quando usadas da maneira correta. Por exemplo, você pode usar a arma de ácido para aplicar um efeito de toxidade ao inimigo e logo em seguida atirar com a arma de fogo, criando um combo químico e causando um efeito acumulativo de dano. Também é possível tirar vantagens dos cenários com suas armas, como no caso do mapa do pântano ou da neve, onde muitos inimigos estarão em estado molhado, favorecendo o uso da arma de raios.

Os acessórios também são de grande valia em Scars Above e complementam muito bem o combate do jogo.  A começar pelo scanner de Kate, que vai servir para analisar todo o ambiente em busca de pontos fracos nos inimigos, itens de upgrade e munição. O escudo concede a Kate uma proteção adicional, podendo ser determinante ao decidir o curso de uma batalha. Uma granada aplicará líquido inflamável nos inimigos e, quando combinada com a arma de fogo, resultará em um dano elemental em área. A armadilha de gravidade prende os inimigos e os desacelera por um tempo, sendo excelente para controlar situações quando tiver que lidar com um grupo maior de inimigos. Ainda há uma espécie de holograma para distrair os inimigos, enquanto recua para recuperar vida ou recarregar sua arma.

Utilizar estes recursos depende de sua reserva de energia, fazendo com que seu uso seja limitado. Para recuperá-la é necessário repousar em um pilar ou consumir uma reserva de energia através de um recurso de fibras. Esse recurso pode ser encontrado pelos mapas ou ser recolhido dos inimigos abatidos. Além da recuperação de energia, também há consumíveis para curar seus ferimentos, se recuperar de efeitos adversos e para fornecer uma pequena reserva de munição. Isso faz do gerenciamento do uso de fibras algo muito importante em Scars Above, sendo fundamental para sua sobrevivência durante o jogo.

A sobrevivência, inclusive, é muito bem abordada em Scars Above. A inteligência dos inimigos é boa e a composição dos cenários contribui para tornar sua experiência mais desafiadora. Há sempre elementos nos mapas para atrapalhar seu progresso como, por exemplo, no mapa de neve, onde é necessário atirar com a arma de fogo em plantas espalhadas pelo cenário para criar pequenas fogueiras e evitar que pegue o status de hipotermia.

As lutas contra os chefes não são muitas, mas na sua maioria são bem elaboradas e requerem o uso de táticas específicas para serem superadas . Porém, no boss final é onde está uma das minhas críticas ao jogo, que acaba fazendo uso de uma reskin de um dos primeiros bosses, ao invés de trazer uma luta única como estava sendo indicado pela história. Isso pode até abrir espaço para que o jogo tenha uma sequência, mas também deixa sua conclusão com um gosto amargo, principalmente após as boas lutas com os outros chefes ao longo da campanha.

A parte técnica de Scars Above não apresentou maiores problemas. Mesmo o jogo não oferecendo a opção de selecionar entre os modos de resolução e performance, a taxa de quadros por segundo se manteve estável por quase todo o tempo. Algumas pequenas oscilações foram notadas em alguns momentos específicos, mas nada que afetou a performance em geral. Também foram encontrados alguns bugs de pop-in de texturas, mas a frequência dessas ocorrências também foi baixa. A parte gráfica apesar de boa conta com alguns problemas, já que as animações faciais deixam a desejar. Isso ocorre especialmente durante as cutscenes, onde é possível perceber um atraso na sincronização labial.

Mas esses detalhes negativos não foram suficientes para prejudicar a boa impressão que o jogo me causou. No fim, Scars Above é um jogo que entrega muito bem o que é proposto. Então, se você é fã de jogos de ficção científica, mas também aprecia jogos de tiro em terceira pessoa com um sistema de combate um pouco mais cadenciado e ao mesmo tempo desafiador, Scars Above definitivamente é um jogo que vale ser adicionado a sua biblioteca.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Prime Matter.