River City Saga: Three Kingdoms Next – Review

Pelo quão conhecida a saga d’Os Três Reinos foi se tornando ao longo dos anos, especialmente no universo dos videogames, há uma relativamente curta variedade de jogos sobre ela, com a grande maioria dos títulos girando em torno das conhecidas séries Dynasty Warriors e Romance of the Three Kingdoms, ambas da Koei Tecmo.

Entre uma exceção e outra a essas duas histórias séries, uma que me cativou foi a adotada por River City, por si só uma longeva série de jogos japoneses (conhecida como Kunio-kun em sua terra natal), hoje sob a tutela da Arc System Works. Mais conhecida por suas várias sub-séries de beat ‘em ups cuja popularidade vem crescendo desde o lançamento de River City Girls em 2019, a desenvolvedora retoma sua passagem pela China antiga com o recém-lançado River City Saga: Three Kingdoms Next.

A abordagem dessa ambientação faz sentido. Afinal, o que são exércitos batalhando se não gangues em larga escala lutando pelo controle de um reino ao invés de lutar por ruas e bairros de uma cidade? Aqui, os personagens da franquia assumem o papel de diferentes figuras lendárias d’Os Três Reinos como Liu Bei, Guan Yu e Cao Cao, cada qual identificado com o seu personagem de Kunio-kun correspondente.

A história se inicia com Kunio, o protagonista que dá nome à franquia, no papel de Guan Yu, um general servindo a Liu Bei, a medida em que ele junta novos aliados, enfrenta diferentes adversários e conquista novos territórios, tudo enquanto revive certos momentos icônicos daquele período da história chinesa. É uma narrativa simples e funcional que te permite conhecer mais desse mundo caso você não tenha muita afinidade com um musou.

Um ponto que precisa ser dito, no entanto, é que o jogo é uma sequência direta de River City Saga: Three Kingdoms, então o jogo meio que te joga no meio da narrativa sem muito preparo. Então, para os jogadores menos familiarizados e que queiram entender o universo, talvez valha a pena iniciar pelo primeiro jogo de 2022. Caso já conheça a série, cabe apontar que apesar do jogador iniciar a jornada controlando Kunio, à medida em que você for avançando, novos personagens vão sendo desbloqueados, então você poderá jogar com o seu preferido no modo multiplayer.

Um ponto que é importante apontar é que o jogo faz um trabalho bem interessante de casar a personalidade dos personagens do universo de River City com o dos personagens do universo aqui representado. Embora minha experiência com a franquia seja bem restrita a alguns dos jogos mais recentes (embora seja fã d’Os Três Reinos há décadas), o que limita o quanto isso significa pra mim, fãs de longa data de ambas as franquias devem tirar bastante proveito de vários easter eggs ao longo da jornada. E, mesmo quem tem pouco conhecimento, consegue se divertir com o jogo, muito graças ao bom humor apurado da obra.

Em termos de gameplay, River City Saga: Three Kingdoms Next é uma experiência bem rica. Tudo começa simples e acessível, com Kunio tendo acesso a poucos ataques, basicamente podendo chutar, socar e arremessar seus adversários. Aos poucos, você ganhará novas habilidades, como acesso ao lendário cavalo do Guan Yu, o Red Hare, aqui representado pela moto com a qual o Kunio costumeiramente é visto (e o contraste de uma moto na China do Século III é bem engraçado).

Com o avançar do jogo, Kunio vai subindo de nível e, consequentemente, ganhando skill points que são utilizados para avançar pelas vastas árvores de habilidades do jogo. Há uma quantidade bem substancial de novas técnicas para aprender, de ataques aéreos a golpes especiais, então é possível customizar bastante o seu loadout e, inclusive, acumular diferentes composições de habilidades para diferentes situações de combate.

Embora a parte principal do sistema de progressão seja a aquisição de habilidades, é possível também melhorar seus stats, equipar novos itens, armas e vestimentas e ajustar a sua moto para conseguir continuar batendo de frente com os seus inimigos. Ainda assim, o jogo exige habilidade em seu combate, já que você constantemente se verá em menor número e precisando usar todo o seu arsenal para sobreviver.

O maior problema do título vem justamente do excesso de liberdade na exploração. O jogador pode escolher como irá explorar o vasto mapa da China disponível aqui, com cada capítulo tendo, além de uma missão principal, diferentes missões secundárias que te incentivam a explorar cada detalhe. O problema é que, durante a maior parte do tempo, você simplesmente ficará andando de um lado pro outro enfrentando pequenos grupos de inimigos, se muito. Isso faz com que o ritmo do jogo seja muito inconsistente e beirando o tédio.

É uma combinação estranha de “mundo aberto” com sidescroller, já que, apesar de não ser tecnicamente um mundo contínuo, você ainda precisa avançar de tela em tela, com constantes vazios, para chegar em algo. Junte a isso o fato do jogo ter uma quantidade enorme de texto, algo que me pegou de surpresa pelo gênero em questão, e a longa duração do jogo parece inflada artificialmente, com muito mais momentos de paradeiro e calmaria do que intensas batalhas. Embora isso possa ser minimizado com o coop local ou online, a falta do modo China Heroes, presente no primeiro jogo que removia o texto e te colocava direto na ação, é uma ausência notória para os menos interessados na narrativa.

São pequenos problemas que incomodam porque te tiram do que o jogo tem de melhor que é justamente o seu gameplay. Felizmente, tanto durante os diálogos quanto no gameplay o jogo tem um estilo visual muito único e muito agradável, com uma pixelart beirando o 2D-HD que a Square Enix tornou famoso. Se você estiver buscando um jogo mais simples mas ainda assim rico e recompensador, especialmente para jogar em multiplayer, River City Saga: Three Kingdoms Next merece estar no seu radar, ainda que os pequenos problemas não o tornem o jogo mais fácil de se recomendar.

Jogo (versão de PS4) analisado no PS5 com código fornecido pela Arc System Works.