Resident Evil Village é simplesmente sensacional. Porém, para explicar o motivo disso, precisamos começar esta análise em 2004 com Resident Evil 4.
RE4 é o jogo que me fez apaixonar pela série. Quando era mais jovem, acompanhava Resident Evil por cima apenas (por revistas) e sabia de tudo o que a série oferecia por osmose, digamos assim. A jogabilidade, principalmente a câmera fixa, era algo que me fazia afastar dos jogos. RE4, porém, prometia trazer inovações e decidi arriscar pegando no lançamento para o GameCube. Zero arrependimentos. Era um jogo que, apesar de ter coisas que muitas pessoas reclamavam na época (não poder andar e atirar, por exemplo, além da própria Ashley), é lembrado com carinho por inúmeros fãs. RE5 e RE6 tentaram pegar elementos e oferecer algo novo, porém só dividiu ainda mais a base de fãs. Até que veio RE7. Sua proposta de ser em primeira pessoa ainda é odiada por muitos jogadores, mas aqueles que aceitaram a ideia viram que ainda era Resident Evil – só que com uma inovação que só vimos acontecer anteriormente com RE4.
Resident Evil Village (que vamos apelidar de RE8 nesta análise) é uma carta de amor a RE4, enquanto adota o que foi estabelecido com RE7. Se alguém me questiona o que achei de RE8, sou simples e direto: pegue RE4 e RE7. Jogue ambos no liquidificador. O resultado disso o agradaria? Se sim, não há razão para não jogar RE8.
Você notará nesta análise que faremos inúmeros elogios a RE8, mas há um ponto que preciso destacar e que é justamente o primeiro assunto abordado: a história. Todos os outros RE, de forma geral, podem ser jogados sem entender o que aconteceu nos anteriores. Ou, no máximo, apenas saber o básico do básico, como o que é Raccoon City, Umbrella Corporation e Albert Wesker, por exemplo. RE7, então, nem isso precisava saber direito (talvez no fim do jogo para entender melhor sua conclusão).
RE8, no entanto, é bastante dependente de RE7. Você pode perfeitamente compreender a história se jogar RE8 ignorando os outros jogos, mas jogar RE7 deixa a experiência muito mais rica, sem dúvida alguma. Dito isso, se você não jogou o game anterior, considere fazer isso antes de partir para RE8. Não é necessariamente um ponto negativo (inclusive o jogo possui um resumo do que aconteceu em RE7), mas para aqueles que só possuem interesse no novo game, talvez seja algo ruim.
De qualquer forma, a história de RE8 é muito boa. Muitas partes são bem exageradas (tanto quanto foram em RE7), mas há uma explicação para tudo – mesmo que seja dentro do universo Resident Evil. O início é bem simples: Ethan vive com sua esposa Mia e a filha dos dois, Rose. Chris, que possui um histórico com o casal, surge uma noite, mata Mia e sequestra Rose. Ethan acaba sendo levado junto, para acabar acordando próximo de uma vila misteriosa.
A vila é simplesmente o coração de RE8, servindo de conexão a todos os outros ambientes que precisam ser explorados. Dito isso, RE8 é bem aberto e recompensa bastante aqueles que exploram o ambiente. O caminho para o qual você deve ir é sempre claro, mas há muita coisa que não é obrigatória (até chefes opcionais!) que o deixará com vontade de andar pelo mapa.
O gameplay é bastante similar ao de RE7 e aos remakes de RE2 e RE3 – talvez por todos serem na mesma engine, a RE Engine. O botão X interage com o ambiente, triângulo abre o inventário (que pode ser expandido e organiza os itens de forma similar a RE4), quadrado recarrega, R1 recupera a vida, L1 defende (diminui o dano tomado) e o D-Pad serve como atalho customizável. O L2 mira e R2 atira. Jogamos no PS5, portanto podemos falar brevemente do DualSense: os gatilhos possuem um feedback tátil em RE8. A resposta é bem simples com armas como a pistola, mas é nítido na Shotgun e principalmente no Rifle. A vibração, por outro lado, é mais simples, mas também é interessante.
Os inimigos comuns de RE8 são variados e talvez polêmicos. Como dito, há uma explicação para tudo, mas talvez alguns fãs não engulam os Licanos, por exemplo. Engolindo ou não, são inimigos interessantes de enfrentar e mais agéis do que os Mofos vistos em RE7 ou os clássicos zumbis dos remakes recentes. Além disso, exceto em determinadas partes do castelo, não há inimigos que seguem Ethan o tempo todo. A frequencia disso é bem menor do que foi visto em RE7 (Jack) e principalmente RE2 (Mr. X) e RE3 (Nemesis).
Mas, de longe, o que mais possui destaque em RE8 são os personagens. Da mesma forma que vários de RE4 nos marcaram como Salazar, Saddler, Krauser e até Bitores Mendez, RE8 oferece um elenco fantástico. Você já deve estar cansado de saber da Lady Dimitrescu e suas três filhas a essa altura – que não deixam de ser personagens excelentes – mas há muitos outros na trama tão carismáticos quanto, como Heisenberg e até mesmo o esquisitão Salvatore Moreau.
Outro personagem esquisito e que, mais uma vez nos remete a RE4, é o Duque. Ele possui exatamente o mesmo papel do mercador que aceitava uns trocados de Leon. Com o Duque, você pode comprar munição, armas, receitas (para criar balas ou explosivos) e primeiros socorros. Também é possível fazer upgrade das armas e vender tesouros coletados. Um pouco mais para frente na jornada, é possível realizar upgrades permanentes com refeições que o Duque prepara. A ideia é simples: traga materiais como carne ou peixe e o Duque oferece refeições que aumentam a sua vida, deixam você mais rápido ou fortalece sua defesa, por exemplo.
Exceto as refeições, tudo é feito na base da moeda chamada Lei. Você coleta Lei pelo cenário, principalmente ao derrotar inimigos ou, como dito, ao vender tesouros (ou, caso queira, munição ou armas). Ao contrário de RE4 que a munição não era exatamente um problema, RE8 possui determinados limites que forçam o jogador a manusear bem seu inventário e gastar bala somente quando preciso.
A ambientação de RE8 é incrível. Considero todos os jogos da RE Engine impressionantes graficamente e aqui não é exceção – ainda mais no PS5. O loading é praticamente inexistente como tem sido com os outros jogos do console, porém se você jogar direto e não morrer, não há transição alguma de loading. Consequentemente, isso causa levíssimos travamentos em elevadores (do jogo estar carregando mesmo), mas você praticamente não os percebe. A trilha sonora e os efeitos sonoros são tão bons quanto.
Isso nos leva à dublagem: a primeira vista na série Resident Evil. E, mais uma vez, ela é ótima. Todos os personagens possuem vozes que se encaixam com o seu perfil e a sincronia labial é muito boa. Não há nenhum problema técnico aqui (todos os textos estavam em português e as vozes também).
De uma forma geral, RE8 é muito bem polido. Não sofri travamento algum e nenhum bug. Por incrível que pareça, nem mesmo um inimigo “bugou” digamos assim. Temos um pacote redondo em mãos.
Uma crítica que os remakes de RE2 e RE3 sofreram foi a sua duração. RE8 possui uma campanha na medida certa. Terminei em 12 horas cronometradas pelo contador in-game na dificuldade Padrão (a Normal), porém a PSN acusa que joguei 16 horas. Ou seja, levando em conta recarregar saves, você deve durar algo em torno disso (12 a 16 horas), caso seja um veterano da série. Do contrário, pode levar ainda mais.
Reforço o veterano porque existem coisas que podem impedir drasticamente o seu progresso e até mesmo ter que reiniciar o título ou carregar um save anterior. Uma delas é o manuseio de recursos. Se você gastar munição a rodo, logo ficará sem e as batalhas que não podem ser evitadas se tornam extremamente complicadas. Da mesma forma, há um número considerável de puzzles e que são muito inteligentes. Tenho certeza absoluta que, em uma determinada parte do jogo, inúmeras pessoas vão procurar no Google o que deve ser feito por simplesmente desistirem.
Quando você finaliza a campanha, RE8 apresenta mais formas de aproveitar o jogo. Uma delas não vou entrar em detalhes, mas envolve rejogar a campanha da mesma forma que você já está familiarizado com os outros títulos da série. Já a outra forma é o modo Mercenaries.
O Mercenaries é um modo que desejo seu retorno há muito tempo. É algo simples e divertido, principalmente em RE4 e RE5. A graça dele é obter a maior pontuação possível em uma arena e usar personagens que você não usaria na campanha principal. Mercenaries de RE8 não apresenta nada disso.
Ou seja, o Mercenaries de RE8 não é ruim, mas não tem quase nada do que o modo original oferecia. Deveria ter um outro nome, sinceramente.
Em RE8, o Mercenaries funciona da seguinte forma: você escolhe uma fase (por exemplo, a Vila ou o Castelo) e passa por diferentes seções (idênticas à campanha principal, não são areas novas – a princípio) em que você precisa eliminar uma quantidade X de inimigos para avançar. Digamos que esse número seja 30: ao matar 15, você pode ir para a próxima seção e receber pontos pelo tempo restante ou tentar matar os 30 antes que o tempo acabe.
Entre cada seção, você pode falar com o Duque e realizar um rápido upgrade em seu armamento. Ao final das seções, você tem a pontuação final e um rank. A próxima fase só abre se você atingir uma determinada pontuação.
É um modo divertido e estilo Arcade, ainda mais colocando inimigos que não estavam originalmente naquelas regiões da campanha. Porém, por ser algo linear (não é uma arena, você segue um caminho específico), com sistema de upgrade e preso a um único personagem, o que acaba remetendo ao Mercenaries clássico é apenas o sistema de pontuação. Novamente, não é que seja um modo ruim – ele é “ok”, um bom passatempo – mas quem esperava um Mercenaries de verdade pode se decepcionar bastante.
Resident Evil Village é fantástico. É ousado em experimentar algumas coisas novas para a série, porém boa parte do que está no pacote possui inspiração clara em RE4 e, obviamente, RE7 – dois jogos que estão em ótimas posições em qualquer lista de melhores títulos Resident Evil. Jogadores fãs desses dois títulos dificilmente não gostarão de RE8.
O modo Mercenaries poderia ser melhor, porém a campanha e tudo que ela oferece compensa demais e é uma experiência simplesmente obrigatória – seja para um fã de Resident Evil ou para alguém que deseja conhecer a série.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Capcom.
Veredito
Resident Evil Village é simplesmente incrível. É uma mistura do que foi estabelecido com Resident Evil 4 e Resident Evil 7 biohazard, porém consegue ter sua identidade própria e oferece uma experiência sem igual. O gameplay é divertido, desafiador e conta com puzzles inteligentes. O medo, assim como a tensão, também estão presentes em boa parte da jornada. O jogo só fica devendo no modo Mercenaries e a história que pode não agradar a todos.
Veredict
Resident Evil Village is just incredible. It is a mixture of what was established with Resident Evil 4 and Resident Evil 7 biohazard, but it manages to have its own identity and offers a unique experience. The gameplay is fun, challenging and features smart puzzles. Fear, as well as tension, are also present in much of the journey. The only flaws are the Mercenaries mode and the story that may not appeal to everyone.