Sakura Wars marca o retorno de uma das franquias mais amadas e mais tradicionais do mercado de games japonês. Com quase vinte e cinco anos de bagagem, a Sega decidiu agraciar os fãs japoneses, e agora também fãs ocidentais, com um novo capítulo para uma série que não recebia um jogo principal desde 2005, ao passo que também tenta reiniciar a franquia com uma história para um novo público.
Sakura Wars teve seu início em 1996 no Sega Saturno, vindo de um ambicioso projeto entre a Sega, forte no mercado japonês após a sua ascensão, e a Red Company (agora Red Entertainment). Depois de alcançar um expressivo número de vendas para um jogo de gênero tão nicho como visual novel, recebeu uma sequência para a mesma plataforma apenas dois anos depois do lançamento do primeiro jogo, chamada Sakura Wars 2: Thou Shalt Not Die.
Após virar um fenômeno japonês, com direito a séries de anime, OVAs, merchandising e até mesmo peças de teatro, a Sega continuou a parceria com a agora chamada Red Entertainment, lançando Sakura Wars 3: Is Paris Burning? em 2001 e Sakura Wars 4: Fall in Love, Maidens em 2002, ambos para o Sega Dreamcast, sendo este último desenvolvido a toque de caixa devido à descontinuidade da plataforma pela Sega.
Três anos depois, a Sega decide dar outra chance à série, agora encontrando um novo lar no PlayStation 2, com Sakura Wars: So Long, My Love, quinto jogo da série, e até então o único a receber um lançamento ocidental em 2009 pela NIS America, com direito a uma versão exclusiva para o Nintendo Wii no Ocidente.
Com o passar do tempo, seja por conta dos fãs irem perdendo interesse na franquia, ou seja por conta da Sega não saber administrar direito a série enquanto passava por um período turbulento ao sair do mercado de hardware e não conseguir manter a relevância de alguns de seus jogos em outras plataformas, parecia que Sakura Wars se tornaria mais uma relíquia do passado.
Muitos anos depois, especificamente em 2018, a Sega decide anunciar, durante um festival próprio no Japão, um novo capítulo na série que até então estava engavetada, contando com apenas alguns spin-offs e aparições de seus personagens em outros projetos. Apesar dos sinais apontarem um jogo de baixo orçamento, talvez para plataformas mobile, um ano depois do anúncio, a Sega anuncia oficialmente o Projeto Sakura Wars, sendo desenvolvido para o PlayStation 4 pela própria Sega, sem o apoio da Red Entertainment, com direito também a versões em inglês para o Ocidente.
Agora chegamos na análise de Sakura Wars, como a Sega decidiu chamar este novo jogo no Ocidente, enquanto em seu lançamento japonês, ficou conhecido como “Shin Sakura Wars”, ou “Verdadeiro Sakura Wars”, já que costumam utilizar a palavra “Shin” para vários jogos no Japão, como “Shin Megami Tensei” ou “Shin Sangoku Musou” (Dynasty Warriors).
Sakura Wars conta a história de Seijuro Kamiyama, um jovem recruta militar que, após um ataque de demônios na embarcação que comandava, é transferido para a Flower Division do Imperial Combat Revue em Tóquio. Explicando em outros termos, esta é uma divisão encarregada de derrotar os demônios que ataquem a cidade de forma secreta, enquanto para o público, se apresentam em uma casa de teatro (Teatro Imperial) como um grupo de atores encenando peças.
Se passando numa Tóquio de 1940 em que o mundo sofre ataques de forças demoníacas e contando com avanços tecnológicos inauditos para a época, a história se passa exatamente dez anos depois de um grande ataque coordenado dos demônios, que acabou sacrificando as antigas equipes de Tóquio, Paris e Nova Iorque, equipes estas que apareceram nos jogos anteriores.
Esta é uma oportunidade do jogo “reiniciar” o curso da história, focando na nova equipe de Tóquio, comandada pelo protagonista Seijuro e chefiada por Sumire Kanzaki, a única sobrevivente da antiga Flower Division. Esta divisão, que antes era a promessa da nação e grande protetora da população, dez anos depois de todos seus membros serem dizimados e com novos membros, não consegue mais se manter relevante e corre o risco de terem as portas fechadas.
Aqui entra Seijuro, com a grande missão de não apenas ter de restaurar a imagem e notoriedade do teatro, como também comandar a equipe durante os ataques dos demônios na cidade de Tóquio. Isso tudo, claro, enquanto lida com todos os membros da divisão, que são todas mulheres, com a exceção de antigo colega trabalhando como mecânico dos mechas.
Sim, é assim como Seijuro e sua equipe, além das divisões de outros capitais dos países, como Berlim e Londres, lutam contra os demônios. Não é assim que chamam seus “robôs”, e sim “spiricle strikers”, mas o modo como se referem muda dependendo do modelo de cada divisão e mesmo dependendo do modelo de cada personagem, mas são com estas grandes máquinas que encaram frente a frente as ameaças demoníacas que assolam Tóquio.
A história é dividida em capítulos assim como um anime, cada capítulo seria um episódio, com começo, meio e fim, além de, ao terminar o episódio, contar com um seguimento no estilo “no próximo episódio”, com cenas do que irá acontecer, exatamente como um anime. Isso foi introduzido desde o primeiro jogo da franquia, graças ao seu escritor, que originalmente escrevia episódios de animes no Japão.
A equipe de Seijuro consiste em Sakura, Claris, Hatsuho, Azami e posteriormente mais um membro, chamada Anastasia. Sakura se encaixa no arquétipo de paixão da infância, que fez uma promessa de nunca esquecer do protagonista. Claris, a ávida leitora de livros que não sai da biblioteca. Hatsuho, a imprudente sacerdotisa que fala primeiro e pensa depois. Azami, a misteriosa menina ninja que adora um manju. E Anastasia, uma famosa atriz que decide ajudar o Teatro Imperial a se reerguer.
Apesar de ter uma variedade grande entre as personagens, não existe muita profundidade em suas histórias ou mesmo personalidades. Alguns capítulos acabam focando especificamente em uma ou outra, mas a sua evolução acaba sendo telegrafada, ou seja, você consegue facilmente prever o que vai acontecer, qual é o grande problema de cada uma e como elas irão superá-los.
Como os jogos anteriores, Seijuro precisa aprender a lidar com cada uma delas, enquanto responde para Sumire, assim como ajuda no teatro, luta contra os demônios, é muita coisa ao mesmo tempo, mas ele precisa dar conta do recado para garantir que o Teatro Imperial não feche as portas, que os demônios não consigam causar estrago em Tóquio e para que a Flower Division não seja desfeita ao depender da proteção das outras divisões.
O aspecto de romance com as garotas se dá durante escolhas do diálogo. Certas escolhas aumentam a afeição delas com o protagonista, outras que as desagradam acabam diminuindo. Você tem de ser gentil em alguns momentos, duro em outros. Cada situação exige uma resposta diferente de Seijuro e o jogo também inclui um pouco de comédia em algumas escolhas, como tentar fazer alguma gracinha ou fazer papel de palhaço durante as conversas.
A maior parte das escolhas contam com um timer, e a própria falha de escolher algo no tempo também serve de resposta, ou seja, algo como uma conversa de verdade. Em algumas cenas, o jogador precisa interagir com objetos do cenário para avançar ou diálogo, ou mesmo interagir diretamente com as garotas, seja falando sobre sua aparência ou as trazendo para mais perto.
Além das seções de diálogo, o jogador é livre para explorar o Teatro Imperial, seja para comprar figurinhas com a mercadora Komachi, conversar com personagens coadjuvantes como a fã número 1 do teatro Itsuki, ou mesmo explorar outros pontos de Tóquio, como comer arroz frito feito por seu rival de outra divisão ou visitar a entrada de um parque de diversões.
Fora os diálogos e a exploração, temos então o combate, a seção com mais ação do jogo. Em situações específicas, você contra Seijuro e sua equipe, a bordo de suas máquinas, para combater os demônios que atacam a capital. A jogabilidade é muito parecida com jogos do gênero “musou”, apesar de não contar com tantos inimigos na tela ao mesmo tempo.
Você pode trocar de personagens, usar ataques únicos que carregam com uma barra de especial, utilizar ataques fracos e fortes para montar combos específicos, se esquivar no último momento dos inimigos e ativar um slowdown que te permite contra-atacar, a jogabilidade é bem divertida. O problema é que não existe qualquer dificuldade nestas batalhas, é muito fácil derrotar os inimigos comuns. Os chefes ainda exigem alguma tática do jogador para descobrir seus padrões, mas ainda assim, uma vez que você saca qual é a jogada, é questão de (pouco) tempo até derrotá-los.
Por fim, você também pode interagir com os personagens jogando o jogo de cartas chamado Koi Koi, usando o tradicional baralho Hanafuda, ou fazendo simulações de combate a qualquer momento no Hangar do teatro, com missões e objetivos diferentes para cada uma. Esses dois servem mais como acompanhamentos para passar o tempo enquanto a história é o prato principal.
Quanto aos gráficos, o jogo é lindo. Sakura Wars se vende como um anime e se apresenta como um anime também. Os gráficos 3D são sublimes, você pode perceber que nenhum centavo foi economizado, desde a textura do kimono tradicional de Sakura, assim como o reflexo dos lustres no piso azul do salão do Teatro Imperial. O estilo dos personagens também segue esse mantra, com roupas bem características e paleta de cor específica para cada uma.
A trilha sonora também é espetacular. Ao som característico do mundo que cria de uma Tóquio da década de 40, o jogo invoca emoções diferentes com cada faixa, usando instrumentos muito pouco utilizados como saxofone. Para fãs de longa data, várias canções retornam com uma nova roupagem, regravadas para dar um ar inédito para quem já as conhece.
Entre 20 e 30 horas, é possível ver tudo que Sakura Wars tem a mostrar. Tirando as escolhas diferentes em cada diálogo e o final específico de cada par romântico que Seijuro consegue alcançar, além dos passatempos de jogar Koi Koi, simular novas missões no Hangar ou mesmo caçar novas figurinhas para colecionar, você chega ao fim de Sakura Wars.
Se eu tivesse de descrever o jogo em duas palavras, seria “terrivelmente anime”. Para o bem e também para o mal, as forças e os defeitos de Sakura Wars são os que você pode encontrar nos animes mais conhecidos: um lindo visual, muitos clichés, muita ação e uma história previsível. Você vai gostar do que jogou, porém nada que já não tenha visto antes.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela SEGA.
Veredito
Sakura Wars é o retorno à forma. Deslumbrante visual, trilha sonora reorquestrada, formato de anime e os bons e velhos clichês de sempre.
Veredict
Sakura Wars goes back to its roots. Stunning visuals, reorchestrated soundtrack, anime format and the good and old clichés from the genre.