Não há dúvidas que a franquia The Walking Dead representou o começo de uma nova etapa para a Telltale Games. A primeira temporada do jogo é incontestavelmente o produto de maior sucesso da desenvolvedora, e, por esse motivo, criar uma sequência direta com uma qualidade similar de seu antecessor não será uma tarefa fácil. Muitos fãs alegam que o arco de Lee e Clementine fechou muito bem, de forma que uma continuação dos eventos da primeira temporada pudesse estragar uma história consolidada. Corresponder as expectativas dos jogadores e renovar a experiência da narrativa em The Walking Dead demonstram o enorme peso que o episódio “All That Remains” carrega.
A segunda temporada acontece 16 meses depois da primeira, com uma Clementine visivelmente menos criança, mas o seu amadurecimento precoce é o principal foco deste episódio (e possivelmente da temporada). Assim como no jogo anterior, o poder de escolha do usuário é importante no progresso da trama e este recurso influenciará a formação do caráter de Clem. Você, fã, pode se surpreender com alguns possíveis diálogos da personagem – aquela garota inocente pode não existir mais, dependendo de suas decisões.
É por surpreender o jogador com tais opções e com novas situações que envolvem questões morais e de valores humanos, que The Walking Dead Season 2 se mostra promissor. A interação de Clem com situações variadas e os novos dilemas da segunda temporada são recheados de boas ideias, de momentos inovadores e interessantes. O jogador que experimentou o arco passado e ainda acompanha os produtos intermidiáticos (TV ou quadrinhos) dificilmente verá um esgotamento em All That Remains.
A fim de evitar spoilers, não me aprofundarei sobre a narrativa deste episódio. No entanto, como consumidor e fã da série, devo dizer que fiquei muito satisfeito com a retomada da personagem Clementine e o início de sua jornada. Desta forma, para todos aqueles que eram tomados pelo ceticismo (assim como eu), desprezar este episódio por esse motivo seria um erro.
E para os familiarizados com os jogos da Telltale no PS3, um aspecto impossível de ser ignorado são as pequenas travadinhas logo após uma tela de carregamento. É um problema que também aconteceu no recente The Wolf Among Us, mas All That Remains foi significativamente aprimorado nesse ponto. Durante o meu tempo com o jogo, presenciei poucas agarradas, sendo o caso mais drástico na cena de corte de abertura. Já os gráficos foram melhorados consideravelmente e lembram o avanço visual que TWAU demonstrou, embora TWD não tenha como marca as cores fortes e se caracteriza pela predominância de uma paleta de cores frias ou às vezes com um tom alaranjado.
O elenco responsável pelas vozes das personagens continua excelente, não há como reclamar do modo como as personagens se expressam. Novamente o destaque vai para o excelente trabalho de Melissa Hutchison, a dubladora de Clementine. A trilha sonora também é boa e as músicas cumprem seu papel ao permear a atmosfera dramática ou os momentos de ação do jogo.
Minha maior queixa desta “season premiere” é a sua duração. Está mais para o padrão de um episódio seriado da TV do que para um game da Telltale – é o capítulo mais curto de todos os já lançados, até mais do que 400 Days. Em aproximadamente 1h40m foi possível passar pelo primeiro episódio inteiro, apreciando cada diálogo que o jogo oferece. É muito pouco, perto da duração usual de 2h30m de cada parte da primeira temporada.
Por conta dessa efemeridade, quando a narrativa não se desenvolve muito lentamente, há cortes bruscos na passagem do tempo. Isto me fez questionar algumas lacunas na história, mas é algo que pode ser remediado nos futuros episódios. O poder de escolhas também é fator importante e bastante presente nesta sequência, mas dada sua curta duração e por estar limitado somente a um episódio, é difícil medir o impacto das decisões.
All That Remains demonstra que a Telltale mantém seu nível de excelência no ofício de contar histórias pelos videogames. Dada a qualidade deste episódio e de seus produtos recentes, Tales From the Borderlands e o jogo baseado em Game of Thrones se tornam automaticamente grandes promessas. A segunda temporada de The Walking Dead começa bem, evitando o clichê na medida do possível, e não falha em capturar a atenção e interesse de seu público. O seu único problema é a falta de desenvolvimento/tempo de duração, mas está longe de ser algo que impeça a sua busca pelo jogo. Clementine mantém seu carisma nessa sequência e com certeza o nosso afeto pela personagem só vai crescer até o fim desta jornada.
Jogo analisado com código fornecido pela Telltale Games.