A produtora FuRyu costuma buscar um molde a partir de um jogo popular, inserir algumas ideias próprias que, no papel, são interessantes e lançam seu título próprio. Algo absolutamente normal na indústria, mas os títulos da FuRyu costumam ser pouco polidos, incompletos, com implementações duvidosas de mecânicas e acabam por se tornarem jogos aquém de suas inspirações. Reynatis, um RPG que se passa em Shibuya e me lembrou bastante The World Ends With You, é a nova tentativa da companhia e, francamente, possivelmente a melhor até o momento, mas não o suficiente para ser um título bom, somente mediano.
Em Reynatis, magos e magas existem e, sendo capazes de utilizar magia destrutiva, o uso de magia foi legalmente banido. O bairro de Shibuya se torna palco para o confronto de dois grandes grupos: MEA e a Guilda. A MEA trata-se de uma polícia que prende os magos ilegais e a Guilda é um grupo de militantes que busca mais direitos para os magos. O confronto dos dois grupos é o tema central da história de Reynatis e a mesma é contada por duas perspectivas: Sari Nishijima, uma oficial da MEA e Marin Kirizumi, um mago sem filiação a nenhum grupo.
A história do título tem alguns pontos interessantes, mas a narrativa nunca se desenvolve de maneira apropriada para que seja realmente boa. A abertura do título é extremamente expositiva e lotada de informações, quase uma aula sobre os principais termos, regras e acontecimentos desse universo paralelo. As perspectivas são alternadas constantemente durante o início e estabelecem as fundações principais para os personagens, suas crenças, atitudes e objetivos. Infelizmente, o diálogo é também muito brusco para que sejam caracterizações interessantes na grande maioria dos casos. Sari é uma das melhores personagens do título, mas Marin é absolutamente unidimensional e insuportável. Efetivamente, Reynatis tem os blocos básicos para uma boa história, mas não a desenvolve bem o suficiente para se tornar memorável. A conclusão é muitas vezes clichê ou simplesmente decepcionante.
Onde o título mais se destaca é na sua jogabilidade de combate que, apesar de limitada, é boa e também diferenciada de demais títulos de ação. Cada personagem tem duas formas: uma forma suprimida que não pode utilizar magia e a forma liberada que pode. A forma suprimida é uma instância puramente defensiva e que, ao receber um ataque, é capaz de realizar um desvio e recuperar seu poder mágico. A forma liberada, por sua vez, é a forma agressiva e que utiliza do poder mágico em cada ataque e especial. Isso cria uma dinâmica interessante, já que é necessário saber o momento de troca entre as duas instâncias e controlar o uso do poder mágico para realmente otimizar o dano causado pelos personagens. As mecânicas básicas são explicadas logo ao começo e, posteriormente, novas mecânicas são adicionadas como outros personagens, assistências, etc.
O maior problema da jogabilidade, no entanto, está em todos os sistemas que estão ao redor do combate e que, em grande parte, só colocam empecilhos desnecessários à experiência do jogador ou ao crescimento dos personagens. Ao explorar Shibuya, os personagens o fazem em sua forma suprimida para não chamar atenção, no entanto, é possível ativar a forma liberada livremente ou ter sua ativação forçada por um confronto aleatório. A forma liberada atrai a atenção de terceiros e isso inicia um contador que, ao terminar, uma unidade de punição da MEA é despachada e esta é praticamente um game over garantido já que são absurdamente fortes, até mais que os próprios chefes da organização. Cabe ao jogador mudar de mapa ou fugir para um ponto seguro antes que isso aconteça e é o caso de uma mecânica pentelha que não adiciona praticamente nada ao jogo.
Os personagens podem utilizar até duas magias especiais e que podem ser equipadas e melhoradas. Essas são obtidas investigando grafites espalhados por Shibuya, no entanto, para obtê-los é necessário que o nível de malícia do bairro esteja abaixo de um certo valor. A malícia começa em 100% e é diminuída conforme se realizam as side-quests e grande parte dessas são medíocres. Isso faz com que o jogador passe por muitos grafites que não é possível adquirir por causa do nível de malícia ou simplesmente faça todas as side quests, se torne forte com as opções que tem e tenha menos incentivos de trocar por uma alternativa. Isso torna o crescimento dos personagens não só lento, mas também sem uma recompensa adequada.
Por último, existem calabouços que são basicamente níveis onde você irá batalhar ondas de inimigos, encontrar tesouro e eventualmente um chefe. Existem poucas ambientações para esses calabouços, muitos assets reutilizados em pouco espaço de tempo, baixa variedade de inimigos, os tesouros também não auxiliam muito e, pelo menos, as lutas contra chefes são mais interessantes, mas também não são desafiadoras. Para um título com combate bom, esses fatores acabam minando o conjunto da obra.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela NIS America.
Veredito
REYNATIS é um título que poderia ser verdadeiramente excelente e uma tentativa interessante da FuRyu de fazer um RPG moderno, mas seus elementos dissonantes resultam em uma experiência mediana e que impedem de atingir completamente seu potencial.
REYNATIS
Fabricante: FuRyu / Natsume Atari
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: RPG / Ação
Distribuidora: NIS America
Lançamento: 27/09/2024
Dublado: Não
Legendado: Não
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
REYNATIS is a title that could be truly excellent and an interesting attempt by FuRyu to make a modern RPG, but its dissonant elements result in an average experience that prevents it from fully reaching its potential.