Mesmo na atual era de jogos clássicos chegando a plataformas modernas, algo que era difícil de se imaginar acontecendo seria o relançamento de Rhapsody II e III para elas e, principalmente, que chegariam ao ocidente, visto que os dois títulos eram exclusivos do Japão desde os seus lançamentos originais e sua desenvolvedora só a pouco tempo resolveu desenterrar seu rico acervo original.
Até mesmo a chegada de Rhapsody: A Musical Adventure, único jogo da série a deixar o Japão até aqui, ao Nintendo Switch não parecia ser indicativo de que isso aconteceria. Mas, bem, cá estamos e a NIS America finalmente nos agraciou com a chegada desses dois clássicos títulos da Nippon Ichi Software lançados na virada das gerações do PS1 para o PS2.
O que temos aqui são dois títulos que, da sua própria maneira, seguem a filosofia de desenvolvimento da NIS daquela época, inventando e brincando com clichês dos RPGs dos anos 90 e 2000 para tentar deixar suas próprias marcas no gênero. E, apesar de vastamente desconhecida, são provas cabais de que seu desejo de se reinventar a cada jogo fez com que cada um cavasse seu próprio espaço especial na história.
Rhapsody II: Ballad of the Little Princess é uma sequência direta do jogo original, ambientado 12 anos após A Musical Adventure. A protagonista da vez é Kururu, filha de Cornet, a personagem principal do primeiro título, que parte em uma jornada bastante similar a da sua mãe: ao chegar à adolescência, ela resolve buscar um grande amor ao redor do seu reino.
Como, afinal, isso é um RPG, ela se vê presa em um conflito entre bruxas por um lendário artefato capaz de prover poderes imensos a quem o possui. Logo, a missão passa a ser não só por amor, mas por sobrevivência e juntamente com sua amiga Crea, Kururu precisará fazer novos amigos e encontrar uma forma de salvar seu mundo, especialmente com sua mãe agora bastante ausente.
Como já é de se imaginar, Rhapsody II é um jogo bem leve, apesar da missão de salvar o mundo. Mantendo a temática musical do anterior, ele entrega várias cenas divertidas, ainda que a missão principal tenha seu peso. Isso é complementado de forma muito bem-vinda pelos belos gráficos em pixel art devidamente remasterizados, excelente trilha sonora e a adição de uma boa dublagem em inglês (por mais que seja estranho ver a alternância para as vozes em japonês durante as canções).
Uma interessante mudança em Rhapsody II é a reformulação do sistema de combate. Ao invés de seguir a estrutura vista antes de um pseudo-RPG Tático, ele é um tradicional RPG por turnos da época. Felizmente, tudo funciona de forma muito ágil, fazendo com que o combate flua bem rápido e o jogador consiga se sentir capaz de resolvê-lo com facilidade.
Algo muito bem-vindo, diga-se, porque se trata de um jogo fruto da sua época e, com isso, a quantidade de batalhas aleatórias que você terá ao jogá-lo beira o absurdo. E é aqui que vem o principal problema do remaster: a ausência da possibilidade de acelerar o andamento do combate. Embora seja possível fazer isso durante os diálogos, a falta de uma opção para tornar o andamento das batalhas um pouco mais rápido faz com que o jogo seja mais lento do que poderia.
Assim, considere que se trata realmente de um jogo que é fruto do seu tempo, baseado bastante em menus, batalhas aleatórias e cujo principal ponto realmente é a qualidade da sua história. Por sorte, tudo funciona bem, de forma criativa e faz com que Rhapsody II seja um ótimo jogo e que deve cativar os fãs do gênero. Mesmo se você não jogou o original, o que não é necessário para aproveitar o jogo, irá se divertir bastante aqui.
Já Rhapsody III: Memories of Marl Kingdom é um título um pouco mais complexo de se entender. Ele funciona como uma espécie de antologia, ambientado em diferentes pontos das jornadas tanto de Cornet quanto de Kururu. Dividido em seis capítulos, ele se passa antes, durante e depois do primeiro e do segundo jogo, adicionando contexto a determinados eventos.
Por exemplo, o segundo capítulo se passa 04 anos após o final de Rhapsody II enquanto o quarto capítulo se passa imediatamente antes do começo do jogo. É uma estrutura um tanto complicada de se entender e é claramente um jogo feito para os fãs da série que querem entender mais da sua ambientação e da linha do tempo dos acontecimentos daquele universo.
O sistema de combate, no entanto, é um pouco mais complexo e traz várias inspirações do primeiro jogo, embora na prática acabe sendo tão ágil e funcional quanto o do segundo. Aqui, você terá equipes de personagens divididos em fileiras, com a peculiaridade de só poder controlar o líder de cada fila, salvo pelos Puppets, figuras importantes na série e que podem também ser controlados por Cornet, Kururu, Cherie ou Cello.
Pode parecer estranho de se explicar ou até frustrante de usar, visto que os personagens não-controláveis agem aleatoriamente, mas é surpreendentemente intuitivo e é um raro caso da IA não ser algo que irá ativamente te atrapalhar. É algo que funciona no contexto de resgatar elementos antigos e criar algo novo, surpreendentemente bem-feito para um jogo do começo do ciclo de vida do PS2.
O problema dos jogos dessa era que surge aqui, no entanto, é que com a inclusão de cenários em 3D o jogo perde um pouco da beleza e do charme que a pixel art do segundo título possuía. Não é que o jogo seja feio ou nada assim, só não possui o mesmo espírito cativante que o título anterior possuía.
Dito isso, ainda há muito do que torna a série única, incluindo cenas musicais e o tom leve que deve agradar aos fãs que chegarem até aqui. Ele não é um jogo tão interessante quanto o primeiro (que infelizmente não está na coletânea) e muito menos tão competente quanto o segundo, mas tem suas razões de existir.
Dito tudo isso, Rhapsody: Marl Kingdom Chronicles é uma coletânea muito grata com jogos que eu não esperava nunca jogar. Sua influência na história da Nippon Ichi Software não é das maiores, mas o simples fato de ser conectado a um dos meus jogos favoritos da infância, La Pucelle: Tactics por si só já era suficiente para despertar meu desejo por um dia poder jogá-los.
E embora a decisão de dividir a série em duas coletâneas seja estranha, já que o primeiro jogo faz parte da NIS Classics Volume 3 exclusiva de Switch juntamente com La Pucelle Ragnarok, a excelente qualidade do segundo jogo por si só acaba dando propósito a ela e beira a tristeza o fato desses jogos só agora chegarem ao Ocidente. Eles podem não ser jogos para todo tipo de jogador, mas se você é um fã de JRPGs e aprecia a história do gênero, Rhapsody: Marl Kingdom Chronicles merece estar no seu radar.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela NIS America.
Veredito
Quase 25 anos após os seus respectivos lançamentos, Rhapsody: Marl Kingdom Chronicles finalmente traz dois bons RPGs de PS1 e PS2 antes exclusivos do Japão para plataformas modernas. Embora não sejam jogos imperdíveis, ambos trazem vários elementos únicos que os tornam muito divertidos e que cativarão os fãs do gênero que nunca os jogaram.
Rhapsody: Marl Kingdom Chronicles
Fabricante: Nippon Ichi Software
Plataforma: PS5
Gênero: RPG
Distribuidora: NIS America
Lançamento: 29/08/2023
Dublado: Não
Legendado: Não
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
After almost 25 since their original releases, Rhapsody: Marl Kingdom Chronicles finally brings two good RPGs from the PS1 and PS2 that were exclusive to Japan to modern consoles. Although they are not unmissable games, both bring several unique elements that make them very fun and will captivate fans of the genre who have never played them.