Rocket Rumble – Review

Se tem uma coisa que eu admiro, e muito, no novo jogo da PixelNAUTS que sai do acesso antecipado nos PCs para chegar a todas as plataformas atuais em sua versão completa, é que o game busca ser algo diferente das suas referências mais óbvias. Fugindo de uma armadilha perigosa que muita produção que se inspira em Mario Kart, mesmo que levemente, ele busca, se esforça para ser uma outra coisa, e tem muitos méritos nesta investida, ainda que com uma série de escorregões pesados.

Rocket Rumble é um jogo que mistura corrida e batalha em um universo futurista e bastante perturbado. Em uma espécie de jogo de kart misturado com Pacer, animais robóticos se enfrentam em pistas que mesclam o mundo como o conhecemos com elementos fantásticos, com até quatro corredores disputando ponto a ponto quem será o vencedor diante uma série de perigos, armadilhas e adversários agressivos. O jogador decide por um dentre seis (por enquanto) personagens vestidos em armaduras poderosas e o coloca diante outras criaturas que podem fazer algumas coisas pouco ortodoxas para chegar na frente.

Rocket Rumble

O elenco conta com uma série de (não tão) fofos bichinhos, e a disputa ancestral entre cães e gatos ganha contornos ainda mais estranhos quando albatrozes, porcos e polvos entram no páreo. Com uma mistura entre carisma e agressividade, esses corredores podem ainda ser customizados com uma infinidade de apetrechos e cores, deixando a disputa ainda mais personalizada. Uma pena, porém, que as diferenças entre eles sejam mínimas, para dizer muito, e essa distinção é um tanto quanto mais estética do que prática de fato. Se um parece ser mais leve que o outro, ou mais rápido, ou mais forte, é difícil saber porque não há qualquer informação objetiva sobre isso.

As corridas se dão em nove circuitos – alguns como versões uns dos outros – com surpresas e variáveis consideráveis. Rampas de impulsão, corredeiras, criaturas gigantes e feixes de lazer são só alguns dos obstáculos mais comuns, e a boa notícia é que com tantas diferenças, cada cenário traz suas dificuldades próprias a ponto de realmente serem distintos uns dos outros. Se dar bem em espaços mais apertados ou em trechos mais amplos é realmente algo que faz a diferença diante outros adversários, e saber lidar com cada tipo de dificuldade é a chave não para ser necessariamente o mais rápido, mas sim o mais constante. Mesmo sendo um jogo baseado na ação, se sai melhor quem mantem a regularidade.

Rocket Rumble

Isso porque, diferente do que já estamos acostumados, a vitória se dá por pontos, que se acumulam pelo que se faz ao longo da corrida. Passar em primeiro em um dos muitos checkpoints de cada pista garante um ótimo bônus, mas estar em segundo ou terceiro também contabiliza uns pontinhos. Atordoar um adversário ou explodi-lo de vez contribui para a contagem final, e o vencedor é quem conseguir somar a maior pontuação. É possível vencer inclusive sem ultrapassar à linha de chegada se aquilo que foi feito antes for o suficiente. Sabe quando lideramos, em jogos similares, uma corrida inteira e perdemos o primeiro lugar na curva final por um maldito casco azul? Aqui, há um sistema mais justo.

Atrapalhar os adversários, portanto, é uma tarefa contínua. Com as famosas caixas misteriosas espalhadas por toda a pista em quantidades generosas, há poucas, mas efetivas possibilidades, como o disco de ataque para frente ou para trás; minas explosivas; ondas de choque; bust de velocidade e coisas do tipo. Nada tão bem humorado como em Crash Team Racing, nem personalizado como em Disney Speedstorm, mas útil o suficiente para cumprir o papel que lhe cabe. Completa o arsenal de movimentos agressivos e defensivos o dash lateral que ajuda a derrubar desavisados com aquele bom e velho “chega pra lá”.

Rocket Rumble

Conceitualmente, tudo isso não parece tão diferente de qualquer jogo de kart, dos famosos aos genéricos, mas é na dinâmica dos checkpoints e da necessidade em pontuar onde está o grande diferencial de Rocket Rumble. Tentar liderar o tempo todo pode ajudar, mas não é suficiente, e ao mesmo tempo estar na rabeira em certas passagens não é o fim do mundo. A cada novo ponto de checagem, afinal, todo mundo parte do mesmo lugar, e até mesmo quem caiu no trecho anterior volta com as chances equiparadas. Começar mal ou abrir vantagem não são tão determinantes assim, porque no recorte seguinte tudo pode se inverter. Cada partida é como se fosse um compilado de mini-corridas curtíssimas e ganha quem for melhor na média.

Este modelo de jogo possibilita o uso de câmera única, porque todos os competidores estão, ou devem estar, no mesmo quadro. Quem fica pra trás ganha um impulso danoso, quase um empurrão grosseiro, e quem toma dano disso, das armas adversárias ou das armadilhas do cenário pode ficar pra depois. Todos os jogadores tem uma barra de saúde que permite uma quantidade máxima de dano antes da morte temporária. Se a derrota é parcial, não passar pelos tópicos de controle significa menos pontos. Não é raro ser melhor evitar o confronto garantindo um segundo ou terceiro lugar do que lutar demais pela dianteira e morrer no processo.

Rocket Rumble

Se na teoria, a ideia da câmera única faz sentido, gerando até enquadramentos e movimentos interessantes e vertiginosos, na prática ela favorece demais quem está na frente. Ficar no limite da tela, além do prejuízo óbvio de estar no fim da fila, ainda dificulta que o jogador saiba o que está acontecendo, já que o jogo desvaloriza essa parte da tela, e até mesmo obstáculos podem cobrir ou atrapalhar o entendimento do que está acontecendo, principalmente quando o caos se instaura entre os corredores. Não foram poucas as vezes onde tomei mais porrada do que merecia só por ter ficado para trás e não conseguir ver o que estava acontecendo entre mim e o que havia em volta. Intencional ou não, isso causa desequilíbrio, já que bots não tem esse problema e podem lidar melhor com a desvantagem.

Aliás, a presença de bots foi uma constante durante o período de testes do jogo, já que nesse momento pré-lançamento, havia muito pouca gente jogando. Para o lado bom da notícia, estar sozinho no servidor (que aliás, tem sua versão dedicada à América do Sul, o que é ótimo pra uma conectividade estável) não atrapalha a vontade de jogar. Se em 30 segundos a party não se preencher, o jogo dá conta disso pra não nos deixar esperando demais. Por outro lado, quem estiver atrás de enfrentar adversários reais precisará contar com o sucesso comercial do game ou com amigos que queiram investir para as partidas on-line. Ou, se você valoriza o velho estilo de jogo multiplayer de sofá, dá para garantir umas boas risadas pós-churrascão de família também até 4 pessoas na mesma partida.

Rocket Rumble

Para você que pretendia jogar de outras formas, sobretudo single player, infelizmente não dá porque eles inexistem. Rocket Rumble conta com esses dois modos: o local, que estranhamente não é preenchido pela CPU permitindo até partidas jogando contra ninguém; e o jogo rápido que, para esta avaliação, se tornou um modo solo pela ausência de outras pessoas nas partidas, mas ambas direcionadas a corridas únicas, sem continuidade, sequência, torneios e afins. Há ainda um rápido tutorial e um modo que ainda está trancado e do qual não consegui qualquer informação sobre o que seria. Pode ser um sistema ranqueado para depois do lançamento, ou algo do tipo, mas impossível saber antes de ser liberado.

O mesmo vale para uma aba toda dedicada a saque de caixas, que não estava funcionando. Pode ser um modelo monetizado de loot boxes, ou um sistema de premiação aleatória de acordo com desempenho em partidas contra pessoas reais, mas não sei. As telas, botões e itens interativos de suporte são extremamente confusos e pouco responsivos, impedindo checar coisas simples ou saber estas e outras informações básicas. Aliás, não só para esses itens bloqueados, mas sim para todo o resto. Toda a interface do game é extremamente difícil de se usar, mal adaptada para controles, além de usar cores, diagramação e fontes bastante questionáveis. É poluída, desequilibrada e, para ser sincero, bem feia.

Rocket Rumble

O aspecto audiovisual, como um todo, também passa longe dos melhores exemplos mesmo para esse gênero lotado de referências de menor investimento. Serrilhados são comuns, a customização usa itens que não encaixam bem nos personagens e tudo parece desconjuntado. Dentro do jogo em si, a coisa melhora um pouco, com a visão distante da ação e dos detalhes, e há espaço para cores intensas e vários efeitos de luz que dão uma percepção que eu chamaria de cyberpunk minimalista, se isso faz algum sentido. Há algumas texturas interessantes, outras nem tanto, mas efeitos como líquidos são detestáveis. Na primeira vez que passei pela cachoeira de uma das pistas, por exemplo, achei que estava caindo em um bug de cenário, de tão estranha que a coisa é.

A sonorização segue um padrão com canções eletrônicas genéricas e efeitos padronizados. Os sons de cada animal fogem um pouco da regra, por serem algo estranho à constância tecnológica de metal, luzes e explosões, mas ainda assim poderiam receber um pouco mais de capricho para se provarem algo notável. Se a mixagem mantem a sensação de festa que o jogo tenta promover, toda a parte audiovisual do projeto é nada mais que medíocre, não só pela modéstia do investimento, mas principalmente por abusar de elementos comuns, padronizados e sem muita identidade. Nada do que está ali parece autêntico, e mesmo que a aparência de animais ciborgues seja aceitável, não vai para muito além disso.

Rocket Rumble

Rocket Rumble consegue ser divertido em sua unidade celular, com uma disputa diferente do que estamos acostumados. Equilibrado e recompensador ao valorizar tudo o que é feito, e não só o recorte da linha de chegada, pode ser até mais justo para quem se preocupa com o caráter da competitividade. Contudo, o esforço em todos os demais aspectos é bastante tímido e pode fazer com que a vida útil da produção seja curtíssima. Jogar sozinho pode ser alongado para umas 10 horas, se muito, na busca pela platina, desde que se descubra como abrir as caixas. Não há nenhum troféu que demande partidas contra pessoas de verdade, só vitórias usando cada personagem inicial e outras contagens, como de mortes, partidas totais e coisas do tipo.

As nove pistas disponíveis causam o mesmo efeito de esgotamento de forma bastante rápida. Parece uma variedade razoável, mas não é, e depois das duas ou três primeiras horas, elas se tornam cansativas e repetitivas. Piora o fato de que você só tem 25% do poder de escolha de onde correr, o que se traduz nos outros três bots escolhendo a arena da corrida. Quando forem quatro pessoas de verdade, perfeito, mas até lá, ninguém merece não poder escolher o palco para uma partida single player na prática. E se as pistas enjoam rápido, os personagens se salvam pela customização que é diversa, mas que pouco importa na bagunça visual das corridas.

Rocket Rumble

Boas ideias não precisam ser complexas, e muitas das produções mais recentes que temos visto provam, de um jeito ou do outro, que a simplicidade não é um problema, nem uma qualidade em si. Rocket Rumble parte de uma premissa legal, e é até um ponto positivo não forçar a barra com, por exemplo, um elemento narrativo desnecessário, e portanto não perder tempo explicando porque colocar gatos e cachorros em corpos robóticos para disputar corridas no espaço sideral. Aqui, o absurdo é uma das vantagens do game. Mas a ausência de modos mais diversificados que melhorassem a qualidade de vida do game; interface e audiovisual pobres; e a ausência de quaisquer atrativos que mantenham o jogador interessado para algo além da premissa, fazem do jogo muito mais um experimento promissor do que uma obra completa.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela PixelNAUTS.

Veredito

Rocket Rumble se apoia em um sistema promissor que une corrida e combate, com ótimas referências e uma temática diferenciada. Contudo, tropeça no estilo artístico pouco inspirado, em uma interface desequilibrada, e principalmente na falta de conteúdo para renovação do interesse.

60

Rocket Rumble

Fabricante: PixelNAUTS Games

Plataforma: PS5

Gênero: Corrida / Ação

Distribuidora: PixelNAUTS Games

Lançamento: 23/05/2024

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Rocket Rumble is based on a promising system that combines racing and combat, with great references and a different theme. However, it stumbles over an uninspired art style, an unbalanced interface and, above all, a lack of content to renew interest.